• Nenhum resultado encontrado

Crianças da pré-escola classificando: estudos realizados

Outra abordagem em relação ao processo de classificação é a que destaca a influência de fatores contextuais como a natureza da instrução numa tarefa de classificação forçada. Nesta direção, algumas pesquisas realizadas com crianças em idade pré-escolar e com jovens adultos vêm mostrando que as classificações temáticas não estão restritas às crianças e que em muitas situações a escolha por este tipo de classificação pode estar associada a outros fatores e

não necessariamente a ausência de uma estrutura lógica adequada. De acordo com Waxman e Namy (1997), Dunham e Dunham (1995) Ross e Murphy (1999), Nguyen e Murphy (2003), entre outros, adultos podem realizar classificações temáticas quando as relações entre os objetos são suficientemente fortes, e que esta classificação não significa em todas as situações a ausência de uma estrutura apropriada, mas muitas vezes a conveniência a partir dos objetos que estão sendo classificados ou da instrução dada.

Waxman e Namy (1997) questionam a hipótese de uma preferência pelas relações temáticas no início do desenvolvimento infantil. As autoras (ibid) sugerem um modelo diferente para a compreensão do desenvolvimento conceitual inicial. Na visão dessas autoras (ibid), as crianças, como os adultos, são capazes de apreciar ambos os tipos de organização conceitual, não mostrando uma preferência nem por uma nem por outra. Desse modo, a escolha por um tipo particular de organização conceitual ou por outro seria também influenciada por fatores contextuais, dentre eles o tipo de instrução dada. Waxman e Namy (ibid) realizaram uma série de três estudos com crianças entre dois e quatro anos de idade.

Através de cartões com ilustrações, as crianças foram introduzidas a um estímulo padrão (ex. uma cenoura) e a dois estímulos-teste, um dos quais apresentava uma relação temática (ex. um coelho) e o outro uma relação taxonômica (ex. um tomate) com o estímulo padrão anteriormente apresentado. Em cada idade, as crianças foram orientadas para cada uma das três condições diferentes. O primeiro grupo de crianças foi instruído a “encontrar o outro”. O segundo grupo de crianças foi orientado a encontrar “o que combinava com” o estímulo padrão. Por fim, as crianças do terceiro grupo eram solicitadas a encontrar dentre os cartões do estímulo-teste “o que ficava melhor com” o estímulo padrão.

Os resultados indicam que em atividade de escolha forçada, a criança é influenciada pelo tipo de instrução dada, já que os resultados não apontaram diferença significativa entre as idades. Com exceção das crianças de dois anos que não atenderam satisfatoriamente a nenhuma das instruções, as crianças maiores de dois anos foram fortemente influenciadas pelo tipo de comando. Por exemplo, as crianças de três anos na condição "encontre o outro" mostraram uma clara preferência pela alternativa taxonômica, enquanto que os outros grupos com crianças de três anos, nas condições "combina com" e "fica melhor com" não mostraram qualquer preferência. As crianças de quatro anos responderam como as de três anos nas condições "um outro" e "combina com". Isto é, elas não mostraram uma preferência por qualquer uma das alternativas na condição "combina com", mas mostraram uma nítida preferência pela alternativa taxonômica na condição "um outro". Diferentemente das crianças de três anos, as crianças de quatro não mostraram uma clara preferência pela organização na

condição “fica melhor com”. Desse modo, os resultados sugerem que aos três anos de idade as crianças são passíveis e induzidas pelo tipo de instrução numa tarefa de classificação, contrapondo-se à hipótese de que inicialmente as crianças mostram preferência pela escolha temática.

Esta mesma visão é reforçada nos estudos desenvolvidos por Nguyen e Murphy (2003). Os autores sugerem que as crianças podem realizar vários tipos de categorias para classificar objetos e que a maneira como classificam é fortemente influenciada pelo tipo de objeto (se é conhecido, se faz parte do contexto ou possui relação afetiva com a criança) e pelas instruções verbais que lhe são repassadas. O estudo foi realizado com 32 crianças, sendo dezesseis com idade média de 04 e 05 anos (07 meninos e 09 meninas) e dezesseis com idade média de 06 e 07 anos (08 meninos e 08 meninas). Participaram ainda dezesseis adultos com idade média de vinte anos (04 homens e 12 mulheres). Foi realizada uma série de cinco experimentos, todos com domínio de alimentos, já que segundo os autores, possibilita a criação de uma diversidade de critérios classificatórios, bem como a classificação em mais de uma categoria e, assegurando ainda que seriam facilmente reconhecidos pela criança.

Foram utilizadas cento e duas fotografias coloridas de alimentos diversos. A lista de alimentos foi gerada a partir de entrevistas informais realizadas com crianças da mesma faixa etária das pesquisadas e com pais de alunos da primeira série, que não estavam envolvidos nos experimentos, a fim de produzir e compreender um grande repertório de alimentos e bebidas conhecidos pelas crianças. Os autores buscaram investigar se as crianças seriam capazes de classificar os alimentos em duas bases muito diferentes ou se classificariam em mais de uma categoria. O resultado mostrou que 74% das crianças investigadas conseguiram realizar uma classificação taxonômica ou hierárquica mesmo antes dos sete anos de idade.

Numa outra perspectiva Ruesga, Rodrigues e Hormaza (2005), também investigaram procedimentos de classificação utilizados por crianças em idade pré-escolar, destacando os tipos de procedimentos e argumentos utilizados pelas crianças ao resolver tarefas de classificação. Os autores estavam interessados em analisar as formas como crianças resolvem atividades relacionadas com os procedimentos básicos matemáticos, como a classificação, a partir derepresentações simbólicas, aparentemente simples, tais comotabelas de dupla entrada de dois modos: direto e inverso. O estudo foi realizado com 211 crianças com idade entre três e seis anos, alunos de sete centros escolares, públicos e privados da cidade de Burgos. A atividade era realizada individualmente, iniciada sempre com um diálogo para comprovar se as crianças conheciam os atributos variados como cor, tamanho e forma dos objetos que seriam classificados. De modo direto, eram disponibilizadas seis peças que completariam uma

tabela de dupla entrada, em que as crianças teriam que relacionar tamanho e cor. De modo inverso, as crianças teriam que definir como seriam organizadas as peças na tabela.

Os resultados sugerem que em uma tarefa de Classificação de modo direto, as crianças de todas as idades apresentam um comportamento generalizado, sendo tentadas a resolver tomando com referência principal o tamanho do objeto, demonstrando clara percepção em relação aos atributos mais facilmente identificados nos objetos. Entretanto, em relação ao modo inverso, o percentual de acerto foi significativamente menor, principalmente em função da limitação de acertos por parte das crianças com três anos de idade.

Observamos, a partir das pesquisas acima destacadas, que o desenvolvimento do pensamento classificatório é uma atividade lógica de comparação que desde cedo começa a ser construída pela criança através das diversas experiências onde a realidade percebida é organizada mentalmente, tendo em vista o contexto sócio histórico no qual está inserida e a relevância da atividade proposta.

No tópico seguinte discutiremos, a partir do resultado de diversos estudos, a importância da classificação no processo de aprendizagem dos conceitos, especialmente na Matemática.