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“O analfabetismo nem é uma chaga, nem uma erva daninha a ser erradicada, nem tampouco uma enfermidade, mas uma das expressões concretas de uma realidade injusta”.

Paulo Freire

Neste item, buscamos a partir das observações das leis e constituições, de frases proferidas em determinados períodos da história e sintagmas referentes à educação de adultos, discorrer sobre a noção de fórmulas discursivas, entendendo por “fórmula” a visão de Krieg-Planque (2010) que a designa como “um conjunto de formulações que, pelo fato de serem empregadas em um momento e em um espaço público dado, cristalizam questões políticas e sociais que essas expressões contribuem, ao mesmo tempo, para construir” (KRIEG-PLANQUE, 2010, p. 9).

Para essa análise, recorremos ao referencial teórico da Análise do Discurso de Linha Francesa (doravante AD) e ao conceito mencionado de Krieg-Planque (2010, 2011) que discute a questão da fórmula discursiva, suas características e especificidades. A pesquisadora francesa analisou a fórmula “purificação étnica”, termo posto em circulação durante os anos 90, em diversos jornais franceses cuja temática eram os conflitos étnicos na antiga Iugoslávia. Seu trabalho estudava os momentos em que as palavras “purificação”, “limpeza”, “depuração” e “étnica” entraram em conjunção para formar os sintagmas neológicos “purificação étnica”, “limpeza étnica” e “depuração étnica”. Desejava, igualmente, observar como, no prisma dessas formulações, a guerra da ex-Iugoslávia havia sido interpretada nas mídias francesas e internacionais, apreendendo em que medida a fórmula “purificação étnica” tinha podido funcionar como interpretante para alguns comentadores das guerras iugoslavas (KRIEG-PLANQUE, 2010).

A autora propõe o entendimento da noção de fórmula como um recurso fecundo para a análise dos discursos, mas alerta também que é preciso observar que o termo chega ao discurso científico de maneira inevitável com as configurações que adquire em outros contextos, como certifica:

O termo “fórmula” traz acepções que ele tem no domínio da religião e do sagrado: a “fórmula” (mágica, sacramental, encantatória, cabalística...) é um enunciado cristalizado (a ser recitado na ordem exata) e eficaz (enquanto performativa, ela age). O termo “fórmula” chega com sua

acepção jurídica: a “fórmula” é um modelo de enunciado cuja validade só pode ser garantida pelo respeito formal (a repetição textual das sequências). O termo “fórmula” também chega com uma acepção matemática: a “fórmula” é uma expressão concisa e simbólica (portanto, a ser decodificada) de regras a seguir para atingir uma verdade matemática. O termo “fórmula” tem também uma acepção jornalística, algo pejorativa: um enunciado conciso, supostamente gerador de efeitos, frequentemente pronunciado com fins provocativos ou polêmicos, talvez demagógicos, e fácil de ser memorizado, portanto reproduzido, citado. O termo “fórmula” traz enfim uma multiplicidade de acepções circunscritas: a fórmula é um enunciado bem talhado e apto a chamar a atenção, ela pode ser um adágio, um provérbio, um ditado, uma sentença, ela pode ser uma possibilidade, o elemento de uma alternativa (a fórmula federalista, a fórmula centralizadora); a fórmula pode ser ainda uma forma, uma apresentação, talvez um modo de enunciação (a nova fórmula de uma revista)... (KRIEG- PLANQUE, 2010, pp. 109-110)

A noção de fórmula, aqui exposta, recorreu aos estudos feitos pela autora supracitada em seu livro Purification ethnique: une formule et son histoire, no qual expõe seus métodos e posições teóricas. A autora a situa por meio de discursos políticos, lançando mão de sua circulação no discurso, investigando a razão de algumas palavras e expressões surgirem e se estabelecerem no discurso público, a ponto de se tornarem onipresentes, incontornáveis, como dito pela própria autora “verdadeiras fórmulas” (2010, 2011).

