• Nenhum resultado encontrado

Explanados os encontros e desencontros entre os critérios de organização de conteúdo cultura corporal e cultura de movimento, faz-se necessário entender como eles se configuraram na inter- venção pedagógica, objetivo a que nos propomos inicialmente.

Dessa forma, ousamos apresentar como esses critérios se apre- sentam na realidade das aulas da Educação Física, utilizando como referência o vídeo “Teorias Pedagógicas da Educação Física TIC PARFOR/UFPA”, resultado do trabalho do Projeto de Extensão: Uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e efetivação das atividades complementares na Formação de Professores de Educação Física pelo PARFOR, realizado pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) em parceria com a Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), coordenado pela pesquisadora Marta Genú, Pós-doutora, pela Université de Montpellier (2015) e pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2015).

O vídeo é a segunda parte desse projeto, coordenado pelo professor Aníbal Brito Neto, tendo sido elaborado de forma bastante didática, trazendo esclarecimentos sobre as teorias pedagógicas seguidas de exemplos de aulas práticas supervisionadas.

Elaboramos um quadro para facilitar a compreensão de como esses critérios de organização do conhecimento caracterizam-se no planejamento das aulas.

140

Cultura corporal e cultura demovimento: entre encontros e desencontros – o quemuda na prática?

Quadro 1 – Critérios de organização do conhecimento

Cultura de movimento Cultura corporal

Referência Elenor Kunz (1991) Coletivo de Autores (1992)

Abordagem Crítico-emancipatória Crítico-superadora

Objetivo Sujeito crítico e autônomo Transformação social

Planejamento

Introdução

Exposição do tema Prática social Reconhecimento do tema

Transcendência de limites pela experimentação Explorar e experimentar possibilidades dos objetos

Problematização Transformar o conteúdo em questões desafiadoras Transcendência de limites pela aprendizagem Apresentação verbal de situações do movimento De forma reflexiva, acompanhar, executar e propor soluções Instrumentalização Ação docente – conhecimento Transcendência de limites criando/inventando

Criar e inventar movimentos com sentidos para aquela situação a partir das formas anteriores apresentadas

Catarse

O aluno manifesta para si o que aprendeu

Parte final Reflexão sobre as experiências realizadas

Prática social

Ações concretas da função social do conteúdo

Fonte: Elaboração própria a partir do vídeo “Teorias Pedagógicas da Educação Física TIC PARFOR/UFPA”

Percebemos que, embora existam características comuns à cultura corporal e à cultura de movimento, a forma como a aula é planejada difere em cada uma delas. Isso não quer dizer que uma seja superior ou inferior a outra, muito menos que o professor deve definir apenas uma das concepções para trabalhar. Mas é preciso, sim, que o professor tenha uma concepção clara da sociedade em

Wanessa Cristina Maranhão de Freitas Rodrigues, Érika Janaina Santiago Moreira Freire, Aguinaldo Cesar Surdi, José Pereira de Melo

que vivemos, quais os valores que ele elege consolidar por meio da sua prática e, principalmente, refletir sobre como ele articula suas aulas no sentido de incentivar a criticidade.

Considerações finais

As reflexões tecidas no decorrer do nosso estudo nos apontam que a cultura corporal e cultura de movimento nasceram num momento de crise da identidade da Educação Física escolar.

As incertezas e confusões sobre essas terminologias fazem parte do cotidiano dos professores que estão inseridos no contexto escolar, pois entender profundamente a diferença epistemológica entre elas requer um investimento em estudos políticos e filosóficos. Sem a ampliação do olhar nesse sentido, essas terminologias se apresentam apenas como uma mera expressão formada por palavras.

Dessa forma, faz-se necessário entender o contexto histórico e político em que estão inseridas essas expressões, que apresentam abordagens propositivas diferenciadas exatamente pelo contexto em que se encontram. Embora ambas tentem aproximar a Educação Física da cultura, compreendemos que o entendimento dos conceitos de corpo, natureza e cultura se apresentam de formas divergentes nas concepções de cultura corporal e cultura de movimento, e essas divergências apontam caminhos metodológicos diferentes para cada um desses critérios de organização do conhecimento.

Acreditamos que, a partir do entendimento de um corpo feno- menológico, uma natureza enigmática e uma cultura atrelada de sentidos e significados, é possível nos aproximar mais do conceito de cultura de movimento.

No entanto, independente de qual desses critérios de orga- nização de conhecimento e da abordagem que o professor de

142

Cultura corporal e cultura demovimento: entre encontros e desencontros – o quemuda na prática?

Educação Física escolha, o importante é que os elementos da cultura corporal ou cultura de movimento apontem para o processo de formação dos alunos, bem como dos próprios professores ao lidar com as diferentes manifestações culturais, oferecendo arcabouço necessário para que ambos possam ter atitudes críticas e reflexivas perante a sociedade, podendo, dessa forma, transformá-la.

referências

BRACHT, V. Cultura corporal, cultura de movimento ou cultura corporal de Movimento? In: SOUZA JÚNIOR, M. Educação Física escolar: teoria e política curricular, saberes escolares e proposta pedagógica. Recife: EDUPE, 2005.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia de ensino de Educação Física. 2. ed. rev. São Paulo: Cortez, 2009.

DAOLIO, J. A ruptura natureza/cultura na Educação Física. In: MARCO, A. de. (org.). Pensando a educação motora. Campinas: Papirus, 1995.

DAOLIO, J. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas: Autores Associados, 2004.

KUNZ, E. Educação Física: ensino e mudanças. Ijuí: Unijuí, 1991. KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.

LÉVI-STRAUSS, C. As estruturas elementares do parentesco. Tradução: Mariano Ferreira. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Edusp 1976.

Wanessa Cristina Maranhão de Freitas Rodrigues, Érika Janaina Santiago Moreira Freire, Aguinaldo Cesar Surdi, José Pereira de Melo

MEDEIROS, R. M. N. de; NÓBREGA, T. P. da. A linguagem simbólica

nas danças populares brasileiras. In: FRANCO. M. A. et al. (org.).

Corpo, cultura e Educação Física. vol 2. Natal: SEDIS–UFRN, 2018. MATURANA, H. Cognição, ciência e vida cotidiana. Tradução: Cristina Magro e Victor Paredes. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2001.

MELO, J. P. Educação Física e critérios de organização do conhe- cimento. In: NÓBREGA, T. P. da (org.) Epistemologia, saberes e

práticas da Educação Física. João Pessoa: Universitária/UFPB, 2006.

MENDES, M. I. B. de S. Mens sana in corpore sano: saberes e práti- cas educativas sobre corpo e saúde. Porto Alegre: Sulina, 2007.

MENDES, M. I. B. de S.; NÓBREGA, T. P. da. Corpo e cultura de movimento: reflexões a partir da relação entre corpo, natureza e cultura. Revista Pensar a Prática, Goiás, v. 12, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2009.

MERLEAU-PONTY, M. A natureza: notas: cursos no Collège de France. Tradução: Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

TEORIAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA TIC/PARFOR. Produção de Brunno Regis e Luana Klautau. Coordenação: Marta Genú. Pará: Universidade do Estado do Pará, 2013. (28’20 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=x3ZENbb9eLI. Acesso em: 7 abr. 2020.

parte iii

projeções do Grupo