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A facultatividade do exame criminológico e parecer da comissão técnica de classificação para a progressão de regime

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ANDERSON FELIPE FIORESE

A FACULTATIVIDADE DO EXAME CRIMINOLÓGICO E PARECER DA COMISSÃO TÉCNICA DE CLASSIFICAÇÃO PARA A PROGRESSÃO DE REGIME

Araranguá/SC 2019

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A FACULTATIVIDADE DO EXAME CRIMINOLÓGICO E PARECER DA COMISSÃO TÉCNICA DE CLASSIFICAÇÃO PARA A PROGRESSÃO DE REGIME

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Renan Cioff de Sant’ana, Especialista.

Araranguá/SC 2019

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Dedico este trabalho aos meus pais, Fabiano e Diojana Elizabeth Fiorese, que não mediram esforços para que eu chegasse até aqui, e aos professores do curso, que foram tão importantes em minha vida acadêmica e na conclusão desta monografia.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores desta universidade, que me ajudaram nesta etapa da minha vida, principalmente ao professor Renan Cioff de Sant’ana, meu orientador, que teve papel muito importante na conclusão desta monografia.

Aos meus pais, pelo apoio, amor e incentivo.

A todos que fazem parte da administração do Presídio Regional de Araranguá, especialmente a minha colega de trabalho Luciana Ricardo de Souza, que fez parte da minha formação, apoiando-me, aconselhando, ensinando e fazendo aprender.

A todos que fizeram parte da minha formação acadêmica, direta ou indiretamente. Muito obrigado.

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RESUMO

O trabalho apresentado analisa a facultatividade do exame criminológico e do parecer da Comissão Técnica de Classificação (CTC) para a progressão de regime. O desenvolvimento do trabalho, com base em pesquisa bibliográfica e documental, concentrou-se, principalmente, no estudo da Lei de Execução Penal. Primordialmente, observou-se o início da pena de prisão, sua evolução, bem como seus períodos históricos. Conceituou-se o sistema progressivo, assim como foram expostos os requisitos para a concessão da progressão de regime. Foram abordadas opiniões a favor e contra a realização do exame criminológico e a emissão do parecer da Comissão Técnica de Classificação. Ademais, destacou-se a importância do trabalho no processo de ressocialização do detido. Após a análise do assunto, podemos chegar a conclusão de que o exame criminológico e o parecer da CTC são peças importantes para a comprovação do requisito subjetivo para progressão de regime, não devendo ser utilizadas de forma facultativa.

Palavras-chave: Exame criminológico. Comissão Técnica de Classificação. Ressocialização. Remição.

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ABSTRACT

This paper analyzes the suitability of the criminological examination and the opinion of the ‘Comissão Técnica de Classificação’ [Technical Classification Commission (CTC)] for regime progression. The development of the work, based on bibliographic and documentary research, focused mainly on the study of the Penal Execution Law. Primarily, the beginning of the prison sentence, its evolution, as well as its historical periods were observed. The progressive system was conceptualized, as were the requirements for granting the regime progression. Opinions were raised for and against the conduct of the criminological examination and the emitted judgment of the Technical Classification Committee. In addition, the importance of labor in the detainee’s resocialization process was highlighted. After analyzing the subject, we can conclude that the criminological examination and the opinion of the CTC are important pieces to prove the subjective requirement for regime progression, and should not be used on an optional basis.

Keywords: Criminological examination. Technical Classification Commission. Resocialization. Redemption

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1 INTRODUÇÃO ... 9

2 PENA DE PRISÃO ... 11

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ... 11

2.1.1 Período da vingança privada ... 11

2.1.2 Período da vingança divina ... 12

2.1.3 Período da vingança pública ... 12

2.1.4 Período humanitário ... 13

2.2 SISTEMA PROGRESSIVO ... 14

2.3 DAS PENAS E DOS REGIMES ... 15

2.3.1 Pena privativa de liberdade ... 15

2.3.1.1 Pena de reclusão e detenção ... 15

2.3.2 Pena restritiva de direitos ... 16

2.3.3 Pena de multa ... 17

2.4 REGIMES DE CUMPRIMENTO DE PENA ... 18

2.4.1 Fechado ... 19 2.4.2 Semiaberto ... 20 2.4.2.1 Autorizações de saída ... 20 2.4.2.1.1 Permissão de saída ... 21 2.4.2.1.2 Saída temporária ... 21 2.4.3 Aberto ... 23

3 A EXECUÇÃO PENAL, O EXAME CRIMINOLÓGICO E O PARECER DA CTC 25 3.1 NATUREZA JURÍDICA DA EXECUÇÃO PENAL ... 26

3.2 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO PENAL ... 26

3.2.1 Princípio da humanidade das penas ... 26

3.2.2 Princípio da individualização da pena ... 27

3.2.3 Princípio da legalidade da execução penal ... 28

3.3 DA PROGRESSÃO DE REGIME ... 28

3.3.1 Requisitos ... 29

3.3.2 Da progressão por saltos ... 31

3.3.3 Livramento condicional ... 31

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3.5 ESPÉCIES DE FALTA ... 34

3.5.1 Falta leve ... 34

3.5.2 Falta média ... 35

3.5.3 Falta grave ... 36

3.6 EXAME CRIMINOLÓGICO ... 37

3.6.1 Comissão Técnica de Classificação ... 39

3.6.2 Exame criminológico, parecer da CTC e a progressão de regime... 41

3.6.2.1 Corrente desfavorável a confecção do exame ... 43

3.6.2.2 Corrente favorável à confecção do exame ... 45

4 RESSOCIALIZAÇÃO... 48

4.1 REMIÇÃO ... 49

5 CONCLUSÃO ... 51

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1 INTRODUÇÃO

O presente estudo trata do exame criminológico e do parecer da Comissão Técnica de Classificação (CTC) para progressão de regime. Os dois institutos, apesar das semelhanças, têm distinções. O primeiro consiste em uma perícia técnica baseada em características psicológicas do detido e o segundo trabalha com o constante acompanhamento do apenado durante o cumprimento da pena.

Para progredir de regime, o apenado deve cumprir dois requisitos, sendo um objetivo e o outro subjetivo. O primeiro é o cumprimento de determinada fração de pena e o segundo, hodiernamente, é a demonstração do bom/mau comportamento carcerário por meio de um relatório de vida carcerária emitido pelo diretor da casa penal.

Ocorre que, com o advento da Lei nº 10.792/2003, ambos institutos abordados neste trabalho tornaram-se facultativos para a progressão de regime e essa será a questão que investigaremos durante todo o decorrer da monografia: o exame criminológico e o parecer da Comissão Técnica de Classificação devem ser facultativos para a progressão de regime?

A dúvida surge ao pensarmos se o relatório de vida carcerária é, por si só, suficiente para comprovar o requisito subjetivo para que o apenado seja transferido a um regime mais brando, visto que, não oferece ao magistrado informações necessárias para auxiliar na formação de sua opinião para concessão do benefício.

Dessa forma, nosso objetivo geral é tratar das opiniões favoráveis e contrárias à confecção do exame criminológico e do parecer da Comissão Técnica de Classificação para a progressão de regime. Além disso, será exposta a evolução histórica da pena, os regimes de cumprimento da mesma, princípios relacionados à execução penal, dentre outros aspectos.

O tema abordado é de suma importância, uma vez que toda a sociedade arca com as consequências de um sistema prisional que não dá a devida atenção à progressão de regime, avaliando de forma superficial a aptidão do condenado para o retorno à sociedade.

