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Quanto ao nível de receptividade dos docentes pesquisados em relação ao processo de pesquisa e sua postura face à temática da pesquisa, dos 26 professores pesquisados, 15 (57,60%) mostraram-se indignados ou reticentes, enquanto 11 (42,40%) mostraram-se interessados ou participativos, conforme dados detalhados no Quadro 3 a seguir.

Quadro 3 – Nível de receptividade dos docentes pesquisados em relação ao processo de pesquisa

Postura do pesquisado em relação à temática da pesquisa Quantidade de pesquisados Indignado/a 10 Interessado/a 6 Reticente 5 Participativo/a 5 Total 26

Fonte: contato no campo de pesquisa com professores do curso de Medicina da UFS no ano de 2012

Os dados aqui apresentados foram submetidos a uma análise eminentemente qualitativa. Evitei tecer considerações analíticas a partir de valores meramente percentuais, pois tal prática redundaria em distorções, uma vez que as ocorrências de um mesmo argumento não correspondem ao número de respondentes, pois um mesmo respondente apresentou vários argumentos, enquanto outros não apresentaram argumento nenhum. Desse modo, optei por evidenciar os argumentos mais recorrentes elencados pelos entrevistados e a quantidade de vezes que eles recorrem nas falas dos pesquisados.

Quando indagados sobre sua posição em relação às cotas, os argumentos contrários mais recorrentes foram: necessidade de melhoria da escola pública, ausência de critérios claros de classificação racial, defesa da meritocracia e da qualidade do ensino público. No Quadro 4, a seguir, o número de recorrências para estes argumentos pode ser melhor visualizado.

Quadro 4 – Argumentos contrários ao sistema de cotas

Argumentos Número de

recorrências

Governo deveria melhorar a escola pública 6

Critérios de discriminação racial não são claros, somos uma mistura de raças, portanto as cotas aumentam a discriminação racial, o preconceito racial e a desigualdade entre as classes

5

Sou a favor da meritocracia 4

O sistema de cotas acaba com o ensino superior e desmoraliza o ensino público

3

Fonte: Quadro elaborado pela autora a partir das entrevistas realizadas em 2012

Os opositores das cotas contra-argumentaram ainda que: os melhores do ensino público ruim ficam aquém do ensino particular; o ensino público é fraco, não é atrativo, com alunos despreparados e professores descompromissados; as cotas legitimam e facilitam o acesso de alunos menos preparados; prejudicando quem tem mais capacidade. Para estes entrevistados, os critérios do sistema de cotas não medem o conhecimento de ninguém, e, ao invés de construírem eficiência hipervalorizam a deficiência, pois não se pode corrigir deficiências estruturais com medidas paliativas. Criticam, ainda, a forma como tem sido implantada a política de cotas no Brasil, considerando-a impositiva. Eis alguns relatos dos entrevistados:

Sou contrário ao sistema de cotas por três razões fundamentais:

40 O termo pesquisados refere-se a homens e mulheres, optei por não flexionar o gênero para respeitar o sigilo da fonte e preservar o anonimato dos sujeitos envolvidos na pesquisa.

Primeiro porque sou a favor da meritocracia, a instituição acadêmica tem que prestigiar a qualidade do seu trabalho e, por conseguinte, a qualidade de quem entra é decisiva para a produção do saber que vai se traduzir em serviços efetivos para a sociedade. Ao se receber alunos por cotas sem considerar o critério técnico da qualidade, teria que fazer a recuperação da deficiência do aluno cotista. O estudo é desenvolvido de uma forma um tanto liberal, o aluno pode preencher os requisitos curriculares e sair um aluno de baixa qualidade desservindo a sociedade. Numa área da saúde esse efeito é catastrófico.

