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2.2 - PRÁTICAS DE CUIDADO ENTRE OS MAGÜTAGÜ

2.2.2 Covid-19 entre os Tikuna de Me’cürane

necessário para a compreensão das questões ambientais (Vargas, 2012, p.24.25).

2.2.2 Covid-19 entre os Tikuna de Me’cürane

Segundo Muna Muhammad Odeh e Jamila Odeh-Moreira (2021) a pandemia de COVID-19 veio para mudar o mundo como se conhecia. (p. 85).

Realmente mudou muitas coisas nas nossas vidas o que erámamos acostumados. Não foi diferente entre os Tikuna, na comunidade Me’cürane também houveram umas mudanças nas suas rotinas para ir a roça, pescar e ir para a cidade fazer umas comprinhas. Segundo as autoras Odeh e Odeh-Moreira,

Para prevenir a doença e controlar sua transmissão, a OMS recomenda estar constantemente atualizado sobre o vírus, a doença causada por ele e como ela se espalha na população. Para garantir a sua proteção e daqueles à sua volta, indivíduos devem utilizar máscaras faciais, evitar tocar o rosto, lavar as mãos frequentemente e utilizar álcool em gel para constante desinfecção. (2021: p. 87) Após o espalhamento da notícia da chegada do coronavírus no território brasileiro, não demorou muito para a Covid-19 chegar também nos territórios dos indígenas Magüta ao longo do Solimões e na comunidade Me’cürane, no município de Santo Antônio do Içá, cidade esta localizada a 800 km da capital Manaus, no Amazonas. O vírus se espalhou muito rápido em vários municípios do Solimões e no rio Içá se faz presente. As orientações chegaram as comunidades indígenas Tikuna também, também porque assistiam nos jornais sobre o cuidado que tomaríamos diante do coronavírus. Após saberem que estávamos perdendo vidas para essa doença os Tikuna da comunidade tomaram atitudes de voltar a usar medicinas tradicionais para se protegerem ou

86 amenizarem os sintomas do corona vírus. Segundo a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB),

Desde a primeira morte de uma indígena Borari, no dia 19 de março, em Santarém (PA), e o primeiro caso confirmado de contaminação da jovem Kokama, de 20 anos,Agente Indígena de Saúde, no dia 25 de março, no município Santo Antônio do Içá (AM), estamos realizando o monitoramento da situação da Covid-19 entre os povos indígenas da Amazônia Brasileira. Diariamente, lideranças das organizações de base e profissionais da Saúde Indígena nos relatam sobre novos casos de contaminados e mortes que não são notificados pelos órgãos públicos.

Também nos contam sobre as dificuldades que estão enfrentando para serem assistidos nos territórios indígenas e no Sistema Público de Saúde das cidades10.

10 Ver site da COIAB, para maiores informações sobre Covid-19 na Amazônia, link:

https://coiab.org.br/covid (acesso em 09/10/2021)

87 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como dissemos de início, o que foi observado na comunidade Mecürane é que entre os Magütagü, os cuidados com o meio ambiente, com a natureza, de modo geral, já começam no âmbito da convivência cotidiana no interior das comunidades de origem. As crianças Magüta são orientados desde pequenas pelos pais e anciões da aldeia, a cuidar da natureza da forma como cuidam de si mesmas. A preocupação com meio ambiente se vivência com os mestres anciões e com os pais na prática.

Constatamos que, do ponto de vista dos anciões tikuna, a educação é a melhor forma de educar as crianças, jovens e todos os comunitários, para que no futuro todas essas categorias etárias de pessoas dê em continuidade na preservação de tudo que existe na natureza. A meu ver, esse método, ou seja, estas dinâmicas de educação usadas pelos anciões Tikuna, podem ser usadas na sala de aula pelos próprios professores tikuna como processo de ensino/aprendizagem dentro das escolas indígenas.

