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2.1 A LGUMAS ANÁLISES SINTÁTICAS PARA EXPRESSÕES DE GRAU

2.1.3 Corver (1997)

Corver (1997) propõe um sistema de análise indireto, tal qual Bresnan (1973). A principal diferença entre as análises é que Corver procura adaptar a proposta de Bresnan para um paradigma em que as categorias funcionais selecionam as categorias lexicais. Note-se que em Bresnan, AP, que é uma categoria lexical, toma as categorias funcionais Q e Deg como especificadores. No entanto, em Corver, é a categoria funcional Deg que seleciona a categoria lexical A. Essa discussão insere-se num debate maior acerca da Hipótese do Núcleo Funcional (Functional Head Hypothesis) em oposição à Hipótese do Núcleo Lexical, discutida em Grimshaw (1991), discutido adiante.

DegP wo Spec Deg’ | ru so Deg AP | | utterly confused

Como vimos, Jackendoff (1977), propõe que DegP se origina na posição de especificador de AP. Esta análise seguia o modelo em que determinantes figuravam em posição de Spec de NP e advérbios em posição de Spec de VP. Ou seja, categorias funcionais atuavam como especificadores de categorias lexicais.

Corver (1997) propõe uma análise alinhada à proposta de Abney (1987), em que categorias funcionais projetam categorias lexicais. A diferença entre essa análise e uma em que as categorias funcionais figuram em posição de Spec pode ser representada da seguinte maneira:

(2.22) a.

b.

Em (2.22a), temos a estrutura que representa a proposta da Hipótese de Núcleo Lexical, em que LP é um sintagma lexical, FP é um sintagma funcional e XP é complemento de LP. Em (2.22b), temos a estrutura proposta dentro da Hipótese de Núcleo Funcional, assumida por Corver, em que LP é complemento de FP. Dentro da perspectiva dos adjetivos e dos sintagmas de grau, assumindo então as duas possibilidades mostradas em (2.22), temos as seguintes estruturas:

(2.23) a. [AP [DegP Spec [Deg’ Deg]] [A’ A XP]] (Hipótese de Núcleo Lexical) b. [DegP Spec [Deg’ Deg [AP A XP]]] (Hipótese de Núcleo Funcional)

LP ru FP L’ ru L XP FP ru Spec F’ ru F LP

Capítulo 2 –

Em (2.23a), o DegP ocupa a posição de especificador do adjetivo e em (2.21b), AP é complemento de Deg. Corver, seguindo Abney (1987), opta pela segunda proposta por dois motivos. O primeiro se refere a uma simetria transcategorial. Se projeções funcionais tomam categorias lexicais como complemento nos casos de DP – NP e IP – VP, em que DP e IP são categorias funcionais, é possível esperar que também uma projeção funcional DegP tome como complemento o adjetivo. Vejamos a comparação entre essas projeções abaixo:

(2.24)

Como podemos observar, a projeção estendida de AP espelha a projeção estendida de IP e NP. Isso também fornece alguns elementos que serão úteis para a análise de Corver (1997), como veremos a seguir com o caso de much-support – inserção de ‘much’ em um núcleo que não pode permanecer lexicalmente vazio, a espelho do que ocorre com do-support para o domínio verbal.

Corver (1997) também distingue dois tipos de morfemas de grau: uns com um sabor quantificacional, como ‘more’, ‘less’ e ‘enough’, e outros como expressões de grau propriamente ditas como ‘how’ e ‘so’. Dessa maneira, a relação entre adjetivo e o

a. IP ru Infl TP ru T VP b. DP ru D NumP ru Num NP c. DegP ru Deg QP ru Q AP

sintagma de grau é também mediada por um quantificador. Essa distinção é uma reformulação da proposta de Bresnan (1973); ao invés de especificadores, Deg e Q são núcleos na Projeção Estendida de AP. Nesse sentido, é também o que Corver classifica como de sistema indireto.

