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A evolução histórica do capitalismo e seus reflexos nas economias periféricas são complexos em mudanças e adaptações. Em toda América Latina a influência do capital americano e as questões ideológicas associadas à expansão do capital transnacional sempre tiveram um papel significativo nas decisões políticas. A reformulação capitalista ocorrida nas décadas de 1970 e 1980, influenciada pela força política e econômica internacional de Inglaterra e EUA, começa a ser questionada durante em meados da década de 1990 . As diversas crises a nível global do capital financeiro (México, Tigres Asiáticos, Rússia, Brasil e Argentina) levam a protestos e críticas a nível mundial sobre os caminhos traçados para a economia no Consenso de Washington.

Todo este crescimento da ideologia neoliberal no mundo teve como um marco histórico para a América Latina, o novembro do ano de 1989 quando um conjunto de medidas composto por dez regras básicas é formulado em conjunto pelo fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. O Consenso de Washington, termo cunhado pelo economista John Williamson, do International Institute for Economy,

deveria representar "o mínimo denominador comum de recomendações de políticas econômicas que estavam sendo cogitadas pelas instituições financeiras baseadas em Washington e que deveriam ser aplicadas nos países da América Latina, tais como eram suas economias em 1989. Ou seja, a "receita" para a retomada do crescimento depois das crises dos anos 1970 e 1980. (ANDERSON, 2013, p. 7)

As dez recomendações seriam: Abertura Comercial, Privatização de Estatais, Redução dos Gastos Públicos, Disciplina Fiscal, Reforma Tributária, Desregulamentação, Estímulo aos Investimentos Estrangeiros Diretos, Juros de Mercado, Câmbio de Mercado e Direito à Propriedade Intelectual.

Para Anderson, 2013, a adoção destas recomendações foi a definitiva quebra de paradigma com a ideologia Keynesiana e com o Estado de Bem Estar Social e uma retomada do Laissez-faire. A mão invisível de Smith ressurge como a defesa da redução do protecionismo nas trocas internacionais. O que se observou posteriormente foi a globalização do capital financeiro internacional com algumas consequências graves como a crise asiática de 1997, a crise Russa de 1998 a quebra da Argentina em 2002 e mais recentemente a crise americana ou crise dos subprimes de 2008. (ANDERSON, 2013, p. 4-5)

Segundo Castelo, 2012, neste período turbulento de crises em diversas regiões do planeta fez-se necessária uma revisão do projeto neoliberal. Nas suas palavras surge o que ele denomina de social-liberalismo que busca dar uma resposta às questões sociais e à luta política da classe trabalhadora. Surgem então novas teorias sobre o socialismo burguês.

... a Terceira Via (Anthony Giddens), a via 21/2 (Alan Touraine), do pós- Consenso

de Washington (John Williamson), da “nova questão social” (Pierre Rosanvallon), do desenvolvimento humano (Amartya Sen) e das informações assimétricas e falhas de mercado (Joseph Stiglitz). (CASTELO, 2012, p. 47)

Esta súbita consciência social fundamenta-se na necessidade de continuidade do projeto neoliberal, onde o Estado continua mínimo, e o mercado continua sendo a melhor forma de organizar as relações sociais de produção, porém agora com pequenas e focalizadas

intervenções Estatais e ajuda do chamado Terceiro Setor para solucionar problemas em suas principais falhas, como a má distribuição de renda e destruição ambiental.

O Brasil da década de 1990 sofre estas pressões internacionais para a adequação ideológica, primeiro ao Consenso de Washington durante o governo Collor, com a abertura comercial e queda das regras protecionistas, e se inicia o social-liberalismo durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso, com a participação de diversos setores da sociedade, frações diversas da burguesia, latifundiários, classes médias, universidades (principalmente privadas), banqueiros (fração rentista internacionalizada), etc. O país se insere desta forma na nova divisão internacional do trabalho, ao modelo gerencialista internacional (Reforma do Estado) e se readéqua aos novos padrões globais de acumulação de capital e ao modelo de consumo internacional. O movimento operário brasileiro reconstruído na década de 1980, após anos de ditadura, é derrotado, e a agenda de um Estado de bem estar social nacional é abortada. (CASTELO, 2012, p. 50-51)

Neste período de adequação nacional às novas teorias econômicas de caráter neoclássico que há a definitiva ruptura com o pensamento estruturalista e desenvolvimentista nacional. Autores que pensavam o Brasil de forma totalizadora, buscando as causas do subdesenvolvimento e seus obstáculos a um patamar superior de desenvolvimento social e cultural, e alcance de um bem estar social nacional, são esquecidos pelas classes dominantes.

Toda uma larga tradição do pensamento social brasileiro, que remonta aos textos clássicos de Caio Prado Jr., Celso Furtado, Florestan Fernandes, Josué de Castro, Milton Santos, Francisco de Oliveira, Octavio Ianni, dentre outros, é desqualificada

por parte dos sociais-liberais. (CASTELO, 2012, p. 63-64)

A “questão social” passa a ser então o mote das discussões, tendo este discurso consenso ideológico, enquanto as teorias sociais totalizantes são descartadas dos debates. O importante a partir deste momento são as discussões a respeito das políticas sociais assistencialistas, empoderamento dos indivíduos e educação. Ou seja, o que se deve discutir agora são as estruturas de oportunidades, os ativos e a vulnerabilidade das famílias frente ao contexto socioeconômico. Isto fica muito claro também na CEPAL e, portanto, no pensamento Latino Americano, com exceção daqueles países que tenderam a políticas bolivarianas de caráter socialista e Marxista.

No Brasil a nova agenda social tem continuidade após o término do governo FHC. Durante a era Lula e atualmente durante o governo de Dilma Rousseff, os principais conceitos do social-liberalismo, equidade e eficiência, impõem um conjunto de reformas focadas nas

políticas sociais. Porém os investimentos não devem ser em políticas universalizantes que são caras, ineficientes e inibidoras do crescimento econômico. As políticas sociais devem ser focalizadas, e a transferência de rendas neste contexto tem caráter inovador e revolucionário. Nas palavras de Mota (2012) estão desistoricizando a crise capitalista atual com sua relação com o próprio desenvolvimento capitalista. (MOTA, 2012, p. 29)

A principal crítica ao Novo Desenvolvimentismo e ao Social Desenvolvimentismo, unidos sob a denominação de social liberalismo brasileiro é o resumo de questões complexas e históricas da luta de classes, do conflito dos assalariados com a classe dirigente, às relações dos países com a divisão internacional do trabalho, da exploração dos trabalhadores pelo Estado unido aos interesses do Capital, à simples questão social. Para Castelo, 2012, estudos reducionistas levam à conclusões que a distribuição direta de renda associada a condicionalidades educacionais preparariam as famílias para enfrentar “a corrida” do mercado de trabalho. Empoderamento do cidadão e microcrédito seriam fundamentais para pessoas com atitude frente às oportunidades oferecidas pelo mercado. (CASTELO, 2010, p. 62-71)

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