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Lugar e vulnerabilidade social: estudo sobre a comunidade rural trangola no município de Currais Novos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

MARIA PAULA DA SILVA SANTOS

LUGAR E VULNERABILIDADE SOCIAL:

Estudo sobre a comunidade rural Trangola no município de Currais Novos/RN

Natal/RN 2018

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MARIA PAULA DA SILVA SANTOS

LUGAR E VULNERABILIDADE SOCIAL:

Estudo sobre a comunidade rural Trangola no município de Currais Novos/RN

Trabalho de monografia apresentado ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Celso Donizete Locatel.

Natal/RN 2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Santos, Maria Paula da Silva.

Lugar e vulnerabilidade social: estudo sobre a comunidade rural Trangola no município de Currais Novos/RN / Maria Paula da Silva Santos. - Natal, 2018.

70.: il. color.

Graduação (Monografia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ciências Humanas, Letras e Arte, Departamento de

Geografia, Natal, RN, 2018.

Orientador: Prof. Dr. Celso Donizete Locatel.

1. Vulnerabilidade Social - Monografia. 2. Lugar -

Monografia. 3. Comunidade Rural - Monografia. 4. Currais Novos (RN) - Monografia. I. Locatel, Celso Donizete. II. Título. RN/UF/BSE-CCHLA CDU 911.3:30

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MARIA PAULA DA SILVA SANTOS

LUGAR E VULNERABILIDADE SOCIAL:

Estudo sobre a comunidade rural Trangola no município de Currais Novos/RN

Trabalho de monografia apresentado ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Geografia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Prof. Dr. Celso Donizete Locatel – UFRN

Orientador

____________________________________ Profª Dra. Magda Maria Guilhermino

Examinadora

____________________________________ Prof. Msc. Lorene Kassia Barbosa Brasil

Examinadora

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AGRADECIMENTOS

Durante a graduação, devo agradecimentos aos muitos que fizeram parte dessa jornada.

Agradeço primeiramente ao Deus por ter me dado a capacidade de seguir em frente a cada dia e a saúde para que este trabalho se realizasse.

Agradeço à minha família, sobretudo à minha mãe Graça, por todo apoio, auxílio e confiança, por sempre acreditar em mim e não mover esforços para minha educação e por ser minha guia em meus momentos de indecisão sobre seguir em frente ou não.

Ao meu namorado Saulo Henrique por todo o carinho e companheirismo que me ofereceu durante o período em que estamos juntos que coincide com o tempo da graduação.

Agradeço aos Ex-Presidentes Lula da Silva e Dilma Roussef pelas políticas de acesso ao ensino superior e as melhorias realizadas nas universidades públicas federais.

Agradeço aos meus companheiros de turma, pelos momentos divididos e divertidos que tornaram o período da graduação mais leve e descontraído; agradecimento especial à Rosyellen, Anderson, Jhonathan e Vinnicius e, principalmente, ao Orlando por toda ajuda durante o curso e ter me ajudado na construção desse trabalho, estando em todas as idas a campo; agradeço também às “Geocats” Caroline, Samara, Julie, Lígia e Tatiane.

Meus mais sinceros agradecimentos à professora Magda Maria Guilhermino por ter acreditado em mim e na minha capacidade, sendo mais que uma orientadora, sendo uma segunda mãe durante os últimos anos.

Agradeço ao Grupo GEPARN por todas as suas contribuições ao meu conhecimento e amadurecimento durante a graduação; deixo aqui também meu agradecimento às “Brejeiras” Emelly e Elizama por tornarem menos cansativas as viagens de campo tão exaustivas.

Agradeço ao querido Lousardo por emprestar seu tempo ao nos levar em nossas viagens de campo, sendo sempre gentil em atender nossos pedidos e sempre nos levando e trazendo em segurança e também ser peça importante para a construção deste trabalho por disponibilizar seu tempo ao me levar à campo para a aplicação dos questionários.

Agradeço à professora Virgínia Maria Henriques Cavalari por todo apoio que me foi oferecido para a realização das idas à campo.

Agradeço ao meu Orientador, professor Celso Donizete Locatel por ter aceitado me orientar nesse trabalho e pelas suas excelentes contribuições ao meu saber geográfico.

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Agradeço aos moradores da comunidade Trangola por terem tão gentilmente aceitado serem entrevistados por mim, bem como aos moradores do assentamento Trangola, por sua maravilhosa hospitalidade.

Por fim agradeço aos professores que me auxiliaram a chegar até o final desta etapa por meio da passagem de conhecimento; agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por todo apoio e estrutura dados a mim.

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“Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito” (Chico Xavier)

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RESUMO

O presente trabalho trata da questão da vulnerabilidade social no campo, a partir da análise da realidade da Comunidade Trangola, localizada no município de Currais Novos. Priorizou-se compreender a influência das variáveis internas e externas ao lugar e avaliar, o grau de vulnerabilidade social da comunidade rural. Para tanto, foi realizado trabalho de campo, com visitas in loco para a observação da dinâmica local e para a aplicação de questionário, para caracterização das condições sociais e econômicas, necessária para a análise do Índice de vulnerabilidade Social dos moradores da comunidade. A partir disso, buscou-se compreender como o lugar influenciou e ainda influencia na vulnerabilidade social dos moradores, e o que torna a relação afetiva das pessoas com o lugar tão forte, que mesmo com condições pouco favoráveis para a permanência os moradores persistem em continuar ali. A partir das reflexões desenvolvidas após a realização das atividades de campo e a sistematização dos dados coletados com a aplicação do questionário, obteve-se como o resultado final que é o Índice de Vulnerabilidade Social da Comunidade, que foi calculado a partir da adaptação da metodologia do Atlas da Vulnerabilidade Social nos Municípios Brasileiros, publicado pelo IPEA. Com a realização da pesquisa pode-se contatar que o IVS da Comunidade Trangola é mais elevado que a do município de Currais Novos. Porém, mesmo diante dessa realidade, a maioria dos moradores não tem a intenção de sair da comunidade, o que pode ser atribuído à ligação que os mesmos tem com o lugar.

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ABSTRACT

The present work deals with the question of the social vulnerability in the field, from the analysis of the reality of the Trangola Community, located in the city of Currais Novos. It was prioritized to understand the influence of the internal and external 0 variable to the place and to evaluate, the degree of social vulnerability of the agricultural community. For in such a way, field work was carried through, with visits in leases for the comment of the dynamics local and for the application of questionnaire, for characterization of the social and economic conditions, necessary for the analysis of the Index of Social vulnerability of the inhabitants of the community. From this, one searched to understand as the place influenced and still it influences in the social vulnerability of the habitants, and what it becomes the affective relation of the people with the so strong place, that exactly with little favorable conditions for the permanence the inhabitants persist in continuing there. From the reflections developed after the accomplishment of the activities of field and the systematization of the data collected with the application of the questionnaire, were gotten as the final result that is the Index of Social Vulnerability of the Community, that was calculated from the adaptation of the methodology of Atlases of the Social Vulnerability in the Brazilian Cities, published for the IPEA. With the accomplishment of the research it can be contacted that the IVS of the Trangola Community more is raised than of the city of Currais Novos. However, exactly ahead of this reality, the majority of the in habitants does not have the intention to leave the community, what it can be attributed to the linking that exactly has with the place.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Aplicação de questionário com agricultora familiar ... 31

Figura 2 – Grupo de agricultores sendo entrevistado ... 32

Figura 3 – Tabulação dos dados levantados com a aplicação de questionário... 40

Figura 4 – Quantidade de algodão produzido no RN em toneladas ... 42

Figura 5 – Localização da comunidade Trangola ... 44

Figura 6 – Comunidade Trangola ... 45

Figura 7 – Assentamento Trangola ... 46

Figura 8 – Antigo Proprietário das terras que hoje compõem a comunidade .... 47

Figura 9 – Jovem Morador da comunidade Trangola dentro do museu da comunidade... 48

