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Capítulo 2 O desenvolvimento econômico e a história dos direitos da propriedade

2.5 Coréia do Sul

A Coréia do Sul é provavelmente o país mais estudado quando se fala em catching up, a expressão de língua inglesa para designar o desenvolvimento de um país atrasado para alcançar os mais avançados. Tanto no Ocidente como no Oriente, o rápido desenvolvimento daqueles países conhecidos como “Tigres Asiáticos”, dentre os quais se inclui a Coréia do Sul (Japão, Cingapura e Taiwan são considerados neste grupo) é objeto de muitos estudos. Para Alice H. Amsden (1992) esses estudos revelam, em síntese, a importância do papel do Estado no desenvolvimento dessas nações através de políticas industriais direcionadas para este fim. Não deixa a autora americana de destacar o papel da inovação e do aproveitamento da tecnologia dos países mais avançados por aqueles que são denominados de países de “industrialização tardia”.

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Para Landes (1998, p. 425), se tornar uma economia moderna equivalia a ser capaz de “construir máquinas e motores, barcos, locomotivas, estradas de ferro, portos e estaleiros navais” .

Linsu Kim (2005) procura demonstrar como em apenas trinta anos, a partir de 1961 a Coréia do Sul conseguiu passar de uma economia agrária de subsistência a uma economia industrializada e moderna. Lembra o autor que naquele ano o Produto Interno Bruto (PIB) era menor que do Sudão e em torno de 30% do PIB do México. Essa situação tão ruim do país decorreu de uma série de tragédias entre 1945 e 1953. Lembrando que até o século XIX a Coréia teve avanços científicos no campo das ciências exatas, ela também progrediu sob o domínio do Japão no início do século XX, após mil e duzentos anos de independência e autonomia. Entretanto, a saída do Japão após a derrota na 2ª Guerra Mundial, levando embora toda a tecnologia e técnicos, deixou um vazio industrial no país. Os coreanos, que tinham apenas funções na linha de produção, não sabiam operar as máquinas e gerenciar as fábricas. Em seguida, a divisão entre a Coréia do Sul e Coréia do Norte fez com que todas as matérias primas para as indústrias ficassem no norte enquanto as fábricas estavam situadas no sul. Finalmente a Guerra da Coréia entre 1950 e 1953 acabou por destruir as instalações e infraestrutura que ainda perduravam (KIM, 2005, p. 22).

Portanto, diante desse quadro na década de cinquenta do século XX, é impressionante o desenvolvimento empreendido pela Coréia do Sul, cuja análise não poderia faltar em um trabalho dessa natureza. Na década de 1990 a Coréia do Sul produzia tecnologia de ponta, possuía uma indústria automobilística, era grande exportadora de bens de alto valor agregado e tinha marcas que começavam a ganhar o mundo, tais como a Hyundai, Samsung, Daewoo, LG e outras. Em 1995 a renda per capita ultrapassou os dez mil dólares americanos e se tornou a 11ª maior economia do mundo em termos de produto interno bruto, passando a integrar o grupo dos países ricos.

Em primeiro lugar é importante notar que a ajuda financeira americana, que tinha interesses estratégicos (a Coréia do Norte ao norte e a China eram vizinhos comunistas e o Japão tinha seu histórico imperialista) ajudou na reconstrução do país, assim como ajudou na reconstrução da Alemanha e do Japão. O autor (KIM, 2005) fala em uma injeção de 6 bilhões de dólares americanos ao longo da década de 1960.

Por outro lado, a ajuda americana apenas não explica todo o sucesso do caso Sul- Coreano. Kim (2005) afirma que todo o esforço de construção de uma nova nação foi depositado na construção de uma nação industrializada, com um governo forte apoiando a formação de grandes conglomerados, denominados de chaerbols. Inicialmente Kim (2005, p. 27) afirma que a Coréia do Sul iniciou sua caminhada através da imitação de produtos, embora tentando esclarecer que nem toda imitação é ilegal ou que infrinja regras de propriedade intelectual. Algumas cópias, diz ele, podem ser feitas de produtos cujas patentes

já caíram em domínio público ou são feitas adaptações criativas, dentro da legalidade. Aqui fazemos a ressalva que a maioria das regras de propriedade intelectual de hoje, elaboradas nos anos 1990, principalmente o Acordo Trips ainda não vigoravam neste momento de desenvolvimento da Coréia do Sul.

Kim (2005) afirma em seguida que da imitação, com criatividade, se chegou à inovação, dizendo que a só a imitação não teria sido suficiente. Afirma que (p. 30) “Tanto a imitação do estilo japonês como a inovação do estilo norte-americano são necessárias não somente para alcançar as produções existentes, mas também para desafiar os países avançados em novos ramos”. Finalmente, em subcapítulo próprio denominado de “Os direitos de propriedade intelectual”, Kim (2005) reconhece que

Na Coréia, como em outros países em processo de catching-up, a imitação

através da engenharia reversa de produtos estrangeiros existentes foi o

principal suporte do processo de industrialização até meados da década de 1980. Até os países mais desenvolvidos continuam dependendo bastante da cópia de produtos estrangeiros, e se recusam a respeitar as leis de

propriedade intelectual até que desenvolvam capacidade de se tornarem auto-suficientes (KIM, 2005, p. 68).

Em 1986, por pressão dos Estados Unidos, ainda segundo Linsu Kim, a Coréia do Sul foi obrigada a adotar uma lei de propriedade intelectual, que proibia, por exemplo, a engenharia reversa, mas que não era respeitada, pois na Ásia “as pessoas não aceitam que alguém seja proprietário de uma idéia ou pensamento, e que se deva pagar por isso” (p. 69).

Segundo o Banco Mundial, a Coréia do Sul é um país de alta renda para os padrões da Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), com renda per capita em 2012 de 22.670 dólares americanos, uma expectativa de vida de 81 anos (para 2011), e um produto interno bruto de 1.130 trilhões de dólares americanos para 201213.