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CRIAÇÃO E FUNCIONAMENTO

No documento Tese Doutoramento_Romão Andrade_2010 (páginas 96-114)

CAPÍTULO 2 A UNIVERSIDADE PORTUGUESA

2. CRIAÇÃO E FUNCIONAMENTO

Todo o saber intelectual e social dum povo passa pela escola quer no tempo quer no espaço, e, na Idade Média esse saber foi eminentemente escolar e as ciências transmitiam- se oralmente. Poder-se-ia apelidar esta época como império do escolasticismo 240.

Nestas escolas estudava-se Teologia, Filosofia, Direito Canónico, Medicina, Ciências e Humanidades com as dificuldades de manuscritos, dificultando a formação autodialéctica, tornando-se sinónimos, o ouvir o mestre e a aquisição de conhecimentos. Esta instituição escolar, tipicamente medieval na sua origem, na sua vida interior, na sua fisionomia pedagógica e no seu significado, foi a Universidade ou Estado Geral. Antes do séc.: XIII já a Europa possuía uma organização escolar, se bem que rudimentar e estas escolas independentes do Estado eram escolas catedrais ou episcopais e as escolas monásticas. A Igreja tutelava estes ensinos através dos bispos e este ensino ocupava-se da Gramática e da Dialéctica dirigido pelo magister scholae. As disciplinas mencionadas foram o embrião dos seminários e, anterior ao Condado Portucalense, há notícia de uma escola catedral em Coimbra, fundada pelo Bispo D. Paterno com o assentimento do Conde D. Sisnando (1082- 1086)241242.

As escolas monacais de S. Cruz de Coimbra e Santa Maria de Alcobaça foram grandes centros de cultura. A primeira destas interior era reservada a noviços e monges com mestres famosos: D. Fr. João, teólogo, doutorado em Paris, D. Fr. Pedro Raimundo

240 Joaquim de Carvalho, História de Cultura, II vol., p. 145.

241 Os candidatos a presbíteros deveriam viver em comum segundo a regra de S. Agostinho: Simul cum Consule

praedicto pueros nutrivit et eos docuit in Sede Episcopali Sanctae Mariae praedictae civitatis, atque ad ordinem praesbiteri implicavit et ordenavit eos comuniter habitare secundum regulam Sancti Augustini....

242 Depois da escola de Coimbra, sucedem as escolas catedrais de Lisboa e Braga e depois dos Concílios de

Latrão 1179 e 1215 difundiram-se por outras dioceses e paróquias.

Nos princípios do séc.: XIII criou-se a escola capitular em Guimarães pelo legado pontifício João de Abeville Bispo Sabinense.

profundissime in diversis scientiis literatus e D. Fr. Pedro Pires magnis in Grammatica,

Lógica, Medicina et in Theologia discípulo de S. António de Lisboa243.

Julga-se ser a primeira aula pública em Portugal e cuja primeira lição foi lida a 11 de Janeiro de 1269 244.

A Teologia, disciplina maior entre as matérias foi introduzida, no quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia). O conceito de universidade não era idêntico ao actual - universitas scholarum et magistrorum era sinónimo de grémio de mestres e estudantes sem lugar determinado.

O nome primitivo era studium generale , comunidade de mestres e escolares de várias partes, gozando de privilégios (foro) e professavam regularmente as disciplinas menores e maiores. Mais tarde os juristas atribuíram o nome studium generale ou

universitas (carácter técnico) e a sua essência consistia no privilégio jus ubique docendi conferido por bula ou édito real ou por ambos os poderes em conjunto.

A noção de estudo geral subjacente à universidade portuguesa está expresso nas Sete Partidas de Afonso, o Sábio, avô de D. Dinis. Estúdio es ajuntamento de maestros et de

escolares que es fecho en algun logar com voluntad et com entendimento de aprender los saberes. Et son dos maneras dé la una es a que dicen estudio generale en que ha maestro de

las artes, asi como de gramatica, et de logica, et de retorica, et de aritmética, et de geometria et de musica, et de astronomia, et otrosi em ha maestros de decretos et señores de leyes; et este studio debe seer estabelecido por mandato de Papa o de Emperador o de Rey. La

segunda manera es a quen dicen estudio particular que quier tanto decir como quando

algun maestro amuestra en alguna villa apartadamente a pocos escolares; et tal como este puede mandar facer Perlado o Concejo de algun logar 245.

