• Nenhum resultado encontrado

O Acesso e permanência no Ensino Superior

No documento Tese Doutoramento_Romão Andrade_2010 (páginas 123-126)

CAPÍTULO 2 A UNIVERSIDADE PORTUGUESA

4. A UNIVERSIDADE DO ESTADO NOVO

4.3. O Acesso e permanência no Ensino Superior

Pelo Estatuto de Instrução Secundária em 1926 a matrícula na Universidade só é

autorizada mediante exame de admissão 350. Esta prova é feita na Faculdade de Letras para os alunos de Letras e Direito e nas Faculdades de Ciências para os de Ciências, Medicina, Farmácia e Engenharia. Hoje, este critério não tem sentido, porque o que separa estes cursos acomodamento e imobilismo quanto ao evoluir dos conhecimentos. Na Reforma Administrativa Pública fixam- se os quadros administrativos, pessoal técnico, auxiliar e menor, dos serviços da Universidade.

344 O Vice-Reitor é eleito por lista pública, escolhendo entre os docentes e nomeados depois pelo Governo. O seu

tempo de governo são, três anos podendo ser reeleito por mais um triénio. A divergência no processo eleitoral do Reitor e Vice-Reitor marcada pelo tempo salienta a dependência do Reitor do poder político.

345 Vitor Crespo, Ob. Cit., p. 51. 346 Ibidem, p. 51.

347 Decreto-lei n.º 18649, de 21/06/1030. 348 Decreto-lei n.º 19081, de 02/12/1930. 349 Decreto-lei n.º 35807, de 15/08/1946. 350 Decreto-lei n.º 12426 de 02/11/1926.

são Ciências Sociais e Humanas, distinto do das Ciências Exactas e Naturais e as suas vertentes técnicas. Justifica-se o exame de aptidão pela degradação da qualidade do ensino

não superior e, agora, a intenção de aumentar a selecção na frequência da Universidade e dificultar o acesso por razões de ordem económica. Em 1921 escrevia-se “as Universidades

precisam defender-se dos candidatos mal preparados quer cientifica quer intelectualmente”351 . Esse diploma determinava que a elas compete estabelecer o critério

para avaliar desta preparação . Esta prova evoluiu a partir de 1926 e passa a efectuar-se

perante a Faculdade ou Escola em que o aluno pretende inscrever-se e constará de provas escritas, as quais serão apreciadas e julgadas por um Júri de nomeação do Governo, que funcionará em Lisboa, junto do Ministério de Instrução Pública e será constituído por professores catedráticos ou auxiliares das três Universidades 352.

O exame de aptidão colocava o aluno perto da Universidade, mas não era de molde a ultrapassar a lógica da centralização e do controlo ministerial, faltava-lhe as características

de apreciação da formação global e da capacidade dos alunos para a frequência duma faculdade apesar da Universidade ser incumbida por lei de estabelecer o critério para

avaliar desta preparação 353.

A decantada liberdade de escolha esvai-se face à regulamentação que tem em conta

a necessidade de atacar, por métodos adequados a uma solução definitiva, o problema do desemprego intelectual, resultante da superpopulação das escolas secundárias e superiores354 . Portugal ocupava na Europa o lugar mais baixo de escolarização em todos os graus e continua muito difícil atingir os patamares europeus. O exame de aptidão sofre várias alterações: realiza-se nas Universidades com pontos nacionais e júri único,355 anos mais tarde, nova alteração com a responsabilidade de júris das Faculdades de nomeação ministerial, dispensando os alunos com 14 valores de média. Dentro deste controlo apertado, exige-se a dependência formal da aprovação de certas disciplinas, noutras consideradas anteriores e precedentes para a compreensão da matéria versada na cadeira. Desta situação nasce o sistema de precedências. Estatuto de 1930356, no seu artigo 63º, determina que as leis orgânicas das Faculdades ou Escolas, fixassem o plano geral de estudos e a enumeração das cadeiras e

351 Vitor Crespo, Ob. Cit., p. 52.

352 Decreto-lei n.º 18823 de 18 de Março de 1929.

353 A centralização referida incide num exame onde se põe à prova os conhecimentos específicos. Em 1930 pelo

Decreto-lei n.º 18717 de 2 de Agosto de 1930, tentou contornar a contradição entre liberdade e liberdade de escolha da Universidade e os critérios específicos pelo Ministério ao permitir que a matrícula fosse autorizada aos candidatos habilitados com o exame de saúde da 7ª classe de Letras ou Ciências do Curso Complementar dos Liceus ou exame de admissão sujeito a regulamento especial.

