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De forma a interpretar a escolha dos agentes, utiliza-se um modelo de escolha discreta com campo de escolha ternário, a fim de definir a escolha de moeda que cada um destes agentes possui. Cada agente, a cada período, pode escolher entre três alternativas mutuamente excludentes: a moeda nacional, a moeda estrangeira ou a moeda virtual bitcoin. Os agentes escolhem qual moeda utilizar para transação de acordo com o custo que esta moeda possui para ele. Uma moeda nacional, por exemplo, que esteja sofrendo de um processo inflacionário, eleva os custos de utiliza-la, fazendo os agentes escolherem outra opção disponível que possua um menor custo de transação. Assim, para entender a propensão com que um agente ? se defronta ao ter que escolher entre três opções alternativas definidas por −1, 0 e 1, é estabelecida a seguinte função:

H(kl) = a(kl) + ml(kl), (4.1) com o termo a(kl) representando a parte dos determinantes identificáveis da escolha do agente ? quando este escolhe kl e ml(kl) uma parte aleatória.

No presente modelo kl= −1 representará a escolha pela moeda nacional, kl= 0 a escolha pela moeda estrangeira e kl = 1 a escolha pela moeda virtual bitcoin. Dessa forma, o termo a(kl) representa a parte totalmente mensurável da escolha do agente, representando especificamente o custo de transação envolvido pela utilização daquela moeda. O cálculo do custo de transação por sua vez é definido levando em consideração variáveis mensuráveis como inflação e custos de obtenção da moeda (impostos, corretagens e taxas). Logo, o termo a(kl) define valores onde não há incerteza por parte do agente, ou seja, valores que são devidamente mensuráveis. Por outro lado, o termo ml(kl) representa a decisão pessoal ou idiossincrática do agente em relação a kl, caracterizando assim a parte probabilística da decisão de escolha.

Dado o campo de escolha e a função utilidade do agente, a tomada de decisão de um agente ? maximizador de utilidade kl ∈ o−1,0, 1 p será ótima caso:

H(kl) ≥ H(klq),∀klq∈ o−1, 0, 1p. (4.2)

Usando (4.1), o critério de escolha (4.2) pode ser reescrito da seguinte forma,

a(kl) + ml(kl) ≥ a(klq) + ml(klq), ∀klq∈ o−1, 0, 1p, (4.3)

ou seja,

a(kl) − a(klq) ≥ ml(klq) − ml(kl),∀klq∈ o−1, 0, 1p. (4.4)

Consequentemente, a opção kl será uma escolha ótima para todos os agentes caso o benefício líquido da parcela observável da função utilidade relacionada a esta escolha, dado por a(kl) − a(klq), não seja menor que o benefício líquido não observado que o agente associa às demais escolhas klq∈ o−1, 0, 1 p. Através desta análise, mesmo que a utilidade observada de uma estratégia kl seja maior que as utilidades observadas das outras duas estratégias, não segue necessariamente que a estratégia kl será escolhida pelo agente ?, uma vez que os incentivos não observáveis de pelo menos uma das outras duas alternativas pode ser forte o suficiente de tal forma que a torne mais atrativa do que a estratégia kl. Assim utilizando (4.2) e (4.4), dado o componente aleatório presente na decisão do i-nésimo agente, é possível estabelecer a probabilidade com que este agente escolha a estratégia kl ∈ o−1,0, 1 p:

&`bs(kl) = &`bs(H(kl) ≥ H(klq)∀klq),

= &`bs(ml(klq) − ml(kl) ≤ a(kl) − a(klq)∀klq), = t uvmUXX l(klq) − ml(kl) ≤ a(kl) − a(klq)∀klqwx(myzl)dmyzl,

(4.5)

em que x(myzl) é a função densidade de probabilidade conjunta do vetor de variáveis aleatórias, sendo myzl = (ml(kl= −1), ml(kl= 0), ml(kl= 1)) e uv∙w uma função indicadora, igual a 1 se a desigualdade entre colchetes for verdadeira e zero caso contrário.

