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Corte do potencial e correc¸c˜ oes de longo alcance

2.3 Potenciais de interac¸c˜ ao

2.3.1 Corte do potencial e correc¸c˜ oes de longo alcance

Algumas interac¸c˜oes intermoleculares s˜ao de curto alcance, isto ´e, os respectivos valores de energia decaem para valores pr´oximos de zero em apenas alguns diˆametros moleculares, como ´e o caso da energia de dispers˜ao traduzida pelo potencial LJ. Nesta situa¸c˜ao, ´e comum considerar somente as interac¸c˜oes cujas distˆancias entre part´ıculas caem dentro de uma esfera de raio de corte, rcut. Isto leva a que s´o

uma pequena percentagem das 12N (N − 1) interac¸c˜oes, necess´arias para o c´alculo da energia potencial total, sejam efectivamente tidas em conta. A contribui¸c˜ao de energia devida `as interac¸c˜oes com part´ıculas que ficam fora da esfera de corte ´e calculada integrando a fun¸c˜ao de potencial, considerando uma fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao radial uniforme e unit´aria, isto ´e:

Utot =X i<j U (rij < rcut) + N ρ 2 Z ∞ rcut U (r) 4πr2dr (2.58) onde ρ ´e a densidade do sistema.

Somas de Ewald

No caso do potencial de Coulomb n˜ao ´e poss´ıvel aplicar um corte an´alogo ao que discutimos para o potencial LJ. Este potencial decai com uma potˆencia em r−1 o que provoca a divergˆencia do integral [2], apresentado na equa¸c˜ao (2.58), para as contribui¸c˜oes de longo alcance. No entanto, ´e comum observar-se na literatura que para simula¸c˜oes de sistemas biol´ogicos de grandes dimens˜oes a estrat´egia de corte do potencial ´e muitas vezes utilizada [2]. Isto deve-se `a necessidade de diminuir os tempos de c´alculo que, para estes sistemas, podem alcan¸car valores al´em do que ´e pratic´avel. Por outro lado, demonstrou-se que em muitos casos a aplica¸c˜ao do corte `

as interac¸c˜oes de Coulomb introduz erros significantes na simula¸c˜ao [2, 26].

Iremos de seguida analisar aplica¸c˜ao da soma de Ewald a um sistema com con- di¸c˜oes fronteira peri´odicas em duas dimens˜oes mas limitado na terceira (geometria

laminar). Este m´etodo adequa-se `a aplica¸c˜ao em sistemas com interfaces l´ıquido s´olido, que s˜ao o objecto de estudo de parte dos trabalhos apresentados. O m´etodo utilizado, denominado de EW3DC [27], ´e derivado da aplica¸c˜ao a um sistema pe- ri´odico nas trˆes dimens˜oes. Um dedu¸c˜ao mais rigorosa da aplica¸c˜ao a este tipo de geometria consiste no m´etodo EW2D derivado por Parry [28, 29] e Heyes et al. [30]. As t´ecnicas de soma de Ewald aplicadas a esta geometria encontram-se discutidas por exemplo em Widmann et al. [31]. Br´odka e Grzybowski [32] demonstram anali- ticamente a aproxima¸c˜ao do m´etodo EW2D pelo m´etodo EW3DC.

A energia de Coulomb total de um sistema, representado por uma caixa de geometria paralelipip´edica de lados Lx, Ly e Lz, com condi¸c˜oes de fronteira peri´odicas

[1, 2], constitu´ıdo por N part´ıculas pode ser escrita como

UC = 1 2 0 X n N X i=1 N X j=1 qiqj |rij + nL| (2.59)

onde qi ´e a carga da part´ıcula i. O vector n = (n1, n2, n3) indica as coordenadas

do centro da c´elula imagem, nL = (n1Lx, n2Ly, n3Lz), sendo que para a c´elula ori-

ginal n = (0, 0, 0). A distˆancia entre part´ıculas ´e dada por rij,n = |ri− rj + nL|.

A soma acima apresentada converge lentamente e de forma condicionada (i.e. de- pende da ordem das parcelas) [1], al´em de que para sistemas muito grandes se torna incomport´avel, em termos de tempo de c´alculo.