Uma das formas de transmissão de conhecimentos, antigamente se dava por meio do ritual da moça nova. Esse ritual, era a base de ensino/aprendizagem dos saberes e conhecimentos, por meio desse ritual foi possível manter saberes de milênios dos nossos antepassados, mas com a chegada dos invasores, colonizadores e igrejas, foi se perdendo essa forma de educar, devido a proibição dos rituais e ser demonizada essa forma de vida. Mas pela resistência do povo tikuna, consegue-se outros meios de educar por meio dos anciões e pais, sem a execução desse importante ritual para a formação de Ser mais Magüta.

Dessa forma, buscamos mostrar que a educação faz toda a diferença e que, com essas sensibilizações, as pessoas tenham visão/olhar com o cuidado com o meio ambiente. As orientações recebidas pelos anciões como forma de educação estão ligadas a percepção do cuidado com a saúde pessoal e da floresta e todo conhecimento local vem da natureza humana - dos ancestrais. Os anciões educam seus filhos, netos, toda sua parentela e os comunitários em geral,

88 visando à proteção da “mãe terra”. A não transmissão – ou – educar, for transmitido para as crianças e para futuras gerações, a floresta, a terra e tudo que nela existe desaparecera, pela ganancia do homem – humano.

Vemos que na Amazônia, os territórios indígenas representam áreas mais preservadas, nas quais encontramos uma grande biodiversidade. Nesse sentido defendemos a importância de aliarmos a preservação das florestas Amazônicas, e de outros biomas, à defesa dos direitos, das culturas e formas de manejo tradicionais indígenas e suas formas de exploração econômica sustentáveis.

Busco com esse trabalho, contribuir para que as próximas gerações reflitam sobre o que os anciões pensavam e pensam sobre o cuidado e relação com a natureza. Retomar os ensinos através das escolas e projetos para educação ambiental para jovens e educação para a melhoria da saúde e da qualidade de vida da população. Para que a comunidade cada vez mais seja, como desde sempre foi, guardiã das florestas, para o bem-estar tanto da comunidade, quanto do mundo como um todo, porque vemos o que está acontecendo hoje, climas mudando devido aos desmatamentos florestais e o aparecimento de pandemias causadas também pela ação humana.

A contribuição dos conhecimentos tradicionais e práticas dos povos indígenas e das comunidades locais para conservação da diversidade e qualidade ambiental são fundamentais para aprimorar os programas de ensino nas escolas e comunidades indígenas. A comunidade Vila Betânia, onde a pesquisa foi realizada, apresentou a importância do desenvolvimento e valorização de um método de aprendizagem embasado no conhecimento tradicional. A reflexão sobre a preservação ambiental em uma comunidade indígena, requer uma abordagem sobre as cosmologias que orientam as práticas sobre o meio ambiente e a relação com a natureza, voltando no passado (para conhecer) para serem praticadas no presente. Para isso, precisamos que conhecemos a nossa própria história dos cuidados e as curas que anciões fazem para melhorar e melhoram.

As áreas que os indígenas Magütagü ou outros povos ocupam, é umas estratégias dos guardiões, pois, conservam, sendo assim, os indígenas que vivem

89 no território demarcado são conservadores e ajudam na ampliação da diversidade de fauna e flora local, devido que os povos indígenas em geral têm formas únicas de viver nos seus territórios em prol de todos.

Finalizamos este trabalho trazendo a situação bem recente, que trouxe muitas tristezas às pessoas que perderam parentes para essa doença, de novo trazida, como outras doenças, aos territórios indígenas Magütagü como a comunidade Me’cürane. Em conjunto ao novo coronavírus estava toda a política anti-indígena do atual governo brasileiro, que já torna os indígenas vulneráveis a toda forma de influências nefastas. Mesmo assim, o povo Tikuna vem sobrevivendo e (re)existindo, retomando as práticas culturais, as danças e músicas tradicionais e religiosidades o que tráz muita alegria para os Magütagü, principalmente para os anciões.

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