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O Mapa 11 corrobora como a atividade cafeeira impulsionou a urbanização no Valle Central dando as bases materiais e facilitando o crédito para a construção e expansão das cidades. A atividade industrial não foi a atividade principal que modelou a expansão urbana, mas foi o modelo agroexportador a base do ordenamento do território entre o século XIX e XX. Os capitalistas do setor industrial agroexportador contribuíram para criar as bases e infraestruturas que deram origem ao sítio urbano. Embora a produção cafeeira, tanto no Brasil como na Costa Rica, providenciou uma base econômica e de infraestrutura para o setor industrial, concordando com Mamigonian (1969, p. 2) “[...] Sem

dúvida a industrialização deve muito ao café [...].”, a Costa Rica caiu

na crise dos anos 1980 e o setor industrial não teve o mesmo panorama que no Brasil. Posteriormente uma industrialização modesta introduzida pelo Modelo de Substituição de Importações entre 1930 e 1980 não conseguiu estabelecer um setor industrial forte como foi no caso brasileiro e o papel da indústria no espaço urbano. No caso brasileiro, foi a indústria a maior responsável pela expansão urbana, pela verticalização e pelo destaque de São Paulo na rede urbana paulista e nacional, mas o caso costarriquenho se desenvolveu diferente. A verticalização residencial está iniciando com força um século depois que em São Paulo e os fatores de atração de inversão são muito diferentes daqueles que São Paulo vivenciou nos inícios do século XX. Dessa maneira se esclarece que não foi o setor industrial a principal atividade estruturadora do espaço urbano na Costa Rica no século XX, mas sim o setor de serviços na capital San José.

Continuando com a comparação do caso costarriquenho com o brasileiro, Costa Rica não teve a massiva imigração comparável com o Brasil onde:

“Esses 4,5 milhões de europeus que o Brasil recebeu na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do XX que constituíram a “classe europeia” dentro da qual se iniciou a industrialização brasileira [...] com considerável capacidade de produção e de consumo […] modificando o conjunto de vida brasileiro.” (MAMIGONIAN, 1969, p. 6).

Como foi exposto no capítulo 1, a dinâmica costarriquenha de inserção ao capitalismo não incluiu um forte processo de industrialização urbano para expropriar os camponeses. Tampouco

compartilhamos o cenário do latifúndio com uma “estrutura social de marcada desigualdade” na mesma escala do Brasil como foi apresentado por Mamigonian (1969). Esses são alguns dos pontos divergentes entre as histórias de ambos os países no tocante ao início do processo de industrialização e apropriação do espaço urbano.

Concorda-se com Chaverri (1994), o qual afirma que a explicação para a evolução dos centros urbanos no Valle Central, durante o período 1844 e 1950, radica no processo de acumulação que foi sustentado na atividade cafeeira que modelou a paisagem regional. O caso costarriquenho se diferencia do caso brasileiro já que o processo de industrialização não foi acentuado para definir a orientação da urbanização. Em San José foram as atividades terciárias que predominaram para atrair população e fomentar o crescimento da cidade ao longo do século XX. Há, portanto, uma relação de causa e efeito recíprocos entre a cidade, como ela se organiza materialmente, e a urbanização, como ela se faz. (SANTOS, 2009). Dessa forma se vê “[...] o espaço como concretização-materialização do modo de produção determinante no caso do capitalista, e a cidade como uma manifestação desta concretização” (SPOSITO, 2002, p. 64), do modelo agroexportador, no caso costarriquenho23.

2.4.1 A formação de um Espacio Urbano Metropolitano: 1940-1980 Dentro das tentativas para identificar uma área metropolitana, se identificou a formação do Espacio Urbano Metropolitano como o principal produto do processo de urbanização entre 1940-1980 no contexto das novas modalidades de vinculação com o mercado mundial. Esse espaço foi qualificado por Carvajal e Vargas (1983, p. 26) de “âmbito regional” e não de “região metropolitana”, o qual significa que:

[…] el proceso de metropolización en Costa Rica no se ha desarrollado de tal manera que haya transformación, desde el punto de vista de la organización territorial, al conjunto regional preexistente. Pero, al mismo tiempo, el término

23 Deve-se levar em conta que o questionado Modelo de Substituição de Importações, implementado desde os anos 1930 a partir da crise internacional e catapultado com a integração da Costa Rica no Mercado Común Centroamericano em 1963, não percebeu os resultados que se planejaram para fomentar uma industrialização forte e estável na Costa Rica. A agroexportação continuou seu papel importante e posteriormente a indústria turística começou a intervir com força até a atualidade.

“ámbito regional” indica que la metropolización está en proceso de constitución de una región

metropolitana (de una subordinación y

transformación de todo o la mayor parte del conjunto regional preexistente por las actividades metropolitanas). Por lo anterior se ha definido a este ámbito regional como la forma embrionaria de una Región Metropolitana.

Concordamos com os autores que o processo de metropolização não se desenvolveu completamente e que ainda está em andamento. É considerada uma forma embrionária do que eventualmente seria uma Região Metropolitana. Posteriormente se continuará com essa discussão. A identificação da conformação desse espaço chamado Espacio

Urbano Metropolitano é devido à ação dos seguintes agentes,

principalmente: O Estado, os agentes privados (empresas urbanizadoras e indústrias) e os movimentos sociais. Analisando o papel do Estado, se podem destacar diferentes ações que fomentaram a consolidação de um

Espacio Urbano Metropolitano no Valle Central do país (CARVAJAL;

VARGAS, 1983):

1) Impulsionou-se a especialização econômica urbana no âmbito regional e seguiu-se uma política de concentração regional do emprego público;

2) Impulsionou-se a concentração do investimento público no

Espacio Urbano Metropolitano, criando a infraestrutura para a

nova configuração regional que fomentou a primazia urbana: a. Criaram-se equipamentos e serviços nos espaços

urbanos: iluminação pública, rede de esgoto, serviço de transporte interurbano, construção de escolas, pavimentação das estradas com macadam, entre outros projetos.

3) Induziram-se os padrões econômicos, de serviços e de segregação sociorresidencial;

4) Estabeleceram-se condições jurídicas para o funcionamento da atividade privada;

5) Geraram-se economias externas em nível regional. Por exemplo, os “Bussiness Parks” ou condomínios multissetoriais adjacentes às principais rodovias devido à exoneração de

impostos para a indústria24. Também a construção de vias de transporte mais modernas como a rodovia General Cañas, rodovia a Caldera (Ruta 27) e a Radial Santa Ana-San Antonio

de Belén.

Uma vez conformado esse espaço, houve uma série de mudanças nos padrões econômicos e sociais que favoreceram a consolidação no seu núcleo, da Aglomeración Urbana Central. (vide Mapa 12).

24 A partir da segunda metade da década de 1980, se promoveram as exportações com um sistema de Zonas Francas Industriais, onde se exonerava o pago de impostos sobre o rendimento e os impostos para a importação de maquinaria e matérias primas. Também se outorgava um subsídio equivalente a dez por cento do valor exportado de bens não tradicionais dirigidos fora do Mercado Común Centroamericano. Esses incentivos produziram resultados positivos nos anos 1990 atraindo setores de alta tecnologia como, por exemplo, as empresas

INTEL, Abbot Laboratories, Baxter e Procter and Gamble, entre outras. A partir do final da

década de 1980, se apreciou uma redução da volatilidade dos preços e da estabilidade econômica, relacionada à crescente diversificação das exportações e o país registrou ser menos sensível aos câmbios dos preços internacionais dos produtos agrícolas.