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3.6 EXAME CRIMINOLÓGICO

3.6.2 Exame criminológico, parecer da CTC e a progressão de regime

3.6.2.2 Corrente favorável à confecção do exame

Como citado nos capítulos anteriores do presente trabalho, para progredir de regime o apenado precisa atender a dois requisitos, o requisito objetivo que é o cumprimento de determinada fração de pena, e o requisito subjetivo, no qual o juiz precisa de elementos que comprovem que o detido está apto ao convívio em sociedade.

Os defensores da realização do exame criminológico alegam que ele seria a única maneira de comprovar, com segurança, o requisito subjetivo para o deferimento da progressão de regime ou do livramento condicional, pois, ele pode constatar as condições pessoais do detido e colaborar com a decisão do magistrado (SANTOS, 2013, p. 95).

Aduz tal corrente que o conceito de mérito é mais abrangente que o conceito de bom comportamento. Conforme explica Santos, “bom comportamento carcerário significa apenas e tão somente portar-se o sentenciado de acordo com as regras de disciplina interna previamente estipuladas” (2013, p. 95). Já o mérito decorre da aptidão do presidiário em regressar ao convívio em sociedade e possivelmente não vir a reincidir (SANTOS, 2013, p. 96).

Sobre o tema, explica Mirabete que

A simples apresentação de um atestado ou parecer do diretor do estabelecimento penitenciário, após o cumprimento de um sexto da pena no regime anterior, não assegura ao condenado o direito de ser promovido a regime menos restrito. Embora se possa inferir da nova redação do dispositivo intuito de redução do mérito, previsto na lei anterior, ao bom comportamento carcerário, no sistema vigente a progressão de regime pressupõe, como visto, não somente o ajustamento do condenado às regras do regime carcerário em que se encontra, mas também um juízo sobre sua capacidade provável de adaptação ao regime menos restrito. Essa avaliação mais abrangente e aprofundada, e, portanto, mais individualizada das condições pessoais do condenado para a progressão, é inerente ao sistema progressivo instituído pela reforma penal de 1984 (MIRABETE, 2008, p. 424). Em outras palavras, o relatório de vida carcerária não apresentaria provas suficientes para comprovar, de forma segura e convincente, que o apenado estaria disposto a retornar à sociedade.

Ainda, segundo a corrente favorável, o encetamento do exame criminológico é uma afronta ao princípio da individualização da pena, dado que, este deve ser técnico e científico e o relatório de vida carcerária não corresponde a essas características. Além disso, o novo ordenamento jurídico tornou o magistrado um mero homologador de relatório administrativo, violando o princípio do livre convencimento, uma vez que o juiz não tem peças suficientes para formar um parecer convicto sobre a aptidão do detendo para ser beneficiado com a progressão de regime (SANTOS, 2013, p. 97).

Para Nucci, a alteração foi

péssima para o processo de individualização executória da pena. E, nessa ótica, inconstitucional. Não se pode obrigar o magistrado, como se pretendeu com a edição da Lei 10.792/2003, a conceder ou negar benefícios penais somente com a apresentação do frágil atestado de conduta carcerária (conforme prevê o art. 112, caput, da Lei 7.210/84). A submissão do Poder Judiciário aos órgãos administrativos do Executivo não pode jamais ocorrer (2018, p. 35).

Conforme o entendimento de Nucci, não se pode deixar que um diretor de presídio tenha força para determinar se um requisito foi atendido ou não, já que, agindo dessa forma, a execução penal tornar-se-ia “execução administrativa da pena, perdendo seu aspecto jurisdicional” (NUCCI, 2018, p. 35). Dessarte, vincular o magistrado ao relatório de vida carcerária fere a autonomia do Poder Judiciário, posto que ele engessa a atividade jurisdicional (SANTOS, 2013, p. 98).

Além disso, Souza atenta à necessidade de produzir o exame criminológico para que se possa garantir o caráter individualizador da pena, conforme exposto:

Faz-se imperioso a individualização do cumprimento das penas, significando a aplicação justa do tratamento dado ao preso, de acordo com o que ele é, realizando de fato o exame criminológico para a obtenção do conhecimento da personalidade do delinqüente [sic], de forma a diagnosticá-lo, objetivando a prognose de sua conduta futura e o programa de tratamento ou plano de readaptação social a lhe ser aplicado, para a sua individualização penitenciária e judiciária (2010, p. 61).

Por fim, para essa corrente, a alteração legislativa visa tão somente a desentumecer o cárcere, tornando o procedimento menos burocrático e mais célere para a concessão dos benefícios de progressão, porém, de nada acrescenta ao preso, pelo contrário, mitiga suas garantias constitucionais (SANTOS, 2013, p. 98).