Figura 10 – Rio Grande do Norte: Índice de Vulnerabilidade Social do Municípios (2010) ... 62

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Tipos de vulnerabilidade social e suas causas ... 23

Quadro 2 – Brasil: abrangência da ação social do Estado em âmbito federal ... 28

Quadro 3 – Síntese da metodologia aplicada no trabalho ... 30

Quadro 4 – Valores e Graus de Vulnerabilidade Social ... 33

Quadro 5 – Quadro de variáveis ... 35

Quadro 6 – Quadro legenda para as variáveis ... 38

Quadro 7 – Avaliação do indicador infraestrutura urbana ... 59

Quadro 8 – Avaliação do Indicador capital social ... 60

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Brasil- Produção de algodão – média anual 1926/30 ... 41

Tabela 2 – Comunidade Trangola: Por sexo dos entrevistados ... 49

Tabela 3 – Comunidade Trangola: Idade dos entrevistados ... 49

Tabela 4 – Comunidade Trangola: Nível de escolaridade dos entrevistados ... 50

Tabela 5 – Comunidade Trangola: Município de origem dos entrevistados ... 50

Tabela 6 – Comunidade Trangola: Estado civil dos entrevistados ... 50

Tabela 7 – Comunidade Trangola: Habitantes por domicilio entrevistado ... 51

Tabela 8 – Comunidade Trangola: Relação com a terra ... 51

Tabela 9 – Comunidade Trangola: Moradores com casa própria ... 52

Tabela 10 –Comunidade Trangola: Associação às cooperativas/associações ... 52 Tabela 11 – Comunidade Trangola: Motivo de não participar ... Tabela 12 – Comunidade Trangola: Importância da associação para a

comunidade ... 52

53 Tabela 13 – Comunidade Trangola: Abastecimento de água ... Tabela 14 – Comunidade Trangola: Abastecimento de água por fonte de

abastecimento ... Tabela 15 – Comunidade Trangola: Meios de transporte utilizados ... Tabela 16 – Comunidade Trangola: Profissão dos entrevistados ... Tabela 17 – Comunidade Trangola: Trabalho principal dos entrevistados ... Tabela 18 – Comunidade Trangola: Trabalho acessório ... Tabela 19 – Comunidade Trangola: Aposentadoria ... Tabela 20 – Comunidade Trangola: Produção ... Tabela 21 – Comunidade Trangola: Tipo da produção ... Tabela 22 – Comunidade Trangola: Dificuldade da produção ... Tabela 23 – Comunidade Trangola: Assistência técnica ... Tabela 24 – Comunidade Trangola: Quem fornece a assistência ... Tabela 25 – Comunidade Trangola: Incentivo à produção ... Tabela 26 – Comunidade Trangola: Qual o incentivo recebido ...

53 54 54 55 55 56 56 57 57 57 57 58 58 58

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LISTA DE SIGLAS

CEPAL Comissão Econômica para a América latina e o Caribe

IDHAD Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

IVS Índice de Vulnerabilidade Social ONU Organização das Nações Unidas RN Rio Grande do Norte

SBPS Sistema Brasileiro de Proteção Social

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

(Organização das Nações Unidas para a educação, Ciência e Cultura) PPGE Programa de Pós-Graduação em Geografia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15 1 ASPECTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS DA PESQUISA ... 17

1.1 Perspectiva sobre o lugar ... 1.2 Vulnerabilidade social ... 1.2.1 Vulnerabilidade social no campo ... 1.2.2 Políticas públicas e vulnerabilidade social ... 1.3 Procedimentos Metodológicos ... 2.3.1 O índice de vulnerabilidade social (IVS) ... 2.3.2 Indicadores sociais ... 17 20 24 26 29 32 34

2 BREVE HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE

TRANGOLA ... 2.1 Crise do algodão no Rio Grande do Norte ... 2.2 Caracterização da comunidade ...

41 41 44

3 AVALIAÇÃO DO GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL DA

COMUNIDADE TRANGOLA... 3.1 Caracterização dos entrevistados e seu capital social ... 3.2 Caracterização da infraestrutura urbana ... 3.3 Caracterização da renda, trabalho e produção ... 3.4 Vulnerabilidade social na comunidade Trangola...

49 49 53 55 59 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 64 REFERÊNCIAS ... APÊNDICES ... Apêndice A – Formulário utilizado para obtenção das variáveis da

pesquisa ... 66 69

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INTRODUÇÃO

A discussão sobre vulnerabilidade social vem sendo aprofundada cada vez mais nas ciências sociais, não apenas se restringindo ao campo científico, mas também ao campo da gestão. O uso do conceito de vulnerabilidade ultrapassa os limites da baixa monetarização da população, não sendo restringido por esse fator. Diante disso, percebe-se que a questão da vulnerabilidade social vai além da pobreza, transitando por diversos níveis de exposição ao risco social.

Para entender o porquê determinado grupo de indivíduos permanece em um local, mesmo quando este não apresenta condições necessárias para garantir que as pessoas vivam com segurança e estejam expostas ao risco social, ou seja, um local que insira essas pessoas numa situação de vulnerabilidade social deve-se entender a importância que o lugar tem para os indivíduos, que sentimentos trazem a essas pessoas e a afetividade da população com o lugar. Para compreender essas questões, deve-se primeiramente entender a noção de lugar e a importância disso para os indivíduos frente a eles mesmos e ao mundo. Outro aspecto que deve ser considerado são os processos que os fazem estar naquele lugar e não em outro e em que nível o capitalismo interfere na questão do lugar e dos indivíduos.

O objetivo principal desse trabalho foi analisar a influência das variáveis internas e externas ao lugar no grau de vulnerabilidade social da comunidade rural Trangola, no município de Currais Novos/RN. Para alcançar esse objetivo pretendeu-se discutir definições de vulnerabilidade social que sejam aplicáveis ao meio rural, a partir da perspectiva do lugar; identificar as variáveis internas da comunidade Trangola que influenciam no grau de vulnerabilidade social, tanto no sentido das que contribuem para a redução da vulnerabilidade, como também as que a ampliam e, por fim, refletir sobre a importância das políticas públicas para a mitigação da vulnerabilidade social em comunidades rurais.

O presente trabalho foi dividido em três capítulos: parte teórica metodológica, na qual foram abordados os aspectos teóricos metodológicos da pesquisa (primeiro capítulo), em que se discutiu noções sobre a perspectiva do lugar, em uma abordagem geográfica de como o lugar condiciona e como é condicionado pelos indivíduos que nele habitam. Neste capítulo também foram trazidas as definições de vulnerabilidade social, dando atenção especial ao tópico de como a vulnerabilidade social se apresenta no campo e em comunidades rurais, discutindo também sobre as contribuições das políticas públicas para a superação da situação de vulnerabilidade social, assim como a metodologia aplicada na pesquisa, onde trouxe informações sobre como o índice foi construído e adaptado para a obtenção dos indicadores

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sociais, detalhou como foi realizada a pesquisa e os procedimentos utilizados a fim de chegar aos dados apresentados no terceiro capítulo.

O segundo capítulo apresentou a comunidade Trangola; nele é mostrado um perfil histórico de como surgiu a comunidade e de como os moradores se fixaram no território, sendo feita a caracterização da população da comunidade, traçando um perfil que remonta aos tempos da economia do algodão no Estado do Rio Grande do Norte.

O terceiro capítulo tratou dos resultados obtidos; nele são apresentados os resultados da aplicação do índice de vulnerabilidade social da comunidade Trangola dentro dos eixos estabelecidos pelo IPEA (2015) no documento intitulado “Atlas da Vulnerabilidade Social dos Municípios Brasileiros”, bem como a avaliação de qual modo o lugar interfere no grau de vulnerabilidade.

