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4. ESTUDO DE CASO

4.4 ANÁLISE DO CASO A PARTIR DAS TEORIAS

4.4.2 Crítica a teoria normativa da sociedade civil

As evidências coletadas que aproximam o OP de São Carlos do modelo teórico da Crítica a Teoria Normativa da Sociedade Civil estiveram mais presentes nas entrevistas do que nos documentos. Inclusive em diversos momentos das entrevistas foram citadas informações sobre aspectos do OP de São Carlos que remetiam a essa teoria.

Conforme o modelo teórico em questão algo relevante que muitas vezes acaba sendo ocultado é a ação política das instituições participativas, assim como de seus membros. Também seria um desafio conhecer aqueles que são considerados como sociedade civil e o tipo de vinculo que mantêm com a sociedade política. Muitos dos entrevistados descreveram

que diversas pessoas envolvidas com o OP como representantes da sociedade deixavam latentes seu interesse em se utilizar das reuniões e plenárias como instrumento de promoção pessoal que possibilitasse uma futura candidatura política. Também foi destaque que algumas pessoas eram inseridas no OP a mando de vereadores que se opunham a ele para desqualificarem as atividades participativas.

Pareceu que o OP foi utilizado em diversos instantes pelo poder público como instrumento de articulação política com a sociedade, deixando em segundo plano questões referentes a participação e a promoção de um modelo de democracia mais participativa. Alguns dos entrevistados destacam como em alguns instantes questões como eleições e apoio político pautavam as ações do poder público e que isso tinha importantes reflexos sobre as atividades do OP.

A Crítica a Teoria Normativa da Sociedade Civil destaca que a sociedade civil, assim como a sociedade política, é composta por barganhas, chantagens, arranjos e fraudes. Dessa forma as instituições participativas não seriam capazes de alterar estruturas políticas tradicionais, já que também seriam capazes de reproduzir desigualdades presentes na sociedade. Isso pareceu bastante marcante nos conselhos de políticas públicas e nas associações de moradores que de acordo com os entrevistados estabeleceram muitas relações clientelistas, patrimonialistas e de insulamento.

Particularmente as associações de moradores foram apresentadas como instâncias bastante influenciadas pela ação dos vereadores, que conforme as explanações das entrevistas eram capazes de definir seus rumos e ainda utilizá-las como reduto eleitoral, de trocas e de relações clientelistas. Os conselhos de políticas públicas, conforme os relatos, teriam tido interesses políticos na centralidade de suas ações. Porém esses interesses não eram os dos vereadores e sim do próprio Poder Executivo. Os conselhos teriam sido instâncias que pouco fomentaram a participação e que dificultavam a entrada de novos membros. Os esforços do COPRGC para aproximar e articular o OP com essas organizações, assim como de mudar suas funções não teriam alcançado bons resultados.

Da mesma forma como é previsto por esse modelo teórico não foi possível identificar que a ação conjunta do Estado com a sociedade através do OP tenha sido capaz de garantir por si só que as instituições promovessem valores democráticos. Tampouco pode-se afirmar que a sociedade civil em questão foi a todo instante virtuosa, defensora do interesse geral e que tenha realizado suas atividades de forma dissociada da sociedade política.

4.4.3 Teoria da estrutura de oportunidade política  

As questões referentes a Teoria da Estrutura de Oportunidade Política estiveram muito presentes nos documentos analisados, mas mostraram-se pouco efetivas nas constatações de resultados do OP. Esse modelo teórico apresentou um papel mais prescritivo e de objetivos do OP de São Carlos do que propriamente de ocorrências de resultados.

Conforme essa teoria as instituições participativas seriam capazes de inserir os indivíduos em redes estáveis de relações sociais através de laços de confiança e redes de cooperação o que gerariam externalidades positivas. Foi possível observar que de fato em alguns instantes as pessoas se organizaram em torno do OP de modo a buscar objetivos em comum, porém essas relações pareceram muito tênues já que aparentavam não se dar de forma contínua e sistêmica. É destaque na exposição de alguns entrevistados que depois de ter suas demandas aprovadas muitos agrupamentos se desfaziam ou deixavam de participar das reuniões do OP. Obviamente isso não foi uma regra, já que houve exceções.

Esse modelo teórico também entende que o ambiente político teria potencial para influenciar o engajamento cívico, a mobilização social e o associativismo, já que instituições políticas, ações de governo e políticas democráticas inclusivas seriam capazes de construir redes de capital social. Porém, pelo menos no que diz respeito a associações de moradores e conselhos de políticas públicas, isso não pareceu acontecer. Conforme os relatos a estrutura de promoção participativa desenvolvida em torno do OP teria sido pouco capaz de superar interesses de natureza política que envolviam as associações e os conselhos. Isso vem por em dúvida, pelo menos em relação ao OP de São Carlos, a premissa de que o desenho institucional de organizações públicas podem estimular a vitalidade cívica da comunidade.

Características do governo como relações com associações, oportunidade para a participação, capacidade em dar respostas aos cidadãos e um governo democrático e aberto seriam determinantes para a formação de uma estrutura de oportunidade política. Os documentos mostram que os esforços realizados pelo COPRGC, através de seminários e conferências, para a estreitar as relações do governo com outros agrupamentos sociais e espaços participativos se deram de forma permanente. Existem pistas, inclusive, que essas relações tenha sido em diversos instantes tratadas como prioridade pelo COPRGC. Porém os relatos das entrevistas apontam para certos problemas que teriam inviabilizado que isso ocorresse na prática. Destaque para a crise de confiança gerada entre governo e sociedade com não realização de muitas das demandas aprovadas pelo OP e por problemas de natureza