243 A escola de Alcobaça, primitivamente interior, tornou-se exterior pela reforma do abade D. Fr Estevão

Martins que detrminou que perpetuamente houvessem públicas de gramática, lógica e teología (...nos Fr. Stephanus Abbas... volumus in honorem Dei et. B. Virginis suae matris, omniumqne Sanctorum et ad comunem utilitatem monachorum nostrorum et ommium appetentium incomparabilem scientiae margaritam, continuum et perpetum in domo nostra studium procreare...).

244 Os colégios surgem como modestas fundações particulares para sustento e guarida de alguns alunos pobres e

que se tornou apreciável entre nós pela sua proliferação a partir da Renascença. O mais antigo é o colégio dos Santos Paulo, Elói e Clemente (1291) em Lisboa pelo Bispo D. Domingos Anes Jardo. Este tipo de escolas privadas e públicas obedeciam ao esquema de trivium, (Gramática, Retórica e Dialéctica) e nalguns mosteiros com o magistério da Sacra Página e Teologia.

Este documento foi encontrado e revelado pelo Prof. Doutor António de Vasconcelos em 1912 a que se atribui a D. Dinis a fundação do Estudo Geral Português em 1 de Março de 1290246.

Anterior a este documento relativo à universidade portuguesa há uma carta em latim escrita em Montemor-o-Novo em 12 de Novembro de 1288 e dirigida ao Papa pelo abade de Alcobaça, prior de S. Cruz de Coimbra, de S. Vicente de Lisboa, de Guimarães e de Alcáçovas de Santarém e vinte e dois reitores de diversas igrejas na qual se formula o intuito de criar um Estudo Geral. Pela bula de Nicolau IV datada de Orvieto a 9 de Agosto de 1290 dirigida já à Universidade dos mestres e escolares de Lisboa 247.

Neste contexto a universidade portuguesa não surgiu espontaneamente da autoria pontifícia, mas essencialmente foi uma fundação régia. No final do séc.: XIII já Lisboa tinha uma população escolar.

O Estado reorganizava-se, eram necessários juristas, funcionários esclarecidos, compreende-se o desejo dum homem culto como D. Dinis, em dotar o país duma universidade, atenuando as deficiências do ensino, conquistando a autonomia docente da Nação e libertando os escolares dos dispendiosos estágios de Teología e Direito em Bolonha e Paris de Medicina em Monthpellier.

A universidade foi um coroar das aspirações sentidas pelas instituições de cultura do país e das necessidades do reino.

O Estudo Geral foi instalado em Alfama no Campo da Pedreira, D. Dinis prometeu protecção e leram-se lá desde logo, Artes, Direito Civil e Medicina na nomenclatura actual. A teologia era excluída por ser privilégio de universidade de Paris e noutros países funcionava sob o controle de dominicanos e franciscanos, ut sit fides Catholica circundate miro

inexpugnabili bellatorum248, como se lê na Carta de privilégios concedida por D. Dinis à Universidade de Coimbra (1309).

Devido ao ensino ser oral e ser preciso obstar o desvio doutrinal contra as tendências dialécticas do magistério e o internacionalismo do pensamento medieval, Roma tenta manter a unidade doutrinal249.

246 Ibidem, p. 147

247 Dirigida a Universidade dos Mestres e escolares de Lisboa “... quod procurante... Dionysio Portug. Rege

illustri licitar facultatis studia en ciutate U Lisbon (ver texto Carvalho, Vol II, p.149)

248 Ibidem, p. 151

249 Só com D. João I (séc. XV) a Teologia é incorporada nas disciplinas universitárias, abertas a seculares e

eclesiásticas. No Estudo Geral o Papa isentou de foro comum, nas causas de crimes em que fossem réus, os mestres, os escolares e serviçais sujeitos ao foro eclesiástico, suscitando um conflito de competência jurisdicional entre o mestre-escola da Sé de Lisboa e o prelado. Esta isenção, outorgada pelo pontífice usurpava um direito real, o rei não contente alargou-a mais tarde às causas cíveis (1309) instituindo assim o foro

A tentativa de uniformidade no ensino universitário especialmente em teologia pelo seu caracter oral nem sempre teve bom acolhimento entre a população universitária constituindo motivo de disturbios, também provocados não só por este motivo mas também por razões sociais e diferenças culturais razão que nos leva a citar documentos oficial do Papa: ( propter graves dissentiones, et scandala exorta postmodum inter cives civitatis

ejusdem e parte una, et scholares ibidum studentes ex altera, nequiversxit nec esse posit commode in cadem civitatis studium...250 da bula Profectibus publicis, de Clemente V251.