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1 ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Para a fundamentação teórica da pesquisa, faz-se necessário o entendimento sobre questões chaves que serão trabalhadas ao longo da mesma. É essencial entender como o lugar se estabelece e como ele irá se transformando ao longo do tempo histórico e geográfico, como também conhecer conceitos de vulnerabilidade social e como ela se relaciona com o lugar e também entender a posição das políticas públicas como mitigadores das vulnerabilidades sociais.

1.1 Perspectivas sobre o lugar geográfico

Durante o desenvolvimento da ciência geográfica, o estudo do lugar foi sendo colocado em um segundo plano. Alguns autores o tratam de maneira simplista como sinônimo de local; porém tornar o lugar sinônimo de local trata-se de um pensamento equivocado, pois as noções de local relacionam-se à cartografia no sentido de indicar localização, especificar um ponto no espaço e o lugar vai, além disso, pois o local está inserido dentro do lugar, este que não apresenta barreiras físicas. Pode-se afirmar que o lugar possui uma localização no espaço, contém o local, mas vai além dele (BARTOLY, 2011). Isso significa que o lugar é muito mais que o sentido geográfico de localização. “Não se refere a objetos e atributos das localizações, mas a tipos de experiência e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e segurança” (RELPH, 1979 apud LEITE, 1998 p.10).

Sendo influenciado pelo período histórico, ou corrente de pensamento geográfico, o estudo do lugar pode vir a assumir diferentes vieses, porém só ganha destaque e se consolida a partir da década de 1970 quando os movimentos de geografia crítica e humanista adquirem força, pois até então as definições de lugar eram subestimadas dentro da geografia.

Rodrigues (2015) destaca as diferenças sobre as perspectivas de lugar entre as correntes de pensamento: a corrente humanista, baseada na fenomenologia e na geografia histórica e cultural. Coloca “que o lugar é visto como o centro do sujeito que o constrói ao mesmo tempo em que se relaciona com o mundo” (RODRIGUES, 2015 p.5036), dando a ideia de que o lugar será o reflexo dos que nele habitam na medida em que irão se adaptando às mudanças do mundo global. O lugar irá adaptar-se às mudanças providas pela globalização, porém apresentará divergências quanto aos outros lugares por ser formado pelas suas próprias dinâmicas apresentando singularidades com os demais espaços.

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Esse mesmo autor traz ainda a perspectiva vinda da geografia crítica; esta que demonstra preocupação com “a inserção do lugar e do sujeito no mundo globalizado, sem perder de vista a especificidade que esse lugar adquire diante da homogeneidade do mundo” (RODRIGUES, 2015 p. 5037). A corrente de pensamento crítico chama a atenção por preocupar-se com a individualidade do lugar frente ao mundo global, este que seria um espaço homogêneo, trazendo o sentido de resistência frente à coletivização dos espaços.

Estas perspectivas despertam a atenção por trazerem consigo ideias de singularidade e heterogeneidade. O lugar é o reflexo dos indivíduos que nele habitam, uma vez que cada indivíduo ou grupo de indivíduos é único, com dinâmicas, cultura, interações e história, os lugares assim serão. Porém, mesmo sendo espaços singulares os lugares não estão fechados em si próprios, como diz Santos (2006 p.87) “A cada momento, cada lugar recebe determinados vetores e deixa de acolher muitos outros. É assim que se forma e mantém a sua individualidade”, além disso, o lugar não possui limites físicos. “Isto ocorre porque sendo uma construção subjetiva e ao mesmo tempo tão incorporada às práticas do cotidiano, que as próprias pessoas envolvidas com o lugar não o percebem como tal” (LEITE, 1998, p.12). Dantas (2016, p. 196) completa ainda quando diz que “é no lugar que se dá a combinação única entre produção, circulação, troca e consumo”.

A partir disso, verificamos que o lugar não existe inicialmente, ele torna-se. Sem o sentimento de pertencimento, identidade e o apego dos sujeitos ele é apenas espaço puro e simples. Quando o dotamos de características postas pelas interações humanas, ele torna-se lugar; baseado nisso pode-se afirmar que o lugar é um ponto de humanização. Castello (2007,

apud SCHNEIDER, 2015 p.60) reafirma essa visão quando afirma que “o lugar transforma-se

em lugar quando o conhecemos melhor e o dotamos de valores atribuindo-lhe definições e significados”. Fazendo com que o estudo do lugar só seja possível ao entender sua relação com os indivíduos e seus aspectos históricos, culturais e da construção de valores associados aquele espaço; o que é afirmado por Tuan (2013, apud RODRIGUES, 2015 p.24), “quanto mais tempo vive-se em um lugar, melhor, mais profunda e significativa será a experiência, pois o passado é um elemento fundamental na constituição do apego”. O apego é fator determinante de fixação dos indivíduos no espaço, proporcionalmente quanto maior o tempo de permanência de um indivíduo em um espaço, maior será a probabilidade que esse indivíduo ou grupo de indivíduos realize alterações ou crie laços tornando aquele espaço um lugar de identificação.

Em qual momento o lugar deixa de ser espaço de influência e torna-se influenciador? Inseridos no lugar estão cada objeto ou coisa que têm uma história que se confunde com “a

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história dos seus habitantes, assim compreendidos justamente por não terem com a ambiência uma relação de estrangeiros” (MOREIRA, 2007 p.61). Quando o autor coloca que no lugar estão objetos com histórias que se confundem com as histórias dos habitantes do lugar, associa-se ao sentimento de pertencimento; se os indivíduos se sentem ambientados, confortáveis, adequados ao lugar que estão, tendem a permanecer naquele lugar criando assim um ciclo de permanência no seu lugar de origem, numa relação de doação mútua, onde o lugar provém ambiência e é ambientado pelos que nele vivem.

Bartoly (2011, p.67) discute ainda sobre a subjetividade e a objetividade trazida do lugar material e físico composto pela “localização dos objetos, de sua distribuição objetiva no espaço e da relação do lugar com a totalidade e pela dimensão abstrata que trata dos símbolos e dos significados que são atribuídos pelos indivíduos ao lugar”.

Apesar da personalização e heterogeneidade dos lugares frente ao mundo global, eles não estão completamente excluídos da dinâmica mundial, Santos (2006) afirma que:

Todos os lugares existem em relação com um tempo do mundo, tempo do modo de produção dominante, embora nem todos os lugares sejam, obrigatoriamente, atingidos por ele. Ao contrário, os lugares se diferenciam, seja qual for o período histórico, pelo fato de que são diversamente alcançados, seja quantitativamente, seja qualitativamente, por esses tempos do mundo. O tempo do mundo seria o tempo mais externo, abrangente de todos os espaços, independentemente de escala.

(SANTOS, 2006, p.90)

Quando Santos (2006) expõe esta ideia, afirma que o lugar mesmo sendo dotado de personalidade própria, não está completamente isolado das mudanças ocorridas no espaço, o que variará será a escala que o lugar será afetado. Ainda de acordo com o autor, ao mesmo tempo em que a singularidade garante configurações únicas, os lugares estão em interação, graças à atuação das forças motrizes do modo de acumulação hegemonicamente universal (o capitalismo) (SANTOS, 1988 apud LEITE, 1998). Os lugares funcionam como personagens da divisão do trabalho. Para cada momento histórico do capitalismo, uma nova divisão do trabalho é criada e essas diferentes divisões do trabalho vão alterando as variáveis internas de cada lugar, suas especificidades se apresentam como as diferenças de salário mínimo, mão-de-obra qualificada e desqualificada, ou seja, “distintas relações culturais, distintas formações socioespaciais” (CAVALCANTE, 2015 p. 93), que os diferencia uns dos outros.