Krieg-Planque (2010) considera determinadas palavras ou frases como variantes de uma mesma fórmula, cujo estudo se torna útil para compreender o modo pelo qual os debates que as envolvem se desenvolveram ao longo da história. A noção deriva principalmente da análise do discurso e implica certo posicionamento em relação aos termos utilizados em diferentes ramificações da ciência da linguagem. Ao retomar as considerações epistemológicas que a conduziram à definição de fórmulas, a autora menciona:

Em um momento do debate público, uma sequência verbal, formalmente demarcável e relativamente estável do ponto de vista da descrição linguística que se pode fazer dela, põe-se a funcionar nos discursos produzidos no espaço público como uma sequência tão partilhada quanto problemática. Empregada em usos públicos que a investem de questões sociopolíticas por vezes contraditórias, essa sequência conhece, então, um regime discursivo que faz dela uma fórmula: um objeto descritível nas categorias da língua e cujo destino – ao mesmo tempo invasivo e continuamente questionado – no interior dos discursos é determinado pelas práticas linguageiras e pelo estado das relações de opinião e de poder em um momento dado no seio do espaço público (KRIEG-PLANQUE, 2011, p. 12).

É assim que a noção de fórmula se revela como um recurso para a análise dos vários discursos: políticos, midiáticos, institucionais etc., e pode ser empregada para fazer referência a uma palavra, um enunciado ou uma sequência verbal que possui caráter cristalizado. Funciona também como referente social, cujas significações são formulações socialmente marcadas e que, por esta mesma razão, possuem caráter polêmico. Ao discorrer sobre a noção de fórmula, Krieg-Planque menciona como sendo suas quatro propriedades: apresentar forma cristalizada; inserir-se em atividade discursiva; ser um referente social e; por último, possuir caráter polêmico (2010 p. 61).

A primeira propriedade refere-se a seu caráter cristalizador, manifestado pela relativa estabilidade de um significante. Essa característica traz à fórmula certa concisão, implica ser de fácil reconhecimento e funcionar como lugar-comum de debate. Pode cristalizar-se em um só morfema lexical (crise, liberdade), pode materializar-se em sequências com as seguintes estruturas: nomes compostos (sem-teto), sintagmas do tipo N + preposição + (artigo) + N (teologia da libertação), pode ainda solidificar-se em sintagmas nominais com adjetivos denominais (fratura social) e nominalizações (mundialização). Tal fato permite colocar em relação diferentes “termos” e admitir significações e correspondências novas, aceitas ou rejeitadas pelos interlocutores (SOUZA-E-SILVA, 2011, p. 99-100).

Krieg-Planque destaca o fato de que

por seu caráter cristalizado, a fórmula se torna identificável, reconhecível e, consequentemente pode funcionar como índice de reconhecimento que permite “estigmatizar” – positiva ou negativamente – seus usuários (o que não impede que certos locutores sejam vítimas ou beneficiários de um equívoco sempre possível na identificação da sequência) (2010, p. 74).

Essas cristalizações podem ser de ordem estrutural (ou formal) e/ou de ordem memorial. A primeira faz uma referência a um julgamento sistemático das “expressões cristalizadas nos termos da língua e da categoria da gramática” e a segunda remete ao conjunto “de enunciados ou fragmentos de enunciados que circulam em bloco num dado momento e que são percebidos como formando um todo cuja origem é, ou não é, recuperável” (KRIEG-PLANQUE, 2010, p. 64). A autora adverte que essa distinção é adequada desde que se leve em conta o fato de que existe um continuum entre as duas – estrutural e memorial – e que este esteja relacionado ao engendramento mútuo da língua e do discurso.

A identificação da fórmula ocorre com uma materialidade linguística particular, no entanto, a atitude que preside sua análise não deve ser de formalismo absoluto. A fórmula existe através de múltiplas paráfrases de que ela é a cristalização, entretanto, é preciso assinalar que ela não existe fora de uma sequência cristalizada bem identificável que a condensa. Krieg-Planque (2010), ao articular que a fórmula tem como suporte uma sequência verbal particular e que esta se cristaliza em uma forma de língua bem identificada, atenta para o fato de que se leve em conta essa forma, pois, se a fórmula está ligada aos usos, se ela tem um caráter discursivo, evidentemente “esse discursivo se opera na língua, com ela, por meio dela, graças a ela ou apesar dela” (2010, p.75).

