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O instituto da remição por trabalho, segundo Bitencourt, surgiu no Direito Penal Militar durante a guerra civil espanhola, na década de 1930. Ainda, de acordo com ele, “remir significa resgatar, abater, descontar, pelo trabalho realizado dentro do sistema prisional, parte do tempo de pena a cumprir, desde que não seja inferior a seis horas nem superior a oito” (2018, p. 952).

Para Cappellari, “remir a pena traduz-se no desconto de parte do tempo de execução da pena privativa de liberdade, em regra, pelo trabalho realizado ou estudo” (2017, p. 1).

O instituto da remição está disposto nos artigos 126 a 130 da LEP, os quais dispõem que a remição pode ser por trabalho ou por estudo, sendo que será remido um dia de pena a cada doze horas de estudo, divididas no mínimo em três dias e um dia de pena a cada três dias trabalhados. Cabe ressaltar que ainda há a possibilidade de remição pela leitura, onde o apenado terá direito a quatro dias de remição para cada livro, podendo ler até um por mês (BRASIL, LEP, 2019).

Em relação ao cálculo de dias remidos por trabalho e estudo, Nucci explica que

O condenado deve desenvolver as seguintes cargas horárias: a) de seis a oito horas de trabalho por dia; b) quatro horas de estudo por dia. Como o mínimo para a obtenção de um dia de trabalho é o desenvolvimento de seis horas laborativas, o que exceder esse montante será guardado para compor outro dia/trabalho. Exemplo: o condenado trabalhou três dias, oito horas por dia; a cada dia, reserva-se seis horas + duas; ao final dos três dias, verifica- se que ele labutou 24 horas, ou seja, o equivalente a quatro dias. Computar- se-á como total trabalhado o montante de quatro (e não de três) dias. Em relação ao estudo, a carga é fixa por dia: quatro horas. Entretanto, nada impede que o preso estude por oito horas diárias, comprovadas por frequência a dois cursos simultaneamente desenvolvidos. Nesse caso, terá direito ao cálculo de “dois dias de estudo” a cada 24 horas, em que tiver a carga horária de oito horas diárias. Aliás, pode o preso trabalhar e estudar concomitantemente, desde que os horários sejam compatíveis (art. 126, § 3.º, LEP) e a remição será cumulada (2016, p. 979).

Ainda, conforme disposto na LEP, o preso que concluir o ensino fundamental, médio ou superior, terá direito ao aumento de 1/3 do tempo a remir em decorrência das horas de estudo. E, “em caso de falta grave, o juiz poderá revogar

até 1/3 do tempo remido” nos doze meses anteriores a falta grave. Cabe evidenciar que a expressão “até um terço” dá margem ao magistrado de determinar a perda de somente um único dia de tempo remido (BRASIL, LEP, 2019).

Dessa forma, é importante o estabelecimento de um teto de perda de dias remidos, pois, anteriormente, a prática de falta grave poderia levar a perda de todos os dias de remição. Essa situação, na opinião de Nucci, “[...] era injusta, pois quem já havia remido muito tempo, por conta de uma única falta, poderia perder todo o montante de anos trabalhados (2016, p. 980).

Aos presos, são disponibilizados dois tipos de trabalho, o interno e o externo. No trabalho interno, executado por detidos em regime fechado, semiaberto e provisórios, os apenados exercem a função de “regalias”, ou seja, trabalhão na cozinha da unidade prisional, na limpeza e na manutenção predial, na execução de serviços de manutenção em geral. Já o trabalho externo, é exercido por detidos em regime semiaberto, de modo que a LEP dispõe que também poderão laborar nas atividades externas os detidos em regime fechado, todavia, somente em “serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga em favor da disciplina” (BRASIL, LEP, 2019).

A título de exemplo, os internos do Presídio Regional de Araranguá podem exercer atividades laborativas na prefeitura do próprio município, na fábrica de gelo “Gelos Cubinho” e no frigorífico “Caverá”. Além disso, também é disponibilizada a oportunidade de trabalho no Instituto Geral de Perícia, na Polícia Civil e Militar em atividades de manutenção predial e de faxina. Ainda, em Araranguá, o IFSC de instalou salas de aulas para oferecer cursos aos presos.

A remição por estudo pode ser realizada também por presos em regime aberto, ao contrário da remição por trabalho, que, de acordo com o dispositivo legal, somente poderá ser realizada por condenados em regime semiaberto e fechado (BITENCOURT, 2018, p. 953)

5 CONCLUSÃO

A crise no sistema prisional é um dos assuntos que mais preocupa a sociedade hodierna. Dessa forma, o estudo da execução penal é importante para que se tragam soluções para o seu aprimoramento. O desenvolvimento do presente estudo ensejou uma análise da facultatividade do exame criminológico para a progressão de regime, bem como do parecer da Comissão Técnica de Classificação. Inicialmente, foi dada ênfase ao histórico da pena de prisão, do mesmo modo que aos regimes de cumprimento da pena a fim de chegar à conceituação de sistema progressivo. Constatou-se que, para a progressão de regime, o apenado deve cumprir requisitos, o objetivo e o subjetivo, sendo que o último foi o centro desta monografia.

No tocante ao requisito subjetivo, chegou-se à conclusão de que o exame criminológico e o parecer da CTC são institutos muito importantes para que o magistrado forme sua convicção sobre o deferimento da progressão de regime, do livramento condicional, bem como da saída temporária, visto que, é responsabilidade do Estado a reinserção do indivíduo na sociedade de forma gradativa e eficaz.

Porém, atualmente, o requisito subjetivo é comprovado por um simples relatório de vida carcerária emitido pelo diretor da casa penal, o que não nos parece ser suficiente para a formação do convencimento do juiz da execução criminal, pois não soluciona a apuração do mérito.

Dada a importância do assunto, torna-se necessária a tomada de medidas para que o exame criminológico e o parecer da CTC voltem a ser mais utilizados como requisitos para a progressão de regime, bem como o investimento, por parte do Estado, na criação de mais Centros de Observação Criminológica, além do investimento na capacitação e no aprimoramento dos profissionais que atuam na CTC. Porém, percebeu-se que o exame e o parecer da CTC, por si só, não são capazes de garantir a não reincidência do apenado, portanto, devem ser utilizados em conjunto com os demais instrumentos probatórios colhidos no decorrer da execução penal.

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