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1.2 Vulnerabilidade social

Para entender o que é vulnerabilidade social primeiramente faz-se necessário compreender que a expressão ainda não tem um significado fechado e que está em constante expansão, sendo construído passo a passo. Para entender como ela atinge a sociedade é necessário que se tenha em mente o que significa estar exposto ao risco social e entender que vulnerabilidade social não é um sinônimo para exclusão social, termo que nasceu na França e antecedeu a noção inicial de vulnerabilidade social. Cançado e et al. (2014) definem como exclusão social algo que “corresponde à uma situação limite de pobreza, quando há ruptura de vínculos sociais e negação dos direitos sociais estabelecidos” citação complementada com Gomes (et al., 2005 p. 359), “O termo exclusão social tem sentido temporal e espacial: um grupo social está excluído segundo determinado espaço geográfico ou em relação à estrutura e conjuntura econômica e social do país a que pertence.”

Já as definições de vulnerabilidade social e de risco social podem variar de acordo com o tempo histórico, ciência e autor que os estuda e que, apesar de serem termos diferentes, se relacionam entre si, já que o risco social corresponde-se com a ideia de condição em que o indivíduo está, já a vulnerabilidade irá caracterizar a circunstância que o indivíduo se encontra. Segundo Brüseke (2006, p.71), a discussão do risco serve para alertar “para as consequências futuras negativas de uma variedade praticamente ilimitada de fenômenos e processos”, a questão da vulnerabilidade deve “considerar os elementos dinâmicos e estruturais que perpassam a oferta de oportunidades” (CANÇADO et al., 2014, p.18). Essa oferta de oportunidades variará de acordo com o período histórico e econômico de cada região.

A partir da década de 1990, a emergência em tratar da questão da vulnerabilidade social tornou-se mais intensa, sendo mais fortemente difundida por organismos internacionais, tais como o Banco Mundial, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Organização das Nações Unidas (ONU). Os estudos se focalizavam mais profundamente em entender e estudar os mais necessitados sem procurar compreender os fatores que os deixavam naquela situação de pobreza, porém uma pergunta deve ser respondida: vulnerabilidade a partir de quê? A vulnerabilidade pode ser definida a partir de um perigo ou um conjunto deles, em dado contexto geográfico e social. Não se pode esquecer também de perguntar “onde e quem está/é vulnerável?” (LIVERMAN, 1994 apud MARANDOLA, 2006).

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Neste cenário surgiram os primeiros grupos de estudo da sociedade com atenção maior na pobreza das pessoas do que na configuração social que os colocava em situação de pobreza. Com o aumento nos estudos referentes à vulnerabilidade social, a questão expandiu-se indo além do fator econômico/financeiro alcançando os níveis relativos às condições ambientais, no campo da saúde como os indivíduos susceptíveis a certos tipos de enfermidade o que ampliou a compreensão de vulnerabilidade social, pois entrou na questão o estudo não só de indivíduos, mas de grupos de indivíduos, referentes também às questões de gênero e sexualidade, grupos religiosos, grupos étnicos, entre outros. “A vulnerabilidade passa a ser compreendida a partir da exposição aos riscos de diferentes naturezas, sejam eles econômicos, culturais ou sociais, que colocam diferentes desafios para seu enfrentamento” (VIGNOLI, 2001; CAMARANO et al., 2004 apud MONTEIRO, 2011).

Segundo Monteiro (2011) a compreensão de vulnerabilidade deve ser concebida a partir da relação dialética entre externo e interno. O externo refere-se ao contexto de referência, já o interno pauta-se em características básicas de indivíduos, grupos de lugares ou comunidades. Isso quer dizer que a vulnerabilidade deve ser entendida a partir do meio em que o grupo vulnerável está e também de como esses indivíduos se comportam dentro desse meio. A vulnerabilidade social não depende de apenas um fator, mas de diversos fatores determinantes da sociedade que irão ter influências positivas e/ou negativas. A vulnerabilidade social não pode ser entendida como um problema pontual, mas sim como um problema estrutural da sociedade e que por ter diversas faces e dinâmicas dificultam sua análise, já que qualquer mínima alteração em um determinado momento pode afetar o modo como as populações reagem frente ao objeto indutor da vulnerabilidade, como por exemplo, uma população que vive em uma encosta seu índice de vulnerabilidade aumentará em períodos de chuva já que o perigo oferecido será ampliado.

Para a análise da vulnerabilidade de determinado lugar, faz-se necessário que sejam observadas as variáveis que compõem este lugar, sejam elas internas e/ou externas (KASTSMAN, 1999; FIGUEIRA, 2001 apud MONTEIRO, 2011). Os referidos autores citam as variáveis internas como “ativos” que são estruturas de enfrentamento, onde esses ativos serão um conjunto de condições que devem ser avaliadas “a partir de quatro aspectos: físico, financeiro, humano e social”.

Monteiro (2011) caracteriza esses ativos:

Os ativos físicos caracterizam-se pelo meio de vida (...) e meios de produção da vida material. (...) Os ativos financeiros constituem os diferentes instrumentos financeiros formais e informais (...) os ativos humanos ou capital humano, são

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definidos pelos recursos que dispõem os lugares em termos de qualidade e quantidade de força de trabalho, bem como investimentos em educação e saúde para seus membros. Os ativos sociais são definidos por meio do atributo coletivo pautado em relações de confiança e reciprocidade, que se manifestam em redes interpessoais. (MONTEIRO, 2011, p.34)

Diante disso, pode-se perceber que a vulnerabilidade não deriva de um único fator e sim de um conjunto de fatores que limitam as condições de vida e de aproveitamento de oportunidades da vida em sociedade. Um dos principais fatores, se não o maior deles para a vulnerabilidade social é, sem dúvidas, o baixo desenvolvimento socioeconômico; ele influencia nas condições não só físicas como também nas condições psicológicas dos indivíduos, pois a situação de pobreza na maior parte das vezes serve como porta de entrada para outros tipos de vulnerabilidade como o aumento da violência, pouco acesso a serviços de saúde e boa alimentação, a baixa escolaridade, entre outros. Diante disso, (Carneiro et al 2004 apud JANCZURA, 2012) “concluem que vulnerabilidades e riscos remetem às noções de carências e de exclusão”.

Pessoas, famílias e comunidades são vulneráveis quando não dispõem de “recursos materiais e imateriais para enfrentar com sucesso os riscos a que são ou estão submetidas, nem de capacidades para adotar cursos de ações/estratégias que lhes possibilitem alcançar patamares razoáveis de segurança pessoal/coletiva”. Para a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) vulnerabilidade social deriva do resultado negativo da relação entre os recursos materiais disponíveis e o acesso a oportunidades sejam elas sociais, econômicas e culturais oferecidas seja pelo estado, mercado ou pela própria sociedade. Acrescenta ainda que “vulnerabilidade inclui situações de pobreza, mas não se limita a ela” (CANÇADO et al., 2014 p.5).

A vulnerabilidade social alcança vários setores da sociedade incluindo também as classes sociais mais elevadas, pode se dividir em campos diversificados como: vulnerabilidade Juvenil, da saúde, socioeconômica, socioespacial, rural, socioambiental, civil, cultural, jurídica entre outros; “a vulnerabilidade é percebida como interna, constituinte do eu e do lugar” (MARANDOLA JR, 2006 p.40) e, quando se analisa a vulnerabilidade a partir da perspectiva do lugar em que os indivíduos estão, pode-se definir inicialmente quais os motores da vulnerabilidade daquele grupo social.

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Quadro 1 – Tipos de vulnerabilidade social e suas causas Tipo de

Vulnerabilidade

Causas Autor/ Fonte

Juvenil

A vulnerabilidade juvenil deriva de vários fatores, que variam entre: más condições escolares, violência, drogas, dificuldade em acessar o mercado de trabalho, desestruturação da família, etc.

Cançado e outros (2014)

Saúde Mudanças na estrutura da população, incidência de doenças

e causas de morte. Laurenti (2006)

Socioeconômica

Formas precárias de trabalho, sistema de proteção social restrito e incompleto, baixa qualidade dos serviços educacionais, desigualdade social na distribuição da renda.

Kowarick (2002) PNUD (2010)

Civil Incapacidade do Estado de conter a violência policial e a

marginalidade. Kowarick (2002)

Socioambiental Razões naturais e o resultado da dinâmica entre ecossistemas e a ação antrópica.

