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Críticas à idéia de direitos para os animais

No documento Animais em juízo (páginas 49-52)

Ainda hoje diversos são os autores que se opõem ao debate dos direitos dos animais. Dentre eles podemos já estudamos autores como: Peter Singer. Immanuel Kant, Jeremy Bentham dentre outros; que apesar de desenvolverem o debate em torno de uma maior humanização das relações humanos/não-humanos, não pregaram uma teoria que atribuísse direitos aos animais. Na doutrina dos direitos dos animais comum é o debate entre os opositores e os defensores desta teoria, sendo comuns artigos e livros para suportar os prós e contras dos direitos dos animais. Nomes como R. G. Frey, Carl Cohen e Tom Regan serão importantes para demonstrar os avanços e retrocessos desta teoria, além de reafirmar a importância da questão animal na atualidade.

Em 1977, por exemplo, R. G. Frey publicará Animal Rights (Direitos dos animais) na revista Analysis a fim de fazer uma crítica à visão dos direitos dos animais. Para Frey, alguns autores sempre que advogam pró-direitos dos animais se utilizam de casos marginais em que bebês e pessoas com sérios distúrbios mentais são citadas como exemplo com intuito de demonstrar uma falha no sistema jurídico e influenciar na inclusão dos animais dentro do ordenamento jurídico163.

Frey assevera que este argumento é entendido da seguinte forma: mencionam-se diversos critérios nos quais filósofos tentam mostrar porque seres humanos possuem direitos, mas animais não. Afirma-se que cada um dos critérios que excluem os animais poderiam ser utilizados para excluir bebês e pessoas com sérios distúrbios mentais de ter direitos. Assim, se atribuímos direitos a estes seres

162 IHERING, Rudolf von. A luta pelo direito. trad. José Tavares Bastos. Porto: Liv. Chardron, 1910. p.

09-10. Disponível em: http://www.4shared.com/file/64192193/4696567a/Rudolf_von_Ihering_- _A_Luta_pelo_Direito.html?cau2=401w

humanos deveríamos ampliá-los para os animais não-humanos164. Frey utiliza-se do

critério da racionalidade para sustentar sua teoria, partido dos escritos de Andrew Linzey165. Para Dale Jamieson e Tom Regan, Frey parece não ter entendido os

escritos de Linzey muito bem. Ambos os autores na réplica a Frey publicada na mesma revista em 1978 afirmam que Linzey crítica o argumento particular de estabelecer um critério particular (racionalidade) para que os animais ou até mesmo seres humanos sejam considerados possuidores de direitos. O fato que alguns seres humanos possam ser excluídos estabelece um forte argumento para que os defensores dos animais sejam contra um critério como este. E como vimos, Frey utiliza o fundamento da racionalidade como suporte de suas críticas166.

Para Frey, os defensores dos direitos dos animais buscam estreitar a visão de interesses apenas para os não-humanos, não considerando outros seres que também têm interesses, por exemplo: plantas e maquinas. Ambos teriam interesses tais como o de ser bem cultivado ou de ser bem lubrificado respectivamente. Excluir estes interesses é restringir a teoria segundo Frey. O autor afirma que quando os defensores dos direitos dos animais negam a assertiva de que apenas os humanos teriam direitos, alegando uma visão restritiva dos direitos, eles propõem uma alternativa idêntica à crítica do problema ao dizer que apenas os animais teriam direitos não os outros seres167. Jamieson e Regan refutam esse entendimento

demonstrando que o argumento de Frey é construído em forma de um dilema em que apenas o autor visualiza a resposta. Para os autores, há uma grande diferença entre uma maquina que é má conservada e um animal não-humano que necessita de alimentação e cuidado168.

R. G. Frey não resume suas críticas ao artigo e também em seu livro

Interests and Rights: The Case against Animals (Interesse e Direitos: a questão

contra os animais), explica que as teorias normativas são melhores desenvolvidas quando debates morais são dispensados. Animais podem sentir dor e restrições nas atitudes humanas são possíveis, porém falar de direitos morais para qualquer ser inclusive o homem é ilusório. Talvez, Frey concorde com a posição de Singer e

164FREY. R.G. Animal Rights. In Analysis. Vol. 37. No. 04 (Jun.,1977), pp. 186-189. p. 186-187. 165 Ibidem. p. 187.

166 JAMIESON, Dale & REGAN, Tom. A reply to Frey. In Analysis. Vol. 38. no. 1 pp. 32-36. (jan. 1978).

p. 34.

167 ELLIOT, R., Frey, R. G.: Interests and Rights: the case against animals. Book review, Australasian

Journal of Philosophy, 61 (1983). p. 219-220.

adote a visão de igual consideração de interesses ao invés da concepção de direitos para os animais. A posição assumida por Peter Singer é que ao se falar em direitos dos animais fala-se mais de um discurso mais político do que jurídico169.

Por fim, Frey elenca três defesas para seu argumento, a fim de demonstrar que diferentemente dos animais não-humanos, bebês e pessoas com sérios problemas mentais podem preencher os requisitos (racionalidade, linguagem...), com a finalidade de possuir direitos. De acordo com o autor, as melhores defesas seriam: 1) o “argumento da potencialidade”, afirma que existe a potencialidade nas crianças de preencher o requisito da racionalidade e obter, assim, direitos; 2) o “argumento da similaridade”, afirma que pessoas com sérios problemas mentais devem obter direitos pela forte semelhança com os demais membros da espécie; e 3) o “argumento da religiosidade”, o qual atribui apenas aos seres humanos a posse de uma “alma imortal”, que, no contexto deste trabalho, poderíamos entender como valor intrínseco, o qual apenas os humanos poderiam gozar e desfrutar para obter direitos170.

Em resposta a estes argumentos, Dale Jamieson e Tom Regan afirmam que todos os argumentos de Frey são ambíguos, já que não se pode entender se eles excluem de classificação todos ou apenas alguns animais. Por exemplo, supõe-se que a posse de uma alma imortal é necessária e suficiente para exclusão de um ser dentro da classe de possuidores de direitos e que todos os seres humanos têm almas imortais, ou seja, cria-se um critério moral que excluirá todos os animais, mas não seres humanos? Ademais, qual a plausibilidade de se afirmar uma conexão entre esta alma imortal e o fato de se ter direitos? 171

Dale Jamieson e Tom Regan concluem que as críticas sugeridas por Frey são desapontadoras não sendo possível encontrar base que suporte seus argumentos pelo fato de Frey não ter conseguido organizar adequadamente um argumento. Para os autores, Frey apenas expõe os argumentos, mas não os explica, não discutindo questões importantes como a senciência ou mesmo teorias dos direitos dos animais172.

169 SINGER, Peter. Entrevista com o filósofo australiano Peter Singer sobre as prioridades do

movimento de direito animal no Brasil. Op. cit.. p. 11.

170FREY. R.G. Animal Rights. Op. cit. p. 188.

171JAMIESON, Dale & REGAN, Tom. A reply to Frey. In Analysis. Vol. 38. no. 1 pp. 32-36. (jan. 1978).

p. 35.

C

APÍTULO

II – A

NIMAIS COMO

S

UJEITO DE

D

IREITO

No documento Animais em juízo (páginas 49-52)