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1.2 As variações das formas de expansão das cidades urbanas

1.2.1 Crescimento territorial urbano extensivo

O crescimento territorial urbano extensivo caracteriza-se pela ampliação do tecido urbano, pela baixa densidade ocupacional e por ser um processo que ocorre de dentro para fora da cidade. O crescimento extensivo apresenta-se de duas formas: ampliação do perímetro urbano e parcelamento do solo, das quais derivam cinco tipos de crescimento: pela soma de novas áreas à mancha urbana, por anéis concêntricos, por dispersão urbana, por difusão urbana e tentacular (figura 10).

O crescimento extensivo do tipo pela soma de novas áreas à mancha urbana (figura 11) caracteriza-se pela adição de novas áreas ao tecido urbano existente, principalmente pela transição de terras de uso rural para urbano (NASCIMENTO e MATIAS, 2011, p.68). Ou seja, ampliam-se as dimensões da zona urbana original enquanto reduzem- se as dimensões da zona rural. Isso pode acontecer via alteração no perímetro urbano (NASCIMENTO e MATIAS, 2011, p.71) ou criação/surgimento de novos bairros (SANTOS, 2012, p.265).

Figura 11: Esquema de expansão urbana para o crescimento extensivo do tipo pela soma de novas áreas à mancha urbana.

No caso de Santarém, no Pará (figura 12), o crescimento territorial aconteceu em função da modificação do perímetro urbano, aumentando a área urbana e somando novas áreas à mancha urbana. Partindo do centro junto ao litoral (polígono vermelho na figura 12) em direção ao continente.

Figura 12: Mapa da Expansão Urbana de Santarém, Pará (1940-1994).

O crescimento extensivo do tipo por anéis concêntricos (figura 13) representa um crescimento radial em função de um centro (PORTELLA et al, 2013, p.7). Essa disposição facilita o acesso ao centro urbano e acontece devido à natureza polarizada do centro urbano. A ocupação ocorre em camadas ao redor daquela área central. Quando o centro urbano está totalmente ocupado, libera-se o primeiro anel de expansão para ocupação, quando este é saturado, o próximo é liberado, e assim sucessivamente. Este tipo de expansão exige planejamento e gestão da cidade fortemente integrados, para que funcione perfeitamente evitando que haja ocupação em novos anéis antes da total saturação do anel anterior.

Figura 13: Esquema de expansão urbana para o crescimento extensivo do tipo por anéis concêntricos.

A cidade de Goiânia (figura 14), capital do estado de Goiás, por exemplo, é uma cidade planejada com base na ideia de cidade-jardim de Ebenezer Howard (ANDRADE, 2012, p.3), daí seu traçado radial, com ruas que convergem para o centro, onde se localiza a praça central. No entanto quando o crescimento ultrapassou a área planejada, o governo não conseguiu manter o mesmo traçado em função de conflitos sociais, econômicos e políticos (RIBEIRO, 2011, p.17).

Figura 14: Plano de Loteamento e Arruamento Núcleo Central, Goiânia, 1933.

O crescimento extensivo do tipo por dispersão urbana (figura 15) caracteriza-se pela propagação pelo território urbano de núcleos urbanos de diferentes dimensões, integrados por sistemas viários que os conectam entre si e com o centro urbano (BENTES, 2010, p.1). Os núcleos urbanos secundários característicos da dispersão urbana são formados por diversos usos, no entanto numa escala menor do que os que se encontram no centro urbano (LIMONAD, 2011, p.39).

Além da expansão de condomínios de primeira e segunda residência há que se considerar a expansão dispersa de centros de serviços, comércio, lazer e inclusive de condomínios industriais e parques industriais. Uma vez que as formas de urbanização extensiva carecem dos serviços e equipamentos característicos da cidade concentrada (comércio, instalações públicas, áreas de lazer, etc.) são implantadas, junto à (sic) grandes rodovias e vias de circulação rápida, amplas zonas multi ou monofuncionais de comércio, saúde, ensino ou lazer, entre outras, em que combinam shopping centers, centros de negócios, instalações educacionais, etc. (LIMONAD, 2011, p.39).

Figura 15: Esquema de expansão urbana para o crescimento extensivo do tipo por dispersão urbana.

Ou seja, os núcleos urbanos secundários são versões menores do centro urbano. Por isso esses núcleos não são totalmente independentes do centro, pois alguns tipos de serviços e equipamentos se encontram no centro urbano apenas. A oferta de pequenos serviços é um dos motivos pelo qual a população desloca-se para esses núcleos urbanos secundários (FRANÇA; REZENDE, 2012, p.9). Ao mesmo tempo em que se tem acesso a serviços e equipamentos básicos para a rotina, a distância da dinâmica conturbada existente no centro urbano garante ainda certa tranquilidade para habitação nos núcleos secundários.

A caracterização do crescimento extensivo por dispersão urbana se dá em função da formação de núcleos com diversidade de usos. Por isso a identificação dessa forma de crescimento é feita em função dos empreendimentos implantados em áreas periféricas, pois uma grande quantidade de empreendimentos em determinada área caracteriza diversificação de usos. Pelo menos dos usos comercial e de serviço, que conseguem atender a algumas necessidades diárias da população daquela área, caracterizando a área

como um núcleo secundário. Para necessidades mais específicas, a população recorre ao centro urbano.

