• Nenhum resultado encontrado

4.3 O CEJA e o olhar do corpo discente

4.3.3 Sobre o professor

Neste item, cabe-nos discorrer sobre o corpo discente e sua visão a respeito do professor dos centros escolares. Destacamos os seguintes fragmentos:

Os professores em si, que eu conheci assim alguns que eu tive contato assim direto, mas... são atenciosos, pelo menos eu não tenho o que reclamar, cheguei ali, fui bem recebida, então não tenho o que reclamar.(Joana, p. 219, l.95-96)

Ah eu acho o professor bem atencioso e ele não tá aqui pra te atrasar ele vai tipo... te ajudar mesmo porque é... tirou 5,5, ele vai te dar uma outra chance né ele vai chegar pra tu e falar não ó faz esse serviço direito, ele vai te dar um segunda chance, isso que eu acho muito maneiro no CES, sacou? Aí dá pra pessoa se formar , né? Tem muita gente pô que não tem condição de fazer um pré-vestibular, de fazer um intensivo, abre as portas, né, cara? (Gabriel, p. 222, l.90-94)

Ambos destacam a boa receptividade dos professores. Gabriel enfatiza mais uma vez a oportunidade para determinados alunos que não teriam como pagar um pré-vestibular ou um cursinho. Esta fala nos remete ao capítulo sobre fórmulas discursivas, no qual se percebe que o termo supletivo faz acepção a uma série de requisições escolares, que normalmente não lhe caberia. Assim, sob esse olhar, o supletivo é aquele que dá a oportunidade para que o aluno termine o Ensino Médio, faça um pré-vestibular, possa passar em um concurso etc., ou seja, deve ser capaz de solucionar todos os problemas do corpo discente.

Ainda no que tange a este relacionamento, destacam-se:

Acho isso muito importante, os alunos e o professor ter contato direto, né? Mas... futuramente é aquilo que eu já falei, eu ainda não tive um contato direto, tive um contato fui lá pedi, fiz a prova, ela foi lá, me atendeu, com muita atenção. Então eu não tenho assim um contato direto, mas futuramente ... espero que sim.(Joana, p. 220, l. 100-103)

Ah... os professores são demais, eu, pelo menos, não tive dificuldade de relacionamento com nenhum tipo... achei todos muito gente boa...é aquilo né, cara, eu tô aqui pra terminar até pra mim passar mesmo, sacou? Bem ou mal ele quer te ensinar, cara, ele quer te ensinar, aqui é o lugar que tu vai recuperar tuas forças pra tu tipo ter o certificado e procurar o que tu vai fazer na vida... (Gabriel, p.222, l. 96-99)

Muito bom. Eu sinceramente não tenho o que reclamar do atendimento dos professores não, muito menos... inclusive até da.. reclamam muito das instituições estaduais, né? … das escolas estaduais, mas aqui é muito organizado, eu pude reparar que... às vezes, por exemplo, quando dá um embolo assim, às vezes o professor naquela correria acaba se esquecendo de lançar prova e tal, sabe exatamente onde achar a prova que você fez, existe todo um arquivo, é tudo bem organizado.(Anderson, p. 224, l. 110-113)

Eu acho que é um pouco diferente na maneira de ajudar. Os professores daqui, alguns, ajudam bastante os alunos, que eles sabem que supletivo é pra pessoa que não se deu muito bem na escola e quer ajudar mais no supletivo, então o professor daqui ajuda mais, a passar, a entender a matéria. Professor de escola, ainda mais de escola grande, não quer saber e repete a pessoa mesmo, entendeu?

Isso. Professor daqui é mais... Enquanto que na escola particular...

É, às vezes, assim, o XXX tem muito aluno, o professor quer que a pessoa passe, mas se não tiver como, entendeu, reprova e não quer nem saber. Acho que é isso.