O Papa Clemente V pelas bulas Profectibus publicis e Porrecta nuper, expedidas de Poitiers em 26 de Fevereiro de 1308, dirigidas ao arcebispo de Braga e ao bispo de Coimbra e ao rei, cometia aos prelados os negócios da transferência, mantinha os privilégios atribuídos por Nicolau IV e anexava seis igrejas do padroado real à universidade para sua manutenção.

O bispo de Coimbra escolheu as igrejas de Pombal e Soure, antigamente dos Templários, cujo usufruto actual era da Ordem Militar de Cristo. O mestre desta ordem pagará anualmente os salários dos lentes e outras despesas universitárias. A escritura é de 1323. Este documento não só assegura o Estudo de Coimbra, como mostra o quadro de disciplinas universitárias e o salário anual dos mestres, pago semestralmente no dia de S. João. Os ordenados dos mestres: o de Física (Medicina) 200; o de Gramática 200; o de Lógica 100; o de Música 75 e os dois conservadores 40 cada.

D. Dinis criou e radicou um burgo na parte alta da cidade para instalar a universidade. Aqui através de carta dos privilégios de 27 de Novembro de 1308 o rei concede aos estudantes que hajam seus açougues, seus carniceiros e seus vinhateiros e suas padeiras

e metam seus almotacis252 . Aqui os estudantes eram senhores. Isentos da justiça comum, libertos da especulação de tendeiros, mesteirais e senhorios, vivendo sob a guarda e encomenda real pela sua segurança vigiavam os conservadores da universidade e o próprio alcaide de Coimbra, 29/12/1318.

Na vida interna da universidade detinham o poder, elegiam os reitores, o bedel, simultaneamente o escrivão e os oficiais do estudo sem dependência régia. Sob o sistema académico, cuja vestidura clerical se foi transformando no decurso do tempo no sentido da autonomia universitária.

250 Clemente V., Bula Profectibus in Joaquim de Carvalho, vol. II, p. 151

251 Para evitar distúrbios além das proibições, foi escolhido uma localidade sem bulício para implantar o Estudo

Geral, afastado do ruído da Corte e das diversões, razão que talvez levou D. Dinis a mandar para Coimbra o referido Estudo Geral, onde se propiciasse um lugar de tradições docentes como o mosteiro de S. cruz situado também no meio do país. Em 1308 já estava em Coimbra o Estudo Geral na parte alta enquanto se construía a universidade. A operação de transferência foi fácil para a universidade ser uma corporação de mestres e alunos, pessoa moral, cuja actividade docente e discente era de carácter livresco não exigia grandes instalações.

parisiense era professoral, o bolonhês, estudantil foi este último que influenciou a universidade portuguesa até o séc.: XVI.

D. João I reclama a confirmação régia para o provimento dos oficiais. A ideologia quinhentista destruiu o regime interno da universidade medieval portuguesa de franca e completa autonomia. Uma verdadeira escola de liberdade 253254.

A magna carta privilegiorum concedia aos escolares o direito de ordenarem os Estatutos que regiam a universidade, tornando-se claro que o exercício da actividade docente e discente não podia ser um capricho.

Parece que este exercício caiu em desuso visto, que com D. João I (1431) foram promulgados os primeiros estatutos pela universidade. Ignora-se na universidade medieval: mestres e sua actividade, horas adoptadas e métodos didácticos255.

Das sete artes liberais que formavam a faculdade das artes, a universidade ministrava duas cadeiras do trivium (Gramática e Dialéctica) e do quadrivium - Música. A Teologia por razões já invocadas, só era ministrada nos mosteiros de S. Domingos e S. Francisco extra- muros. A carta de privilégios criava duas cadeiras de Direito Canónico (Ibidem et doctorem

esse volumus in Decretis, et magistrorum in Decretalibus, per quorum doctrinam uberrimam clerici nostri Regni instrui valeant qualiter ipsos oporteat in domo Domini conversari et qualiter et status ipsorum, et Ecclesiarum salubriter gubernetur secundum canonicas sanctiones), isto tornou-se letra morta256.

A escritura de 1323 pela qual e mestre da Ordem de Cristo pagaria o salário aos mestres, menciona só a cadeira de Direito Canónico o que indica que a segunda cadeira não foi provida. Métodos e textos adoptados não se conhecem. Talvez comentassem o Decreto de

252 Carta de Privilégios de 27/11/1308, in Joaquim de Carvalho, vol. II, p. 151 253 Ibidem, vol. II, p. 156.

254 Anualmente os estudantes elegiam dois reitores escolhidos entre os próprios escolares, os quais com o

conselho dos conservadores e dos mestres presidiam ao governo da universidade, administração de rendas, nomeação de professores e vigiavam os privilégios. O segmento e ordenação dos estudos cumpria aos estudantes.

