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A crise da água

No documento O direito ao acesso à água potável (páginas 30-33)

2. A água no Brasil

2.4 A crise da água

Como abordado no início do trabalho, apenas 0,01% de água doce no mundo está disponível em ecossistemas aquáticos continentais. O brasil, apesar de sua relativa abundância de recursos hídricos, possui uma distribuição regional muito desigual, fato que também ocorre em nível mundial. Esses fatores naturais aliados ao aumento populacional e a poluição provocada pela atividade humana, o alto consumo e desperdício de água acarretam ainda mais na falta desse nutriente. Com todos esses fatores, a doutrina mundial passou a abordar com mais frequência o assunto chamado de “Crise da água doce”.

A poluição é um dos maiores fatores para a crise da água, pois embora tenha muita quantidade de água disponível, a qualidade da mesma não é condizente com o seu uso, não sendo compatível com o abastecimento da população. Então pode-se afirmar que o problema central está na qualidade da água disponível ao uso humano. Porém a grande maioria da humanidade não está conscientizada e preparada para a correta utilização da água e também para que o reflexo do seu dia a dia não acarrete em problemas finais para água, como por exemplo o esgoto que é despejado diretamente em rios, lagos e oceanos, e que se encontra com lixos descartados erroneamente pela população. O lixo e o esgoto são dois exemplos de grande proporção e comuns ao olhar humano, pois toda pessoa sabe que essa prática ocorre. Mas e o que fazer?

Vejamos os dados constantes do Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos da Unesco, discutido durante o “Terceiro Fórum Mundial sobre a Água”, que ocorreu no ano de 2003 em Kioto, Japão:

Mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo não tem acesso à água potável. Mais de o dobro desse número conta com saneamento adequado. As doenças transmitidas pela água matam pelo menos seis mil crianças diariamente nos países em desenvolvimento. Cerca

de dois bilhões de toneladas de lizo são jogados em rios e lagos todos os dias. Um litro de água residual polui em média oito litros de água doce.

A água na cidade é contaminada por esgoto, monóxido de carbono, produtos derivados de petróleo e bactérias. Já na agricultura a água é contaminada com fertilizantes, inseticidas, fungicidas, herbicidas e nitratos que são carregados pela chuva ou infiltrados no solo, contaminando os mananciais subterrâneos e os lençóis freáticos. A água da chuva se contamina com a poluição constante do ar, como, por exemplo, arsênico, chumbo, entre outros. Já a indústria, por sua vez, contamina a água através do despejo nos rios e lados, de desinfetantes, detergentes, metais pesados, derivados do petróleo, entre outros.

Preceitua BARROS (2015), que o esgoto é o principal vilão ambiental no Brasil, e o Censo do IBGE de 2008 reforça tal afirmação ao revelar que cerca de um quarto das residências do país não conta com serviço de água potável e quase metade não tem serviço de esgoto. A ausência de saneamento básico é extremamente prejudicial a população, e de acordo com dados do Sistema Único de Saúde a falta de saneamento básico é causa de 80% das doenças e de 65% das internações hospitalares, e os dados ainda mostram que a cada R$1,00 (um real) investido em saneamento, as cidades economizariam R$5,00 em medicina curativa da rede de hospitais e ambulatórios públicos.

Os dados apresentados por Wellington Pacheco Barros mostram que: “As diferenças regionais relativas a domicílios com coleta de esgoto são drásticas: enquanto na Região Sudeste 71% dos domicílios têm coleta de esgoto, na Região Norte apenas 2% dos domicílios têm esse serviço; na Região Centro-Oeste esse número sobe para 33%; na Região Sul 18% dos domicílios tem coleta de esgoto, e na Região Nordeste 13% dos domicílios são atendidos por esses serviços, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente”.

Portanto a falta de saneamento, somada com o despreparo da população, a qual muitas vezes é abandonada pelo poder público, leva a situações de extrema poluição nas águas, gerando inúmeros problemas para todos.

A escassez da água é outro fator que contribui para o aumento da crise da água, embora exista na Terra água potável para toda a quantidade de habitantes, ocorre que a distribuição dessas águas não condiz com a distribuição da população, ou seja, na região em que existe grande quantidade de água potável existem

também pouca quantidade populacional, já em regiões de baixa concentração de água potável ocorre a existência de grande quantidade populacional. Além disso a situação de escassez de água no mundo é resultado do uso desordenado desse precioso recurso durante gerações, fato que passou despercebido em momentos em que a população do planeta Terra era relativamente pequena e distribuída em diferentes áreas, porém conforme explicação da Agência Nacional de Águas:

“Ocorreram profundas transformações no planeta, ocasionando o aumento da população e sua concentração em cidades e o desenvolvimento da indústria, dando início ao modelo de

desenvolvimento urbano-industrial

A respeito do assunto WEISSHEIMER (2002), em artigo publicado na Revista de Direito da Universidade de Passo Fundo, observou que:

“Demarca-se a Revolução Industrial como ponto de partida da crise ambiental. Ocorrida nos fins do Século XVIII, proporcionou a criação

de sistemas econômicos gerados em bases nitidamente

antiecológicas, quando a natureza passou a ser vista apenas como fonte geradora de recursos”.

Na maior parte do planeta o dinamismo do ciclo hidrológico acarreta também a ocorrência de faltas e excessos ao longo do tempo, ou seja, conforme Luiz Antonio Timm Grassi “não há segurança que se tenha água na quantidade adequada onde e quando ela é necessária”. Ou seja, diante da inexistência de um uso sustentável, a tendência é a ocorrência da escassez global de água.

Ainda, GRASSI ensina que a crise da água doce pode ser compreendida pelos seguintes fatores:

a) agravamento da escassez quantitativa da água devido à competição com a demanda de outros usos, como a irrigação; b) aumento da escassez da água de boa qualidade, devido à

degradação dos mananciais, pela poluição resultante de todas as atividades;

c) deterioração dos próprios corpos de água pelas intervenções intencionais ou não (barragens, retificações, desmatamento, mineração nos leitos, erosão, perfuração descontrolada de poços);

d) desequilíbrio natural da distribuição das águas, seja especial (regiões áridas, regiões úmidas), seja no tempo (períodos de seca, épocas de enchentes), que agrava, sob diferentes aspectos, a escassez localizada;

e) magnitude da demanda e os infindáveis recursos financeiros, daí decorrentes, são cada vez maiores, devido à piora da qualidade dos mananciais ou da distância, além daqueles recursos que são

apropriados, como os investimentos que são indispensáveis para a instalação de equipamentos e para sua operação;

f) desperdício em níveis preocupantes, seja por falhas operacionais dos sistemas de abastecimento, seja pelo uso descontrolado por parte dos usuários.

Robert Engelman, em trabalho realizado pela organização não governamental Population Action International, estimou que em 2000, 3% dos habitantes da terra (6 bilhões) já se ressentiam da falta d’água potável, e, ainda, em projeção feita para 2025, com uma população de 7,82 bilhões, a escassez da água atingirá o percentual de 7%, com 62% de risco da falta d’água. Os dados são preocupantes e a pergunta que fica é como faremos para não deixar acabar a água e como abastecer os povos que ainda não tem acesso à água potável?

É notória a necessidade de atenção, prevenção e combate a poluição, bem como, investimento no saneamento básico para que assim se consiga garantir um futuro com água potável para todos melhorando a saúde e a dignidade de toda a população, sempre atuando de forma consciente e sustentável, atingindo o melhor para o planeta e todos os seus habitantes.

No documento O direito ao acesso à água potável (páginas 30-33)

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