Anazawa e outros (2011)

Rural

Determinantes históricos, restrições no acesso à terra, educação precária, dificuldades no acesso aos mercados, privações de acesso a serviços básicos.

Zimmermann e outros (2014)

Socioespacial

Concentração urbana sem planejamento, causando segregação espacial, e marginalização das populações mais pobres.

Cançado e outros (2014) Fonte: Cançado e outros (2014); Zimmermann e outros, 2014; PNUD (2010), adaptado pela autora.

As causas apresentadas no Quadro 1 mostram os pontos principais, porém não significa que as causas se limitem a essas apresentadas; deve-se estudar o quadro geral da situação do grupo vulnerável, analisando todas as variáveis postas e uma vez definidos os motores que fortalecem a vulnerabilidade de determinado grupo, é dever do Estado garantir que o risco imposto seja mitigado.

Porém, em situações diversas, o Estado é também força motriz para o fortalecimento desta vulnerabilidade, visto que ele regulamenta o uso do território e essa forma de distribuição dos espaços cria padrões de segregação, onde as populações mais pobres são relegadas ao segundo plano, gerando a marginalização dessa população em situação de vulnerabilidade, os tornando susceptíveis a diversos motores de vulnerabilidade, principalmente para as idades menores, como os jovens que estão em processo de adequação e

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descoberta do mercado de consumo que sem educação adequada e condições sociais e territoriais satisfatórias acabam fazendo parte de grupos de risco, bem como vítimas da violência e drogas. No entanto, não quer dizer que baixa condição financeira seja porta de entrada para a violência, e sim um facilitador para a vulnerabilidade à violência e também à vulnerabilidade civil e as drogas e muitas vezes o lugar desperta essa vulnerabilidade:

A noção de território vulnerável ganha um sentido mais concreto, na medida em que falamos de lugares concentradores de condições sociais sistematicamente reprodutoras das desigualdades e da pobreza por nele prevalecerem condições desfavoráveis ao acesso e uso de recursos (RELATÓRIO OBSERVATÓRIO, 2005, p. 58 apud SILVA, 2007).

Essa dificuldade ou falta de acesso aos recursos, exclui ou diminui substancialmente a chance de concorrência dos indivíduos frente ao mercado de trabalho, sejam eles parte de qualquer grupo de risco. Porém, dentro do quadro das vulnerabilidades há também as chamadas vulnerabilidades positivas, que são as potencialidades que os indivíduos têm de enfrentar e resistir a um contexto social negativo ou de risco, portanto as vulnerabilidades positivas nascem quando os atores resistem e lidam de forma criativa com as dificuldades impostas.

1.2.1 Vulnerabilidade social no campo

A vulnerabilidade social no campo apresenta todos ou a maioria dos fatores apresentados anteriormente; contudo, possui ainda suas próprias especificidades, como a questão da posse da terra, relações de poder no campo e são mais susceptíveis aos processos naturais como anomalias climáticas. O objeto de estudo deste trabalho é uma comunidade rural, então, deu-se a necessidade de se aprofundar a análise da vulnerabilidade social no âmbito rural.

Para o estudo da vulnerabilidade no campo deve-se primeiramente analisar a situação da população local, quais os riscos aos quais estão submetidos. Questões importantes como a posse da terra, as formas de renda da população, as políticas públicas e serviços aplicados para os indivíduos locais, incluindo também a questão do suporte técnico à produção, condições climáticas e de solo entre outros fatores naturais que facilitam a produção devem ser levados em conta no estudo da vulnerabilidade rural, diferentes riscos empregam diferentes vulnerabilidades.

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A vulnerabilidade rural no Brasil tem diversas raízes que remontam ao tempo da formação territorial do país e que se proliferam até hoje. Problemas como “restrições no acesso à terra, limitações da educação oferecida, dificuldades no acesso aos mercados, privações de acesso a serviços básicos e deficiências de infraestrutura em várias áreas”, afirmam Zimmermann et al. (2014 p. 544). Essas carências direcionam o morador do campo a uma situação de vulnerabilidade, pois o indivíduo não tem ferramentas ou capital humano para desvincular-se dessa situação. Deve-se recordar que para estar em situação de vulnerabilidade rural, não é necessariamente ser agricultor e sim, apenas morar em áreas rurais; esta variável pode aumentar ou diminuir a vulnerabilidade de um indivíduo ou grupo de indivíduos, bem como sua capacidade de resposta ao risco.

Um dos principais fatores de vulnerabilidade no campo é a questão do acesso à terra. A grande concentração de terra prejudica o morador do campo e resulta em conflitos sobre a posse; esta situação, de falta de acesso à terra e dependência dos grandes produtores, leva o trabalhador rural ao nível da pobreza, visto que muitas vezes ele não dispõe de nenhuma outra formação além de cuidar da terra. Zimmerman et al. (2014 p.548) colocam que “historicamente a propriedade privada da terra foi um elemento determinante das relações sociais agrárias e das próprias condições de vida degradantes no espaço rural” e continuam: “este fato, aliado à produção de monocultora em vastas áreas – característica desde o passado colonial – é determinante na geração da pobreza estrutural.” Consequentemente está relacionada com a vulnerabilidade dos indivíduos. Segundo o Censo Demográfico realizado pelo IBGE (2010), 22% da população do estado do Rio Grande do Norte morava no campo e estimava-se que boa parte dessa população estavam em situação de vulnerabilidade social, em diferentes graus.

A vulnerabilidade social rural está ligada diretamente à pobreza do homem do campo, as camadas mais vulneráveis desse nicho populacional e que

A população pobre residente nas zonas rurais do país apresenta menor nível de escolarização e enfrenta cotidianamente limitações de toda ordem, em decorrência dos baixos rendimentos, da falta de infraestrutura e da dificuldade de acesso a serviços básicos, o que retroalimenta o perverso ciclo de recriação da pobreza (HESPANHOL, 2014 p.4).

Como afirmado por Hespanhol (2014), a baixa disponibilidade de recursos sociais cria um ciclo vicioso e limitador de estimulação à pobreza, essa baixa disponibilidade de recursos básicos diminui a capacidade de organização das comunidades rurais. Sem essa organização, sua capacidade de resposta fica comprometida, logo seu nível de vulnerabilidade aumenta.

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Um nível razoável de organização social pode ser um fator redutor de vulnerabilidade, pois as oportunidades de moradores rurais socialmente organizados aumentam quando se fala em acesso à terra e acesso às políticas públicas do governo que, em alguns casos, como na política de acesso ao crédito fundiário só podem ser obtidas por meio de organização social. Se as pessoas se organizam e obtém acesso à terra, pode vir a aumentar sua capacidade de resposta, o que já é uma mudança considerável no quadro do desenvolvimento, pois é capaz de aumentar o potencial produtivo e o potencial empreendedor podendo vir a gerar renda e melhora da condição socioeconômica e consequente redução da pobreza e da vulnerabilidade.

Maior do que em outros grupos de risco, os indivíduos rurais estão mais vulneráveis às condições naturais, quando o acesso a tecnologias de convivência com as variantes climáticas sejam escassos; o clima, principalmente, é um importante fator de risco, pois para a produção animal e vegetal, principais atividades rurais são fortemente condicionadas por ele, definindo a possibilidade ou não da produção, fazendo com que haja uma forte tendência à vulnerabilidade socioambiental.

A comunidade Trangola, recorte espacial da pesquisa, está inserida em um extremo do município de Currais Novos; tal município está inserido em um dos núcleos de desertificação do semiárido brasileiro. Esta variável influi de forma bastante elevada nas condições sociais dos seus habitantes, sem a capacidade de realizar a produção de forma adequada, os indivíduos têm um percentual de vulnerabilidade elevado, arrastando-os para uma possível situação de pobreza, visto que sua principal fonte de renda é prejudicada, passando a desenvolver modos informais de trabalho.