255 O nosso conhecimento corporiza-se pelas universidades estrangeiras Bolonha e Salamanca sob o pressuposto

internacionalista do pensamento dominante na cristandade medieval. O Estudo de Coimbra tinha as mesmas disciplinas que o de Lisboa: Direito Canónico, Direito Civil, Medicina, Artes, a Gramática, Lógica (Dialéctica) e entre 1309 e 1323 a Música.

Graciano o Digesto glosado por Bolonha, especialmente por Acúrcio e em Medicina Averróis, Pasis e Isaac257.

A universidade partilhou da vida da nação e ao serviço desta leva D. Fernando em 1377 a dizer... e vendo e considerando que o nosso Estudo, que ora está na cidade de Coimbra, fosse mudado na cidade de Lisboa, que na nossa terra poderia haver mais letrados, que haveria, se o dito Estudo na dita cidade de Coimbra estivesse, por alguns lentes que de outros rumos mandamos vir e não queriam ler senão na cidade de Lisboa... mandamos que o dito Estudo, que ora está na dita cidade de Coimbra, seja em a dita cidade de Lisboa pela guisa, que ante soía estar 3 de Junho 1377258.

Na carta régia de 1 de Julho de 1377 depreende-se que o número de lentes aumentava e introduziram-se as disputas e quodlibet , era a resposta ao delegado Lopo Esteves que pedira que os lentes de manhã em Direito fizessem ao menos dois actos no ano para os

257 Apoiada no favor régio , tendo um bairro característico, o seu claustro no dizer do Dr. António Vasconcelos,

eminente historiador da fundação dionisina, era do mais puro gótico quatrocentista no lavrado e na ingenuidade simbólica dos seus formosos capitéis, foi transportado no séc.: XVI para o mosteiro cisterciense de Celas em Coimbra devido ao reduzido número de mestres, simplicidade de instalações colocavam-na na contingência de uma transferência.

Em 1338 Afonso IV transfere-a para Lisboa. A razão que o cronista Brandão adianta é a intenção do rei vir viver para Coimbra depois do casamento de D. Pedro, a corte com os seus divertimentos perto da universidade era razão para distracção dos escolares, a escassez de pousadas no bairro de Almedina na parte alta da cidade dificultava o alojamento a estudantes forasteiros, cortesãos, pretendentes.

Em 1339 a universidade está de novo no Campo da Pedreira onde ficará por 16 anos, razão pela qual a Ordem de Cristo se recusa a pagar a mestres o que motivou as solicitações do rei a Clemente VI que o atende com a bula Dum solicita considerationis (1345) e Attendentes previde (1350). pela primeira anexava os rendimentos de algumas igrejas do padroado real até três mil libras - valor do usufruto das comendas de Soute e Pombal - para sustento da universidade de Lisboa. A segunda marca o início dum privilégio que permite aos mestres e escolares do Estudo de Lisboa usufruíssem os rendimentos dos seus benefícios eclesiásticos, mesmo que se lhe fosse inerente o ministério, ficando por este tempo dispensados da residência nos referidos benefícios.

Regressa a Coimbra a universidade (1354) e ignoram-se as causas, mas sabe-se que D. Pedro I não só confirmou os privilégios concedidos como acrescentou outros à jurisdição do conservador e alojamento dos escolares em Almedina. A população universitária numerosa provinha em maioria do clero regular e secular e muitos leigos com o advento a cargos públicos se iam introduzindo e dilatando o seu número era apreciável. Devido ao crescer dos alunos surge a competição dos mestres oficiais e no estudo havia lições professadas e lições livres ou extraordinárias.

A carta de D. Pedro I (1357) ordena que não se consinta aos bacharéis e seculares nem a outro nenhum que fora das escolas leia em essa cidade (Coimbra) a nenhuma escola, nem lhe dê licença nenhuma, salvo de Pary ou de Caton ou de Cartula ou destes livros menores, e não doutros livros, e se a cada um dos outros livros maior quiser ler, constrangido os que venham a ler às ditas escolas .

