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Ministério Público e os direitos dos animais

No documento Animais em juízo (páginas 108-111)

O Ministério Público é instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica e também dos interesses sociais indisponíveis409. É função do Ministério Público promover o

inquérito civil e a ação civil pública, a fim de proteger o meio ambiente e ou interesses difusos e coletivos da sociedade brasileira410. Ademais, os promotores e

procuradores são os titulares da ação penal pública como já foi evidenciado neste trabalho411.

Os dispositivos constitucionais combinados conferem aos membros do Ministério Público a condição de substituto processual da sociedade e dos animais não-humanos na defesa de seus interesses. É papel do membro do Ministério Público promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses dos animais412. Ademais, o parquet terá legitimidade para propor ação de

responsabilidade civil e criminal por danos causados aos animais, além de poder intervir em todas as causas em que há interesse público, evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte413.

409 Art. 127 – CF/1988. 410 Art. 129, III - CF/1988. 411 Art. 129, I - CF/1988.

412 SANTANA, Luciano Rocha e MARQUES, Marcone Rodrigues. Maus tratos e crueldade contra

animais nos Centos de Controle de Zoonoses: aspectos jurídicos e legitimidade ativa do Ministério Público para propor Ação Civil Pública. In BENJAMIN, Antônio Herman V. (org.). Anais do 6º

Congresso Internacional de Direito Ambiental, de 03 a 06 de junho de 2002: 10 anos da ECO-92: O

Direito e o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: IMESP, 2002. p. 16.

413 Interpretação sistemática realizada a partir da leitura das seguintes legislações: Lei Federal 7.804,

de 18 de junho de 1989, introduz, no inciso V do artigo 3º da Lei Federal 6.938/81, a fauna como recurso ambiental., dizendo: “O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente” (artigo 14, § 1º). Além do Código de processo Civil ao dispor que “compete ao Ministério Público intervir” (artigo 82): “em todas as demais causas em que há interesse público, evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte” (inciso III).

Para Luciano Rocha Santana e Marcone Rodrigues Marques, o Ministério Público teria legitimidade para instaurar inquérito civil, propor ação civil pública, além de promover a responsabilização penal das pessoas físicas e jurídicas causadoras de maus tratos contra os animais. Os autores destacam inquéritos civis e processos criminais em tramitação em promotoria ambiental de Salvador/Bahia/Brasil para afirmar que na hipótese de captura, confinamento, sacrifício sistemático e indiscriminado de animais errantes a lesão caracterizaria crime de maus tratos aos animais, sendo objeto de análise da instituição414.

No âmbito civil, o Ministério Público tem legitimidade extraordinária para ajuizar demandas referentes aos direitos dos animais. Promotores e procuradores poderiam propor ações no sentido de defesa dos interesses dos animais tanto em questões individuais quanto nas referentes à tutela coletiva, como já estudamos neste trabalho. Em todas as hipóteses, o Ministério Público age sempre como substituto processual415.

Importante questão a ser discutida é se o Ministério Público estaria obrigado a ajuizar ação em defesa dos animais. Na esfera penal, a legislação brasileira tipifica maus tratos aos animais como um crime de menor potencial ofensivo416, sendo possível a utilização do instituto da transação penal. Neste caso, o

princípio da indisponibilidade da ação penal seria mitigado. No âmbito civil, parte da doutrina entende que poderia o membro tentar outras formas de resolução de conflito, tais como a composição civil através de termo de ajustamento de conduta. Os defensores desta corrente asseveram que o Ministério Púbico não seria o único legitimado para a demanda coletiva civil, existindo outras entidades que poderiam agir de forma concorrente, tais como as associações417.

414 SANTANA, Luciano Rocha e MARQUES, Marcone Rodrigues. Maus tratos e crueldade contra

animais nos Centos de Controle de Zoonoses: aspectos jurídicos e legitimidade ativa do Ministério Público para propor Ação Civil Pública. Op. cit. p. 17.

415 Referente ao Ministério Público ver: DINAMARCO, Pedro. Ação civil pública. Op. cit.. p. 209. Além

de MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime jurídico do Ministério Público. Op. cit. p. 31.

416 Crimes Contra o Meio Ambiente, em sua Seção I, que define os Crimes Contra a Fauna, o artigo

32, que tipifica: Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

Entendimento interessante é pontuado por Pedro Dinamarco ao afirmar que seria adequado priorizar a atuação da própria sociedade, especialmente através dessas associações418. O problema seria a omissão dos demais legitimados e a falta

de estimulo e decisões referentes à defesa animal. Esse entendimento é condizente com o pensamento de Cass Sunstein já evidenciado.

No que concerne aos interesses dos animais David Favre afirma que será papel do Ministério Público proteger e garantir com que os interesses dos animais sejam respeitados e principalmente que seus responsáveis cumpram com o papel a eles designados de acordo com as leis de proteção aos animais e anti-crueldade. Nesse caso, o Ministério Público iria atuar em processo envolvendo animal e seu guardião como custus legis, a fim de ver satisfeito os interesses dos animais e da legislação de proteção animal. Caso fosse o Ministério Público representante processual do animal outro membro deveria atuar no processo na função de fiscal da lei. O objetivo de Favre é afirmar que os animais não-humanos tenham igual consideração dentro do novo paradigma que ele propôs e que veremos na próxima seção419.

Com o intuito de evitar desentendimentos sobre qual seria a promotoria responsável pela defesa dos animais, Laerte Levai defende a necessidade da criação de uma Promotoria especializada na defesa animal. Para ele, agressões, condições hostis para os animais, abandono, reprodução incontrolada, doenças são alguns dos problemas que podem ser facilmente resolvidos com a criação da promotoria420.

Levai afirma que sendo o Ministério Público a instituição mais preparada para a defesa dos animais, este deve impetrar ações concretas em busca da defesa da tutela jurídica dos animais. Para ele, temas que hodiernamente restam sem proteção como os relacionados a animais sendo utilizados como entretenimento em circos, rodeios e vaquejadas; a falta de exigência de métodos substitutivos à experimentação animal e a vivissecção; o combate a criação de animais pelo método de produção intensiva e o abate de animais para alimentação; e ainda sacrifício de animais em atos religiosos; seriam de competência desta nova

418 DINAMARCO, Pedro. Ação civil pública. Op. cit. p. 211.

419 FAVRE, David. Equitable Self-Ownership for Animals, 50 DUKE LJ. 473 (2000). p. 498.

420 LEVAI, Laerte Fernando. Promotoria de Defesa Animal. In 11º Congresso de Meio Ambiente do

promotoria. A proposta do autor é a de acabar com a disputa de competência dentro do Ministério Público nos casos de processos que envolvem direitos dos animais421.

Levai afirma que as promotorias de meio ambiente priorizam as questões relacionadas à defesa da flora, das águas, dos ecossistemas, do solo, do ar e da paisagem natural ou cultural. A expressão animais não faz parte do repertório das atribuições da promotoria ambiental. Na verdade, a promotoria ambiental, para o autor, disputa com as promotorias criminais e cíveis a competência para cuidar das questões dos animais. Levai afirma que desde 1934, o Ministério Público é substituto processual dos animais, sendo essencial que o promotor tivesse atribuições amplas – na esfera cível, criminal e administrativa – para tratar da tutela dos animais não- humanos, a fim de obter um provimento rápido e eficaz. Para o autor, seria o Ministério Público a instituição que reuniria melhores condições para assumir a tutela jurídica dos animais, dispondo de instrumentos administrativos e processuais hábeis a impedir situações de maus tratos aos animais422.

No documento Animais em juízo (páginas 108-111)