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4. METODOLOGIA

4.3. Corpus da pesquisa

Conforme dito no último tópico, na Linguística de Corpus consideramos como Corpus da pesquisa o texto analisado. Neste trabalho, em virtude do escasso tempo de pesquisa e das especificidades a serem analisadas, optamos por tomar como Corpus da pesquisa a parte II do livro Lost Words.

Após cuidadosa leitura e análise do livro Lost Words, observamos que a parte II é a seção do livro que compreende mais diálogos entre Amélia Lynd e Chino, além de trazer os questionamentos e interessantes reflexões de Amélia quanto ao que é ensinado como literatura no ensino formal da Itália. Tendo isso em mente, compreendemos que a parte II do livro poderia nos fornecer as informações mais importantes para análise de dados que apresentamos mais à frente.

4.3.1. Parte II – Lost Words: Visão geral

moradores em seus apartamentos fechados. Cada morador somente se apercebe que vive com outras famílias, por causa dos conflitos gerados pelo barulho, pela má conduta dos outros inquilinos ou pelas condições ambientais, como o frio estarrecedor do inverno italiano. No mais, cada apartamento funciona como um reduto, no qual, os condôminos vivem alheios ao que ocorre ao redor. Quando ocorre algum problema que atinge à toda comunidade, é descrito que os condôminos agem de maneira rápida para banir o problema. Não percebemos nenhuma ação para resolvê-lo, mas apenas para suprimi-lo ou afastá-lo.

Nessas ocasiões, levantam-se uns contra os outros, ou então, unem-se em prol do mesmo interesse mesquinho de afastar o elemento perturbador, que interfere em suas zonas de conforto. Se não fossem estas pequenas eventualidades, nos arriscamos a afirmar que cada inquilino continuaria comodamente recolhido em sua própria casa, desfrutando dos pequenos luxos que acumulou, alheio às necessidades dos vizinhos. Talvez, nem sequer saberiam que possuíam vizinhos, a não ser pela forma do prédio dos condôminos.

Essa visão compartimentada da narrativa está refletida nos capítulos e divisórias que não possuem títulos, nem qualquer outro nome que as denomine. Os capítulos e as cinco seções em que o livro está fracionado são como compartimentos iguais (a única divisão bem delimitada é referente às seções, marcadas com numerais romanos, na obra de chegada, e com indo-arábicos, na obra de partida), que abrigam os fatos do cotidiano de Chino e dos moradores (mas não o dia todo, apenas as cenas mais intrigantes), o que nos causa a leve impressão de estar caminhando em um espaço fechado, girando a 360° graus, continuamente, retornando ao ponto de partida, ou à estafa e à loucura de uma vida resignada a um pequeno universo burguês, sufocante por sinal. As cenas são como quadros do cotidiano, pendurados ao longo da narrativa.

Enquanto a parte I representa a construção das expectativas de Chino, a apresentação dos moradores e da família do menino; a parte II mostra a saída de Petillo do apartamento, não sem antes ouvir as recriminações de Elvira, que supõe que o inquilino está de partida com o objetivo de encontrar um casamento, mas o que recebe em troca é um envelope, certamente com alguma quantia em dinheiro, pois, ao mesmo tempo em que o entrega, Petillo desculpa-se pelos transtornos causados pela sua saída, assim, qualquer reação negativa, pois, pode ser convertida em positiva à vista do dinheiro.

Um dos transtornos, provavelmente, é a apreensão de que Amelia Lynd seja como uma das “galinhas velhas”, que virá ao condomínio para atormentar a vida da porteira, o que não acontece, como havíamos afirmado antes. É o pai de Chino quem passa a referir-se a Amelia Lynd como “A Professora”. Em seguida, dão-se os capítulos, como cenas da vida doméstica, nas quais estão também as conversas de Chino com ela.

Para melhor entendimento da parte II, de Lost Words (2016), listamos abaixo os principais acontecimentos que permeiam a narrativa de forma a facilitar a compreensão deste trabalho:

I. as comparações iniciais do menino entre a professora Salma, da escola local, com a “Maestra” e as opiniões divergentes expostas pelas duas;

II. o vocabulário inglês, que Chino passa a estudar com afinco, e a descoberta do poder das palavras, a partir das explanações de Lynd sobre os dicionários e também acerca das atividades jornalística e literária;

III. exposição das reflexões de Lynd acerca do processo de unificação italiano (novo confronto interno do garoto entre o ensino formal e o ensino livre de Amelia Lynd);

IV. a nomeação de Chino por “Luca”, feita pela ‘Maestra’ que assegura que “Luca” assemelha-se a “luck” (ou seja, Luca, o filho da ‘fortuna’) e passa a tratá-lo assim em todas as vezes que se refere a ele; V. o ataque contra Riccardo, um dos vizinhos da família e colega de

Chino, que é brutalmente espancado por fascistas, e que obriga o menino a vê-lo nesse estado lastimável;

VI. as comemorações festivas do Natal e do Ano Novo, em companhia dos colegas proletários de seu pai;

VII. a morte da senhora Armanda (mãe da personagem Mantegazza, conhecida por odiar crianças) ainda durante tais festividades e o não-comparecimento dos vizinhos, por ocasião de seu velório; VIII. o interesse de Elvira, mãe de Chino, em arrumar o cadáver da velha

Armanda para o enterro, a fim de garantir mais alguns trocados da Mantegazza, pois, enquanto a velha Armanda estava viva, chegou a

receber, por certo tempo, dinheiro da filha para fazer companhia à velha senhora;

IX. a resistência dos pais em enviar Chino para o Liceu clássico (segundo eles, de pouco proveito para a vida profissional do menino).

É necessário entender, mesmo de maneira bastante resumida, os fatos que ocorrem durante a parte II, da obra Lost Words, para compreendermos alguns dos aspectos da análise das palavras-chaves positivas e negativas, bem como das concordâncias em seu contexto. Além disso, há uma análise sociológica inevitável através da análise da tradução, e que verificaremos à luz dos autores escolhidos para o sistema norte-americano, como Mills.