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Apesar de o protocolo Bitcoin ser uma tecnologia que foi desenvolvida com a prerrogativa de possibilitar transações monetárias pela internet de uma maneira mais rápida e eficiente, existem fortes críticas em relação ao seu uso. A possibilidade de anonimato das transações em bitcoin, fez com que o comércio ilegal de drogas pela internet fosse a primeira atividade econômica a utilizar da moeda virtual. Lançado em fevereiro de 2011, o website Silk Road foi o primeiro mercado negro totalmente online a utilizar bitcoins para a venda de produtos ilícitos. O Silk Road reunia compradores e vendedores de drogas que negociavam seus produtos de maneira anônima; e acredita-se que o website tenha circulado aproximadamente 9.519.664 bitcoins (1,2 bilhões de dólares) e obtido faturamento em comissões de 614.305 bitcoins (79,8 milhões de dólares) para o seu criador durante o curto período de atividade24.

O Silk Road somente podia ser acessado a partir da chamada deep web, ou seja, o website não era acessível através de uma conexão comum à internet, era necessário utilizar o software TOR (The Onion Router), o qual possibilita o não rastreamento do endereço de IP do usuário. O Silk Road funcionou até outubro de 2013, tendo existido portanto durante dois anos e oito meses. Apesar de seu criador ter conseguido se manter anônimo durante muito tempo, o FBI conseguiu fechar o website e prender o americano Ross William Ulbricht sob acusação de ser o pseudônimo “Dread Pirate Roberts” o fundador do website. Ross Ulbricht antes de seu julgamento declarou que as intenções por trás da criação do Silk Road eram puramente ideológicas por acreditar no libertarismo e querer promover um verdadeiro livre

24 Sealed Complaint 13 MAG 2328: United States of America v. Ross

William Ulbricht. 27 Set. 2014. Disponível em:

<https://www.cs.columbia.edu/~smb/UlbrichtCriminalComplaint.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2015.

mercado, “Silk Road was supposed to be about giving people the freedom to make their own choices” escreveu Ross em uma carta endereçada à juíza que julgaria o seu caso. Porém, Ross Ulbricht foi condenado em 2015 pela corte federal americana a cinco sentenças para serem servidas ao mesmo tempo, incluindo duas para prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional. Apesar do fechamento do Silk Road pelas autoridades americanas, outros mercados negros online surgiram, possuindo um volume de negociação maior do que o Silk Road possuía na época em que foi fechado (WOOLF, 2015).

Christin (2012) foi um dos primeiros autores a elaborar um estudo profundo em relação ao funcionamento do Silk Road, ao recolher dados do website durante seis meses consecutivos entre 2011 e 2012. O autor em conjunto com o laboratório Cylab da Carnegie Mellon University rastrearam grande parte do conteúdo do website, analisando o tempo de vida médio dos usuários, os produtos vendidos e estimaram o seu possível faturamento. Os dados adquiridos por Christin (2012) foram obtidos de maneira furtiva, ou seja, sem que os controladores do Silk Road soubessem de tal estudo. “Through examining over 24,400 separate items sold on the site, we show that Silk Road is overwhelmingly used as a market for controlled substances and narcotics, and that most items sold are available for less than three weeks.” (CHRISTIN, 2012, p. 1). Depois que o Silk Road foi fechado, os dados reais do website divulgados pelo FBI se mostraram de acordo com os estudos do autor.

Durante o início do desenvolvimento do protocolo Bitcoin, muitas das empresas a oferecer serviços financeiros com bitcoin possuíam modelos de negócios ruins e falta de segurança digital. Vários foram os casos de empresas que operavam como exchanges, ou seja, empresas que trocavam bitcoins para dólares, euros e outras moedas nacionais, que tiveram seus bancos de dados invadidos por hackers, levando consequentemente a perda das bitcoins dos clientes. Lee (2011), Bradbury (2013) e Greenberg (2015) citam exatamente os casos de ataques de hackers contra exchanges, mostrando que o prejuízo desses ataques chegam a muitos milhares de dólares. O caso mais emblemático de falha aconteceu em 2014, onde a exchange Mt.Gox (pronúncia Mount Gox) – até então a exchange com maior volume de negociações em bitcoins para outras moedas no mundo – sofreu inúmeros ataques durante os anos em que operou levando a um prejuízo de aproximadamente 500 milhões de dólares em bitcoins roubadas por hackers e consequentemente a bancarrota da empresa (MCMILLAN, 2014). O furo na segurança digital da Mt.Gox atraiu grande atenção da

mídia e levou a ampliação do debate sobre a regulamentação deste novo formato monetário digital, fazendo com que bancos centrais e outros órgãos governamentais discutissem sobre as cryptocurrencies e como regulamentá-las.

Apesar de o protocolo Bitcoin funcionar de forma descentralizada, a utilização da tecnologia da block chain e mecanismos de segurança proof-of-work se mostraram robustos o suficiente, ou seja, ataques de hackers não conseguiram afetar o seu funcionamento, alterar transações ou roubar moedas do núcleo do sistema. Porém, o protocolo Bitcoin funciona utilizando chaves assimétricas, logo a fragilidade do sistema depende da segurança que o usuário final possui no equipamento eletrônico em que manipula a sua chave-privada contendo a posse das bitcoins. O protocolo Bitcoin é robusto e seguro, mas o computador ou dispositivo móvel do usuário normalmente não é. Dessa forma, como as chaves-privadas contendo bitcoins ficam em posse das pessoas que as possuem, as quais em sua maioria não possuem hábitos ou conhecimentos de segurança digital, inevitavelmente suas moedas virtuais estarão em risco de serem furtadas.

3.6 O IMPACTO DA BITCOIN SOBRE POLÍTICAS DE BANCOS