As informações foram alcançadas por meio de uma pesquisa bibliográfica em livros, páginas da internet, artigos, monografias, leis, jurisprudências e dissertações de mestrado.

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O presente trabalho de conclusão de curso foi dividido em três capítulos. O primeiro capítulo aborda um breve histórico do surgimento da pena de prisão, tratando-o a partir de períodos de acontecimentos. Além disso, explicaremos quais são as penas previstas no conjunto de leis brasileiras e os seus respectivos regimes de cumprimento.

No segundo capítulo, serão apresentados alguns princípios aplicados à execução penal, os conceitos de progressão e de regressão, bem como os requisitos para a concessão daquela e as causas que levam à ocorrência desta. Além disso, explicaremos as correntes favoráveis e contrárias à confecção do exame criminológico e do parecer da Comissão Técnica de Classificação.

O terceiro capítulo contemplará um breve relato sobre a ressocialização no sistema penitenciário brasileiro, no que estiver relacionado ao tema proposto nesta pesquisa. Além disso, analisaremos as formas de remição dispostas na Lei de Execuções Penais e sua importância para o processo de ressocialização.

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2 PENA DE PRISÃO

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O surgimento da pena foi registrado desde os primórdios da civilização, já que cada povo sempre teve, desde o nascedouro da sociedade, sua forma de punir como uma reação natural e instintiva do homem para a constância de sua espécie e como uma maneira de retribuir à intimidação por meio das formas mais desumanas e cruéis de condenação (OLIVEIRA, 1996, p. 21).

Como descrito por Oliveira, “[...] o termo pena procede do latim (poena), porém, com derivação do grego (poine), significando dor, castigo, punição, expiação, penitência, sofrimento, trabalho, fadiga, submissão, vingança e recompensa” (1996, p. 21).

A antiguidade desconhecia totalmente a pena privativa de liberdade (doravante PPL), conquanto pode-se afirmar, inegavelmente, que o encarceramento existiu, porém, este apenas era utilizado para manter os delinquentes retidos até o seu julgamento, onde, em geral, eram executados. Durante esse extenso período, recorria-se fundamentalmente às penas corporais, onde os criminosos eram açoitados, mutilados ou mortos, assim como às penas infamantes, praticadas com o intuito de trazer ao prisioneiro uma vergonha extrema, marcando-o para que todos soubessem que era um condenado e estava cumprindo pena (BITENCOURT, 2001, p. 4).

Ainda, segundo Bitencourt, “a prisão foi sempre uma situação de grande perigo, um incremento ao desamparo e, na verdade, uma antecipação da extinção física” (2001, p. 5).

2.1.1 Período da vingança privada

O período da vingança privada ficou conhecido como o período sentimental, porque era o sentimento que provocava a ideia de justiça. Suas diversas formas de punir estavam sempre fundamentadas no sentimento de vingança. Usavam, frequentemente, a castração para os crimes praticados contra os costumes, atualmente chamados de crimes contra a dignidade sexual, e a pena capital para os crimes de homicídio (OLIVEIRA, 1996, p. 23). Segundo Pimentel (1983), “Olho por

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olho, o resultado era cegueira parcial de duas pessoas; braço por braço, a consequência era a invalidez de dois homens [...]” (apud OLIVEIRA, 1996, p. 23).

2.1.2 Período da vingança divina

O segundo período da pena impunha aos indivíduos normas inspiradas em preceitos provenientes dos deuses. A violação do direito era uma ofensa às deidades, pois os princípios eram embasados na devoção, em sentimentos religiosos. O poder do imperante também era infundido de caráter divino, além disso os ordenamentos jurídicos encontravam-se contidos nos livros sagrados. Nesse período, o alicerce da pena ainda era a represália, contudo, era baseado na vingança divina (OLIVEIRA, 1996, p. 25).

Cabe ressaltar, que, nesse período, as penas utilizadas eram: enforcamento, crucificação, mutilação, decapitação, empalação, esmagamento da cabeça do condenado, apedrejamento e outras. Esse era o cenário do Direito Penal durante o período da vingança divina (OLIVEIRA, 1996, p. 26).

Não obstante, de acordo com Oliveira:

[...] à medida que avançamos, o crime se reduz mais e mais contra a pessoa, enquanto que as formas religiosas da criminalidade vão regredindo e a sua penalidade enfraquecendo. Este enfraquecimento não é devido à suavização dos costumes, mas de religiosidade, cujo povo estava primitivamente envolvido, e os sentimentos coletivos, que eram sua base, vão gradativamente desaparecendo (1996, p. 32).

A tirania religiosa recua à medida que as transgressões humanas se desenvolvem e, cada vez mais, vai perdendo seu pendor para o mistério divino e o extranatural. Ao mesmo tempo, vai tornando-se obsoleto, apesar de, supostamente, ser proveniente de um poder supremo dado à espécie humana (OLIVEIRA, 1996, p. 32).

2.1.3 Período da vingança pública

Com a evolução da civilização, hodiernos valores surgem, possibilitando a divisão entre a Religião e o Direito. “As leis já não podiam mais ser aceitas como simples costumes sagrados, reveladas e sancionadas pelos deuses, misturadas com os regulamentos litúrgicos, nos antigos códigos dos templos” (OLIVEIRA, 1996, p. 33). O Estado tornou-se forte, avocando para si o exercício da pena, tirando tal titularidade do réu e da vítima ou de sua linhagem. A pena deixa de ter propósito

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religioso, incumbindo-se de um fundamento estatal e o direito privado tornar-se público (OLIVEIRA, 1996, p. 33).

Outrossim, finda a Monarquia e com o início da República, os romanos perceberam a necessidade de fixar seu direito em um único corpo, erguendo-se então, a “Lei das XII Tábuas, formada inicialmente por dez tábuas de bronze, acrescidas, no ano seguinte, de mais duas, vigorando até 433 anos a.C., contendo 32 preceitos penais” (OLIVEIRA, 1996, p. 33).

Segundo Oliveira, foi em 200 a.C. que se iniciou um abrandamento das penas, substituindo-se as mesmas por penas pecuniárias. A morte já não era mais utilizada como forma de punição principal. Para cada crime era tipificada uma espécie de penalidade que aplicada por um árbitro judicial e os crimes mais austeros, como o homicídio, eram julgados por grupos de pessoas, sistema semelhante ao utilizado atualmente no Brasil (1996, p. 34).

Na Idade Média, a pena de morte já não era muito numerosa, uma vez que apenas eram sentenciados à morte os condenados por crimes de homicídio, de incêndio, de rapto e de traição. Conforme Oliveira:

Para evitar a pena de morte, a Igreja já utilizava, no séc. V, a pena de prisão, punindo o clero através da segregação que estimulava o arrependimento. O faltoso era recolhido à cela para uma reclusão solitária, chamando a esta penitência, “in pacem”. Era visitado somente pelo seu confessor ou diretor

espiritual, pois a pena tinha duplo sentido, proporcionar o arrependimento para a reconciliação com Deus ao mesmo tempo em que punia (1996, p. 35). Tornou-se evidente que era indeclinável uma reforma no Direito Penal com a legitimação de novas políticas punitivas, foi, então, que se iniciou o período seguinte, conhecido como período humanitário.