Segundo, eu tenho várias restrições, questionamentos sobre o critério de discriminação racial a ser adotado. O conceito de raça é discutível, apenas por um critério fenotípico já que a humanidade é uma família universal, de origem única, a mudança fenotípica observada ao longo do tempo está relacionada aos vários deslocamentos que o indivíduo tem no ambiente. É uma ideia, uma teoria. Mesmo que se chegasse à conclusão de um sistema para o Brasil, o Brasil tem muita miscigenação. Fica difícil diferenciar o branco do preto rigorosamente, criteriosamente na caracterização da população do Brasil. Por outro lado, mesmo que fosse possível distinguir e mesmo que fosse aceito o critério da legalidade do indivíduo se autoclassificar, a característica de cor não traduz a condição social do indivíduo. É uma mera expressão estatística. Na região sul, há muitas pessoas de cor branca que estão mal de vida e tem outras aí que são pardas e estão muito bem de vida. As causas que fazem as pessoas de cor não lograrem êxito na universidade são mais complexas, tem raízes mais profundas e requerem reformas mais sérias, como por exemplo, melhorar a qualidade do ensino básico/secundário nas instituições públicas, como já ocorreu em determinados locais e épocas neste Brasil. Onde pessoas de baixa condição social, competentes, lograram êxito no vestibular, no exercício acadêmico e profissional, ocupando posições de destaque na sociedade, a exemplo do Ministro Joaquim Barbosa, filho de lavadeira. Não só ele, como líderes em várias áreas que cresceram à custa de esforço e do mérito conquistado em várias profissões.

Terceiro, porque aumentam a discriminação racial, aumentam o preconceito racial, aumentam a desigualdade entre as classes, oficializam a desigualdade entre as classes. Estimulam uma revolta por parte dos mais qualificados, de cor clara, que não conseguiram lograr êxito nos vestibulares e concursos, gerando uma rivalidade entre as classes e não resolve o mal pela raiz, que seria a qualidade do ensino básico, secundário, garantindo oportunidades para todos, formando profissionais competentes e servindo melhor à sociedade. (Entrevista 1, 18/10/12, grifos nossos)

Este entrevistado fundamentou sua posição contrária às cotas em três argumentos diferentes: a defesa da meritocracia, a dificuldade em se ter critérios claros de classificação racial no Brasil e a ideia de que as cotas podem produzir o efeito contrário do que motivou sua introdução: acabando por aumentar ao invés de diminuir a discriminação (conforme se pode visualizar nos trechos sublinhados acima). Comumente, os professores que se manifestaram contrários as cotas utilizaram de dois ou três argumentos para sustentar esse posicionamento, como evidenciado nos relatos a seguir:

Contra. Por três razões: em primeiro lugar, o governo está tapando um buraco em vez de melhorar a qualidade do ensino da escola pública para eles poderem concorrer em pé de igualdade. Ao invés disso, o que fazem: selecionam vagas para estudantes oriundos de escolas públicas e mantém o ensino público ruim. Segundo, acaba que se perde alunos muito bons que sempre ficam de fora do vestibular e têm que concorrer com 50% das vagas, prejudicando alunos de escolas particulares. Em terceiro lugar, porque apesar de ter bons alunos cotistas, os melhores de um ensino público ruim, ficam bem aquém dos melhores do ensino particular. (Entrevista 3, 19/10/12, grifos nossos)

Neste caso, os argumentos elencados foram: a necessidade de melhoria da escola pública, as perdas para os alunos que apresentam desempenho muito bom, e a impossibilidade de comparar esse desempenho com o dos alunos oriundos da rede pública de ensino. No relato seguinte, outro entrevistado destaca a necessidade de se ter pensado previamente sobre os efeitos das cotas, antes de implantá-las, para torná-las efetivas, por outro lado enfatiza que o sistema deveria visar à construção de eficiência e não a valorização apenas da deficiência em si, de modo a propiciar uma inserção dignificante, conforme se pode visualizar nos trechos destacados a seguir:

