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Corpo e cultura de movimento: impulsionando a linha de pesquisa

“Corpo, saúde e sociedade”

Maria Isabel Brandão de Souza Mendes Marcel Alves Franco Milena de Oliveira Aguiar

Num momento de comemoração dos 18 anos do Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura de Movimento (GEPEC), não podemos deixar de ressaltar a importância do binômio corpo e cultura de movimento para os estudos desenvolvidos por estudantes e docentes integrantes do referido grupo.

Neste contexto, fazemos uma homenagem à professora Dra. Terezinha Petrucia da Nóbrega, orientadora da dissertação “Corpo e cultura de movimento: cenários epistêmicos e educativos”, de autoria de Maria Isabel Brandão de Souza, defendida em 2002, e da tese “Mens sana in corpore sano: compreensões de corpo, saúde e Educação Física”, da mesma autora, apresentada em 2006. Os referidos estudos são de cunho epistemológico e se debruça- ram sobre a discussão de conceitos, trazendo implicações para a Educação Física.

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No primeiro estudo, dirigimo-nos para a interrogação do conceito de cultura de movimento trazido para a Educação Física pelo professor Elenor Kunz (1991), justamente por entendermos que este conceito está atrelado à compreensão fenomenológica de corpo e de movimento humano, ultrapassando compreensões mecanicistas.

A cultura de movimento é considerada um critério de organizar o conhecimento da Educação Física, contribuindo com a desna- turalização do conhecimento da área. A cultura de movimento se refere ao modo dos povos se movimentarem. São “[...] formas de movimento relacionando-as com a compreensão do corpo em uma determinada comunidade.” (MENDES, 2013, p. 17).

Na referida dissertação, buscamos ampliar a reflexão sobre esse conceito a partir da relação entre corpo, natureza e cultura, com base no diálogo entre as ciências naturais, ciências humanas e sociais e saberes do corpo, tendo como principais autores Merleau- Ponty (1990, 1991, 1999a, 2000), Marcel Mauss (1974), Lévi-Strauss (1976a, 1976b), Maturana e Varela (1997). Justamente por esses autores problematizarem as oposições inconciliáveis.

Nesse contexto, o objetivo da dissertação foi “[...] interpretar as paisagens da cultura de movimento da Vila de Ponta Negra a partir da relação entre corpo, natureza e cultura, no sentido de apresentar cenários epistêmicos e educativos para a Educação Física.” (MENDES, 2013, p. 17).

A partir das discussões realizadas identificamos que: • corpo, natureza e cultura se interpenetram por meio de

lógica recursiva. Nesse cenário, os aspectos biológicos estão entrelaçados com os aspectos culturais, permeados pela historicidade;

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• pensar na cultura de movimento a partir da relação entre corpo, natureza e cultura é reconhecer que a cultura de movimento é um conhecimento, não somente relacionado aos jogos, danças, lutas, esportes ou ginásticas, mas também associado às diversas maneiras como o ser humano faz uso do seu corpo;

• pensar na cultura de movimento a partir da relação entre corpo, natureza e cultura é reconhecer que as técnicas corporais ao mesmo tempo em que são influenciadas pelo funcionamento orgânico, permitem as trocas culturais, provocando mudanças no organismo e na sociedade; • as manifestações da cultura de movimento se transformam

de acordo com o local e a interpretação que é dada e o sim- bolismo vai variando conforme a educação, as experiências vividas e as trocas culturais. As manifestações da cultura de movimento podem ser consideradas também como sistemas comunicativos;

A compreensão fenomenológica de corpo e a compreensão de cultura de movimento a partir da relação entre corpo, natureza e cultura foram muito importantes para a construção do segundo estudo citado anteriormente. Na referida tese, buscamos aproxi- mações com a saúde e o cuidado de si1, tendo como fio condutor a máxima de Juvenal “Mens sana in corpore sano”, pronunciada entre os anos de 90-130 na décima sátira do poeta Décimo Júnio Juvenal (MENDES, 2007).

Nosso argumento se baseou na ideia de que essa máxima: 1 Sugerimos a leitura de Mendes e Gleyse (2015) para as discussões sobre o cuidado

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[...] pronunciada na Antiguidade greco-romana, subsume compreensões de corpo, saúde e educação reapropriadas e reorganizadas por teorias científicas e pedagógicas nos séculos XIX e XX. Essas teorias científicas e pedagógicas, sobretudo as que receberam contribuições das ciências biomédicas, influenciaram a Educação Física em busca de cientificidade. (MENDES, 2007, p. 12).

Nessa pesquisa, debruçamo-nos sobre as mudanças dos con- ceitos de corpo, saúde e educação, produzidos na Educação Física, tendo como corpus principal de análise os artigos publicados na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) no período de 1979 a 2003, a partir das temáticas: corpo, biologia, atividade física, fisiologia do esforço e saúde (MENDES, 2007).

Nossos principais teóricos foram Merleau-Ponty (1990, 1991, 1999a, 1999b, 2000, 2004), Canguilhem (1977, 2002, 2004) e Foucault (1984, 1985, 1988, 2004). Essas aproximações foram possíveis, pois a compreensão de corpo vivo atrelado ao mundo em que existimos embasada na fenomenologia existencial de Merleau- Ponty influenciou a filosofia de Canguilhem e de Foucault. Além disso, esses filósofos não hierarquizam diferentes tipos de conhecimento e tecem críticas à ideia de verdade absoluta, mesmo considerando as especificidades de seus pensamentos (MENDES, 2007).

Nesse contexto, essa pesquisa se propôs a tecer uma reflexão sobre as transformações dos conceitos de corpo, saúde e educação tendo como base produções científicas da área,

[...] com vistas a apontar elementos para a configuração de uma teoria que denomino de Corpore Sano, a qual se apresenta como uma sistematização de conceitos científicos, filosóficos e

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pedagógicos e, como tal, uma compreensão dos fundamentos científicos da Educação Física. (MENDES, 2007, p. 12). A Teoria do Corpore Sano se refere aos cuidados com o corpo em busca de saúde. Uma teoria capaz de religar saberes e práticas educativas que vai se diferenciando de acordo com os fundamentos que a embasam. Alicerçados nas discussões tecidas ao longo da tese, destacamos que:

Uma teoria do Corpore Sano, a partir da sistematização dos conceitos de corpo, saúde e educação poderá contribuir para o reconhecimento de que, na Educação Física, as áreas pedagógica, acadêmica e profissional estão entrelaçadas, haja vista que as práticas de intervenção nos diversos cenários educativos estão relacionadas com a produção do conheci- mento da área, através de uma lógica recursiva. (MENDES, 2007, p. 139).

Além de a Educação Física ser reconhecida como uma área acadêmica, pedagógica e profissional na pesquisa, ela também é vista como “[...] a arte de cuidar do corpo, da saúde, da vida.”, por meio do ensino de manifestações da cultura de movimento (MENDES, 2007, p. 133).

Diante desse contexto de pesquisas, ressaltamos que esses estudos e referenciais teóricos destacados anteriormente impulsio- naram a fundação da Linha de Pesquisa intitulada “Corpo, Saúde e Sociedade” do GEPEC e colaboram com as orientações realizadas pela professora Isabel Mendes no Mestrado em Educação Física da UFRN, aprovado pela Capes em 2010 e com início em 2011. Destacaremos as produções científicas de dissertação, as quais se enveredam sobre realidades elencadas nos saberes de corpo, saúde e sociedade consoantes à proposta da Linha de Pesquisa.

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um olhar sobre estudos da linha de