2.1.4 Período humanitário

Em meados do século XVIII, iniciou um movimento, constituído por parlamentares, juristas, técnicos do direito, filósofos e legisladores, que lutava pela atenuação das punições. Esse movimento, além de abrandar as penas, pretendia acabar com as formas de corrupção que dominavam a justiça, aquela decorrente do condão monárquico. Buscavam por uma penalidade mais distribuída, que não estivesse à mercê do poder soberano e que fosse exercida de forma justa e para todos (OLIVEIRA, 1996, p. 40).

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[...] em meados do século XVIII [...] as leis em vigor inspiravam-se em idéias [sic] e procedimentos de excessiva crueldade, prodigalizando os castigos corporais e a pena capital. O direito era um instrumento gerador de privilégios, o que permitia aos juízes, dentro do mais desmedido arbítrio, julgar os homens de acordo com sua condição social. Inclusive, os criminalistas mais famosos da época defendiam em suas obras procedimentos e instituições que respondiam à dureza de um rigoroso sistema repressivo (2001, p. 32). Para isso, o Direito deveria ter como propósito a defesa da sociedade e a codificação das sanções disciplinares, de modo que os juízes estivessem restritos ao que estava escrito na lei. O movimento teve progresso somente quando surgiu o Código Penal francês de 1810, que eliminou todas as formar de penas cruéis e deu mais poderes aos magistrados para que usassem os meios necessários à aplicação da condenação, porém, nos moldes do ordenamento jurídico (OLIVEIRA, 1996, p. 41). Contudo, somente em meados do século XIX, a pena de execução foi definitivamente banida. Pouco a pouco “a punição deixou de ser uma cena de terror sobre o corpo do condenado” (OLIVEIRA, 1996, p. 42).

No decurso do século XIX, impõe-se a PPL, a qual prevalece até os dias atuais e, junto com ela, surge a carência de que a prisão fosse concebida como um complexo de normas que buscassem a reeducação social. Inicia-se, então, o sistema progressivo da pena, o qual será explicado no próximo capítulo (BITENCOURT, 2001, p. 82).

2.2 SISTEMA PROGRESSIVO

O sistema de progressão consiste na transmissão do apenado de um regime prisional mais grave para outro mais tênue, com a finalidade de reinseri-lo, gradativamente, na sociedade (BITENCOURT, 2001, p. 83). Nas palavras de Bitencourt:

A essência desse regime consiste em distribuir o tempo de duração da condenação em períodos, ampliando-se em cada um os privilégios que o recluso pode desfrutar de acordo com sua boa conduta e o aproveitamento demonstrado do tratamento reformador. Outro aspecto importante é o fato de possibilitar ao recluso reincorporar-se à sociedade antes do término da condenação. A meta do sistema tem dupla vertente: de um lado pretende constituir um estímulo à boa conduta e à adesão do recluso ao regime aplicado, e, de outro, pretende que esse regime, em razão da boa disposição anímica do interno, consiga paulatinamente sua reforma moral e a preparação para a futura vida em sociedade (2001, p. 83).

O sistema progressivo de pena, além de diminuir a rigidez no cumprimento da PPL, significou uma ascensão do sistema penitenciário, à medida que o apenado

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vai cumprindo os requisitos objetivos e subjetivos e regressando à vida em sociedade, de forma gradativa. Além disso, o interno continua o cumprimento da pena fora das casas penais, podendo ocorrer a regressão de regime em caso de descumprimento das condições impostas1 (BITENCOURT, 2001, p. 83).

2.3 DAS PENAS E DOS REGIMES

2.3.1 Pena privativa de liberdade

As condenações privativas de liberdade, de acordo com o disposto no Código Penal brasileiro, são aplicadas ao apenado com o intuito de restringir seu direito de ir e vir, sendo elas: a reclusão e a detenção, podendo ser executadas em regime “fechado, semiaberto e aberto” (BRASIL, CP, 2019).

Conforme disposto no artigo 33 do Código Penal, a reclusão difere da detenção, pois aquela poderá ser iniciada “em regime fechado, semiaberto ou aberto” enquanto esta será cumprida, preliminarmente, nos dois regimes menos severos (BRASIL, CP, 2019).

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto [sic] ou semi-aberto. A de detenção, em regime semi-semi-aberto [sic], ou semi-aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado [...] (BRASIL, CP, 2019).

Além disso, a reclusão e a detenção diferem não somente no que concerne ao regime aplicado, mas também em relação à gravidade do delito, assim, enquanto a reclusão é aplicada a crimes mais austeros, a detenção aplica-se aos mais tênues2

(BRASIL, CP, 2019). Para uma melhor compreensão, explicaremos as penas de reclusão e de detenção na próxima seção, bem como apresentaremos os estabelecimentos penais onde elas devem ser cumpridas.

2.3.1.1 Pena de reclusão e detenção

A pena de reclusão é aquela que inicia com o cumprimento em regime fechado, semiaberto ou aberto. Em concordância, Cunha afirma:

1 Trataremos novamente desse assunto no título 4.3 do presente trabalho. 2 Falaremos mais sobre os regimes prisionais no título 3.4 deste trabalho.

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Quando imposta na sentença pena superior a 8 (oito anos), o Código Penal não distinguiu entre o condenado reincidente ou primário, determinando o início do cumprimento de pena em regime fechado. [...] Sendo a pena superior a 4 (quatro) anos e não superior a 8 (oito) anos, poderá ser fixado o regime inicial semiaberto, desde que o condenado seja primário (se reincidente, o regime inicial deverá ser o fechado). Se, na sentença, for fixada pena igual ou inferior a 4 (quatro) anos, o regime para início do cumprimento da reprimenda poderá ser o aberto, condicionado, também, a primariedade do agente [...] (2016, p. 449, grifo do autor).

Desse modo, para que o juiz possa fixar o regime primário de cumprimento, será sempre verificada a quantidade de pena aplicada, além disso, a reincidência do apenado influencia na escolha do regime, uma vez que se aplicará o regime imediatamente mais austero quando o condenado já tiver condenação com sentença transitada em julgado, sendo considerado reincidente.

Em se tratando de detenção, esta será cumprida em regime inicial aberto ou semiaberto. Diante disso, Cunha explica:

Aplicada pena superior a 4 (quatro) anos, o juiz sentenciante fixará o regime inicial semiaberto, seja o condenado primário ou reincidente. Quando imposta pena não superior a 4 (quatro) anos, o regime inicial poderá ser o aberto, desde que primário o condenado. Na hipótese de réu reincidente, o regime inaugural deve ser o semiaberto (o mais para o tipo de pena) (2016, p. 450, grifo do autor).

Conforme disposto no Código Penal, a aplicação do regime inicial da detenção dar-se-á da mesma forma que a reclusão, sendo que somente poderá ser aplicado o regime aberto quando o detido for condenado a pena inferior a 4 (quatro) anos e não lhe constarem maus antecedentes que caracterizem a reincidência, nas demais hipóteses será aplicado o regime semiaberto (BRASIL, CP, 2019).

2.3.2 Pena restritiva de direitos

No Brasil, a possibilidade de aplicação das penas restritivas de direitos (doravante PRDs) foi inserida no Código Penal pela Lei nº 7.209 e ampliada pela Lei nº 9.714. A tendência da humanidade caminha para um sistema de aplicação de substitutivos à pena de prisão, devido à superlotação no sistema prisional, exceto quando relacionado aos crimes nos quais a prisão é recomendada, não sendo possível que o réu permaneça livre (MIRABETE; FABBRINI, 2013, p. 259).

As penas substitutivas são utilizadas com a finalidade de evitar o encarceramento, assim, segundo Bitencourt, “os especialistas dedicam longo esforço à tentativa de encontrar alternativas que permitam, pelo menos, evitar o

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encarceramento de delinquentes, exceto aquele que resulte indispensável” (2001, p. 292).

