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2.3 RETRATO DA SITUAÇÃO DOS ESTADOS BRASILEIROS

2.3.1 Crise Econômico-Financeira dos Estados Brasileiros

Discussões acadêmicas em torno da atual crise econômica vivenciada no Brasil vêm sendo realizadas com algumas dificuldades, uma vez que esta tem relação com as complexas ações do governo, onde os representantes da administração pública deveriam gerir os recursos públicos de tal forma que evitassem o país a alcançar problemas que envolvessem fragilidades nas finanças públicas, fato que induz a nação ao enfraquecimento das instituições no sentido da prestação de serviços (MATIAS-PEREIRA, 2017), portanto, avalia-se esse momento econômico como algo que decorreu da má gestão dos recursos públicos.

Em estudo realizado por Matias-Pereira (2017), o autor destaca que o fenômeno que o Brasil vem atravessando se refere a uma crise econômica-política-ética, onde o interesse público que assegura o equilíbrio orçamentário foi desconsiderado pelo sistema de uma gestão deficitária. Observa-se que princípios normativos que asseguram o cumprimento legal foram descumpridos e que a corrupção trouxe impactos na economia, política e gestão pública, intensificando as debilidades financeiras do país e trazendo reformas estruturais à nação. Essa má gestão, decorreu, inclusive da falta de transparência e burocracia, fatores agravados por desperdícios.

Situação como essa, faz refletir outros momentos em que o Brasil vivenciou crises econômico-financeiras. Assim, tem-se o período conhecido como a “Grande Depressão”, ocorrida em 1929, onde o país sofreu com a queda do preço do café, principal produto alvo de exportação, além de, ocorrer a desvalorização da moeda do país. Contou-se também com a aprovação da nova Constituição, epsódio que trouxe um novo sistema fiscal que induziu dificuldades financeiras as quais foram combatidas por meio de aumento da receita tributária, introduzindo impostos ineficientes (BORDOY; JONUNGZ; MARKIEWICZ, 2013).

Essa discussão traz a oportunidade de analisar a questão da dívida pública brasileira, mas antes disso, é viável compreender como a emissão de dívida ocorre no setor público. Quando um governador opta por obter empréstimos a fim de continuidade de suas operações, “corre o risco de ser julgado como um administrador inoperante e de deixar o terreno livre de problemas para que um sucessor do partido oposicionista colha os frutos de sua austeridade” (GIAMBIAGI; ALÉM, 2000, p. 210).

Tal posicionamento implica afirmar que, uma vez o gestor público emitindo dívidas durante o seu mandato, irá atender as demandas daquele período mas deixará os encargos para

serem resolvidos pelo próximo representante que assumir sua posição, ou seja, entregará o cargo com problemas que deveriam ser solucionados pelo mesmo. Por conta disso, no momento de se emitir as dívidas, leva-se em consieração o tempo em que determinado político levará naquele cargo. Fora isso, existem três restrições que instruem e delimitam o déficit e o nível de endividamento no setor público: mercado, risco de inflação e conjunto de instituições (GIAMBIAGI; ALÉM, 2000).

Dentre os marcos históricos de endividamento no Brasil, tem-se os anos de 1980 e 2000, período este em que o país passou por três grandes crises de dívida a nível estadual, nos quais os mesmos problemas foram vistos. Os entes federativos que apresentaram dificuldades com alto grau de despesas com pessoal e pagamento de juros foram direcionados a crises de débito por choques exógenos, ou seja, de eventualidades externas. Para controlar o orçamento desses entes, a Constrituição de 1988 delimitou a capacidade de obtenção de empréstimos cuja fiscalização foi atribuída ao Senado (BORDOY; JONUNGZ; MARKIEWICZ, 2013).

Nesse cenário, Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul foram considerados aqueles que mais se exporam ao risco de inadimplência, colocando o país em ameaça macroeconômica, fato que fez com que a União direcionasse socorro a fim de reestrurar as finanças dos referidos entes. Como Minas Gerais e São Paulo tinham consciência de que a União não os deixariam numa condição debilitada como essa, o governo federal assumiu as dívidas desses Estados, fato que implicou no aumento da dívida na esfera federal (BORDOY; JONUNGZ; MARKIEWICZ, 2013).

Analisando os problemas que são derivados do aumento exaberbado de dívidas públicas, tem-se que acontece de forma encadeada, pois, se Estados emitem dívidas e vão as mantendo por um longo período, existem grandes chances de chegar ao momento em que não terão mais condições de arcá-las com seus próprios recursos, evento que fará com que seus representantes solicitem ajuda à União. Por suas vez, a União pode assumir essas dívidas dentro de restrições, porém, essa medida pode trazer danos ainda maiores: imapactar na economia não apenas de alguns Estados, e sim, do país. Diante deste exposto, é possível identificar novamente essa situação no cenário atual do Brasil onde Estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, decretaram situação de emergência em 2016.

Além desses três entes, boa parte dos Estados vem apresentando situação de risco financeiro, fato que pode ser observado na Figura 6, a qual se refere ao resultado primário alcançado no primeiro semestre de 2016. O resultado primário trata-se do principal indicador de sustentabilidade financeira em um Estado, e é calculado por meio da confrontação entre

receitas e despesas, desconsiderando os juros das dívidas, e, desse levantamento, foi realizada uma comparação do resultado obtido em 2016 com o ano anterior, constatando que apenas sete Estados mostram superávit (KARINA TREVIZAN, 2016).

Figura 6 - Resultado primário dos Estados no primeiro semestre de 2016

Fonte: Karina Trevizan, 2016.

Sendo assim, o próximo módulo irá destrinchar quais foram os motivos declarados pelos Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais para que o documento oficial solicitando apoio para reestruturação financeira, fosse aceito pela União.