Para Santos, quanto ao argumento de que o parecer criminológico era mal elaborado, o ideal era que houvesse mais investimento estatal visando corrigir a defasagem, além de tornar efetivas as medidas que aperfeiçoem os laudos, por meio

da capacitação e do treinamento dos funcionários que atuam na confecção do documento em epígrafe (2013, p. 98).

O autor continua, afirmando que

[...] a demora na confecção e a sobrecarga de serviço são fatores que contribuem para a má qualidade dos laudos, afinal, para conseguir dar conta da elaboração de um número infindável de laudos para instruir pedidos de benefícios, só mesmo elaborando laudos lacônicos, superficiais e muitas vezes de conteúdo repetitivo. O exame criminológico transformou-se em um singelo parecer apresentado por assistente social, psicólogo, e, raramente, por psiquiatra, que muitas vezes não dispõe de conhecimento específico para a análise do comportamento criminoso, restringindo seu trabalho em uma única entrevista (SANTOS, 2013, p. 107).

Em outras palavras, o valor probatório dos pareceres tornou-se questionável, visto que, as entrevistas realizadas pelo Centro de Observações Criminológicas ou, na ausência desse, pela Comissão Técnica de Classificação, duravam apenas 30 minutos, não sendo tempo suficiente para avaliar as condições do apenado. Porém, não se pode negar que o exame criminológico, como laudo pericial, é demasiadamente importante para individualizar o cumprimento da pena e reinserir os condenados socialmente (SANTOS, 2013, p. 106-108).

Conforme arrazoado por Santos, o exame criminológico é um ótimo instrumento para assistir o magistrado, porém, “os técnicos foram empurrados para mediocridade, sendo incumbidos de analisar personalidade de seres humanos em poucos minutos de entrevista; devendo em consequência dessa insólita análise emitir palpites sobre suas vidas e personalidade [...]” (SANTOS, 2013, p. 108).

4 RESSOCIALIZAÇÃO

A pena é utilizada como uma forma de controle social e o ideal dela é a repressão ao ato praticado, além da retribuição do mal causado pelo agente e a ressocialização do mesmo a fim de torná-lo apto ao retorno à sociedade, porém, com a ocorrência de vários problemas, em diversos estabelecimentos penais, tais como a falta de espaço para alojar todos os apenados e a projeção antiga dos estabelecimentos penais, torna-se inviável o desenvolvimento de formas eficazes de reintegração ao convício social (AMARAL; SILVA FILHO; LAURENTINO, 2017, p. 5). Pode-se afirmar, que a falta de um sistema prisional capacitado a realizar a ressocialização tem por consequência a reincidência dos apenados. Flores aduz que

A reincidência é o principal indicador da deficiência de qualquer sistema de atendimento jurídico-social, porque através dela é possível perceber que as pessoas entram nas instituições por apresentarem certas carências, que vão desde a falta de moradia digna, da deficiência na escolaridade, ausência de qualificação profissional ou de caráter e personalidade, e que, independente do tempo que tenham passado sob os cuidados das instituições, ao saírem apresentam as mesmas deficiências que originaram sua entrada no sistema (2010, p. 73).

Sabe-se que muitos que adentram ao sistema prisional, ao sair do sistema, cometem novos delitos em um pequeno lapso temporal. Esse fator acarreta um círculo vicioso de saída e de entrada nas instituições prisionais brasileiras (SOUZA, 2010, p. 57). E, conforme visto no artigo 10º da LEP, “a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade” bem como “a assistência estende-se ao egresso” (BRASIL, LEP, 2019).

Santos confirma que “as prisões da forma como se encontram hoje, não reeducam, não recuperam, somente aprimoram a criminalidade e elevam as taxas de reincidência” (2013, p. 18).

Dessa forma, frente ao exposto e relacionando a ressocialização ao tema tratado até o momento, pode-se afirmar que a realização do exame criminológico e do parecer da CTC é capaz de oferecer categóricos laudos sobre a probabilidade de reincidência do apenado (SANTOS, 2013, p. 108). E, apesar de não afirmar, com cem por cento de certeza, que o apenado não voltará a reincidir, eles podem ser utilizados como uma ferramenta para comprovar o requisito intrínseco necessário para a concessão da progressão de regime, bem como do livramento condicional. Logicamente, a utilização do exame criminológico e do parecer da CTC não vão

resolver sozinhos o problema da reincidência, por isso devem ser tomadas outras medidas tais como proporcionar e estimular o trabalho e a remição, que já são garantidos pela LEP.

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