Sou contra. Pela forma como o sistema foi instituído. Porque deveria haver mais discussão, deveria ter se pensado numa forma de tornar realmente efetivo o uso das cotas. Porque me parece que sendo o aprendizado, para a obtenção do conhecimento, cumulativo e quantitativo, se eu não doei ao meu aluno as condições dele chegar ao vestibular preparado para não precisar das cotas, como eu posso esperar que sem essa acumulação e quantificação ele possa se sair bem, sem que eu corrija essa distorção. Então seria necessário que melhorássemos o ensino todo antes, porque se não fosse assim era só dizer „embranqueça sua pele‟ ou „corrija seu defeito físico‟ e „diga que estuda em escola particular‟ e você será automaticamente aprovado no vestibular. Realmente você tem que passar por um processo de estudo com outras condições, melhores, mas tem de estudar demasiadamente, com muito esforço também e com muita dedicação. Você não está medindo isso quando implanta cotas. Se o nosso objetivo como educador é ajudar a melhorar o desempenho, melhorar a atuação, formar profissionais que fossem realmente atuar, mas não estamos preparados para isso e não podemos fazer de conta que os alunos não apresentam diferenças, que não tem a ver com a cor, nem com o defeito físico, mas com essa parte externa. É algo muito profundo. Todos devem ter cotas, os que estudam e se preparam para isso [...]. Se o Estado exclui os que estudam e se preparam só porque são de camadas sociais mais altas, ele não está sendo justo também com essa camada da população, com os filhos deles. Se fosse tudo do Governo precisaria ter instituições particulares? Se não pode absorver o rico que estuda, melhorar o ensino público para que o pobre possa concorrer com ele em pé de igualdade, pelo conhecimento e pela qualidade, e não pela cor e pela deficiência física.

Poderia ser a favor, mas em uma outra perspectiva filosófica que envolva não só a deficiência em si, mas o ser humano que porta a deficiência, na espécie (construção da eficiência). Poder-se-ia fazer um curso de Medicina

em 12 anos porque se tem uma deficiência, mas sair em 6 anos pode ser impossível, que não sofra e sair em mais tempo que os outros porque ele precisa recuperar essa defasagem. Falta uma estrutura efetivamente inclusiva para o deficiente, que fica na sala de aula regular, sem estrutura, sem uma equipe específica. Fica sempre atrás. Por exemplo, na educação infantil, tem sempre os “grandões”, que estão na sala junto com criancinhas que ainda usam fralda, porque não conseguem progredir de uma série para outra e eles sofrem demais com isso. Ele tem um conhecimento cumulativo, mas não tem o pedagógico, é mais um aprendizado para a vida... Está aprendendo. Mas nunca se equiparará aos demais. Não gostaria que um filho meu passasse por isso.

Que ele entrasse por cotas, gostaria que tivesse uma inserção dignificante e não se sentindo mais ou menos. O ideal é que seja de uma forma edificante, se assim for, então serei a favor. Veremos! Quando um médico for levar seu filho no Pronto-Socorro vai pensar: será que esse profissional foi cotista ou não cotista? O cotista é formado para o PSF41. Se a universidade tiver de baixar o nível para que os cotistas acompanhem, como será o nível do egresso? Quando sair passará na Residência? A concorrência é de 1 para 80! Ele pode até se formar no tempo esperado, mas o ingresso no mercado de trabalho exige um vestibular mega-ultra-difícil, que não tem sistema de cotas: a especialização. Se a UFS quiser formar somente médicos generalistas para o PSF, é uma opção a ser estudada; mas não a única, visto que os especialistas terão de fazer mais seis ou oito anos de estudos, os que tenham entrado por cotas ou não. Esta é uma realidade cujas dificuldades para o cotista serão estudadas e apontadas. (Entrevista 8, 22/10/2012, grifos nossos)

Os relatos a seguir retomam as temáticas do mérito, da melhoria da escola pública e da suposta ineficiência de políticas compensatórias que se resumem à concessão de bolsas e diferentes benefícios, sem a exigência de uma contrapartida por parte dos contemplados, conforme se pode visualizar nos trechos sublinhados:

Sou contra. Para quem se dedica, é uma afronta. Tiro por mim: sou filho de pais pobres e consegui tudo por mérito. O ingresso na universidade tem que ser por mérito, não é por ser preto, pobre, amarelo ou indígena. Pode ser que eu esteja atrasado, mas não entendo dessa forma. Meu irmão fez um concurso no Banco [...] e no meio de tantos, ele passou. O que adianta se um índio, sem competência ou habilidade, ingressa na faculdade e não consegue concluir, a vaga foi perdida para outro que teria essa habilidade e chegaria ao final com o devido preparo para atuar. O Ministro relator do Supremo Tribunal Federal está dando uma lição de igualdade. Fala cinco idiomas e se inseriu num posto de destaque. Isso é porque é preto? Daqui a uns dias vai ter que abrir vagas para os brancos também. Há diferenças de classe, diferenças de cultura. Há dois anos atrás era a mesma coisa, em relação a isso, antes das cotas. Às vezes um bom estudante fica nervoso na hora da prova, costumo compreender isso e dar uma chance dele esfriar a cabeça, para não desperdiçar o potencial dele. Se fosse cotista ele ficaria menos nervoso? A gente pode dizer que é mais limitado por ser preto ou

