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5.2 CARACTERIZAÇÃO DA TOMADA DE DECISÃO

5.2.5 Criação de Recursos

Em algumas situações, a resolução de interrupções de voo necessita de uma quantidade de recursos maior do que o sistema dispõe. Nestes casos, uma quebra na malha de voos é inevitável e o curso de ação a seguir é o da mitigação de impactos no restante da malha. Este tipo de cenário costuma envolver conflitos de metas, deixando de atender uma parte da malha para evitar um dano maior ou mesmo um colapso de todo o sistema. As decisões envolvidas precisam ser extremamente precisas e os decisores precisam dispor de uma razoável capacidade de abstração para evitar o agravamento da situação enfrentada. Os decisores da função de Coordenação de Voos buscam elaborar planos alternativos e trabalham com as funções de Execução de Escala, Programação de Manutenção e Atendimento ao Cliente para validar suas propostas.

Neste tipo de cenário, a principal Indicação vem da ausência de alternativas para a resolução de interrupções de voo com a totalidade dos recursos e condições presentes. Isto se torna particularmente importante quando a possibilidade de uma ou mais interrupções de grandes proporções ameaça se instalar. Desta forma o decisor considera provocar uma

interrupção intencional em algum ponto da malha de voos para consumir os recursos que seriam utilizados ali (E1, E2).

As Expectativas apontam para uma ou mais “quebras” inevitáveis na malha de voos, com ecos se propagando para outras programações. Em casos envolvendo a paralização de um ou mais HUBS, prejuízos à maior parte das operações são uma possibilidade real (E1-E5).

Neste tipo de cenário, os Objetivos giram em torno da mitigação de efeitos negativos, tanto de forma preventiva como reativa, isto implica na liberação de recursos de outros pontos da malha para atender a uma interrupção prioritária (E1, E2). Desta forma, torna-se plausível programar atrasos e até mesmo cancelamentos para minimizar os efeitos da crise sendo enfrentada, desde que estes sacrifícios e concessões resultem em um dano menor à malha de voos.

Exemplos de Ações que foram citados em entrevistas e observados no CCO para criar recursos são a unificação de voos (E4, E5 e E7), cancelamentos “estratégicos” (E2, E4, e E8), e a extensão de horários de funcionamento de aeroportos e serviços.

A unificação de voos é uma manobra utilizada para liberar uma aeronave para a utilização em outro ponto da malha. Costuma ser utilizado, por exemplo, quando um voo está atrasado e haverá outro voo mais tarde servindo a mesma localidade. A manobra é especialmente viável se a ocupação dos voos estiver baixa e todos os passageiros puderem ser acomodados em uma só aeronave. Isto permite o cancelamento do primeiro voo e a liberação da aeronave e tripulação para atender a outra interrupção na malha com um mínimo de necessidade de ajustes adicionais.

Quando não há a possibilidade de voos posteriores para a acomodação de clientes ou a lotação das aeronaves não permite a fusão dos voos, uma análise de impacto de cenários concorrentes pode levar à opção pelo cancelamento estratégico de uma ou mais programações para a recuperação de múltiplos voos. Em uma das entrevistas (E2), o decisor contou sobre um evento em que uma aeronave ficou retida em uma localidade por motivos meteorológicos. Como não havia outra aeronave para executar a programação subsequente, outros 4 voos lotados seriam imediatamente cancelados pela falta da aeronave, além disso, outras programações seriam comprometidas devido a incapacidade de deslocamento de uma tripulação que seria deslocada para um dos destinos intermediários do voo e assumiria uma programação de voos secundária. Neste caso específico, a solução encontrada para contornar

a interrupção foi o cancelamento de um voo curto com média ocupação que chegaria a uma localidade próxima para pernoite, para a utilização de sua tripulação e aeronave para o salvamento de toda a outra sequência de voos. Este tipo de manobra é evitada ao máximo, pois costuma prejudicar a imagem da empresa junto aos clientes do voo cancelado.

A preferência, tanto em casos de cancelamentos quanto unificações para liberar recursos, é pelo cancelamento de voos longos, pois liberam aeronaves e tripulações por muitas horas, possibilitando o encaixe de múltiplas programações menores. Contudo, voos curtos também podem ser utilizados em determinados cenários, mas normalmente envolvem permutas secundárias em outras programações para que a liberação da aeronave seja suficiente para a resolução do problema enfrentado.

Tanto no caso da unificação dos voos quanto no cancelamento estratégico, descritos acima, o objetivo central é a obtenção de uma aeronave e tripulação para atender a algum ponto crítico na malha. Muitas vezes o ponto da malha que oferece a possibilidade de um cancelamento com baixo impacto não é o mesmo que precisa de recursos adicionais. Nestes casos, se faz necessário o traslado desta aeronave e tripulação até o ponto da malha em que a interrupção está ocorrendo. Isto significa deslocar uma aeronave vazia entre dois pontos da malha, o que impacta em custos que podem exceder US$ 6.000,00 por hora de voo dependendo da rota e do equipamento (E8), o que precisa ser considerado. Muitas vezes é mais vantajoso buscar alternativas de acomodação para os clientes do que trasladar uma aeronave por longos ou repetidos trechos.

Uma última manobra citada nas entrevistas é a extensão do horário de funcionamento de alguns aeroportos para possibilitar o encaixe de voos extras ou atrasados, possibilitando a acomodação de clientes em voos próprios (E3). Alguns aeroportos possuem horários de funcionamento restritos, algumas destas restrições se devem a obras de reforma, horário de silêncio em aeroportos dentro de grandes centros urbanos ou simplesmente o término do horário de funcionamento, muito comum em aeroportos do interior. Em cenários onde a programação de voo opera com atrasos devido a problemas encontrados ao longo do dia, a incapacidade de executar o último pouso no aeroporto programado pode implicar em iniciar o dia seguinte com um translado, o que significa custos elevados adicionais e atrasos na programação do dia devido à etapa adicional para o posicionamento da aeronave. Quando esta necessidade de extensão de horário de funcionamento se apresenta, os decisores recorrem às funções de Atendimento ao Voo nos Aeroportos ou Gerenciamento de Navegação Aérea,

executada pelo CGNA. Este tipo de exceção normalmente implica no pagamento de taxas adicionais, mas a possibilidade de executar a programação de voos e acomodar todos os clientes evitando impactos propagados para o dia seguinte costuma oferecer compensação suficiente.

Conforme exposto, a estratégia em cenários que necessitem da criação de recursos adicionais está diretamente ligada à necessidade de mitigar impactos severos considerados inevitáveis. A extensão de horário de funcionamento de aeroportos cria tempo adicional para os decisores, abrindo caminho para a acomodação de clientes através de voos atrasados ou programações extras.