O CP, em seu artigo 43, dispõe quais são as espécies de penas restritivas de direitos (PRDs), sendo elas:

Art. 43. As penas restritivas de direitos são: I - prestação pecuniária;

II - perda de bens e valores; III - limitação de fim de semana;

IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; V - interdição temporária de direitos;

VI - limitação de fim de semana (BRASIL, CP, 2019).

Consequentemente, a PRD substituirá a PPL, e constitui uma diminuição, bem como a extinção de alguns direitos do condenado. Assim, dispõe o Código Penal, no artigo 44:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:

I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;

II – o réu não for reincidente em crime doloso;

III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente [...] (BRASIL, CP, 2019).

Contudo, existem critérios para a sua aplicação. Inicialmente, quando a pena da sentença for igual ou superior a um ano, poderá ocorrer a substituição por uma pena de multa ou por uma PRD. Quando for superior a um ano, a substituição só poderá ocorrer por uma PRD juntamente com uma de multa, ou duas PRDs (CUNHA, 2016, p. 463).

Acresce ressaltar, ainda, as características que anulam a aplicação da PRD. A primeira é que elas são autônomas, ou seja, não podem ser agregadas. Ademais, elas substituirão as penalidades que restringem, obrigando a fixar estas na sentença penal condenatória.

2.3.3 Pena de multa

A pena de multa, no Direito Penal brasileiro, “pode surgir como pena comum (principal), isolada, cumulada ou alternadamente, e como pena substitutiva da privativa de liberdade, quer sozinha, quer em conjunto com a pena restritiva de direitos [...]” (BITENCOURT, 2001, p. 277).

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Ela consiste na punição de natureza patrimonial que é cumprida por meio do pagamento de determinado valor em pecúnia, sendo o juízo da ação penal, competente para a sua aplicação. A pena de multa é largamente empregada no Código Penal, porém tem-se mostrado ineficaz, uma vez que a esmagadora maioria dos criminosos não dispõe de recursos para solver a dívida (MIRABETE; FABBRINI, 2013, p. 279).

De acordo com o que dispõe o artigo 49 do Código Penal, a tarifação obedecerá ao critério do dia-multa. Vejamos:

Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de dez e, no máximo, de trezentos e sessenta dias-multa.

§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a cinco vezes esse salário.

§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária (BRASIL, CP, 2019).

Para uma melhor compreensão da pena de multa, Bitencourt explica:

Para encontrarmos a menor pena de multa aplicável tomaremos o menor valor do dia-multa, um trigésimo do salário mínimo, e o limite de dias-multa, que é dez, o que representara um terço do salário mínimo. Para encontrarmos a maior pena de multa faremos operação semelhante: tomaremos o maior valor do dia-multa, cinco salários mínimos, e o limite máximo de dias multa, que é 360, e isso representara 1.800 salários mínimos (2001, p. 278). Esses são os limites normais ordinários. “Há outro limite, especial, extraordinário: se em virtude da situação econômica do réu, o juiz verificar que, embora aplicada no máximo, essa pena é ineficaz, poderá elevá-la até o triplo [...], o que representa 5.400 salários mínimos” (BITENCOURT, 2001, p. 279).

2.4 REGIMES DE CUMPRIMENTO DE PENA

O artigo 33 do código penal, dispõe que são três os regimes de cumprimento das penas:

a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; b) regime semi-aberto [sic] a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado (BRASIL, CP, 2019).

Explicaremos, mais detalhadamente, os regimes de cumprimento de pena nas seções seguintes.

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2.4.1 Fechado

A pena do regime fechado será cumprida em penitenciária, devendo o apenado, no constante ao que dispõe a Lei de Execuções Penais (arts. 87 e 88)3

(doravante LEP), ser alocado em cela exclusiva, areada e salubre, com privada, dormitório e lavatório, possuindo “uma área de no mínimo seis metros quadrados” (CUNHA, 2016, p. 445).

Fabbrini e Mirabete explicam que

O regime fechado caracteriza-se por uma limitação das atividades em comum dos presos por controle e vigilância sobre eles. Devem cumprir nesse regime presos de periculosidade extrema, assim considerados na valoração de fatores objetivos: quantidade de crimes, penas elevadas no período inicial de cumprimento, presos reincidentes etc. (2004, p. 268).

Em regra, o preso trabalhará durante o dia e ficará isolado à noite. O labor é feito dentro da própria unidade prisional e, sempre que possível, conforme as aptidões do apenado. Em caráter excepcional, a lei possibilita ao reeducando o trabalho fora do ergástulo, desde que, autorizado pelo juiz ou diretor do estabelecimento, o apenado apresente comportamento satisfatório e cumpra a fração de um sexto da pena. Cabe ressaltar que o trabalho externo será realizado em obras ou serviços públicos (CUNHA, 2016, p. 445).

Quanto às penitenciárias, conforme Mirabete e Fabbrini,

Por razões de segurança, determina-se que a penitenciária de homens seja construída em local afastado do centro urbano. A possibilidade de motins e fugas assim exige para a segurança da comunidade, que, de outra forma, estaria envolvida em acontecimentos passíveis de causar-lhes sérios perigos. Entretanto, a localização do estabelecimento não deve restringir a possibilidade de visitação aos presos, que é fundamental no processo de sua reinserção social (2004, p. 272).

O direito de visitação é previsto no artigo 41, inciso X da LEP4, uma vez

que o convívio com seus familiares colabora no processo de reeducação do apenado. A LEP ordena que o trabalho do detido que cumpre pena em regime fechado será realizado dentro da casa penal, “excepcionalmente ocorrerá o trabalho

3 “Art. 87. A penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado. [...] Art.

88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: a) Salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana; b) Área mínima de 6,00m² (seis metros quadrados)” (BRASIL, LEP, 2019).

4 “Art. 41 – Constituem direitos do preso: [...] X – visita do cônjuge, da companheira, de parentes e

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externo somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Pública”, devendo, ainda, ser tomados todos os cuidados necessários para evitar a fuga do apenado (BRASIL, LEP, 2019).

2.4.2 Semiaberto

O regime semiaberto será cumprido em colônia industrial, agrícola ou estabelecimento similar, onde admite-se a alocação do apenado em compartimentos compartilhados coletivamente, desde que prestadas às mesmas premissas oferecidas aos presos em cumprimento de reprimenda em regime mais austero (CUNHA, 2016, p. 447).

Afirma Cunha, que “o trabalho será comum durante o período diurno, realizando-se dentro do estabelecimento, com a possibilidade de ser realizado no ambiente externo, inclusive na iniciativa privada” (2016, p. 447). Vale ressaltar, que conforme o artigo 29 da LEP, aos presos que trabalham na iniciativa privada, é garantido o direito à remuneração “não inferior a ¾ (três quartos) do salário mínimo”5

(BRASIL, LEP, 2019).

Ainda, como disposto no artigo 35, §2º do Código Penal, admite-se, mesmo que fora da unidade prisional, que o reeducando frequente cursos profissionalizantes de segundo grau ou superior (BRASIL, CP, 2019).

2.4.2.1 Autorizações de saída

Como já destacado em outros momentos deste trabalho, é muito importante, para o êxito da reintegração social dos reeducandos, os seus vínculos com o mundo exterior, principalmente com o âmbito familiar. A LEP prevê a possibilidade de saída transitória (para tratamento médico, frequência a cursos, etc.), ou como uma modalidade de benefício pelo comportamento e merecimento do reeducando (visitas à família, participação em atividades socioeducativas) (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 504).