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O Programa de Saúde da Família (PSF) é um programa do Governo Federal, gerido pelas prefeituras para solucionar o problema do atendimento médico básico, destinado à população de localidades mais remotas do interior do estado.

branco? Alguma vez algum estudante deixa de progredir nos ideais e objetivos dele porque deixou de entrar na universidade? Isso é um problema político. Existem programas que acabam alimentando a marginalidade. Porque ao invés de instituir cotas não investir na educação? As escolas teriam o mesmo padrão de qualidade. Se tiver uma preparação, qualquer um pode evoluir. Quantos saem do país e não voltam porque desenvolvem um trabalho muito bom. E isso acontece porque são cotistas? Quem quer que seja que discuta as cotas está indo de encontro às políticas do passado, que tolhiam o crescimento dos outros. Antes das cotas, tive inúmeros alunos que vieram de escolas públicas e evoluíram muito bem. Meu irmão é um aluno muito bom. Meus pais fizeram tudo para que eu tivesse uma bolsa numa escola particular, mas meu irmão sempre estudou em escola pública e sempre foi muito bom. Então eu não me convenci disso não. (Entrevista 13, 25/10/2012, grifos nossos)

Eu acho que não se pode corrigir o erro pelo resultado mas pela base. O ensino público foi responsável pelas primeiras turmas aqui. Porque o ensino público não mantém uma média alta na universidade? Porque ele não está sendo atrativo. Alguma coisa está errada! O governo resolveu valorizar o particular. Tem dois problemas no ensino público: o aluno não está preparado, os professores não vestem a camisa. O aluno bom que ia pro Ateneu. Dessa turma saíam os melhores alunos que aqui ingressavam. O sistema de cotas acaba com o ensino superior abrindo para todo canto. Daqui a pouco, o ensino público estará desmoralizado e as faculdades particulares é que vão fortalecer. Muitos políticos têm faculdades particulares. Vão acabar com o ensino público e depois dizer que estão dando vez aos pobres. E eu votei em Lula, mas não voto mais! É tudo igual! (Entrevista 2, 19/10/12, grifos nossos)

Quando indagados sobre sua posição em relação às cotas, os argumentos favoráveis mais recorrentes foram: defesa das cotas sociais, implantação gradual, aplicabilidade temporária, ampliação de oportunidades de acesso ao ensino superior, conforme Quadro 5, a seguir.

Quadro 5 – Argumentos favoráveis ao sistema de cotas

Argumentos Número de

recorrências Sou a favor das cotas sociais, mas das raciais não 4

Deveria ter sido feito de forma gradual e não imediata 4

Sou a favor desde que temporário 3

Serve para ampliar oportunidades para quem não teve 3

Os professores que se manifestaram como favoráveis às cotas, argumentaram ainda que se trata de um modelo novo tentando resgatar uma dívida social, um forma de fazer justiça hoje e não daqui a 20 anos, uma vez que melhorar a escola básica demoraria muito tempo. Seguem alguns relatos neste sentido.

Sou a favor do sistema de cotas. Porque, primeiro eu acho que a solução correta seria muito mais profunda, mas só que não há tempo, a justiça a gente não pode demorar. A gente não pode retardar a justiça muito tempo. Então, eu acho que o correto seria mexer com a educação básica, melhorar a educação básica como um todo para fazer com que essas pessoas se tornassem competitivamente em pé de igualdade com os da escola privada só que isso vai levar muito tempo, não dá para fazer justiça, daqui a vinte anos. Eu acho que a justiça tem que ser feita hoje, por conta disso eu acho que é correto sim. A gente tem que aprender a lidar com isso. (Entrevista 10, 24/10/12, grifo nosso).

