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Crimes de trânsito: motoristas profissionais x motoristas convencionais

6. A JUSTIÇA PARA OS CRIMES DE TRÂNSITO EM BELO HORIZONTE

6.3 Réus de crimes de trânsito

6.3.2 Crimes de trânsito: motoristas profissionais x motoristas convencionais

Outra questão sobre os processos de crimes de trânsito que foram estudados, é a presença maior ou menor de condutores que podem ser considerados como profissionais do trânsito. Essa questão tornou-se particularmente complicada, uma vez que não há especificação para determinadas profissões como motorista. Os taxistas dirigem proporcionalmente mais horas e deveriam ter treinamento especial em relação ao trânsito, mas possuem carteira B, aquela que os condutores convencionais também possuem.

A regulamentação da profissão fica por conta das secretarias municipais de trânsito e transporte. Em Belo Horizonte, é a BHTRANS – Empresa de transporte e trânsito de Belo Horizonte S.A, que organiza e fiscaliza as permissões para os taxistas dirigirem pela cidade. As especialidades ou treinamentos para a condução de táxis ficam por conta dos processos de burocratização vinculados ao município, por isso variam de lugar para lugar. Portanto não há

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Essa informação foi prestada, de maneira informal, por um atendente do Serviço de Atendimento Médico de Urgência – SAMU.

como especificar essa profissão somente pelos dados constantes sobre a Carteira Nacional de Habilitação.

Das categorias de habilitação duas podem ser consideradas como “profissionais”que é o tipo C, para conduzir caminhões e veículos de transporte e a categoria D, para os condutores de ônibus e veículos de transporte de passageiros, conforme o quadro 4.

QUADRO 4

Tipos de carteiras de Habilitação

Habilitação Características

A Para condutores de veículos de duas ou três rodas, que contenham ou não um carro lateral. B Para condutores de carros de passeio e outros veículos cujo peso não exceda a 3.500 kg e

cuja lotação não ultrapasse a oito lugares, excluindo-se o motorista.

C Para condutores de caminhões e veículos utilizados em transporte de carga com peso acima

de 3,5 toneladas.

D Para condutores de ônibus e veículos utilizados no transporte de passageiros.

E Para condutores de veículos articulados com reboque ou semi-reboque, cujo peso ultrapasse a seis toneladas ou cuja lotação ultrapasse a 8 lugares, excluindo-se o motorista. Esta é a categoria para puxar traillers, independente do peso ou da lotação dos mesmos.

Fonte: Código de Trânsito Brasileiro, 1998

Percebe-se na tabela 6, que nos processos de crimes de trânsito o percentual de crimes cometidos por condutores tipo A, que conduzem motos, é bastante baixo (4,71%) e que o cometimento de homicídio culposo no trânsito por esse tipo de condutor também é baixo (4,71%). Apesar disso, é muito comum as pessoas atribuírem o caos no trânsito aos motoqueiros, lembrando que a técnica de estudo aqui é o fluxo retrospectivo e que por isso, contém crimes cometidos antes do aumento do número de motos circulantes na cidade de Belo Horizonte.

Mesmo que o registro no BO não indique com clareza se o condutor é profissional ou não, procurou-se pela especificação profissional do réu indicar se o motorista é profissional. Nesse sentido para compreender melhor essa categoria de condutores, considerados profissionais, levou-se em consideração a profissão do réu59 que estava preenchida no BO.

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Ao construir essa variável, levou-se em consideração a profissão do réu de trânsito; algumas profissões são francamente associadas ao ato profissional de direção veicular e outras considerou-se que o réu, pode mesmo que de forma legal (tendo

Dessa maneira foi criada uma nova categoria para que se pudesse perceber qual a relação desse condutor com os crimes de trânsito, por exemplo, a presença de sintomas de embriaguez ao volante, para condutores profissionais. Os dados indicaram que é baixo o percentual de motoristas profissionais que apresentaram sintomas de embriaguez (16,22%) e nenhum motorista profissional que tenha apresentado sintoma de embriaguez cometeu o crime de homicídio culposo no trânsito

TABELA 6

Distribuição do tipo de Habilitação dos condutores nos processos de crimes de trânsito baixados em 2006 - Belo Horizonte/MG

Verifica-se que os maiores percentuais de crimes de trânsito são dos motoristas que possuem carteira de habilitação tipo B, 50,59%60. Também alto é o percentual de homicídios culposos no trânsito cometido por condutores que possuem esse tipo de habilitação, pois 37,78% das mortes foram provocadas por motoristas com carteira B. Ainda, para os crimes de dirigir embriagado o percentual (58,56%) é alto para os condutores com esse tipo de carteira. Em relação à categoria profissional, nota-se que a categoria D possui percentual que chama a atenção. Para o cometimento de todos os crimes de trânsito, o percentual é de 21,18%, para o

passado por uma autoescola) guiar um veículo automotor ou de tração animal. Assim considerou-se, por exemplo: taxista, motorista, motoqueiro, operador de retroescavadeira, carroceiro, entre outros.

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Deve-se levar em consideração que esse pode ser o tipo de carteira mais comum. O DETRAN MG, não forneceu o número de habilitações por tipo. Apenas as informações que estão constantes no site da Instituição e apresentam a evolução das habilitações no estado de MG, do ano de 1999 a 2005. Disponível em: https://wwws.detrannet.mg.gov.br/detran/Estatisticas/CNH_emitidas_Evolução_H.htm. Acesso em: 20 de janeiro de 2010. Dessa maneira, inviabilizou outros testes estatísticos para a variável, como por exemplo, o teste de chi-quadrado, que poderia determinar se há relação entre tipo de habilitação e tipo de crime.

N. obs Frequência N. obs Frequência N. obs Frequência

Categoria A 170 4,71% 45 4,44% 111 3,60%

Categoria B 170 50,59% 45 37,78% 111 58,56%

Categoria C 170 5,88% 45 0,00% 111 8,11%

Categoria D 170 21,18% 45 35,56% 111 14,41%

Categoria E 170 1,76% 45 2,22% 111 1,80%

Mais de uma categoria 170 15,88% 45 20,00% 111 13,51%

Fonte: Crimes de Trânsito em Belo Horizonte - Fundação João Pinheiro/2008.

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crime de homicídios culposo no trânsito o percentual é de 35,56% dos condutores e para o crime de embriaguez ao volante o percentual é de 14,41%.

Há um entendimento na sociedade de que os motoristas de modo geral, e em especial os condutores profissionais, devem ser aqueles que são mais bem treinados para guiar veículos e conduzir pessoas, e que por isso o nível de infrações e acidentes deve ser baixo61. De acordo com Almeida (1993), há sobreposição de problemas em relação aos acidentes que envolvem condutores profissionais, pois também são acidentes de trabalho. Um dos problemas em relação à questão de acidentes de trabalho é que, muitas vezes, os incentivos financeiros, ou simbólicos são usados em detrimento das condições de segurança.

Almeida (1993) aponta que a carga de trabalho de muitos condutores de ônibus, muitas vezes, é extremamente exaustiva o que pode levar ao cometimento de falhas no trabalho e, por isso, causam acidentes de trânsito. Outro estudo, realizado por Kume e Neri (2007) da Fundação Getúlio Vargas, aponta que motoristas profissionais, pessoas que se deslocam mais de uma hora no trânsito têm maiores chances de sofrem acidentes e morte.