A soma de Ewald foi apresentada, em 1921 [33], como uma t´ecnica de soma para as contribui¸c˜oes de longo alcance de um sistema com condi¸c˜oes fronteira peri´odicas. Nesta t´ecnica, a soma da equa¸c˜ao (2.59) ´e dividida em quatro termos [1, 2, 27]: duas s´eries rapidamente convergentes, um termo constante, e um termo dependente da geometria da soma, respectivamente,

UEwald= Ur+ Uk+ U0+ J (M , P ) (2.60) onde Ur = 1 2 N X i=1 N X j=1 0 X n qiqj erfc (α |rij + nL|) |rij + nL| , (2.61) Uk= 1 2πV N X i=1 N X j=1 X k6=0 qiqj  4π2 k2  exp  − k 2 4α2  cos (k · rij) , (2.62)

U0 = −√α π N X i=1 qi2. (2.63)

A forma do termo J (M , P ) ser´a discutida posteriormente. Nestas equa¸c˜oes, V = Lx · Ly · Lz ´e o volume do sistema, k = 2π (nx/Lx, ny/Ly, nz/Lz) ´e um vector do

espa¸co rec´ıproco e α ´e um parˆametro da distribui¸c˜ao Gaussiana que determina a dispers˜ao das cargas. Numa simula¸c˜ao, o valor de α e o n´umero de vectores k s˜ao parˆametros ajustados empiricamente em fun¸c˜ao da eficiˆencia computacional e do rigor pretendido.

A soma de Ewald baseia-se na dispers˜ao das cargas pontuais das part´ıculas por uma distribui¸c˜ao Gaussiana de igual magnitude e sinal oposto [26]. As interac¸c˜oes entre as part´ıculas passam a ter um comportamento de curto alcance fazendo com que a soma no espa¸co real, Ur, convirja rapidamente. Para contrariar o efeito da distribui¸c˜ao Gaussiana, acima referida, ´e utilizada uma outra, com o mesmo sinal e magnitude, mas fazendo a soma no espa¸co rec´ıproco utilizando transformadas de Fourier para resolver a equa¸c˜ao de Poisson [1, 2]. O resultado ´e a soma no espa¸co rec´ıproco, Uk. O termo constante, U0, ´e um termo de correc¸c˜ao que elimina os

efeitos de, no termo anterior, Uk, se terem considerado as interac¸c˜oes das cargas

com elas pr´oprias. Em sistemas moleculares ´e ainda necess´ario adicionar um outro termo de correc¸c˜ao, dado por

Uexcl = −1 2 X i,j∈excl zizjerf (α |rij|) |rij| (2.64)

relativo `as interac¸c˜oes entre part´ıculas vizinhas nas mol´eculas, mas que est˜ao exclu´ı- das do c´alculo das interac¸c˜oes de Coulomb por estarem ligadas por outros tipos de interac¸c˜ao, como liga¸c˜oes qu´ımicas, ˆangulos e diedros, j´a referidos anteriormente. A fun¸c˜ao de erro complementar erf c (x) = 1 − erf (x) = 1 − 2/√πR0xe−u2du ´e uma fun¸c˜ao que decresce monotonamente para zero e define a dispers˜ao das cargas acima referida.

Como j´a se disse, o termo J (M , P ), depende da geometria da soma (P ), sendo M =P ziri o momento dipolar total do sistema (com z=carga e r=vector posi¸c˜ao

). A geometria normalmente utilizada para a soma ´e a esf´erica, (P = S), e nesse caso

J (M , S) = 2π

(2 + 1) V |M |

2

. (2.65)

este termo anula-se. No caso de o sistema ser isotr´opico temos M = 0 e portanto J = 0.

O m´etodo de soma de Ewald exposto at´e aqui, EW3D, aplica-se a sistemas peri´odicos nas trˆes dimens˜oes x, y e z. O m´etodo EW3DC [27], de aplica¸c˜ao em sistemas peri´odicos em apenas duas dimens˜oes (e.g. x e y),(P = R), consiste na utiliza¸c˜ao do esquema EW3D mas fazendo com que o sistema seja muito maior na direc¸c˜ao n˜ao peri´odica, i.e. introduzindo um espa¸co vazio na direc¸c˜ao z, e aplicando um termo de correc¸c˜ao dependente da polariza¸c˜ao total do sistema,

J (M , R) = 2π V M

2

z (2.66)

onde Mz ´e a componente z do momento dipolar total do sistema. Em termos de

eficiˆencia computacional, Berkowitz e Yeh [27] chegaram `a conclus˜ao que o m´etodo EW3DC era ∼10 vezes mais r´apido que a melhor optimiza¸c˜ao do m´etodo EW2D.