Como acontece na região do Vale do Paraíba fluminense, no Rio de Janeiro, (figura 16), onde vários núcleos urbanos estão se desenvolvendo ao longo do vale e são conectados pela Av. Presidente Dutra. Os núcleos possuem independência relativa entre si, no entanto às vezes a população precisa ir a municípios vizinhos em busca de algum serviço específico (BENTES, 2010, p.17).

Figura 16: Região do Vale do Paraíba Fluminense. Os marcadores amarelos indicam os núcleos urbanos interligados pela rodovia Presidente Dutra.

Fonte: Google Earth.

O crescimento extensivo do tipo por difusão urbana (figura 17) caracteriza-se pela propagação de aglomerados urbanos unicamente residenciais, dependentes dos centros urbanos. Difere, assim, do tipo por dispersão urbana pelo modo como as ocupações se organizam no espaço, já que nesta há uma diversidade de usos que atende à rotina da população da região, enquanto que no tipo por difusão urbana os aglomerados urbanos são exclusivamente residenciais. Ou seja, a principal diferença é que, no caso da difusão urbana, não há formação de núcleos secundários com diversidade de usos e independência relativa. A difusão urbana ocorre pelo “fracionamento de glebas na periferia das cidades (...) cuja característica principal nas grandes cidades latino-americanas é a inexistência (ou precariedade) de infra-estruturas, serviços e acessibilidade urbana” (ABRAMO, 2007, p.34).

Conforme exista uma melhoria no padrão de mobilidade urbana, mais distantes os aglomerados residenciais podem se instalar, esgarçando cada vez mais o tecido urbano (SANTORO, 2012, p.68). É necessário que haja certa interdependência entre o centro urbano e os aglomerados residenciais (SANTORO, 2012, p.70), de maneira que o centro

urbano responda às demandas costumeiras da população que mora na periferia e essa população sustente o centro urbano vivo.

Figura 17: Esquema de expansão urbana para o crescimento extensivo do tipo por difusão urbana.

A caracterização do crescimento extensivo do tipo por difusão urbana ocorre em função dos parcelamentos do solo em áreas periféricas, pois cada parcelamento do solo, ou um grupo deles, configura um aglomerado residencial. Como no caso da cidade de Aracaju, Sergipe (figura 18), que teve sua Zona de Expansão Urbana (ZEU) ocupada principalmente por loteamentos e condomínios horizontais.

Figura 18: Evolução da Implantação dos Condomínios Horizontais, 1990 -2010, Aracaju, Sergipe.

Fonte: FRANÇA; REZENDE, 2012, p. 8.

O crescimento extensivo do tipo tentacular (figura 19) caracteriza-se pela ocupação das terras em função do sistema viário. A ocupação do espaço urbano acompanha as principais vias de acesso da cidade, que servem de ligação com cidades vizinhas e/ou como porta de entrada e saída da cidade, tanto para pessoas quanto para mercadorias. Essa

característica favorece a implantação de equipamentos comerciais e industriais que impulsiona a concentração populacional na área (BARCELLOS, 2004, p.69). As vias constituem verdadeiros vetores do crescimento territorial urbano (BRITO; SOUZA, 2005, p.54).

Figura 19: Esquema de expansão urbana para o crescimento extensivo do tipo tentacular.

Por isso, a identificação do crescimento territorial tentacular se dá em função da existência de corredores viários que sirvam para dar acesso à cidade e que se caracterize pela implantação de empreendimentos. Na Região Metropolitana de Porto Alegre (figura 20), por exemplo, a melhoria da mobilidade e acessibilidade entre as cidades desenvolveu a indústria e as dinâmicas comerciais da região. Isso teve relação direta com o crescimento da região, que ocorreu em função dessas dinâmicas, caracterizando o crescimento extensivo do tipo tentacular.

Figura 20: Ocupação urbana e eixos viários na Região Metropolitana de Porto Alegre.

O crescimento territorial urbano extensivo pode causar alguns problemas socioespaciais, como a geração de espaços precários e sem condições de habitabilidade, a segregação socioespacial e a existência de vazios urbanos, resultado da ocupação descontínua do território urbano.

O crescimento territorial extensivo tem uma característica bem marcante que é a formação de periferias estendendo o território da cidade. Em geral, a população que ocupa essas áreas é a população de baixa renda que se desloca para áreas distantes dos centros urbanos, onde a terra é mais barata e eles têm como arcar com os custos da moradia (BARCELLOS, 2004, p.72). No entanto as áreas periféricas apresentam profundas carências de serviços, equipamentos básicos, redes de infraestrutura, ofertas de emprego relevantes e precárias condições socioambientais (COSTA, 2005, p.2). São áreas mal localizadas, desprovidas de condições de habitabilidade e acessibilidade aos centros urbanos (NASCIMENTO; MATIAS, 2011, p.73).

O crescimento extensivo ocorre num ritmo tão acelerado que as cidades não possuem capacidade administrativa e financeira de acompanhar esse crescimento com a implantação de equipamentos, serviços e infraestruturas necessários à rotina da população. Serviços essenciais, como água, saneamento, coleta de lixo, serviços de saúde, emprego, segurança e controle do meio ambiente, faltam nas áreas periféricas (BENTES, 2010, p.6; BASSANELLI; BATISTA, 2011, p.9).