1.2.2 Políticas públicas e vulnerabilidade social

Ninguém na sociedade contemporânea está totalmente isento do risco social ou vulnerabilidades, pois estas fazem parte da rotina das pessoas, seja em suas moradias, no emprego, no meio externo; as pessoas não estão imunes de serem afetadas por vulnerabilidades em maior ou menor grau, sendo que as políticas públicas podem vir a se manifestar como meios para neutralizar ou minimizar esses riscos e/ou vulnerabilidades.

As políticas públicas funcionam como estabilizador de desigualdades sociais, estas que são estimuladoras de situações de risco e vulnerabilidade, as desigualdades sociais não estão apenas no campo da distribuição de renda, mas também no acesso à cultura, lazer, saúde, educação, boa nutrição, acesso jurídico, etc.

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O Brasil apresenta um alto índice de desigualdade social, figurando como o 57° país com maior coeficiente de Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD).

De acordo com dados do PNUD (2015), uma sociedade desigual diminui o potencial de competitividade dos indivíduos frente ao mercado de trabalho os colocando em situação de vulnerabilidade. Em sociedades estruturalmente desiguais, as desigualdades tendem a aumentar e ser fortalecidas visto que há maior concentração de poder nas elites. Segundo palavras da PNUD (2010), em um estudo coordenado na década de 1990, as elites tinham relutância em ampliar as oportunidades de educação de qualidade para as camadas mais baixas da sociedade “com base no argumento de que trabalhadores instruídos seriam mais difíceis de gerir”, estes trabalhadores mais capacitados ganhariam maiores remunerações, o que gerou preocupação para os formuladores de políticas públicas, pois “o governo preocupava-se com o fato de que uma força de trabalho mais dispendiosa diminuiria a vantagem comparativa do país em bens de trabalho intensivo”.

Neste sentido, com uma população de trabalhadores qualificada e com boa educação, seria reduzida à reserva de mão de obra barata, se tornando oneroso para o Estado e para as elites, estas que são maiores possuidoras dos meios de produção. Boa formação educacional garantiria maior equidade de oportunidades de trabalho e isso não seria interessante do ponto de vista das classes mais altas. Porém, seria um importante redutor de vulnerabilidade social, na medida em que a maior quantidade de pessoas teria melhores oportunidades de desenvolvimento socioeconômico.

As vulnerabilidades representam desafios para os gestores e formuladores de políticas públicas, pois são formadas por sobreposições de riscos e problemas de diferentes naturezas ANAZAWA (2011), bem como distribuição geográfica, temporalidades, intensidades e formas de resposta diferentes.

As políticas sociais no Brasil ganham força com a constituição de 1988, esta que acendeu a faísca para uma maior intervenção social do Estado, aumentando os direitos sociais e a proteção social; isso aumentou a responsabilidade dos gestores públicos com os problemas da sociedade que antes eram ignorados ou colocados em esferas privadas. Isso significa que o Estado agora interviria com maior afinco nas questões de equalização de oportunidades, riscos sociais e pobreza.

Para que a cidadania desses indivíduos em situação de vulnerabilidade seja garantida, é incorporado um novo modelo na proteção social: os direitos sociais e que, segundo Reis (1998 apud JACCOUD, 2009 p.187), “Ser cidadão é identificar-se com uma nação em

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particular e ter prerrogativas que são garantidas pelo Estado”. Essas prerrogativas têm por obrigação garantir os direitos básicos a todos os cidadãos, como direito à educação, saúde e proteção social.

O Sistema Brasileiro de Proteção Social (SBPS) se equilibra em quatro eixos: eixo do emprego e do trabalho, assistência social e combate à pobreza, direitos incondicionais de cidadania social e infraestrutura social. No Quadro 2 vê-se a abrangência da ação do Estado dentro dos eixos.

Quadro 2 – Brasil: abrangência da ação social do Estado em âmbito federal

Eixos estruturantes Principais políticas públicas sociais, por área de atuação do GSF

Emprego e trabalho 1. Previdência social básica (RGPS urbano e rural)

2. Previdência e benefícios a servidores da união (militares e estatutários)

3. políticas de apoio ao trabalhador 4. Organização agrária e política fundiária Assistência Social e Combate à

Pobreza

5. assistência Social 6. alimentação e nutrição

7. Ações de combate à pobreza/transferência de renda Direitos incondicionais de

Cidadania Social

8. Saúde

9. Ensino Fundamental Infraestrutura Social 10. Habitação

11. Saneamento Fonte: Disoc/Ipea (apud JACCOUD, 2009).

O Eixo do emprego e do trabalho diz respeito às políticas referentes à participação contributiva, ou seja, os beneficiados por esse eixo devem ter feito contribuições financeiras ao Estado ou estejam inseridos no ambiente do trabalho. O Eixo da assistência social e combate à pobreza, juntamente ao eixo dos direitos incondicionais de cidadania social, relacionam-se com a redução da miséria e garantia de direitos básicos ao ser humano, tais como saúde, educação e alimentação, bem como a garantia de pelo menos alguma forma de renda; o eixo da assistência social e combate à pobreza se estabelece a partir da constatação da condição de vulnerabilidade socioeconômica da sociedade, onde o Estado deve interferir a fim de garantir condições mínimas para a sobrevivência da população.

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Jaccoud (2009) explica sobre o Eixo de direitos incondicionais de cidadania social:

Estas políticas, cuja garantia de acesso é incondicional e se baseia no reconhecimento de certos direitos sociais mínimos do cidadão, assumem um caráter autônomo, ligado exclusivamente ao pertencimento à comunidade nacional e aos ideais de inclusão social por meio da oferta universal de determinados serviços públicos (JACCOUD, 2009).

O quarto eixo, o que trata da infraestrutura social, refere-se às garantias de mobilidade, moradia e saneamento básico; estes três pilares surgiram em último lugar no hall das políticas sociais. Este eixo “reúne políticas reconhecidas por sua relevância social, mas as quais, nenhuma garantia legal de acesso foi ainda associada” (JACCOUD, 2009).

Para o campo, há ainda (dentro do SBPS) as políticas públicas classificadas como de organização agrária e fundiária, esse segmento garante o trabalho e a reprodução social das populações rurais, por meio do acesso ao crédito, à reforma agrária (desapropriações de terra, assentamentos rurais), etc. Esse campo busca garantir oportunidades de trabalho no âmbito rural. As políticas agrárias enfrentam diversas dificuldades, sendo a dificuldade em desapropriação de terras e a baixa eficácia de mercado como sendo de maior nível, mas além disso tem-se também uma gama de problemas de conflitos e problemas políticos no campo.

1.3 Procedimentos Metodológicos

Para a composição da pesquisa, a metodologia aplicada possui grande importância, pois é a partir dela que a pesquisa é fundamentada e construída. Este trabalho foi divido em 03 (três) processos que se completam para obtenção do resultado final desta pesquisa: revisão bibliográfica, atividades de campo e laboratório.

Inicialmente, a revisão bibliográfica foi realizada para a construção do referencial teórico auxiliando no entendimento sobre conceitos-chave abordados na monografia, bem como a compreensão sobre a vulnerabilidade social e as influências do lugar geográfico nessa questão.

Para a elaboração da construção teórica-conceitual, foram escolhidos termos essenciais para a compreensão do trabalho; buscou-se de forma clara elucidar os princípios norteadores do trabalho, tais como noções sobre o lugar geográfico e de como ele influencia os indivíduos que nele estão e para isso foram utilizados diversos autores que discutem o lugar de diferentes perspectivas, sobre diferenciados horizontes onde foi identificado que o lugar se constitui a partir de experiências das pessoas que nele habitam, é formado de experiências e reflexos do

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período histórico em que se ambienta podendo variar na sua forma, mas tendendo a possuir uma essência própria, o diferenciando dos demais lugares.

