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3. MACRO CONTEXTO DE NATUREZA METODOLÓGICA E CONCETUAL

5.3. A dimensão estratégica e a sua relação com a análise dos adversários

5.3.2. Observação das equipas adversárias

“...atendendo ao nível a que nós jogamos, a TOP, a dimensão estratégica tem uma preponderância muito grande no desenrolar de cada jogo. Daí a análise do adversário ser fundamental, para que percebamos como se comporta nos diferentes momentos de jogo e de que forma teremos de preparar detalhes, para termos mais sucesso nas nossas ações, no desenvolvimento do nosso jogar contra esse determinado adversário.” Tiago Leal (anexo 1)

Na nossa opinião, ter um conhecimento aprofundado sobre a forma de jogar do adversário, poderá proporcionar-nos algumas vantagens na preparação da nossa equipa.

Entre algumas dessas vantagens, poderemos começar por destacar, a possibilidade de adequar o processo de treino (Carling et al., 2005). Assim, priorizando com sensibilidade, e de acordo com as circunstâncias, que princípios da nossa equipa serão mais apropriados treinar, face aos contextos e problemas que esperamos encontrar. Através do mapeamento do jogo do adversário, poderemos também conseguir identificar debilidades a explorar através da nossa forma de jogar.Como foi anteriormente mencionado, que nos permitam impor a nossa ideia de jogo e inibir ou condicionar a do adversário.

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“...há geralmente uma maior preocupação da nossa parte, em analisar o momento de transição defensiva e organização defensiva. Perceber quais são os pontos fortes e fracos das equipas nestes dois momentos, porque sendo nós uma equipa que quer ter a bola, precisamos de perceber perfeitamente quais são os espaços que teremos de pisar para retirar mais vantagens...” Tiago Leal (anexo 1)

Na mesma lógica, poderá também permitir-nos reconhecer os comportamentos e constrangimentos, habitualmente colocados pelo adversário que induzem desequilíbrios nos seus opositores e preparar-nos para os mesmos (Garganta, 2008).

Para contextualizar algumas destas ideias, trazemos um exemplo do trabalho realizado no âmbito do clube.

Neste caso, identificámos os seguintes pontos fortes na equipa adversária, para os momentos de organização ofensiva e transição defesa- ataque:

Organização ofensiva – Os desequilíbrios eram sobretudo iniciados nos corredores laterais, através dos extremos que eram muito fortes em situações de 1x1. Estes jogadores, tendiam a estar abertos numa fase inicial do ataque para gerar amplitude. Partindo desse posicionamento, procuravam receber em apoio, para depois criar situações de 1x1. Nessas circunstâncias, tinham tendência a ir para dentro em drible, procurando espaços interiores para rematarem de meia distância ou filtrarem passe nas costas da linha defensiva.

De modo a contrariar esta situação pretendíamos, sempre que possível, garantir proteção aos nossos laterais, para evitarmos os desequilíbrios criados a partir dessas circunstâncias. Neste sentido, seriam importantes as coberturas interiores do médio-ala ou médio-centro, como forma de evitar que os extremos adversários pudessem progredir para dentro em drible. Assim, condicionando- os a ir para fora e reduzindo os espaços entrelinhas.

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No entanto, nos casos em que a cobertura não chegasse a tempo e os extremos adversários conseguissem penetrar por dentro, era fundamental que o central do lado da bola tivesse um bom timing para encurtar (comportamento que deveria ser complementado com o devido fecho dos espaços pelos restantes jogadores da linha defensiva). Se o central que saísse encurtasse demasiado cedo, possivelmente deixaria espaços na linha defensiva, se saísse tarde, daria espaço para o remate de meia distância, ainda que esta última, deveria ser a opção a privilegiar.

Outro aspeto importante no comportamento dos centrais tem a ver com as situações em que o nosso lateral perdesse um duelo com o extremo adversário no último terço. Forçando o central a sair a zonas lateralizadas, o que deveria ser compensado com a entrada na área de um dos médio-centro, para fazer a linha de 3 na proteção da baliza.

Transição defesa-ataque - Situações de contra-ataque ou ataque rápido. Eram muito agressivos e verticais com espaço, de forma mais ou menos intencional, pareciam potenciar a criação de um “jogo de transições”.

Pretendíamos evitar este tipo de jogo através da segurança na nossa transição defesa-ataque, privilegiando que os primeiros passes, após a recuperação, fossem seguros e permitissem à equipa subir no terreno de jogo mais coesa. O que possibilitaria que a nossa equipa estivesse mais equilibrada e preparada para uma melhor reação à perda, através do nosso jogo posicional.

As vigilâncias ao ponta de lança e sobretudo aos extremos eram muito relevantes, pois estes eram as referências de saída para contra-ataque do rival. Sendo que o mau envolvimento a nível defensivo que tinham (por vezes não baixavam ficando numa posição intermédia entre o defender e o transitar), potenciava os momentos de transição defesa-ataque, permitindo que ganhassem profundidade rapidamente.

Pelo que, queríamos tentar garantir uma subestrutura defensiva de 3 + 2 jogadores (dois centrais e um lateral, mais os dois médios-centro) para assegurar o equilíbrio da equipa.

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No entanto, quando acontecesse uma situação de desequilíbrio para a nossa equipa, pretendíamos que os jogadores implicados na nossa transição defensiva, baixassem no terreno e retirassem profundidade até estarmos reorganizados. Desse modo, protegendo o espaço nas costas da nossa linha defensiva, um espaço alvo para a equipa adversária.

Como ponto débil a explorar no momento de organização defensiva do adversário:

Figura 10 - Posicionamento(s)/Dinâmica(s) objetivadas para explorar espaço entre central-lateral.

Organização defensiva (1x4x1x4x1) – Quando a bola entra nos corredores laterais e o lateral pressiona o médio-ala/extremo do adversário, a restante linha defensiva tende a não acompanhar devidamente (conforme demonstra a Figura 10).

Este comportamento poderia ser agravado caso se favorecesse o surgimento de duas circunstâncias.

Primeiro, que numa fase inicial do nosso processo ofensivo, a equipa tivesse uma circulação ritmada e variada quanto à utilização dos espaços (sobretudo à largura), o que implicaria uma permanente basculação da linha defensiva rival. Por exemplo, seria importante se conseguíssemos atrair o adversário num dos corredores laterais, para depois circular rapidamente para o corredor contrário. Essa alternância na utilização dos corredores, seria essencial

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para provocar a desorganização do adversário, especialmente da sua linha defensiva, o que criaria espaços para depois sermos mais profundos e podermos progredir.

A segunda premissa importante, seria que os nossos médios-ala dessem largura à equipa, quer o do lado da bola, quer o do lado contrário (os laterais posicionados mais por dentro). Para que, deste modo, e através da nossa circulação, pudessem receber a bola abertos, gerando assim uma distância/espaço maior entre lateral e central, quando o primeiro realizasse a pressão ao nosso jogador. Esta debilidade do adversário era evidente especialmente no corredor lateral direito, na relação entre o lateral e o central desse lado.

A partir desse momento, quando o lateral adversário saísse a fazer a contenção, pretendíamos explorar o espaço referenciado. Através da incorporação do avançado, do lateral ou do próprio médio-ala após uma combinação. A entrada naquele espaço do médio-centro era uma opção secundária, visto que eventualmente poderia desequilibrar-nos, algo que explicaremos com mais detalhe no ponto seguinte.