354 Vitor Crespo, Ob. Cit., p. 53.

cursos, acrescidos da exigência da sua distribuição pelos diversos anos e as precedências

obrigatórias para efeito de inscrição . O regime das prescrições serve para evitar a permanência indefinida dos alunos na Universidade: três reprovações no mesmo exame final,

excluem o aluno da Faculdade ou Escola, não sendo contados para este efeito as desistências durante o exame 357358.

A tentativa de uniformizar e harmonizar resultou algo positivo como o Estatuto da Carreira Docente com suas normas definidas, funções e recrutamento, acesso e promoção nas diferentes categorias docentes. Definiram-se os graus a conceder por cada Universidade: a licenciatura como termo do curso geral de estudos e o doutor para um nível elevado que começa a ser um requisito normal359. Era exigido que os professores contratados, doutores ou licenciados, com trabalhos publicados sobre a matéria, sendo concedido dois anos a estes últimos para doutoramento sob pena de não serem reconduzidos. O mesmo aconteceu aos professores auxiliares das Faculdades e aos encarregados de curso que exercem funções há mais de um ano, ser-lhes-ia concedido um ano para obter o grau de doutor360. A restrição da liberdade de expressão e crítica, embora não fosse do foro exclusivo da política educativa teve grande influência na vida escolar. Esqueceu-se que educar, investir e formar mestres exige

liberdade de pensar, de reflectir e de exprimir 361. O obedecer ao pensamento oficial cegamente vai criar uma série de predisposições disciplinares e que aparece no próprio Estatuto da Instituição Universitária. Entre 1930-1933 o ministro Cordeiro Ramos promulga seis diplomas sobre disciplinas académicas362.

Pelo decreto-lei n.º 21160 para os alunos: infracção disciplinar, todo o acto de

omissão contrária aos deveres dos alunos, designadamente a prática de actos de manifesta hostilidade contra o poder executivo, ofensivo da boa ordem e disciplina académica e a inobservância das ordens superiores a que estiverem sujeitos 363.

Toda a acção educativa estava amordaçada. O ministro Eusébio Tamagnini por decreto-lei n.º 25317 de 13/05/1935, dispõe que os funcionários ou empregados, civis ou

militares, que tenham revelado ou revelem espírito de oposição aos princípios fundamentais

356 Decreto-lei n.º 18717 de 02/08/1930. 357 Decreto-lei n.º 18717 de 02/08/1930

358 Em 1935 esta restrição atinge não só a frequência do mesmo curso mas ainda doutro curso salvo se consegue

a aprovação da disciplina noutra Universidade. Esta abertura perdia seu valor, caso o aluno pela desistência durante o exame, esta passasse a ser reprovação.

359

Vitor Crespo, Ob. Cit., p. 55.

360 decreto-lei n.º 18717 de 02/08/1930. 361 Vítor Crespo, Ob. Cit., p. 55.

362 decreto-lei n.º 19165 de 24/12/1930, decreto-lei n.º 19794 de 29/05/1931, decreto-lei n.º 20314 de

16/09/1931, decreto-lei n.º 20889 de 15/02/1932 e Decreto-lei n.º 21419 de 29/05/1932 – professores.

da Constituição Política, ou não dêem garantias de cooperar na realização dos fins superiores do Estado, serão aposentados ou reformados se a isso tiverem direito ou demitidos em caso contrário364. Eram proibidos de ser nomeados ou contratados para quaisquer cargos públicos. Com base neste diploma professores universitários de prestígio foram demitidos. É desta altura a declaração de compromisso de lealdade que fez com que alguns docentes não aceitassem o lugar por se recusarem a assinar a declaração.

A investigação é um objectivo fundamental, mas não constitui uma preocupação fundamental apesar do Estatuto de 1930 definir as Universidades como centros de alta

cultura e de investigação científica365 . É regulada a concessão do título de Instituto de Investigação Científica onde se afirma: tal concessão deve evidentemente ser rodeada das

precauções indispensáveis a evitar a vulgaridade de tão alta distinção366 embora essa actividade fundamental ficasse a aguardar momentos melhores.

No documento Tese Doutoramento_Romão Andrade_2010 (páginas 123-126)