Ainda no referencial teórico procurou-se explanar significados e gêneros de vulnerabilidade social e que, pelo recorte espacial da pesquisa ser uma comunidade rural, fez-se esfez-sencial a discussão sobre vulnerabilidade social no campo, ainda pouco difundida como objeto de análise.

O segundo processo se deu através das atividades de campo realizadas na comunidade Trangola, situada na cidade de Currais Novos no Estado do Rio Grande do Norte; estas atividades de campo foram de extrema importância para a pesquisa, pois foi a partir delas que o contato com os moradores da comunidade foi estabelecido e, também, foi possível a obtenção do perfil histórico, aplicação de questionários e entrevistas com os moradores, os registros fotográficos e a coleta de pontos com o GPS para o georreferenciamento da comunidade e produção de material cartográfico representado pelas figuras 5 a 7.

No terceiro processo, fez-se a tabulação dos dados obtidos por meio dos questionários; em seguida foi feita a análise dos indicadores sociais obtidos com a aplicação dos questionários e entrevistas, geração do índice e, a partir desses indicadores, realizar a avaliação do grau de vulnerabilidade social na comunidade Trangola, como sintetizado no Quadro 3 e a geração de material cartográfico.

Quadro 3 – Síntese da metodologia aplicada no trabalho

Revisão de literatura Visitas de campo na comunidade/ Coleta de dados Análise dos dados/ Geração do índice Avaliação do nível de vulnerabilidade social da comunidade Trangola Geração de material cartográfico Referencial teórico, quadro conceitual, noções sobre vulnerabilidade, lugar geográfico, e políticas públicas Perfil histórico, contato com a comunidade Trangola e aplicação de questionários. Geração dos indicadores, análise estatística e aplicação para a criação do índice. Aplicação do índice e cálculo do grau de vulnerabilidade social da comunidade Trangola. Geração de mapa com o software de geoprocessamento arcgis.

Fonte: Elaboração própria.

Com o intuito de atender as demandas de geração de indicadores para o índice, foram aplicados questionários em 28 (vinte e oito) domicílios que representavam 80% dos domicílios da comunidade, contemplando um total de 82 (oitenta e duas) pessoas. Para

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responder aos questionários, foi escolhido 01 (um) representante da família que forneceu informações sobre o núcleo familiar, sendo aplicados nos dias 13 de julho e 01 de setembro de 2018, contando com três e dois aplicadores respectivamente.

Para a seleção das variáveis para os indicadores foram elaboradas 32 (trinta e duas) questões que cobrem setores como saúde, educação, condição da moradia, meios de locomoção, coleta de lixo, a produção agrícola, emprego, renda, organização social, estado civil, entre outros fatores que impactam diretamente no grau de vulnerabilidade individual e coletivo da comunidade. Para a estruturação da entrevista foi adaptado um formulário elaborado pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGE).

As Figuras 1 e 2 registram momentos durante a aplicação dos questionários.

Figura 1 – Aplicação de questionário com agricultora familiar

(32)

Figura 2 – Grupo de agricultores sendo entrevistado

Fonte: Atividade de campo realizada na comunidade Tragola, 2018.

1.3.1 O Índice de Vulnerabilidade Social (IVS)

Para a análise das variáveis internas da comunidade Trangola, optou-se por adaptar o Índice de vulnerabilidade social elaborado pelo Instituto de Pesquisas econômicas aplicadas (IPEA); essa metodologia tornou-se relevante para a elaboração do presente trabalho por melhor se encaixar nos objetivos pretendidos.

Para a criação das variáveis da pesquisa, gerou-se Indicadores de Vulnerabilidade social e, a partir da geração desses indicadores, foram apresentados pontos críticos ou não, que contribuíram para a análise da vulnerabilidade social e de possíveis soluções para a mitigação das vulnerabilidades encontradas.

O IVS busca “sinalizar o acesso, a ausência ou a insuficiência de alguns ativos em áreas do território brasileiro que deveriam estar disponíveis para toda a população” (IPEA, 2015 p.12); pauta-se em três níveis: infraestrutura urbana, capital humano e renda e trabalho. Esses níveis determinam as circunstâncias oferecidas pelo Estado para garantia de bem-estar dos indivíduos. A presença ou ausência de um ou mais desses níveis tem importância significativa no grau de vulnerabilidade de um lugar.

O primeiro nível que corresponde à infraestrutura urbana diz respeito às condições de acesso aos serviços essenciais para as pessoas, tais como saneamento básico (tratamento de água, coleta de lixo, esgotamento sanitário etc.) e mobilidade urbana, incluindo nisso o tempo gasto no deslocamento de casa para o trabalho; estes dois fatores influenciam de forma significativa no bem-estar da população. Em residências que possuem saneamento básico e

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distância pequena ou moderada da residência ao trabalho, a qualidade de vida se torna melhor, pois o risco de adquirir doenças relacionadas à água se torna menor, bem como o estresse relacionado a uma longa distância até o trabalho; os indicadores relacionados a esse nível, compreendem os serviços que englobam os quesitos aqui apresentados.

O segundo nível, correspondente ao capital humano, envolve os ativos e as estruturas de inclusão social da população, o momento atual e a perspectiva para as próximas gerações; os indicadores que englobam este tema envolvem as condições sociais das famílias, tais como a situação dos jovens (crianças e adolescentes) no domicílio que não frequentam a escola, de mulheres chefes de família, baixa escolaridade dos membros da casa (jovens e adultos) e membros da família que não trabalham ou estudam.

O terceiro nível corresponde à renda e trabalho; nele utiliza-se não apenas a remuneração insuficiente, inclui-se também as fragilidades oriundas desse estado de baixa renda. Esse nível inclui indicadores de renda e de emprego (os membros da família trabalham, recebem ajuda financeira do estado, recebem pensões ou aposentadorias e se os membros mais jovens como crianças e adolescentes tem participação na renda familiar).

O IVS vai variar entre 0 (zero) e 1(um), sendo valores próximos a 1 (um) o máximo de vulnerabilidade e 0 (zero) o mínimo de vulnerabilidade.

O Quadro 4 detalha os valores aplicados desde o valor mais baixo até o máximo valor.

Quadro 4 – Valores e Graus de Vulnerabilidade Social

VALOR GRAU DE VULNERABILIDADE

Entre 0 e 0,200 Muito Baixa

Entre 0,201 e 0,300 Baixa

Entre 0,301 e 0,400 Média

Entre 0,401 e 0,500 Alta

Entre 0,501 e 1 Muito alta

Fonte: Elaboração própria, baseada nos dados do IPEA (2015).

Para o cálculo das variáveis foram feitas a média aritmética entre os principais resultados dentre os indicadores obtidos através dos questionários, considerando: infraestrutura urbana, capital humano, renda e trabalho; independente dos valores atribuídos aos indicadores, os três níveis tiveram o mesmo peso.

A fórmula utilizada para obtenção da média aritmética da vulnerabilidade social é expressa a seguir:

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𝐼𝑉𝑆 =IU + CH + RT 3 Onde:

IVS= índice de vulnerabilidade social IU= Infraestrutura Urbana

CH= Capital Humano RT= Renda e Trabalho

Para obtenção dos valores individuais, foi utilizada a fórmula “=CONT.SE” do programa Microsoft Excel, versão 2010.

1.3.2 Indicadores sociais

Para a aplicação do IVS na comunidade Trangola foram inicialmente construídas as variáveis da pesquisa; essas variáveis se apresentam na forma de indicadores sociais ou indicadores de vulnerabilidade social. Segundo Mitchell (1996 apud SÍCHE), indicador é uma ferramenta que permite a obtenção de informações sobre uma dada realidade. Essas variáveis, que podem ser qualitativas ou quantitativas nos permitem mensurar a intensidade e o tamanho da vulnerabilidade do grupo estudado e diferenciar do estado de pobreza ao de vulnerável social.