As autorizações de saída dividem-se em: a) permissões de saída, fundadas em razões humanitárias podendo ser fornecidas aos presos provisórios ou condenados em regime fechado ou semiaberto. b) saídas temporárias, aparadas pelo

5 “Art. 29 – O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a

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cumprimento de determinados requisitos, objetivos e subjetivos, concedidas somente aos condenados em regime semiaberto (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 504).

2.4.2.1.1 Permissão de saída

De acordo com o disposto no artigo 120 da LEP, a permissão de saída pode ser concedida nas seguintes hipóteses:

Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto [sic] e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos: I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão;

II - necessidade de tratamento médico (parágrafo único do artigo 14). Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento onde se encontra o preso (BRASIL, LEP, 2019).

Conforme explicam Mirabete e Fabbrini,

A permissão visa, na primeira hipótese, acalmar a ansiedade do condenado originada por graves acontecimentos familiares e que pode ser aplicada ou diminuída com a permissão ao preso de participar dos funerais ou das providências referentes ao tratamento do cônjuge ou parente próximo. [...]. Quanto à segunda hipótese, reconhecendo a Administração que não pode fornecer ao preso uma assistência à saúde adequada, por não estar o estabelecimento penal aparelhado para prover o atendimento médico necessário, permite que esse se faça em outro local [...] (2004, p. 505). A permissão de saída escusa autorização judicial, sendo atribuição do diretor da casa penal conceder ou não o benefício, já que esta providência constitui simples medida administrativa, todavia, não afasta a competência do juiz e a intervenção do Ministério Público. A saída do preso deve ser acompanhada por escolta dos Agentes Penitenciários, os quais, proporcionarão toda segurança necessária para evitar possíveis fugas (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 505).

Ainda, conforme explicito no artigo 121 da LEP, o tempo que o preso ficar fora da casa penal será o necessário para a finalidade da saída (BRASIL, LEP, 2019). A título de exemplo, caso ocorra o falecimento de um familiar do apenado, este terá o direito de sair da unidade prisional, por tempo determinado, para comparecer ao velório de seu congênere.

2.4.2.1.2 Saída temporária

Segundo Mirabete e Fabbrini, “a saída temporária consiste na liberdade do preso para visitar a família, frequentar cursos profissionalizantes, de segundo grau ou

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superior e participar de atividades que concorram para a revinda ao convívio social” (2004, p. 507-508).

Esta é concedida aos detidos que cumprem pena no regime semiaberto, mediante o atendimento de dois requisitos: a) objetivo, sendo este o cumprimento de um sexto da pena, no caso de réu primário e um quarto, em caso de reincidência. b) subjetivo, consistente no bom comportamento carcerário (NUCCI, 2018, p. 116).

Ainda, conforme Nucci, a saída serve “como forma de viabilizar, cada vez mais, a reeducação, desenvolvendo-lhes o senso de responsabilidade, para, no futuro, ingressar no regime aberto, bem como para dar início ao processo de ressocialização” (2018, p. 168).

No tocante ao requisito subjetivo, em primeiro lugar exige-se o bom comportamento carcerário, ou seja, a comprovação de que não cometeu nenhuma falta disciplinar recentemente, além disso, não basta que o comportamento seja considerado “bom”, mas, também, que o reeducando demonstre disciplina e senso de responsabilidade, isso, baseado no relatório de vida carcerária (doravante RVC) emitido pela casa penal (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 510).

Nas saídas temporárias, o detido não se submeterá à vigilância, cabendo a ele a integral responsabilidade pelo retorno no dia e horário dispostos na guia de saída temporária, a fim de evitar que ocorra a revogação do benefício. A revogação não é automática, ou seja, o juiz deve decretá-la ao simples conhecimento da causa de revogação, não sendo indispensável a oitiva do apenado (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 515).

Acerca dos prazos, as saídas temporárias não serão superiores a sete dias, permitidas por cinco vezes durante o ano, com intervalo mínimo de quarenta e cinco dias entre uma e outra. Já foi decidido que pode ser concedido o benefício automaticamente para saídas posteriores (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 513). No tocante à escolha das datas, em prática, é entregue ao apenado uma guia de saída temporária a fim de que escolha os dias que melhor lhe agradem, respeitados os intervalos supracitados.

A guia de saída temporária é entregue ao setor jurídico da casa penal, com as respectivas datas, e este será responsável pelo encaminhamento da guia ao judiciário para posterior análise.

Verifique-se a Súmula 520 do STJ, que dispõe: “O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação

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à autoridade administrativa do estabelecimento prisional” (BRASIL, STJ, 2015). Dessa forma, ao contrário da permissão de saída, a saída temporária só será concedida pelo Poder Judiciário.

2.4.3 Aberto

O regime aberto está baseado “[...] na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado” (CUNHA, 2016, p. 448). Bitencourt explica que “o maior mérito do regime aberto é manter o condenado em contato com a sua família e com a sociedade, permitindo que o mesmo leve uma vida útil e prestante” (2018, p. 914).

O condenado permanecerá recolhido durante à noite e nos dias de folga, devendo trabalhar e exercer outras atividades fora da unidade prisional não sendo necessária a presença de vigilância. O detento tem a obrigação de demonstrar que merece estar em cumprimento de pena neste regime, pois, caso haja descumprimento, será transferido para um regime mais gravoso. Assim, dispõe o Código Penal:

Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado.

§ 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga. § 2º - O condenado será transferido do regime aberto, se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada (BRASIL, CP, 2019).

A LEP prevê a prisão domiciliar como forma de cumprimento de pena em regime aberto na falta de Casa do Albergado e observadas as condições características do apenado (BRASIL, LEP, 2019)6. Além disso, a legislação da

comarca local pode estabelecer normas que complementem o cumprimento da pena neste regime (MIRABETE; FABBRINI, 2013 p. 242).

A saber, tem-se o regime disciplinar diferenciado, que não se trata de mais um regime de cumprimento de pena, mas de disciplina que mantém o apenado em um maior grau de isolamento e com mais restrições de contato com o exterior, podendo a ele ser submetido tanto os presos cumprindo pena provisoriamente quanto

6 “Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência

particular quando se tratar de: I- condenado maior de 70 (setenta anos; II- condenado acometido de doença grave; III- condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; IV- condenada gestante” (BRASI, LEP, 2019).

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os condenados. Pode-se, também, aplicar esse regime aos detentos com fundada suspeita de que participem de organizações criminosas ou apresentem risco à integridade física dos outros apenados ou à segurança da casa penal. A sanção disciplinar não será superior a 360 dias (MIRABETE; FABBRINI, 2013 p. 242).

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3 A EXECUÇÃO PENAL, O EXAME CRIMINOLÓGICO E O PARECER DA CTC

A primeira tentativa de estabelecer-se código que versasse a respeito de normas de execução penal, no Brasil, foi o Código Penitenciário da República, de 1933, feito por Lemos de Brito, Cândido Mendes e Heitor Carrílio, sendo, posteriormente, publicado em diário do poder legislativo no dia 25 de fevereiro de 1937, ou seja, cerca de três anos após sua confecção (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 23).