Neste extracto percebe-se a existência da vida privata dos docentes dando a entender que o rei distinguia as faculdades maiores (Leis, Cânones e Medicina) da faculdade menor (Artes), ao proibir o ensino particular daquelas e consentindo o destas. Daqui percebe-se algo acerca dos livros adoptados no ensino de Artes - Partes, Regras, Cartula e Caton abreviatura dos Dística Catonis muito lidos na Idade Média. A universidade portuguesa tem como característica a frequente mudança. Fundado em Lisboa 1290; está em Coimbra 1308 aqui ficou 30 anos; regressa a Lisboa 1338, e em 1354 de novo em Coimbra, e, em 1377 de novo em Lisboa, permanecendo aí 160 anos, D. João III (1537) instalou definitivamente em Coimbra a universidade até 1911.

258 Em 1378 não havia no novo Estudo de Lisboa lentes de leis, decretais, lógica e filosofia pelo que o colégio

escolares havendo modo de arguir . Apesar da universidade seguir os critérios europeus quanto à dignidade, método de ensino e conteúdos programáticos não gozavam, do jus

ubique docendi tinham o número de faculdades permitidas mas os graus não tinham validade259.

O grau de licenciado era conferido pelo bispo de Lisboa ou o seu vigário geral e os com o direito de ensinar em toda a parte. Além dos benefícios já concedidos pela Santa Sé, D Fernando encarregou as duas personagens a quem dirige, taxandi, moderate tamen, de

fructibus, redditibus et proventibus. Bracaren et Ulixbonen ac aliarum cathedralium et colegiatarum ecelesiarum in dicto regno existentium pensiones annuas, para remunerar os serviços de doutores e mestres260. Lançadas as bases da universidade e a sua consolidação, coube a D. João I e seu filho Henrique seu protector a sua continuidade. A característica da universidade medieval portuguesa é a instabilidade. Quer em Lisboa quer em Coimbra é sempre a mesma universidade com uma organização corporativa e científica que lhe confere a sua singularidade. D. Fernando trouxera a universidade para Lisboa onde permaneceu até 1537 e o motivo de reinstalá-la em Lisboa visava, ao que parece, uma reforma. São palavras suas: vendo e considerando (3 de Julho de 1377) que se o nosso Estudo, que ora está na

cidade de Coimbra, fosse mudado na cidade de Lisboa, que na nossa terra poderia haver mais letrados que haveria se o dito Estudo na dita cidade de Coimbra estivesse... 261262.

A universidade permanece um organismo autónomo e privilegiado. Dentro destes privilégios, salienta-se o foro académico, civil e criminal, tornando-se lei por carta régia de 4 de Maio de 1408, ocasião em que D. João I fixa o poder jurisdicional do conservador da universidade e ordena 263264265.

Estudo de Lisboa ainda em Coimbra equivocadamente pensando que já fora transferida para Lisboa os doutores, mestres, licenciados e bacharéis de todas as faculdades autorizava a usar as respectivas insígnias.

259 O antipapa Clemente determina (statuimus et ordinamus (1380) ut in dicta civitate (Lisboa) de cetero sit

studium generale illudque perpetuis temponibus in ibi vigeat tam vis jure canonico et civili quam alia qualibet licita preterquam in theologica facultate . Outorga aos estudantes todos os privilégios inclusos in corpore juris e dos outros estudos gerais.

260 Joaquim de Carvalho, Ob. Cit., p. 161. 261 Ibidem, p. 167.

262 Como já foi referido a universidade era similar com as estrangeiras na organização, método e no

reconhecimento do Jus ubique docendi . A dinastia de Avis empreendeu as reformas cujo primeiro acto (1384) é a confirmação dos privilégios, constituições e ordenações da universidade a declaração de permanência perpétua desta em Lisboa, a concessão a doutores, mestres, licenciados, bacharéis em direito civil e canónico poderem advogar sem licença régia e a proibição já declarada que bacharéis e estudantes não poderiam ensinar particularmente fora das aulas do Estudo sob pena de multas e sanções.

263 a todallas justiças, quaesque que sejam destes Regnos, que daqui endiante nom conheçades de feito nenhu

crime nem çinell de nenhu scollar que seja do corpo da dita universidade, mais que como foré achados em algu malleficio, ou delles for dada querela ou denunciaçom, e forem preso per nosso mandato em nosas prisões, ou vos forem demandados per o dito conservador q hora e entreguedes ou madedes entregar ao dito ssem conservador que hora e ou pellos tempos adiante forem, que ouçã e desembargé assi os ditos ffectos crimes çivees, de quaees quer scollares, e os livre como achar que he dereito dando nos fectos crimes apellaçam pera

A dinastia de Avis sentia a necessidade de transformar e vitalizar o Estado e as aspirações da Nação e com certeza o rei não foi mero espectador face à universidade a quem

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