Para fins de cálculo cada indicador possui o mesmo peso, o valor do nível derivará da média aritmética dos indicadores obtidos através das respostas dos entrevistados. Valores iguais a 0 (zero) representam o melhor cenário, pois significa ausência total de vulnerabilidade, o que corresponde a uma situação irreal em determinados casos; valores iguais a 1 (um) representam o pior cenário. Todos os indicadores relacionam-se com a vulnerabilidade social, quanto maior for o valor do indicador, maior será o valor da vulnerabilidade.

O Quadro 5 apresenta os valores atribuídos às variáveis que serão utilizadas no presente trabalho, os valores foram atribuídos partindo do princípio da variável que possibilitava maior estabilidade. No indicador de infraestrutura urbana as variáveis de energia elétrica e coleta de lixo possuem apenas duas opções, o que faz com que essas variáveis possibilitem variáveis absolutas, quanto a variável de transporte quem possui meios de

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transporte é portador de melhores condições de mobilidade, fator importante quando trata-se de uma comunidade isolada.

Para o indicador de capital social os valores foram atribuídos através do mesmo critério do indicador anterior, ou seja, as variáveis que apresentavam maior possibilidade de exposição ao risco ou perigo apresenta valores maiores, sendo os jovens e solteiros mais susceptíveis a se arriscarem, serem vítimas da violência, no caso dos solteiros estarem menos propensos a estabilidade do que os indivíduos casados, por esse motivo apresentam menor valor. Para a variável de moradia, a propriedade da casa é um fator importante, os que possuem casa própria tendem a permanecer fixos no lugar, os indivíduos que possuem a propriedade da casa por herança estão expostos a possíveis disputas judiciais pela propriedade e os que possuem casa alugada não tem garantias de permanência a longo prazo.

O indicador de trabalho, renda e produção apresentam as variáveis referentes a essa questão, onde os maiores valores são atribuídos aqueles que apresentam maior risco e diminuição de estabilidade. O Quadro 6 representa uma legenda para os valores apresentados na tabulação.

Quadro 5 – Quadro de variáveis

VARIÁVEIS DE INFRAESTRUTURA URBANA

Indicador Valor atribuído ao indicador

Energia Elétrica Sim = 0,0

Não = 1

Coleta de lixo Sim = 0,0

Não = 1

Tipo de transporte utilizado

Nenhum transporte = 0,75 1 meio de transporte = 0,50 Mais de 1 meio de transporte = 0,10 VARIÁVEIS DE CAPITAL SOCIAL

Distribuição por sexo dos moradores Homem = 0,10 Mulher = 0,10 Idade da População Menos de 16 anos = 1 De 16 a 18 = 0,75 De 19 a 25 = 0,50 De 26 a 35 = 0,25 De 36 a 45 = 0,25

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De 46 a 55 anos = 0,50 De 56 a 65 = 0,75 Mais de 65 anos = 1 Escolaridade Sem Escolaridade= 1 Fundamental incompleto= 0,75 Fundamental Completo= 0,50 Ensino Médio Incompleto= 0,50

Ensino Médio completo= 0,25 Ensino Superior (Completo ou Incompleto)=

0,10

Estado Civil Casado= 0,10

Solteiro= 0,25

Relação com a Terra

Própria= 0,10 Assentamento= 0,25

Morador= 0,50 Terra cedida= 0,75

Condição da moradia Própria= 0,10

Herança= 0,50 Alugada= 0,50 Outro= 0,50

Acesso à Internet Sim=0,10

Não= 0,25

Acesso a Serviços de Saúde Sim=0,10

Não=1

Acesso a Serviços de Educação Sim=0,10

Não=1

Possui Celular Sim=0,10

Não= 0,25 Associado à Cooperativa ou Associação Sim= 0,10 Não= 0,50 VARIÁVEIS DE TRABALHO, RENDA E PRODUÇÃO

Profissão Agricultor = 0,25 Estudante = 0,15 Pedreiro =0,25 Autônomo = 0,25 servidor público = 0,10

(37)

comerciário = 0,25 profissional liberal= 0,25 professor= 0,15 diarista =0,25 do lar = 0,25 outro= 0,20

Indivíduo empregado Sim= 0,10

Não= 0,50

Possui Fonte de renda Fixa Sim= 0,10

Não= 0,75 Possui Aposentadoria (indivíduos maiores de 45

anos) Sim=0,10 Não= 0,50 Trabalho principal Agropecuária= 0,50 Serviço doméstico = 0,50 Serviço público= 0 Autônomo/comerciante = 0,50 Pedreiro/ servente = 0,50

Possui Trabalho acessório Sim = 0,25

Não = 0,50

Possui algum tipo de produção?* Sim = 0,10

Não = 0,25

Qual o tipo de produção?

Somente produção vegetal = 0,65 Somente produção animal = 0,65 Produção animal e vegetal = 0,40

Entre os que não produzem qual o motivo para tal?

Fatores naturais = 0,75 Fatores Econômicos= 0,75

Fatores pessoais=0,50

Possui assistência Técnica?** Sim=0,15

Não=0,70 Existe algum tipo de incentivo à produção?** Sim= 0,00 Não= 0,50

Qual incentivo?

Cursos profissionalizantes=0,0 Auxílios Financeiros=0,0

Políticas públicas =0,0 Fonte: Elaboração própria.

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**Somente para aqueles que possuem algum tipo de produção.

Quadro 6 – Quadro legenda para as variáveis

VARIÁVEIS DE INFRAESTRUTURA URBANA

Indicador Valor atribuído ao indicador

Tipo de transporte utilizado

1= automóvel 2= moto 3= ônibus 4= bicicleta 5=não possui

VARIÁVEIS DE CAPITAL SOCIAL

Distribuição por sexo dos moradores 1= Masculino 2= Feminino Idade da População 1 = Menos de 16 anos 2 = De 16 a 18 3 = De 19 a 25 4 = De 26 a 35 5 = De 36 a 45 6 = De 46 a 55 anos 7 = De 56 a 65 8 = Mais de 65 anos Escolaridade 1= Sem Escolaridade 2= Fundamental Incompleto 3= Fundamental Completo 4= Ensino Médio Incompleto 5= Ensino Médio completo

6=Ensino Superior (Completo ou Incompleto)

Estado Civil

1 =Casado 2= União estável 3= Solteiro 4= divorciado

Relação com a Terra

1= Própria compra 2= própria herança 3= arrendamento 4= posse

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6= Morador 7= terra cedida 8= propriedade familiar 9= propriedade pública 10= empregado rural Condição da moradia 1= Própria comprada 2= Própria 3=Própria herança 4= Alugada 5= Outro. Qual?

VARIÁVEIS DE TRABALHO, RENDA E PRODUÇÃO

Profissão 1= Agricultor 2= Estudante 3= Pedreiro 4= autônomo 5= servidor público 6= comerciário 7= profissional liberal 8= professor 9= diarista 10= do lar 11= outro Trabalho principal 1=Agropecuária 2=diarista 3= Serviço público 4= empregado doméstico 5= Autônomo/comerciante 6= comerciante 7=Pedreiro/ servente 8= estudante 9= trabalhador liberal 10= trabalho doméstico 11= motorista 12= vendedor 13= outro Fonte: Elaboração própria.

(40)

Definidas as variáveis, foi montado o formulário para a aplicação na comunidade (Apêndice A), gerando 30 (trinta) questões para a obtenção dos indicadores.

Após a aplicação dos questionários às 28 famílias, com o uso de ferramenta computacional (software Excel), foi realizada a tabulação dos dados primários coletados, conforme mostra a figura (Figura 3).

Figura 3 – Tabulação dos dados levantados com a aplicação de questionário

Fonte: Elaboração própria.

Esses procedimentos possibilitaram com que a análise da pesquisa fosse posta em prática, visto que, a partir da tabulação dos dados, pode-se observar as informações coincidentes e divergentes, através da vista do panorama dos dados obtidos com as entrevistas. Desta maneira, essa sessão da pesquisa é vital para seu desenvolvimento.

Referências

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