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III. Por que sistemas de Cotas

3.2 Cotas para Indígenas

Em igual medida que os povos africanos foram trazidos para território brasileiro e aqui escravizados, os povos originários aqui presente foram também submetidos a regime de escravidão. O longo período de escravidão aqui instalado segregou os povos indígenas à tutela do Estado, que os submeteu a dizimação em larga escala, trazendo inúmeras mazelas a população indígena, além de confrontos culturais e territoriais.

Darcy Ribeiro (1995), através de seu livro „O povo brasileiro‟4 , ressalta a relação escravocrata entre os colonizadores e os povos originários. Ribeiro sintetiza que algumas das etnias indígenas foram

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Disponível em:

http://www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/Darcy_Ribeiro_-

feitas escravas para que seu conhecimento das terras brasileiras fosse utilizada em favor do império.

Muitos outros povos indígenas tiveram papel na formação do povo brasileiro. Alguns deles como escravos preferenciais por sua familiaridade com a tecnologia dos paulistas antigos, como os Paresi. Outros, como inimigos irreconciliáveis, imprestáveis para escravos porque seu sistema adaptativo contrastava demais com o dos povos Tupi (p.35)

A perpetuação do sistema escravocrata contribuiu em larga medida, para a diminuição da população indígena que aqui residia. Darcy Ribeiro (1995) retrata o início do contato e como os povos indígenas foram reestruturados a partir das instalações coloniais:

Em poucas décadas desapareceram as povoações indígenas que as caravelas do descobrimento encontraram por toda a costa brasileira e os primeiros cronistas contemplaram maravilhados. Em seu lugar haviam se instalado três tipos novos de povoações. O primeiro e principal, formado pelas concentrações de escravos africanos dos engenhos e portos. Outro, disperso pelos vilarejos e sítios da costa ou pelos campos de criação de gado, formado principalmente por mamelucos e brancos pobres. O terceiro esteve constituído pelos índios incorporados à empresa colonial como escravos de outros núcleos ou concentrados nas aldeias, algumas das quais conservavam sua autonomia, enquanto outras eram regidas por missionários (p.53).

Segundo Ribeiro, as povoações indígenas foram substituídas por povoações de escravos, negros e indígenas, assim como por mamelucos e brancos pobres, muitas vezes usados como força de trabalho ou em expedições armadas.

Em relação aos povos indígenas, Manuela Carneiro da Cunha (1992), no livro „História dos índios no Brasil‟5

, também demonstra como o sistema escravocrata no Brasil, colaborou com a diminuição da população indígena. Segundo a autora,

[...]as guerras de conquista e de apresamento em que os índios de aldeia eram alistados contra os índios ditos hostis, as grandes fomes que tradicionalmente acompanhavam as guerras, a desestruturação social, a fuga para novas regiões das quais se desconheciam os recursos ou se tinha de enfrentar os habitantes (ver, por exemplo, Franchetto e Wright in Carneiro da Cunha [org.] 1992), a exploração do trabalho indígena, tudo isso pesou decisivamente na dizimação dos índios” (1992, p.15).

Ao longo dos séculos de era colonial, no Brasil, os indígenas tiveram suas crenças e tradições desacreditadas e modificadas pela imposição da evangelização imposta pela Coroa Portuguesa. Os povos indígenas foram impostos ao controle de suas terras e seus corpos ao trabalho por atribuições das hierarquias da Coroa Portuguesa e novamente pela República brasileira. Com o marco da proclamação da república o Estado brasileiro instituiu o regime de tutela a população indígena. Ficou resguardado o direito à terra delimitada pelo Estado. Assim nos esclarece Manoel Nascimento de Souza e Erivaldo Moreira Barbosa, acerca das transições constitucionais,

Ressalvada a omissão da Constituição Outorgada de 1824 e a Carta Republicana de 1891 em não tratar os interesses indígenas, somente no texto constitucional de 1934 surge uma política de tutela desses direitos, em especial ao respeito a posse de terras de silvícolas que nelas se achem permanentemente localizados (artigo 154).

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Entretanto, o que se institucionalizou foi uma política de integração dos considerados como silvícolas (aquele que vive na selva, estranho à civilização, à comunhão nacional), ou seja, o modo próprio de organização, crença e costumes das populações tradicionais não constituía parte integrante da identidade nacional do país, devendo os integrantes destas populações se adequarem a um modelo de sociedade imposto, renegando suas identidades em nome de sua inserção à nação brasileira.(Souza & Barbosa, disponível em:

http://www.ambito-

juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura &artigo_id=8978&revista_caderno=9)

Os indígenas somente puderam requerer sua plena capacidade civil com a Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto do Índio), com o preceito de que a capacidade civil seria expedida pelo sistema judicial sob os critérios do Estado.

Com a instituição da Constituição Federal de 1988 houve uma quebra na perspectiva de incapacidade da população indígena. Um dos avanços feitos pela Magna Carta é a legitimidade aos indígenas ingressarem em juízo, como descreve o artigo 232 da CF “Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.” (Brasil, 1988). A constituição, em seu artigo 231, também optou por proteger sua “organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam” (Brasil, 1988). Porém o Estado brasileiro cabe avançar no que diz respeito aos direitos indígenas. Por meio de políticas públicas que se deve atingir o estágio de reconhecimento devido a população indígena, como parte formadora da

cultura brasileira. Uma dessas políticas públicas se qualifica na política de cotas para população indígena. Somente através da inserção de estudantes indígenas se poderá manter sua ancestralidade e fazer esses estudantes virarem professores e profissionais com capacidade para reestruturar as mazelas.