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5.2 CARACTERIZAÇÃO DA TOMADA DE DECISÃO

5.2.6 Proteção de Hub

Por definição, os HUBS são pontos de distribuição de voos na malha e concentram recursos e pessoal para acomodar necessidades especiais que surgem durante a execução do planejamento. A gestão do HUB apresenta-se de forma paradoxal aos decisores. Por um lado, sua característica de concentração de recursos e pessoal implica, quando comparado a quaisquer outros pontos da malha, em uma ideia de aparelhamento adequada para lidar com todas as situações de maneira mais fácil e rápida. De certo modo, esta ideia é correta no que diz respeito ao atendimento de clientes com necessidades especiais, acomodação em outros voos, recursos de manutenção e facilidade para conseguir tripulações adicionais. Contudo, alguns tipos de eventos que requerem grande quantidade de recursos podem comprometer a capacidade do HUB em atender o restante das operações e precisam ser desviados. Da mesma forma, os decisores precisam ficar atentos à quantidade de recursos disponíveis em cada HUB, pois isso reflete diretamente na sua capacidade de lidar com a variabilidade.

Uma situação característica de necessidade de proteção do HUB foi explorada em uma das entrevistas (E6), onde uma aeronave manifestou uma indicação de falha no trem de pouso, com provável chance de “pouso de barriga”. A análise inicial dos decisores menos experientes que tratavam esta situação foi de imediatamente solicitar o retorno desta aeronave ao HUB, devido à ampla capacidade de atendimento de manutenção, socorro para possíveis feridos, reacomodação de passageiros, enfim, de atender a todos os demais pontos já citados nesta seção. No entanto, a primeira ação do decisor que assumiu este cenário foi desviar o voo para

um aeroporto secundário. A justificativa fundamental para esta diferença de interpretação foi a proteção do HUB. Caso a aeronave realmente pousasse “de barriga”, ela provavelmente quebraria sobre a pista, o que implicaria na obstrução de todos os voos chegando e saindo do (na época) único HUB da empresa, provocando um colapso de quase 80% dos voos planejados.

Para este cenário Indicações envolviam uma aeronave com provável falha mecânica grave (E6), necessidade de amplos recursos para atendimento em múltiplas frentes (manutenção, atendimento a passageiros, prováveis feridos, assessoria de imprensa, entre outros).

O decisor que assumiu o caso colocou suas Expectativas na possibilidade de interdição do (na época) único HUB da companhia, trancamento de programações de chegada e saída e no colapso de toda a malha de voos seguindo este evento.

Os Objetivos Plausíveis traçados a partir desta constatação foram o de encontrar um aeroporto capaz de acomodar este provável pouso em emergência e providenciar atendimento a todas as demandas que poderiam ser geradas em caso de confirmação deste evento. Além disso, uma avaliação mais profunda da real condição da aeronave era necessária.

As principais Ações tomadas neste caso foram o imediato desvio da aeronave para um aeroporto do interior, relativamente próximo ao HUB principal, para facilidade de deslocamento de recursos, o envio de ônibus com pessoal experiente e capacitado para lidar com as múltiplas demandas na localidade, o acionamento de uma equipe terceirizada no local determinado para auxiliar no atendimento aos passageiros e a solicitação de uma análise profunda por parte do setor de engenharia e chefia de manutenção (extra CCO) da situação da aeronave.

O bloqueio temporário de um HUB por quaisquer motivos reduz consideravelmente a capacidade da empresa em lidar com a variabilidade que surge ao longo da operação. Isto se deve principalmente à característica de acúmulo de recursos e pessoal para o atendimento de toda a malha, e como tal precisam ser geridos de forma a conseguir atender as necessidades dinâmicas da malha em execução. Além disso, a interseção de múltiplas rotas nestes pontos da malha cria um grande número de “pontos de troca” discutidos anteriormente, que possibilitam aos decisores fazer permutas nas programações de voo para acomodar diversos tipos de problemas.

A segunda situação citada, de reabastecimento dos HUBs, refere-se principalmente ao reaprovisionamento de aeronaves suplentes disponíveis e tripulações em plantões de reserva ou de sobreaviso. A empresa pesquisada considera uma aeronave como suplente sempre que ela fica disponível por um período igual ou superior a quatro horas em solo. Desta forma, diferentes aeronaves podem dedicar parte de sua programação a cumprir esta função ao longo do dia em um ou mais HUBs. Sua utilização pode ser tanto para a execução de uma programação adicional, criada para atender aos clientes de um voo cancelado, quanto para substituir uma parte da programação de outras aeronaves que estão demasiadamente atrasadas na sua sequência de voos.

Períodos de reserva são alocados tanto para aeronaves quanto para tripulações no planejamento mensal. Uma vez que as aeronaves suplentes sejam alocadas a alguma programação, voos que tiveram etapas canceladas devido a atrasos ou fechamentos de aeroportos, ou retornando de serviços de manutenção não programados são as principais fontes complementares de reserva. Os decisores buscam alocá-las aos HUBS sempre que aplicável (E4, E8).

Quanto às tripulações, à medida que os plantões de reserva vão sendo utilizados há a opção de acionar as tripulações de sobreaviso para que executem seu plantão no aeroporto (E8). Desta forma, caso haja uma necessidade imediata de assumir alguma programação, as tripulações estão prontamente disponíveis. Em situações particularmente complexas, se os plantões e sobreavisos programados não forem suficientes, existe a possibilidade de tentar acionar tripulações de folga para que se apresentem e cumpram plantões ou executem programações contingenciais. Esta última situação é evitada ao máximo, pois dependem de um aceite dos tripulantes, envolvendo, entre outros aspectos delicados, uma renegociação das folgas.

Os principais aspectos encontrados, relacionados à estratégia de gestão de um HUB considerando a resolução de interrupções de voos são a sua proteção contra eventos que possam comprometê-lo e o adequado reaprovisionamento de recursos para que ele consiga continuar atendendo a toda a malha, exercendo sua função homeostática. Os HUBs oferecem um amplo leque de possibilidades na busca de diferentes soluções, como pontos de troca e recursos adicionais, e a sua gestão cuidadosa contribui consideravelmente para a resiliência do sistema.