Em 1951, o Deputado Carvalho Neto elaborou um projeto que resultou na validação da Lei nº 3.274 de 2 de outubro de 1957, que versa sobre normas do regime penitenciário, porém, o diploma não previa sanções em caso de descumprimento da lei, restando ineficaz e sendo revogado pelo projeto do Ministro da Justiça, elaborado por uma comissão de jurisconsultos, denominado de Código Penitenciário em 28 de abril de 1957 (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 24).

Logo após, Benjamin Moraes Filho, em 1970, elaborou o Código de Execuções Penais, que não foi aproveitado. Ademais, em 1981, é instituída uma comissão que apresentou o projeto da nova LEP, que foi revisada e encaminhada ao Congresso Nacional e que, em 1984, foi aprovada sem que houvesse quaisquer alterações, sendo a mesma que vigora até os dias de hoje (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 24).

A LEP é considerada uma das mais modernas do mundo, porém está em um grande descompasso com a realidade presenciada nos presídios brasileiros. Basta fazer a leitura do artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição da República Federativa do Brasil (doravante CRFB), que dispõe: “é assegurado aos presos o direito à integridade física e moral” (BRASIL, CRFB, 2019), para se deparar com o descaso com que é tratada a maior parte dos artigos idealizados pela LEP.

Segundo Nucci, a execução penal “trata-se da fase do processo penal, em que se faz valer o comando contido na sentença condenatória penal, impondo-se, efetivamente, a pena privativa de liberdade, a pena restritiva de direitos ou a pecuniária” (2016, p. 938).

Um dos maiores objetivos da Lei n° 7.209 de 11 de julho de 1984 – a LEP - é a elucidação dos direitos do condenado, dentre eles, a prestação de assistência penitenciária, a individualização da pena, o bem-estar e etc. Em contrapartida, exige-se o bom comportamento carcerário, o cumprimento integral às ordens e à disciplina

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pelo encarcerado. A lei contempla matérias relacionadas aos órgãos administrativos, ao tratamento penal e à intervenção jurisdicional (MIRABETE, 2002, p. 249).

3.1 NATUREZA JURÍDICA DA EXECUÇÃO PENAL

Primordialmente, a Execução Penal tem natureza jurisdicional, cuja finalidade é tornar efetiva a pena imposta pelo Estado, o que abarca tanto o poder Judiciário quanto o Executivo. A execução penal é uma atividade complicada que torna harmônicos os planos jurisdicional e administrativo, pois são interligados por uma relação de pertinência (NUCCI, 2016, p. 939).

Segundo Mirabete e Fabbrini:

Realmente, a natureza jurídica da execução penal não se confina no terreno do direito administrativo e a matéria é regulada à luz de outros ramos do ordenamento jurídico, especialmente o direito penal e o direito processual. Há uma parte da atividade da execução que se refere especificamente a providências administrativas e que fica a cargo das autoridades penitenciárias e, ao lado disso, desenvolve-se a atividade do juízo da execução ou atividade judicial da execução (2004, p. 20).

Conforme Nucci, “o ponto de encontro entre as atividades judicial e administrativa ocorre porque o Judiciário é o órgão encarregado de proferir os comandos pertinentes à execução da pena, embora o efetivo cumprimento se dê em estabelecimentos penais” (2018, p. 17).

3.2 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO PENAL

3.2.1 Princípio da humanidade das penas

Este princípio está previsto no artigo 1º, inciso II, da CRFB de 1988 e indica que nenhuma pena pode atentar contra a integridade da pessoa humana. Vale lembrar, que, conforme dispomos nos capítulos antecedentes deste trabalho, a história das penas é mais horrenda e, talvez, mais numerosa que a violência produzida pelo próprio delito (AKERMAN, 2017, p. 2).

Além disso, verifica-se, no artigo 5°, inciso XLVII, que o texto maior proíbe, salvo exceções, as seguintes penas:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

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[...]

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados; d) de banimento;

e) cruéis (BRASIL, CRFB, 2019).

Ademais, conforme Bitencourt, a “dignidade da pessoa humana é um bem superior aos demais e essencial a todos os direitos fundamentais do Homem, que atrai todos os demais valores constitucionais para si” (2018, p. 97).

O princípio da humanidade é o maior impedimento para a adoção da pena capital e da prisão perpétua. Segundo Bitencourt, “esse princípio sustenta que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados” (2018, p. 98).

3.2.2 Princípio da individualização da pena

Nos primórdios, o Direito Penal adotava a pena fixa, e estabelecia a coima de acordo com o crime praticado pelo delinquente. Assim explica Bitencourt:

A primeira reação do Direito Penal moderno ao arbítrio judicial dos tempos medievais foi a adoção da pena fixa, representando o “mal justo” na exata medida do “mal injusto” praticado pelo delinquente. Na verdade, um dos maiores males do Direito Penal anterior ao Iluminismo foi o excessivo poder dos juízes, exercido arbitrariamente, em detrimento da Justiça e a serviço da tirania medieval (2018, p. 1216).

Esse sistema era largamente aberto na quantidade de pena a ser aplicada e resultava no exercício arbitrário do poder de sentenciar. Por consequência, era necessário que fossem estabelecidos limites mínimo e máximo entre os quais poderia variar a aplicação da pena pelo princípio do livre convencimento, assim surge o princípio da individualização da pena.

Tal princípio está tipificado no artigo 5º, inciso XLVI da CRFB. Segundo o texto constitucional, “a lei regulará a individualização da pena” (BRASIL, CRFB, 2019). Com efeito, a individualização das penas ocorre em três estágios:

a) cominação legal; b) aplicação judicial; c) execução penal.

Nessa terceira etapa, segundo Akerman, “efetivam-se as disposições da decisão criminal, sendo certo que a execução, tal como as demais etapas de

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individualização, deve atender às peculiaridades da situação de cada indivíduo submetido à sanção penal que lhe fora imposta” (2017, p. 2).

3.2.3 Princípio da legalidade da execução penal

Está determinado, no art. 2º da LEP, que “a jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal”. Também consagra a LEP que “não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar” (BRASIL, LEP, 2019).

De acordo com esse princípio, as regras impostas aos apenados não podem ficar adstritas à vontade das instituições penitenciárias e dos agentes penitenciários, dessa forma, caso as penalidades não estejam previstas em lei, estas não poderão ser aplicadas (MIRABETE; FABBRINI, 2004, p. 30).

A título de exemplo, a Secretária de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAPSP) editou a Resolução nº 113/2003, tipificando como falta grave a posse de celular em presídio. O Superior Tribunal de Justiça, contemplando o princípio da legalidade, destacou que o Estado de São Paulo é incompetente para definir o fato como sendo ou não falta grave. Posteriormente, houve uma mudança na LEP, em 29 de março de 2007, que previu a conduta como faltosa, porém, pelo princípio da irretroatividade, “a lei penal mais gravosa não pôde alcançar os fatos ocorridos antes da vigência da nova lei” (AKERMAN, 2017, p. 2).

3.3 DA PROGRESSÃO DE REGIME

Progressão de regime é a passagem do interno de um regime mais austero, para um regime mais tênue, quando demonstradas as condições de adaptação a este, tendo como objetivo a ressocialização do apenado de forma gradativa. A Convenção Americana de Direitos Humanos consagra, como finalidade da pena privativa de liberdade, a readaptação social bem como a reforma dos condenados, dessa forma o sistema progressivo surge com a intenção de devolver, vagarosamente, o apenado à sociedade (MIRABETE, FABBRINI, 2004, p. 386).

Para Bitencourt, “os regimes de cumprimento da pena direcionam-se para maior ou menor intensidade de restrição da liberdade do condenado, sempre produto de uma sentença penal condenatória” (2018, p. 926).