Como visto, a fórmula tem como suporte uma materialidade linguística relativamente estável, localizável na cadeia do enunciado e linguisticamente descritível, no entanto, sua natureza é discursiva. Ou seja, ela não existe sem os usos que a constituem uma fórmula. Ainda que algumas estruturas tenham uma tendência particular a tornarem-se fórmulas, a autora afirma que não são “pré-programadas para assumir esse destino”, assim como nenhuma sequência está excluída da possiblidade de chegar à condição de fórmula (KRIEG- PLANQUE, 2010, p. 81).

O acesso da sequência ao status de fórmula coincide com suas primeiras aparições materiais. Na maior parte, a sequência preexiste formalmente a sua chegada à condição de fórmula. Razão pela qual se deve buscar um uso particular, ou uma série de usos particulares, por meio dos quais a sequência assume um movimento, torna-se um jogo de posições. É retomada, comentada, para de funcionar no modo “normal” das sequências que nomeiam pacificamente e passam a ser empregadas sem que sejam percebidas como tal (KRIEG-PLANQUE, 2010).

As fórmulas, devido a seu caráter discursivo, só podem ser consideradas se sustentadas em um corpus saturado de enunciados. Krieg-Planque (2010) esclarece que um corpus é considerado saturado quando seu enriquecimento por novos enunciados não traz mais dados novos do ponto de vista da problemática adotada, ou seja, dados suscetíveis de modificar os resultados de maneira substancial. Portanto, as sequências assinaladas como fórmulas só são assim consideradas sob o rigor de uma análise bastante metódica – mesmo que para cada uma delas tenha à disposição informações e enunciados atestados relativamente numerosos (KRIEG-PLANQUE, 2010).

De acordo com Krieg-Planque (2010), a distinção ao código da fórmula é feita conforme o analista seja ou não contemporâneo à emergência da suposta fórmula. Assim, seu caráter discursivo é o que resulta na sequência, de certa utilização, seja ela concomitante ou posterior ao aparecimento dessa sequência na língua. Essa utilização pode ser modificada de uma fórmula a outra. Ele deve, no entanto, acumular duas propriedades constitutivas: caráter de referente social e caráter polêmico, duas propriedades que se apreendem como interdependentes.

A noção de fórmula como um referente social, sua terceira propriedade, adveio inicialmente do trabalho de Fiala e Ebel (1972 apud KRIEG-PLANQUE, 2010) pesquisadores também franceses, sendo mais tarde acolhida por Krieg-Planque. O caráter de referente social demonstra seu aspecto dominante, em um dado momento e espaço sociopolítico. É um signo que evoca alguma coisa para todos em um dado momento, sendo necessário, portanto, que esse signo seja conhecido por todos. Esse fato implica que o signo seja atestado em tipos variados de enunciados, tanto orais quanto escritos, especializados e leigos (KRIEG-PLANQUE, 2010, 2011). Dessa maneira, certas palavras e expressões dos vocabulários especializados só são fórmulas, corrobora a autora, se saem do seu domínio para invadir o corpo social. É preciso que os lugares de manifestação da fórmula se diversifiquem. Se a fórmula é originária de uma formação discursiva, deve sair dela. Ela é posta no universo discursivo para entrar em conflito com o sentido que ela tem alhures ou com outros termos. Pode-se atestar o caráter manifesto do termo “supletivo” como referente social no número de panfletos, faixas nas escolas, sites, outdoors etc., bem como o de suas paráfrases “educação de adultos”, “ensino supletivo”, “EJA” nos vários segmentos educacionais usados tanto por alunos, pais, professores e demais envolvidos neste processo. Os diferentes sentidos construídos a partir da mesma fórmula são exemplos da dificuldade que encontram aqueles que tentam refletir sobre o processo da “educação de jovens e adultos” nos dias atuais. Com relação à escola abordada nesta tese, nem mesmo na sigla “CES” há consenso: em alguns textos a segunda letra é interpretada como “estudos” e em outros como “ensino”.

Maingueneau (1997) acrescenta que em um dado momento todos se situam em relação a essas fórmulas, fazendo-as circular de uma maneira ou de outra, impondo sua própria interpretação. O fato de ser um denominador comum dos discursos, de ser uma

passagem obrigatória, é inerente a seu caráter constitutivo como referente social. Essa obrigação de tomar uma posição pode ser observada em diferentes manifestações discursivas: o questionamento sobre a fórmula por meio de uma demanda para que se tome posição sobre ela. Há ainda manifestações discursivas sugerindo que, num dado momento, a fórmula se impôs com uma função de enquadramento do debate.

