• Nenhum resultado encontrado

1 ASPECTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS DA PESQUISA

2.1 Crise do algodão no Rio Grande do Norte

No início do século XX a cultura do algodão era o principal motor da economia potiguar, apesar da concorrência com a região Sudeste e com Pernambuco que, nessa época, já era um polo regional de cotonicultura. A expansão da indústria têxtil e a necessidade de matéria prima serviu de motor para o desenvolvimento da cotonicultura no Rio Grande do Norte, que se voltou para o mercado interno, o que anteriormente não acontecia, já que a ênfase era no mercado externo. A cotonicultura nordestina dominou, assim, o mercado nacional juntamente com Paraíba e Pernambuco no período que compreendeu os anos de 1880 a 1903, sendo assim, potência cotonicultora até a década de 1930. A tabela 1 apresenta os números da produção do algodão (média anual) entre os anos de 1926 a 1930.

Tabela 1 – Brasil - Produção de algodão – média anual 1926/30

Produtor Produção %

Paraíba 20.980 19,1

Pernambuco 17.401 15,9

Rio Grande do Norte 13.285 12,1

São Paulo 8.700 7,9

Outros 49.371 45,0

Total 109.737 100,0

Fonte: Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana (SINGER, adaptado por A’RBOCZ, 1984 p. 326).

Durante esse período de tempo, o Rio Grande do Norte ocupava a terceira posição como principal produtor do Brasil, respondendo por 12,1% da produção nacional. Para

fomentar a produção e conseguir alcançar todo potencial esperado, foram lançados dois programas para combate às pragas nas plantações: o primeiro, lançado em 1915 pelo governo federal, mas apenas posto em prática a partir de 1921, chamado de serviço do algodão e em 1924, o Serviço Estadual do Algodão. Mesmo esses programas não levantaram a produção Potiguar, fazendo com que a partir da década de 1930 tenha estacionado, com especialistas afirmando que a qualidade do algodão “Mocó” tinha decaído, o que fez com que os antigos consumidores começassem a procurar produtos de outros polos cotonicultores.

Após o período de estagnação em 1930, a economia do algodão toma novo fôlego, pois nessa época estoura na Europa a Segunda Guerra Mundial e, com isso, surge a necessidade do consumo de algodão que se mantém forte até o pós-guerra, quando se inicia a sua industrialização. Até então, o Estado do RN possuía maquinário com baixa tecnologia e, não estando em suas melhores condições, a partir da década de 1960, com o algodão em mais um de seus apogeus cíclicos, favorece o crescimento e desenvolvimento de cidades ao redor das propriedades. Porém, após esse período de prosperidade uma nova seca atinge as regiões produtoras de algodão, como havia ocorrido anteriormente em 1915. Em seguida, essa nova seca que durou 5 anos, os produtores tomaram fôlego renovado. Essa fase não durou muito, sendo que, na década de 1980, uma nova praga atinge os campos de algodão; era a praga do “bicudo” que vinha iniciar o fim de toda uma história. Quinze anos depois, a produção algodoeira não era nem sombra do que já havia sido e, em 2006, é sepultada de uma vez por todas. A Figura 4 mostra a escalada da produção algodoeira no RN.

Figura 4 – Quantidade de algodão produzido no RN em toneladas

A cultura algodoeira no Rio Grande do Norte teve três fases: a primeira iniciada no século XVIII; a segunda fase, já em 1860, marcada pelo surto de exportação de algodão para o exterior, sendo introduzidas também novas espécies; já a terceira fase, marcada pela presença da espécie de algodão “Mocó”, melhor adaptada às condições climáticas oferecidas pela região do Seridó, numa experiência de ampliação da cotonicultura no nordeste houve várias tentativas de importação de diferentes espécies de algodão. Porém, foi encontrado um empecilho: a baixa tecnificação da agricultura potiguar na época.

Com a baixa tecnificação da agricultura do nordeste, a introdução de sementes importadas pelo Ministério da Agricultura gerou dois problemas para a produção do algodão norte-rio-grandense: a vinda da praga “lagarta rosada”, trazida em sementes importadas do Egito pelo ministério da Agricultura em 1910 a 1913, atingiu as propriedades algodoeiras a partir do ano de 1914, destruindo dessa maneira boa parte da produção algodoeira no RN e no Nordeste, alcançando cerca de 2/3 de toda a produção. Especificamente, na produção potiguar, a importação das sementes estrangeiras, além da devastação pela praga, ainda causou o declínio da produção do algodão “Mocó”.

Tradicionalmente, os cultivos de algodão eram direcionados para as áreas de várzea de rios temporários. Esses rios permaneciam com seus leitos sem água na maior parte do ano, o que propiciava o cultivo do algodão já que, por não ter um ciclo muito grande, já estava pronto para ser colhido até a próxima cheia, estando também em associação à agricultura de subsistência; porém esse quadro se altera com o processo de ocupação e povoamento do interior do estado, TAKEYA (1985) comenta este fato quando fala que

No processo histórico de ocupação e povoamento do interior nordestino, as propriedades se estabeleceram e se localizaram em função da existência de água. Dessa forma, não somente a terra, como principal meio de produção, era propriedade privada, mas também com ela, a água. A dependência, daí decorrente, do lavrador sem terra em relação ao proprietário é, assim, duplamente determinada, impedia qualquer tentativa do lavrador sem terra estabelecer-se fora dos domínios da propriedade fundiária (TAKEYA, 1985).

A autora discute em seu texto sobre a dependência que os pequenos agricultores tinham em relação ao grande proprietário da terra, situação que diretamente influiu na criação da comunidade Trangola, fato que será abordado no próximo tópico.

Os trabalhadores do algodão faziam parte de uma camada social inserida num contexto de enorme pobreza e discriminação, onde as relações de trabalho eram majoritariamente monetárias, situadas no meio rural e eram acordadas entre o proprietário e o trabalhador que iam de arrendadores de terra a simples moradores que trabalhavam em troca de moradia.

Documentos relacionados