A favor, porque a universidade precisa ampliar a oportunidade para quem não teve, senão ela fica nas mãos da mesmas pessoas, que vão sempre continuar tendo o mesmo tipo de oportunidade. Para mim é importante que seja por um período, que seja temporário. É um debate que vem se fazendo em outros espaços e as pessoas não participam. O sindicato discute desde 2003, tendo sido marcante para essa discussão o congresso realizado em Salvador. (Entrevista 18, 29/10/12, grifo nosso)

A favor. É um modelo novo, tentando resgatar uma dívida social. É esquisito tentar corrigir pelo fim e não pelo começo, ao invés de enfrentar o problema da escola secundária, força a universidade a influenciar nessas escolas. É uma dívida que tem que ser paga mesmo. (Entrevista 9, 22/10/12)

Não acho que a questão deva ser polarizada de modo maniqueísta, pois muito se perde da discussão. Sou a favor da equidade (que, não por acaso, constitui um dos princípios do SUS) e da reparação da injustiça sócio- histórica brasileira, da qual os negros e os índios foram as maiores vítimas, porém, a forma como a política educacional de cotas tem sido implantada no Brasil é impositiva e, talvez, reproduza a mesma injustiça de outrora, pior, com a conivência do Estado democrático de direito. (Entrevista 26, 06/11/12, grifo nosso).

Com relação às repercussões das cotas na qualidade de ensino, os entrevistados apontaram uma redução na qualidade, a heterogeneidade, com diferenças menos significativas em Medicina, comparativamente aos demais cursos, pois em geral os estudantes chegam mais preparados. As recorrências para estes argumentos constam do Quadro 6, a seguir.

Quadro 6 – Repercussões das cotas na qualidade do ensino

Argumentos Número de

recorrências

Piora o ensino, nivela por baixo 7

No curso de medicina os estudantes, em geral, vêm mais preparados

5

Acarreta dois níveis numa mesma disciplina – heterogeneidade 4

Não percebi diferença significativa 3

Fonte: Quadro elaborado pela autora a partir das entrevistas realizadas em 2012

Com relação à repercussão das cotas sobre a qualidade de ensino, outros argumentos apontados pelos opositores das cotas, foram: as cotas estigmatizam o cotista, gerando sentimento de inferioridade; provocam desestímulo por parte do professor, não há renovação do ensino; requerem uma espécie de nivelamento, treinamento para os menos capacitados; aumentam a desistência, os índices de evasão e reprovação. Alegam ainda que, em geral, o grau de responsabilidade e educação social caiu muito. Seguem relatos de pesquisados que se manifestaram contrários à adoção das cotas:

Alguns alunos pobres vão desistir. Precisarão trabalhar para ajudar a família e para se manter na faculdade. Ocupam a vaga de outro, que poderia entrar naquele momento em seu lugar e depois vão desistir. E o deficiente? Não preparam a gente para recebê-lo e como essa situação vai se resolver? Piora o ensino, nivela por baixo, aumenta índices de reprovação e evasão. (Entrevista 6, 22/10/12, grifo nosso)

Primeiro porque é um retrocesso. Necessitamos de igualdade. É a maior forma de discriminação racial que existe, a partir do momento que discrimina dessa forma em você ser preso a tal raça. Como negra, sinto mais na pele. Acho que a gente está voltando atrás. Eu que entrei sem cotas, não precisei de nenhum tipo de cota. Acho que é um resgate histórico discriminatório, um prêmio de consolação. Segundo, antes da qualidade, acarreta um impacto social na discriminação. Os próprios alunos são contra e com certeza vão discriminar, isso repercute na segregação. Alguns alunos iriam ter condições de ingressar se não fosse dessa forma. Teríamos de adquirir critérios de avaliação do ensino, pois isso vai comprometer o resultado final. O professor não está preparado para esse tipo de inclusão. A casa não foi preparada para recebê-los, as portas foram abertas sem um devido preparo. Participei de uma palestra pontual, recebi uma cartilha

sobre inclusão, não houve muita discussão. (Entrevista 7, 22/10/2012, grifo nosso)

A universidade deve sempre privilegiar o conhecimento e as aptidões. Qualquer outra forma que contrapõe esse sistema contraria a essência da universidade e consequentemente isso vai repercutir na qualidade do ensino. (Entrevista 11, 24/10/12)

No curso de Medicina, os estudantes vêm em geral preparados. Mesmo os de cotas são os que estudam mais, são os melhores da escola pública. Na