Abordamos, enfim, a quarta propriedade constitutiva da fórmula: ser polêmica. Ela é portadora de questões sociopolíticas. Entende-se com isso que ela põe em jogo a existência de modos de vida, recursos materiais, natureza e decisões do regime político do qual os indivíduos dependem, seus direitos, seus deveres, as relações de igualdade ou de desigualdade entre cidadãos, a ideia que as pessoas fazem da nação de que se sentem membros. Todos esses fatores a tornam objeto de polêmicas. As fórmulas permanecem e atuam sempre, por isso, constituem um referente social em um espaço público dado e se tornam objetos de debates. É nesse sentido que elas fazem parte da história (KRIEG- PLANQUE, 2010, 2011).

As questões formulaicas, segundo Krieg-Planque (2010), são de natureza variada, assim como são modificáveis as maneiras de tomar parte no debate. É dessa forma que a fórmula pode ser monopolizada por uma concepção discursiva adversária, por uma reinvindicação de paternidade ou pode ainda ser rejeitada. Todos os procedimentos discursivos e metadiscursivos são capazes de contribuir para que a fórmula sirva ao fim político que cada qual se impõe: neologismo de sentido, neologismo de forma, reivindicação, repúdio, retorção, reformulação e outros.

A polêmica pode se efetuar ao modo da imposição de proferimento e ao da recusa de enunciar, pode recair sobre a questão da (in)adequação da fórmula à coisa que ela designa, ou até mesmo recair sobre o reconhecimento social da fórmula. A questão, nesse caso, consiste em atribuir ao ambiente público o uso de uma palavra, geralmente em detrimento de uma palavra concorrente. Como a fórmula comumente agrupa uma pluralidade de questões e há diversas maneiras de tomar parte no debate, a autora assevera que uma fórmula raramente participa de um único processo discursivo e, por isso mesmo, quase sempre compartilha polêmicas variadas (KRIEG-PLANQUE, 2010, 2011).

O caráter polêmico da fórmula é parcialmente orientado pela morfossintaxe e pelos componentes lexicais da sequência, mas determinado, sobretudo, pelos usos que são feitos

dessa sequência: não é porque ela é um adjetivo ou uma nominalização de ação que a consideramos polêmica; mas porque ela é admitida nas “práticas linguageiras” (KRIEG- PLANQUE, 2011, p. 17). Manifesta-se, além disso, nos deslizes dos enunciadores, revelando algumas das questões que a fórmula encobre e emergem na superfície dos enunciados, por menos que se disponha a coletá-los e analisá-los. A autora recomenda, então, que um dos meios de estudar uma fórmula consiste em ponderar suas diversas atribulações no decorrer das sequências, considerando as diversas intervenções metadiscursivas que incidem sobre ela (KRIEG-PLANQUE, 2010, 2011).

Encontramos o caráter polêmico da fórmula na própria concepção compensatória da educação de jovens e adultos que suscitou o ensino supletivo, visto como instrumento de reposição de estudos não concretizados na infância ou adolescência. Ao focalizar a escolaridade não realizada ou interrompida, o paradigma compensatório acabou por enclausurar esta modalidade de ensino nas referências curriculares, metodológicas, de tempo e espaço da escola regular, confrontando obstáculos à organização necessária ao atendimento das especificidades desse segmento escolar. Por outro lado, ao serem compreendidos como “incapazes” de adquirir tais conteúdos, busca-se facilitar ao máximo a aquisição do diploma escolar.

A partir das considerações feitas, passamos a identificar, no histórico da educação de jovens e adultos, os vários discursos em que os sintagmas “educação de adultos”, “ensino supletivo”, “cursos supletivos”, “educação de adolescentes e adultos”, registrado em diferentes documentos, entraram em conjunção e se cristalizaram no morfema lexical “Supletivo”. A pesquisa, neste momento, versa em examinar como se formaram tais sintagmas neológicos. Deseja-se, igualmente, observar como a educação de adultos foi interpretada a partir das legislações e demais documentos referentes a essa modalidade de ensino, apreendendo em que medida essas fórmulas foram sendo cristalizadas dentro deste contexto educacional.