E aqui já é um... que eles sabem que aqui é um supletivo pra pessoas, assim, que não gostam muito de estudar, então, as coisas aqui são mais fáceis de lidar. Os professores são mais fáceis de lidar. E, é isso.(Marcela, p. 230, l. 91-101)

Tem assim um distanciamento, né? porque não tem aula então a gente só entra em contato com o professor na hora de fazer a prova ou na hora de tirar dúvida, mas todas as vezes que eu que eu que eu... fui tirar dúvida com algum professor, eles sempre foram muito atenciosos comigo , ... (Vânia, p.233, l. 73-75)

Há divergências de opiniões ou mesmo contradições. A aluna Sônia destaca a importância, porém não havia tido um contato maior com os professores, apenas havia solicitado ao professor a correção da prova. Note-se que a aluna assevera que futuramente espera ter esta proximidade. Porém, atentemos para o fato de que, no caso, a aluna estava fazendo espanhol como disciplina e alegou já ter sido aprovada em quatro provas. Partindo do princípio que são seis provas para a conclusão da disciplina, Sônia já estava na reta final e seu contato com a professora foi unicamente por meio da correção. No caso de Joana, profissional que trabalha em um bar, possui experiências e conhecimentos adquiridos. Assim, memorizar para fazer uma prova não seria tarefa das mais difíceis.

O aluno Gabriel se mostra orgulhoso ao discorrer sobre os professores assegurando que eles “são demais”. Por sua entonação nota-se que o aluno estava visivelmente feliz por haver concluído o Ensino Médio. Observe-se também a repetição como fator de reforço ao que se pensa “bem ou mal ele quer te ensinar, cara, ele quer te ensinar”, Embora possa se ver implícita uma crítica ao professor por meio dos marcadores “bem ou mal”, ou seja, mesmo que haja algum problema, seu objetivo final é que o aluno aprenda para que possa ser aprovado. Outro comentário feito pelo aluno Felipe sobre a organização da escola “inclusive reclamam muito das instituições estaduais, mas aqui é muito organizado”, nos direciona mais uma vez para um sentido inesperado.

Por outro lado, na opinião da aluna Marcela, embora não vá à contramão dos demais discentes, pode-se intuir que ela considera haver certa “facilitação” para este aluno, como ela mesma diz “eles [os professores] sabem que aqui é um supletivo pra pessoas, assim, que

não gostam muito de estudar, então, as coisas aqui são mais fáceis de lidar”. Há implícito em seu discurso um argumento de que como os professores sabem que os alunos não gostam de estudar, tudo é resolvido de maneira mais fácil. Transparece na fala desta aluna o discurso “simplificado” e, de certo modo, a “descredibilidade” em relação a este ensino. Quando Marcela se refere à escola particular, menciona que o professor pode até querer que o aluno seja aprovado, mas se não for possível não há o que fazer. O mesmo, segundo a aluna, parece não ocorrer nos centros de estudos. Este fato de certa maneira dialoga com o discurso sobre o aforismo, uma vez que se revelam nas entrelinhas o não dito.

A aluna Vânia é a única a reconhecer que há um distanciamento, pois o professor somente é procurado na hora de fazer a prova ou caso o aluno tenha alguma dúvida. Vale atentar que no centro de estudos onde Vânia estuda, as provas são feitas na sala do professor, o que corrobora para que professor e aluno se encontrem. Nos demais CES, onde há uma sala específica para as provas, esse contato pode ser mais distanciado.

Estas indagações confirmam parcialmente nossa hipótese de que o professor do CEJA não mantém um vínculo de proximidade com o aluno da escola. Embora os alunos comentem gostar bastante dos professores, percebe-se que o que ocorre são encontros breves para uma rápida explicação quando há necessidade por parte do aluno e para a correção das provas caso o aluno deseje estar presente. Normalmente, esse fato ocorre porque, como vimos, é comum que o aluno faça várias provas por dia. Portanto, ele precisa saber o resultado da prova para que possa fazer a seguinte.

No próximo subitem, abordamos esse sistema de ensino na visão do aprendiz- trabalhador.

Documentos relacionados