Uma forma de interpretar a expressão (4.5) é supor que um determinado agente ? tenha escolhido kl= −1 por mais que aparentemente sua parte determinística indicasse que kl= 0 fosse “melhor”, ou seja, a(0) > a(−1). Isto indica que os incentivos não- observáveis foram mais fortes a ponto de levar à escolha de kl= −1 ao invés de kl = 0. Em termos líquidos os incentivos implícitos do agente ml(−1) − ml(0) se inclinaram para a opção kl= −1, na qual este seria

um caso, por exemplo, em que um agente escolhesse uma moeda por mais que o seu custo de transação fosse mais elevado do que as outras disponíveis. A escolha pessoal ou idiossincrática do agente prevaleceu, por mais que a parte determinística indicasse o contrário.

A função exposta em (4.5) é uma função de distribuição acumulada do componente aleatório da função utilidade definida em (4.1). Assim, esta função não determina efetivamente a escolha assumida pelo agente, mas somente a sua propensão à escolha em relação à estratégia kl∈ o−1, 0, 1p. Contudo, é possível dizer que a propensão à escolha da estratégia kl torna-se maior à medida que o diferencial dos incentivos observados a favor desta alternativa aumenta, ou seja, as motivações idiossincráticas dos agentes tendem a perder relevância quanto maior o diferencial observado. Em outras palavras, quanto maior forem os incentivos determinísticos, menor será a incerteza a respeito da decisão do agente, de forma que a parte não observável ou idiossincrática ml(kl) perde relevância no processo de escolha.

Os diferentes modelos de escolha discreta têm origem a partir de distintas especificações de x(myzl). Train (2003), estabelece que a especificação mais simples e amplamente especificada é a que dá origem ao modelo logit.

O modelo aqui proposto é derivado supondo-se que os componentes aleatórios da função utilidade (4.1) associados às alternativas o−1,0, 1p são variáveis aleatórias independentes e com a mesma distribuição de probabilidades de valores extremos, de forma que a função de densidade de probabilidade para cada componente aleatório ml(kl) é conhecida como uma distribuição do tipo Gumbel (ou de valor

extremo tipo I) definida por: 26

26 O termo pode assumir valores distintos dependendo do modelo em

análise, Silva (2012) assume um valor qualquer desde que > 0, outros autores como Giovanini (2014) utilizam = 2,5.

x |

m

?(kl)} = U~•€(•€) U‚ƒ„…€(†€), (4.6) sendo > 0 uma constante real.

A função de distribuição acumulada associada à função (4.6) é dada por:

‡\ml(kl)] = U‚ƒ„…€(†€). (4.7)

Assim, com base nas equações (4.6) e (4.7), a integral anteriormente definida em (4.5) torna-se uma função de distribuição acumulada logística, como explorado por Train (2003):

&`bs(kl) = ‚„ˆ\†€]

‚„ˆ\†€]‰‚„ˆ|†€Š}‰‚„ˆ|†€ŠŠ}, = ‰‚ƒ„vˆ\†€]ƒˆ|†€Š}w‰‚ƒ„vˆ\†€]ƒˆ(†€ŠŠ), (4.8)

na qual as variáveis kl, klq e klqq representam as três alternativas distintas de opções de moeda.

Quanto menor o valor assumido pelo parâmetro , maior será o peso dos incentivos não observáveis sobre a propensão à escolha da alternativa kl pelo agente, ou seja, mais incerta será a decisão do agente ? do ponto de vista do observador. Em outros termos, quanto → 0 tem- se que &`bs(kl) →

f, ou seja, a probabilidade torna-se igual para todas

as três escolhas, independente dos valores observados das utilidades determinísticas. Da mesma forma, quando → ∞, &`bs(kl) → 1 se a(kl) > a(klq),∀(klq) ≠ kl, em outras palavras, a alternativa que apresentar a maior utilidade determinística será quase certamente a escolhida caso seja suficientemente grande.

4.2 MODELO DE ESCOLHA TERNÁRIA COM EFEITO DE