• Nenhum resultado encontrado

Criação de um Banco Central Único: O Banco Central do Mercosul

CAPÍTULO VII – PRESSUPOSTOS E CRITÉRIOS PARA A ADOÇÃO DE UMA

7.1.3 Criação de um Banco Central Único: O Banco Central do Mercosul

A implementação de uma união monetária no seio do Mercosul subentende a constituição de um Banco Central integrado que viabilize tal união. Por tal razao, o exemplo da União Européia, especialmente no que concerne à criação de seu banco central europeu e do sistema de bancos centrais europeus, torna-se o grande exemplo e referencial para que movimento integracionista semelhante, ou ao menos aproximado, seja desenvolvido no seio do Mercosul.

O esforço combinado de bancos centrais dos Estados Partes do Mercosul visando à estabilização e a abertura de caminho para a constituição de um banco central único é

“pedra de toque” das ações a serem adotadas visando a integração almejada. Versando sobre a adoção de esforços combinados de bancos centrais nacionais, MACEDO explicita que:

O esforço combinado dos bancos centrais e dos ministérios das finanças nacionais está no centro dos procedimentos multilaterais de supervisão que a União Europeia adoptou para assegurar a convergência das economias nacionais para a estabilidade de preços e para finanças públicas sãs. As origens desses procedimentos reportam-se à cooperação entre bancos centrais durante o padrão-ouro e aos esforços globais para manter alguma estabilidade das taxas de câmbio no princípio da década de 70, depois do colapso do padrão-dólar436.

A propósito da imprescindibilidade da criação do Banco Central Único do Mercosul em caso de unificação monetária, VERÇOSA437 pondera o seguinte:

Em um contexto de tão grande amplitude, os bancos centrais nacio¬nais encontram-se despreparados para enfrentar os graves problemas de ocorrência não somente possível, mas certamente vindoura em alguma data ignorada no futuro. Do ponto de vista financeiro internacional, portanto, torna-se necessário um concerto no sentido da criação de mecanismos capazes de prevenirem ou minorarem os efeitos das crises que vierem a se verificar.

A criação de blocos econômicos regionais tem procurado, no campo financeiro, harmonizar os interesses dos Estados participantes e, até mes¬mo, criar uma única moeda interna. Ainda não há experiência suficiente nessa área para se poder indicar os caminhos mais aceitáveis, dependendo o tema da elaboração de estudos permanentes, buscando as melhores soluções para o problema, de forma a que se estabeleça um desejável equilíbrio das vontades supranacional e individuais de cada membro da comunidade.

(...)

Caso venha a se instituir em futuro ainda indefinido um Banco Central do Mercosul (o Mercosulbanco), ele terá por finalidade regular a moeda desse mercado, que poderá ser para tanto especialmente criada, ou estar referenciada a alguma outra moeda, como o caso do dólar.

Versando sobre o exemplo europeu, tem-se que o Tratado de Maastricht criou uma estrutura designada por Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), constituída pelo

436 MACEDO, Jorge. Op. cit., p. 902.

Banco Central Europeu (BCE) e pelos bancos centrais nacionais (BCN)438. Os estatutos do SEBC e do BCE constam de um protocolo anexo ao mencionado tratado439.

O BCE é o núcleo do sistema, cabendo-lhe as competências correspondentes à responsabilidade de garantir o cumprimento, pela sua própria atuação ou por meio da ação dos bancos centrais nacionais, das atribuições cometidas ao sistema de integração.

A autorização para a emissão de notas cabe ao BCE, podendo a emissão ser feita por ele próprio ou pelos bancos centrais nacionais. Já a emissão de moeda metálica é feita pelos Estados-Membros, com a aprovação do BCE (art. 105-A).

O BCE é uma instância supranacional. Por si só, é uma experiência única. Sobre sua singularidade, NUNES afirma que:

Caso único na história dos bancos centrais em todo o mundo, o estatuto do BCE não consta de lei ordinária, não é objeto de um instrumento de direito comunitário nem sequer está plasmado no texto de uma Constituição; antes, é parte integrante de um tratado internacional que envolve quinze países (o próprio BCE fala de um “tratado com estatuto constitucional”). A alteração desse estatuto, se vier a revelar-se necessária, pode constituir um problema de difícil solução440.

A independência financeira do BCE constitui um sinal claro da sua independência institucional: o orçamento do BCE não integra o orçamento geral da UE nem ele está sujeito à fiscalização do Tribunal de Contas da CE, mas a de um auditor independente. O estatuto do BCE acompanha de perto o estatuto do Deutsche Bundesbank antes da entrada da Alemanha para a UEM. Com uma diferença relevante: o estatuto do banco central alemão podia ser alterado pelo Parlamento da Alemanha, mas o estatuto não pode ser alterado por ação soberana de nenhum governo ou parlamento nacional, tampouco pelo Parlamento Europeu441.

ASSIS entende que o banco central a ser criado em território latino-americano, ao qual denomina “Banco Central da América do Sul”, possuiria um caráter

438 “O SEBC é composto pelo Banco Central Europeu e pelos bancos centrais nacionais dos Estados-

Membros, independentemente de terem ou não adoptado o Euro. O seu objectivo principal consiste em manter a estabilidade dos preços. Para o efeito, as missões do SEBC consistem em: definir e executar a política monetária da "zona do euro"; realizar as operações cambiais; deter e gerir as reservas oficiais de divisas dos países da "zona do euro"; promover o bom funcionamento dos sistemas de pagamentos.” Banco Central Europeu (BCE). 23 maio 2007. Disponível em: <http://europa.eu/scadplus/leg/pt/lvb/o10001.htm>. Acesso em: 11 dez. 2008.

439 SILVA, Aníbal Cavaco. Portugal e a moeda única. Lisboa: Verbo, 1998, p. 45.

440 NUNES, Antônio. Algumas Incidências Constitucionais da Institucionalização da União Econômica e

Monetária. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, América do Sul, vol. 40, 2004, p. 31.

desenvolvimentista442. Tal caráter seria derivado de suas relações com os tesouros dos Estados Partes, preparando para a conversão da moeda contábil em moeda plena. Seria estabelecido, progressivamente, um orçamento comum de investimentos em infra-estrutura e indústria básica, financiado por receitas tributárias dos países membros e empréstimos dentro do bloco443.

7.2 – Análise Crítica das Vantagens e Desvantagens da Adoção de uma Moeda Única