A começar pela época da colonização já aparecem designações para essa modalidade de ensino então conhecida como “educação de adultos” e, em seguida, no Brasil Império, como “Ensino Noturno para Adultos” e/ou “educação ou instrução popular”, no qual o ensino era visto como mera “instrução”. A primeira Constituição brasileira ao tratar da "inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros", estabelece que "a

instrução primária é gratuita a todos os cidadãos" (Artigo 179, § 32) e em outro artigo faz referência aos "colégios e universidades, onde serão ensinados os elementos das ciências, belas letras e artes" (Artigo 179, § 33). A presença desses dois únicos dispositivos na Constituição de 1824 é um identificador da pouca preocupação suscitada pela matéria educativa naquele momento histórico.

Deve-se ressaltar, entretanto, a referência à ideia de gratuidade da instrução primária para todos. Muito embora, como já dito no capítulo A estrada: os desafios da EJA no Brasil, quando se menciona “todos os cidadãos”, cabe-nos pensar a quem se está aludindo, uma vez que na época, os escravos, os indígenas, as mulheres, os não- proprietários e os pobres não eram considerados cidadãos. Os chamados “cidadãos” eram os grandes proprietários de terra e comerciantes, que elegiam os deputados. Assim, como podemos perceber que, embora apareçam indícios da educação de adultos, esta era realizada de forma bem incipiente. O sintagma “educação de adultos” apresenta sentido amplo, uma vez que não se mencionava a quem, na verdade, se fazia referência.

Desse modo, no Império, o texto constitucional encontra-se distante da questão educacional, pois, mesmo que se tenha inscrito em sua legislação a gratuidade da educação a todos os cidadãos, ela não existia de fato. Torna-se clara, assim, a pouca relevância atribuída ao tema pelos constituintes (BRASIL, 1824). Embora a “fórmula discursiva” comece a despontar como uma de suas paráfrases para a atual “educação de jovens e adultos”, é preciso ressaltar que o termo inicialmente apresenta-se como bastante incerto, uma vez que, na época, não havia um sistema educacional onde se pudesse definir com clareza a existência de uma educação para adultos.

Em 1890, com a Reforma Benjamin Constant, passa a utilizar-se o sintagma “exame madureza” quando se faz menção aos adultos que desejassem terminar o Ensino Médio e ingressar no Ensino Superior. Dentro dessa mesma reforma, aparece o sintagma “maturidade científica” como condição sine qua non para os candidatos que almejassem realizar o exame em questão.

Na segunda Constituição do Brasil o voto era direto e não havia mais necessidade de determinada renda econômica para votar ou ser votado, mas eram considerados eleitores somente os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos, exceto analfabetos, mendigos, praças militares e mulheres (FAUSTO, 2002). Observa-se que sem mudanças significativas,

apontam-se os sujeitos que fazem parte da educação de jovens e adultos. Essas pessoas não eram consideradas a partir das legislações de forma cidadã, uma vez que não estavam aptos a fazer escolhas para o seu próprio país, embora não deixassem de ser uma força produtiva. O embate representa uma das polêmicas da fórmula “supletivo” e de suas paráfrases.

É na Constituição de 1934 que aparece pela primeira vez a menção a “exercer ação supletiva, onde se faça necessária, por deficiência de iniciativa ou de recursos e estimular a obra educativa em todo o País, por meio de estudos, inquéritos, demonstrações e subvenções”. A denominação “supletivo” tem origem do latim “suppletivu” e significa aquele “que supre” ou “se destina a suprir”. Assim, embora não se mencionem diretamente os adultos que não foram escolarizados, já se faz presente uma necessidade de suprir a deficiência educativa no país.

Na Constituição de 1937, tem-se “ensino pré-vocacional destinado às classes menos favorecidas”, como única menção à educação fora da esfera do ensino regular. Nesse momento, não podemos dizer com elementos concretos que haja referência somente à educação de adultos. No entanto, no mesmo ano, já encontramos a denominação “ensino supletivo para adolescentes e adultos” quando se delibera a criação do INEP.

Com a Constituição de 1946 volta-se a falar em “educação gratuita para todos” e destaca-se o termo “supletivo” referindo-se ao caráter do sistema federal de ensino. Em 1949, ocorreu a I Conferência Internacional sobre “Educação de Adultos”, na Dinamarca. Em

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