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3. MACRO CONTEXTO DE NATUREZA METODOLÓGICA E CONCETUAL

4.5. Princípio dialógico Ordem e Desordem – Inimigos ou aliados?

4.5.1. Criar “desordem” no futebol atual

“...há realmente necessidade de novas soluções, de maior variabilidade, de maior know-how, de maior criatividade do ponto de vista ofensivo, para conseguir quebrar essas barreiras defensivas que estão a ser geradas, pela

maioria das equipas, que hoje defendem bem.” Tiago Leal (anexo 1)

Na nossa opinião, de uma forma geral, tem existido uma evolução no modo como as equipas de futebol estão organizadas do ponto de vista defensivo. Esta tem implicado que cada vez seja mais difícil criar desorganização nos adversários, que permita a criação de espaços e de consequentes desequilíbrios (Sousa, 2009). Tem-se revelado cada vez mais difícil quebrar a tal relação de ordem-desordem, mencionada no ponto anterior deste trabalho.

Por sua vez, tal significa que as equipas necessitam encontrar novas soluções no processo ofensivo, com vista à resolução dos problemas que se vão colocando do ponto de vista defensivo.

Consideramos que o futebol é um jogo de espaços (um assunto que aprofundaremos mais adiante) pelo que estes problemas se devem, sobretudo, à capacidade que a generalidade das equipas evidencia, na sua organização defensiva, para reduzir e fechar espaços com qualidade. Ou seja, afigura-se mais difícil encontrar espaços. E se por um lado são necessárias ideias para criá- los, por outro são necessários mecanismos que nos permitam jogar em espaços cada vez mais reduzidos.

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O último mundial de 2018 espelha algumas destas ideias. Neste torneio, cerca de 42%10 dos 169 golos marcados concretizaram-se em situações de bola parada, a percentagem mais alta de sempre em competições deste género. Esta informação, na nossa opinião, permite-nos tecer algumas reflexões.

As bolas paradas, eventualmente em função da falta de argumentos nos processos ofensivos, assumem cada vez mais uma importância vital no desfecho dos resultados, sendo a principal ferramenta para criar situações de perigo de muitas equipas.

Ainda que não tenhamos dados objetivos, consideramos também que, na ausência de capacidade das equipas para criar desequilíbrios em organização ofensiva, o momento de transição ofensiva tem adquirido maior importância (tal como foi evidenciado pela vencedora do torneio em questão, a seleção francesa). Na medida que são instantes, nos quais existem mais espaços, porventura maior desorganização nos adversários e desse modo maior facilidade em criar desequilíbrios.

Esses espaços, surgem como consequência dos posicionamentos e comportamentos que as equipas manifestam quando têm a posse de bola e nos momentos subsequentes à sua perda, sendo maiores ou menores devido a variados fatores. Entre os quais, a forma de jogar da equipa e do adversário, mas também em função de circunstâncias que advêm da própria natureza do jogo de futebol, tal como, o surgimento de um resultado adverso.

Quando a equipa perde a posse de bola, se esses espaços não forem devidamente controlados e se necessário diminuídos, ficará exposta a uma eventual transição ofensiva do adversário.

Atendendo ao equilíbrio existente entre as equipas nos momentos de organização defensiva e ofensiva, o aproveitamento desses espaços assume grande importância, em virtude de consubstanciarem uma oportunidade para gerar desequilíbrios.

10https://es.fifa.com/worldcup/news/eine-wm-der-standards-die-suche-nach-den-grunden-

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Entre outras situações, esses desequilíbrios, podem dever-se ao aparecimento de espaços nas costas dos laterais adversários ou nas costas da linha defensiva. Na nossa opinião, um erro que poderá também contribuir para tais desequilíbrios, relaciona-se com a falta de vigilância aos jogadores adversários, que poderão em caso de uma perda, assumir um papel decisivo na transição ofensiva do adversário, e nos desequilíbrios que poderão criar nesses momentos.

Contudo, é lógico que a criação de desequilíbrios por parte das equipas não se deverá cingir unicamente às situações de contra-ataque ou ataque rápido. Ainda que estas possam, e devam ser exploradas, as melhores equipas são aquelas que também em organização ofensiva, revelam capacidade para criar desequilíbrios, mesmo que do outro lado esteja um adversário organizado defensivamente o que, tal como mencionado, cada vez se evidencia de forma mais frequente (Sousa, 2009).

De facto, deveremos refletir sobre o que nos diz o mítico ex-jogador holandês Van Basten: “…os 10 jogadores rivais jogam juntos, vão de um lado ao outro e assim é difícil encontrar espaços. As equipas que atacam devem repensar que táticas a escolher. Estão a reduzir-se muito os espaços.”11

Em suma, pensamos que é necessária uma maior preocupação de todos nós treinadores, no sentido de evoluir as nossas competências para trabalhar o jogo no seu processo ofensivo, ainda que seja o mais complexo de ser treinado, como assinala Miguel Moita (anexo 2).

Reconhecemos que os jogadores têm uma grande importância, pois são os protagonistas do jogo e, muitas vezes, são estes a solucionar muitos dos problemas colocados, de uma forma mais individualizada. Neste sentido, consideramos que a potenciação das qualidades individuais dos nossos jogadores, é um fator que não deverá ser descurado. Pelo contrário, o desenvolvimento das suas habilidades técnicas e criatividade, certamente aportará novas soluções ao desenvolvimento do processo ofensivo.

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“...face a estas equipas com maior organização defensiva, as equipas têm de ter maior variabilidade, têm que ser mais imprevisíveis e têm cada vez mais de aproveitar as poucas falhas que possam existir em determinados jogos.” Miguel Moita (anexo 2)

“A imprevisibilidade do presente surge, portanto, da variabilidade de futuros possíveis, da variabilidade de soluções que determinada equipa apresenta para resolver determinado problema.” (Sousa, 2009, p. 13)

Contudo, dada a qualidade da organização defensiva das equipas na atualidade, cada vez mais, são necessárias “soluções ofensivas” mais complexas. Mecanismos que envolvam mais jogadores e que gerem maior imprevisibilidade/variabilidade. Que propiciem o aparecimento de espaços, mas que também nos permitam progredir e criar desequilíbrios quando estes não surgem.