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O sistema progressivo de pena permite ao detento encaminhar o compasso de cumprimento de sua condenação e, portanto, nas palavras de Bitencourt, “ir conquistando paulatinamente a sua liberdade”. Ainda, conforme o autor, na progressão de regime, além do mérito do condenado, é necessário que tenha cumprido determinado requisito objetivo, “sendo vedada a passagem do regime fechado ao aberto, sem passar obrigatoriamente pelo regime intermediário, qual seja, o semiaberto” (2018, p. 927).

3.3.1 Requisitos

Para progredir ao regime mais tênue, o apenado cumprirá dois requisitos: o objetivo, que é o cumprimento de determinada fração de pena e o subjetivo, consistente em ter um bom comportamento carcerário. As diretrizes para a progressão estão dispostas na LEP, conforme artigo 112:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.

§ 1° A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor.

§ 2° Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes (BRASIL, LEP, 2019).

Ademais, após ser sancionada a Lei nº 11.464 de março de 20077, as

frações de progressão, para os crimes tipificados na Lei de Crimes Hediondos, passaram a ser de dois quintos para réu primário e três quintos para reincidentes. Vale destacar, que a reincidência não necessariamente deverá ser específica, ou seja, o apenado será considerado reincidente mesmo que tenha cometido um crime comum, com trânsito em julgado, ocorrido antes da prática do delito hediondo. Logo, a fração a ser utilizada para os cálculos da progressão é de três quintos. Dessa forma, o artigo 2°, §2° da Lei de Crimes Hediondos dispõe:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:

I - anistia, graça e indulto;

II - fiança.

§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em

regime fechado.

7 Da nova redação ao artigo 2º da Lei 8.072 de 25 de julho de 1990, anteriormente, para progredir de

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§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal).

§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente

se o réu poderá apelar em liberdade.

§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de

dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade (BRASIL, Lei nº 8.072, 2019, grifo nosso).

Por conseguinte, a jurisprudência entende que é indiferente a reincidência específica ou genérica, conforme exposto a seguir:

HABEAS CORPUS. LEI 8.072/90. ARTIGO 2°. PARÁGRAFO 2°. PROGRESSÃO DE REGIME. REINCIDÊNCIA GENÉRICA E NÃO ESPECÍFICA. CUMPRIMENTO DE 3/5 DA PENA. ORDEM DENEGADA. 1. Da simples leitura do artigo 2°, parágrafo 2°, da Lei n° 8.072/90, acrescentado pela Lei n° 11.464/07, constata-se que o legislador não fez qualquer menção à reincidência específica, portanto, aquele que cometer delito hediondo ou equiparado, depois de já ter sido condenado por outro crime, com trânsito em julgado, nos últimos cinco anos, deve progredir somente após o cumprimento de 3/5 da pena. Trata-se de reincidência genérica. 2. Ordem denegada (BRASIL, TRF-3, 2013).

Assim, Talon (2018, p. 1) explica que” [...] o posicionamento jurisprudencial é pela aplicação da fração de 3/5 para a progressão daquele que pratica um crime hediondo ou equiparado após ter sido condenado com trânsito em julgado, não sendo relevante se o crime anterior era ou não hediondo [...]”.

No que tange ao requisito subjetivo, este é comprovado através de um relatório de vida carcerária, emitido pelo diretor da casa penal, porém, o juiz não está vinculado ao documento, podendo

formar livremente a prova para a formação de sua convicção [...] e ordenar diligência e produção de prova, inclusive pericial [...], deverá negar a progressão, mesmo quando for favorável o atestado ou parecer do diretor do estabelecimento, se convencido por outros elementos (MIRABETE; FABBRINI, 2013, p. 246).

Ainda acerca do requisito intrínseco, o juiz pode determinar a realização do exame criminológico, mediante decisão fundamentada, como requisito prévio à concessão do benefício pleiteado. Conforme a Súmula 439 do Supremo Tribunal de Justiça, “Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada” (BRASIL, STJ, 2010).

Verifica-se, conforme exposto a seguir, que atualmente o exame criminológico tornou-se facultativo, porém poderá ser realizado em caso de decisão fundamentada.

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EMENTA Habeas corpus. Execução penal. Exame criminológico. Lei nº 10.792/03. Progressão de regime. Decisão fundamentada. Habeas Corpus denegado. Acompanhamento psicológico por profissional habilitado disponibilizado pelo estado. Direito do preso (art. 41, inciso VII, da Lei nº 7.210/84). Ordem concedida de ofício para esse fim. 1. Esta Suprema Corte vem se pronunciando no sentido de que “o exame criminológico, embora facultativo, deve ser feito por decisão devidamente fundamentada, com a indicação dos motivos pelos quais, considerando-se as circunstâncias do caso concreto, ele seria necessário” (HC nº 94.503/RS, Primeira Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 12/12/08). 2. Habeas Corpus denegado. 3. É fundamental que o estado ofereça as necessárias condições ao paciente, disponibilizando profissional de psicologia para realizar o seu regular acompanhamento, por se tratar, inclusive, de um direito ao preso, consagrado na Seção II, art. 41, inciso VII, da Lei nº 7.210/84. 4. Ordem concedida de ofício para esse fim (BRASIL, STF, 2011).

Portanto, de acordo com Nucci, “[...] cabe ao juiz da execução penal determinar a realização do exame criminológico, quando entender necessário, o que deve fazer no caso de autores de crimes violentos contra a pessoa, bem como a concretização do parecer da Comissão Técnica de Classificação” (2016, p. 952)8.

3.3.2 Da progressão por saltos

A súmula 491 do STJ dispõe que o detido não poderá avançar do regime fechado imediatamente para o aberto, tornando-se obrigatória a passagem pelo regime semiaberto, porém ela estabelece que, caso comprovada a culpa do Estado pela demora na transferência do reeducando para o regime mais brando, a progressão por saltos será cabível (BRASIL, STJ, 2011).

Dessa forma, Nucci explica:

[...] é incabível, como regra, a execução da pena “por saltos”, ou seja, a passagem do regime fechado para o aberto diretamente, sem o necessário estágio no regime intermediário (semiaberto). Porém, é preciso considerar que, por vezes, deferindo o juiz a progressão do sentenciado do regime fechado ao regime semiaberto, não havendo vaga neste último, tem-se permitido que se aguarde a referida vaga no regime aberto (2018, p. 162). Ainda, quanto à falta de vagas, o STF editou a Súmula Vinculante nº 56, que afirma que “a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS” (BRASIL, STF, 2016).

3.3.3 Livramento condicional

Para Nucci, o livramento condicional

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Trata-se de um instituto de política criminal, destinado a permitir a redução do tempo de prisão com a concessão antecipada e provisória da liberdade do condenado, quando é cumprida pena privativa de liberdade, mediante o preenchimento de determinados requisitos e a aceitação de certas condições. É medida penal restritiva da liberdade de locomoção, que se constitui num benefício ao condenado e, portanto, consiste em um direito subjetivo de sua titularidade, integrando um estágio do cumprimento da pena (2018, p. 179). Nesse substitutivo penal, “coloca-se de novo no convívio social o criminoso que já apresenta índice suficiente de regeneração, permitindo-se que complete o tempo da pena em liberdade, embora submetido a certas condições” (MIRABETE; FABBRINI, 2013, p. 325).