Além disso Corver (1997), ao contrário de Bresnan (1973), assume que as expressões ‘more’ e ‘less’ são itens lexicais simples e não estruturas morfologicamente complexas. Essas palavras são geradas em Q, assim como ‘enough’, enquanto expressões como ‘to’, ‘as’, ‘very’ e ‘how’ são geradas em Deg, como vemos em (2.16):

(2.25)

As expressões que ocupam a posição de Deg são classificadas como Classe 1. As expressões que ocupam a posição de Q são classificadas como Classe 2. Para explicar a diferença entre os dois tipos de expressão de grau, Corver (1997) vale-se dos testes com o pronome ‘so’ e das possibilidades de ocorrência de ‘much’. Na análise do autor, quando temos uma expressão de grau de Classe 1, A sobe para posição Q, que não pode ficar vazia (2.26a). Para legitimar uma representação na Forma Lógica, Q deve estar lexicalmente preenchido no curso da derivação. Este é um movimento de núcleo para núcleo, legitimado pela Gramática Universal. Quando temos uma expressão de grau de Classe 2, essa expressão ocupa a posição Q e Deg permanece nulo (2.26b). Essas duas maneiras estão representadas a seguir:

DegP wo Deg QP g ru Classe 1 Q AP too g as Classe 2 very more how less enough (McNabb, 2012, p. 19)

Capítulo 2 –

(2.26)

Como vimos, a proforma ‘so’ substitui AP, VP ou PP, portanto, não tem uma especificação categorial. No entanto, não pode subir para a posição Q. Assim, dado que a posição Q não pode permanecer vazia, insere-se o adjetivo dummy ‘much’, em que “dummy’’ se refere ao fato de ‘much’ ser lexicalmente vazio. Essa inserção só será feita caso A não possa se mover para Q, uma vez que o movimento de A para Q é considerado mais econômico. Dessa maneira a inserção de ‘much’ acontece apenas como último recurso (Last Resort), por ser menos econômica do que o alçamento de A para Q.8 Assim, há três maneiras possíveis de preencher Q: com expressão de grau de Classe 2, com o adjetivo e com ‘much’. As duas primeiras estão expressas em (2.26) e a terceira em (2.27):

(2.27) a. John is smart, but Bill is [as *(much) so]. ‘John é esperto, mas Bill é tanto quanto.’

8 Essa operação é baseada no que Chomsky (1991) chama de do-support, um recurso de inserção de ‘do’, que se dá

na projeção estendida do VP, em que ‘do’ é inserido como um verbo lexicalmente nulo.

a. Expressão de grau de Classe 1 (‘too’, ‘as’, ‘very’, ‘how’) – alçamento de A para Q DegP ru Deg QP | ru very Q AP | | intelligenti ti

b. Expressão de grau de Classe 2 (‘more’, ‘less’, ‘enough’) – Deg permanece nulo DegP ru Deg QP | ru ø Q AP | | more intelligent

b.

Como vemos em (2.27b), ‘much’ é inserido antes de ‘so’ para ocupar a posição de Q, uma vez que ‘so’, sendo um XP, não pode ser alçado para Q. Esse é um “último recurso” para preencher essa posição, uma vez que essa é a opção menos econômica dentro do modelo, assumindo as noções de economia dadas em Chomsky (1991; 1993), em que a inserção lexical é mais custosa do que um movimento de alçamento.

Essa análise explica a agramaticalidade das construções em (2.28):

(2.28) a. *John is [DegP Deg so [QP Q much [AP A intelligent]]]. b. *John is [DegP Deg ø [QP Q more much [AP A intelligent]]]

Em (2.28a), ‘much’ torna a sentença agramatical porque a opção mais econômica é o alçamento do adjetivo para Q, não havendo necessidade da inserção de ‘much’ para satisfazer a exigência da posição Q estar preenchida. Em (2.28b), a agramaticalidade explica-se pelo fato de ‘more’ ser gerado em Q, não havendo lugar ou necessidade para inserção de ‘much’.

Neeleman et al. (2004) consideram um problema da análise de Corver (1997) que ela seja obrigada a estipular que ‘so’ pode substituir AP ou DegP, mas não possa substituir QP, como mostram os exemplos abaixo:

(2.29) a. John is very fond of Mary. In fact, he is [DegP too [QP *(much) [XP so]]]. b. John is [DegP too [QP fond [AP tA of Mary]]] and Bill is [XP so] too.

DegP ru Deg QP | ru as Q AP | | much so

Capítulo 2 –

Em (2.29a), vemos que ‘so’ pode substituir AP, assim como em (2.29b) podemos ver que ‘so’ substitui DegP. Os autores argumentam ainda que há evidências de que ‘so’ pode substituir QP, como mostra (2.30):

(2.30) John is [QP more [AP intelligent than Bill]], and Mary is [XP so] too.

No dado acima, vemos que ‘more intelligent than Bill’, que é um QP, pode ser substituído por ‘so’. Esse dado mostra que a estipulação de que ‘so’ não pode ocupar a posição de Q, basilar na proposta de Corver (1997), é problemática. Para dar conta deste caso, Corver (1997) propõe que ‘so’ pode substituir AP, DegP e QP, mas QP não pode estar dominado por DegP.

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