Conforme dispõe o art. 131 da LEP, “o livramento condicional poderá ser concedido pelo juiz da execução, se presentes os requisitos do art. 83, incisos e parágrafo único, do Código Penal, ouvidos o Ministério Público e o Conselho Penitenciário” (BRASIL, LEP, 2019).

Por conseguinte, estão elencados, no artigo 83 do Código Penal, os seguintes requisitos para a concessão do livramento condicional:

Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:

I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;

II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto;

IV- tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;

V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinqüir [sic] (BRASIL, CP, 2019).

O tempo remanescente do livramento condicional equivale ao restante da PPL a ser cumprida. Exemplo: condenado à pena de 20 anos é contemplado com o benefício após o cumprimento de 10 anos, o tempo remanescente será de 10 anos. Cabe ressaltar, que caso o apenado preencha todos os requisitos do benefício, deve

o magistrado concedê-lo, pois não se trata de uma faculdade do juiz (NUCCI, 2018,

p. 179).

Os requisitos subjetivos, para Bitencourt (2018, p. 1333), referem-se

[...] à pessoa do condenado, pois é pressuposto básico do livramento condicional que o liberado reingresse na sociedade livre em condições de

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tornar-se membro útil, produtivo e em reais condições de reintegrar-se socialmente. É necessário que esteja em condições de prover sua própria subsistência através do seu trabalho, sem necessidade de recorrer a atividade escusa. Os requisitos subjetivos são: bons antecedentes, comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho atribuído e aptidão para o trabalho.

Além disso, pode o juiz da execução criminal solicitar o relatório de vida carcerária à unidade prisional, a fim de verificar seu bom/mau comportamento, bem como utilizar o exame criminológico para formar seu parecer sobre a concessão do benefício. Em caso de comportamento insatisfatório, deverá ser denegado o benefício, podendo novamente ser confeccionado outro pedido depois de determinado período (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2015, p. 716).

3.4 DA REGRESSÃO DE REGIME

Ao contrário da progressão, a regressão faz com que o apenado retorne a um regime mais gravoso. “O condenado que cumpre pena em regime aberto pode ser transferido para o regime semiaberto ou fechado, e o que cumpre a sanção no regime semiaberto será recolhido a estabelecimento de segurança média ou máxima” (MIRABETE; FABBRINI, 2013, p. 247).

Será obrigatoriamente regredido para um regime mais severo, o apenado que incidir nas condutas tipificadas no artigo 118 da LEP:

Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:

I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;

II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regime.

§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta.

§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o condenado (BRASIL, LEP, 2019).

Explica Nucci, que quando ocorrer a prática do fato delituoso o apenado poderá sofrer uma regressão cautelar, na qual ficará até o julgamento definitivo, sendo fixado o cumprimento em regime semiaberto ou fechado de acordo com a gravidade do crime ou da falta cometida (2018, p. 166).

Ressalta, ainda, o autor que “o advento de nova condenação pode evidenciar que o montante delas torna o regime incompatível com o preceituado em

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lei; precisa o juiz adaptá-lo à nova realidade, podendo implicar regressão” (NUCCI, 2018, p. 166).

Disciplina o art. 119 que “a legislação local poderá estabelecer normas complementares para o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime aberto” (BRASIL, LEP, 2019). Dessa forma, a legislação estadual pode criar mais regras para regulamentar o cumprimento da condenação em regime aberto, tais como criar cursos e outras atividades para ocupar o tempo do reeducando (NUCCI, 2018, p. 167).

3.5 ESPÉCIES DE FALTA

A LEP define várias modalidades de faltas que podem ser praticadas pelo detido, além disso, elas são classificadas em espécies. Cabe ressaltar, que a apuração das faltas disciplinares é feita através da instauração do denominado incidente disciplinar, pelo diretor da casa penal, conforme disposto na Súmula 533 do Supremo Tribunal de Justiça:

Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado (BRASIL, STJ, 2015).

Para Villar,

no âmbito da execução penal, a atribuição de apurar a conduta faltosa do detento, assim como realizar a subsunção do fato à norma legal, ou seja, verificar se a conduta corresponde a uma falta leve, média ou grave é do diretor do presídio, que é o detentor do poder disciplinar” (2018, p. 1).

3.5.1 Falta leve

As faltas de natureza leve estão dispostas no artigo 118 do Regimento Interno dos Estabelecimentos Penais da Secretaria de Segurança Pública (RIEP) que assim dispõe:

Art. 118 - São faltas disciplinares leves:

I. ocultar fato ou coisa relacionada com a falta de outrem, para dificultar averiguações;

II. utilizar material, ferramenta ou utensílio do estabelecimento em proveito próprio, sem a autorização competente;

III. portar objeto de valor, além do regulamente permitido;

IV. transitar pelo estabelecimento ou por suas dependências em desobediência às normas estabelecidas;

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IV. desobedecer às prescrições médicas, recusando o tratamento necessário ou utilizando medicamentos não prescritos ou autorizados pelo órgão médico competente;

V. enviar correspondências sem autorização do Diretor do estabelecimento; VII. efetuar ligações telefônicas sem autorização;

VIII. utilizar-se de local impróprio para satisfação de necessidades fisiológicas;

IX. utilizar-se de objeto pertencente a outro preso sem o devido consentimento;

X. proceder grosseira ou imoralmente em relação a outro interno;

XI. simular doença ou estado de precariedade física para eximir-se de obrigação;

XII. cometer desatenção propositada durante estudos ou aula de serviço (BRASIL, RIEP, 2019).

Dessa forma, o cometimento de faltas de natureza leve pode acarretar impedimento à progressão de regime, posto que impossibilita a certificação de boa conduta, inviabilizando a concessão do benefício por ausência do requisito subjetivo (BRASIL, TJSP, 2016).

3.5.2 Falta média

As faltas de natureza média estão elencadas no artigo 119 do Regimento Interno dos Estabelecimentos Penais da Secretaria de Segurança Pública (RIEP), sendo elas:

Art. 119 – São faltas disciplinares médias:

I. praticar ou contribuir para a prática de jogos proibidos, agravando-se a falta quando essa prática envolver exploração de outros presos;

II. resistir, inclusive por atitude passiva, à execução de ordem ou ato administrativo;

III. caluniar, difamar ou injuriar funcionário;

IV. praticar compra ou venda não autorizada, em relação a outro preso; IV. faltar à verdade com o fim de obter vantagem ou eximir-se de responsabilidade;

V. formular queixa ou reclamação com improcedência, reveladora de motivo reprovável;

VI. explorar companheiros sob qualquer pretexto ou forma;

VII. desobedecer aos horários justos ao trabalho que for determinado; IX. recusar-se sem motivo justo ao trabalho que for determinado; X. recusar-se à assistência ou ao dever escolar, sem razão justificada; XI. entregar ou receber objetos sem a devida autorização;

XII. desleixar-se da higiene corporal, do asseio da cela ou alojamento, e descurar da conservação de objetos de uso pessoal;

XIII. lançar nos pátios águas servidas ou objetos, bem como lavar, estender ou secar roupas em local não permitido;

XIV. produzir ruídos para perturbar a ordem, nas ocasiões de descanso, de trabalho ou de reunião;

XV. desrespeitar os visitantes, seus ou de outros internos;

XVI. retardar o cumprimento de ordem, com intuito de procrastinação; XVII. descurar da execução de tarefa;

XVIII. ausentar-se dos lugares em que deva permanecer

XIX. Possuir, guardar, ocultar, receber, ceder a qualquer detento, utilizar ou intermediar o uso de aparelho de telefonia celular.

Referências

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