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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. Classificação Pressupostos Básicos de Diagnóstico e Sistemas de

3.2. Critério Baseado na Intensidade dos Apoios

No sistema baseado na Intensidade dos Apoios é usado um único código de DM, se o indivíduo satisfazer os critérios estabelecidos; é utilizada uma abordagem multidimensional na descrição das áreas fortes e fracas; é traçado um perfil de apoios necessários a aplicar. Este sistema reflete o facto de muitas pessoas com DM não apresentarem limitações em todas as áreas do comportamento, não necessitando assim de apoio nas áreas não afetadas. Assim, nesta nova classificação, baseada nos apoios, é proposta uma mudança na conceção de prestação de serviços, que devem ser

32 determinados e definidos através de avaliações contínuas e nunca em função de um só diagnóstico de natureza fechada.

Luckasson, cit. in Morato (1996), apresentam-nos um modelo de apoio composto por quatro componentes: recursos, funções, intensidade e resultados esperados. Esta nova classificação de DM assenta nos níveis de intensidade dos apoios. A intensidade dos apoios deve assentar na determinação das áreas fortes e fracas do indivíduo, tendo como base um trabalho de equipa transdisciplinar, onde todos os profissionais analisam os dados e as informações recolhidas. Os níveis de apoio não poderão ser estáticos, implicando, sempre que necessário, uma reavaliação do indivíduo com vista aos necessários reajustamentos.

Em conformidade com Santos & Morato (2002), o diagnóstico da DM implica um funcionamento intelectual cujo QI é inferior ou aproximado a 70-75, ocorrência de limitações em dois ou mais níveis do comportamento adaptativo e a deteção do problema até aos dezoito anos. São utilizados instrumentos distintos para determinar as limitações em cada uma das áreas referidas. No entanto, o diagnóstico é muitas vezes difícil, dada a natureza de muitos fatores emocionais, de certas alterações nervosas superiores, como atrasos de aquisição da linguagem, dislexias, psicoses ou baixo nível sociocultural, que podem estar na base da impossibilidade de um ajustamento social adequado, sem que haja, necessariamente DM. Estes fatores devem ser analisados com o máximo rigor. Quando uma criança, suspeita de DM, é submetida a um processo de avaliação, um único aspeto não pode de maneira nenhuma ser considerado como indicativo da deficiência.

Com base neste sistema de classificação, há a tendência de não enquadrar previamente o indivíduo com DM numa categoria baseada em generalizações de comportamentos esperados para a sua faixa etária. Esta classificação deixa de basear-se

33 nas dificuldades propriamente ditas do indivíduo com DM, mas antes no tipo de apoio que tais necessidades requerem. O nível de desenvolvimento a ser alcançado pelo indivíduo irá depender do grau de comprometimento da DM, da sua história de vida, do apoio familiar e das vivências que lhe forem proporcionadas. Assim, esta nova perspetiva implica que se faça uma avaliação detalhada dos indivíduos e dos apoios que este necessita. Analisando todas as áreas, pode haver necessidades a serem trabalhadas, com vista a um adequado planeamento para uma adequada intervenção.

3.2.1. Intensidade dos Apoios - Comportamento Adaptativo

Na perspetiva de Santos & Morato (2002), por CA entende-se o modo como a pessoa enfrenta as exigências comuns da vida e o grau em que experimenta uma certa independência pessoal compatível com a sua faixa etária, assim como o tipo de abordagem sociocultural do contexto comunitário ao qual pertence. Segundo estes autores, o funcionamento adaptativo de um indivíduo pode ser influenciado por diferentes fatores como a educação, o treino, a motivação, as características de personalidade, as diferentes oportunidades sociais e vocacionais, entre outros. Deste modo, parte-se do pressuposto que os problemas adaptativos podem melhorar com a prestação de medidas de apoio adequadas. Assim, a questão deverá ser colocada, não na classificação em termos de QI, mas numa classificação assente numa tipologia de apoio. Na nova classificação observam-se importantes implicações no sistema de prestação de serviços necessários, por vezes imprescindíveis para estes indivíduos. A terminologia defendida na Teoria Psicométrica para a DM Ligeira, Moderada, Severa e Profunda deixa de ser preponderante, sendo colocada uma ênfase especial na prestação de apoios, no sentido de um melhor acompanhamento e desenvolvimento, que se pretende potenciador do crescimento da pessoa portadora de deficiência. Esses apoios são de

34 caráter fundamental, de forma a fomentar a autonomia e integração do indivíduo portador de DM.

Nos dias de hoje, para avaliar o grau de deficiência, tem-se como referência, para além das medidas de QI, os prejuízos no CA. A definição proposta em 2010, pela AAIDD, vai claramente nesse sentido, ao salientar que a DID é caraterizada por

“limitações significativas ao nível do funcionamento intelectual e do comportamento adaptativo, que se expressam nas capacidades conceptuais, sociais e práticas e que se manifestam antes dos 18 anos de idade.” (Schalock et al., 2010, p. 1).

No entender de Santos (2010), Schalock et al., (2010), Vieira & Pereira (2010), esta nova perspetiva permite que a DID seja diagnosticada segundo 3 critérios: Medição do QI, sendo considerado que existem limitações significativas, quando o QI se encontra significativamente abaixo da média (QI <70/75); Existência de um défice significativo em pelo menos duas áreas do CA; Não deve ser diagnosticada DID num indivíduo com um QI inferior a 70, se não houver limitações significativas no CA. Só se considera a existência de DID, quando as limitações ao nível do QI e do CA surgem antes dos 18 anos de idade.

Santos (2010) refere que a AAIDD classifica os indivíduos com DID, não pelas caraterísticas intrínsecas, mas pelo tipo de apoios que necessitam para ultrapassar as suas dificuldades: - Apoios intermitentes, de necessidade esporádica, uma vez que o sujeito nem sempre necessita dele ou apenas necessita por períodos específicos de transição, podendo ser de alta ou baixa intensidade; - Apoios limitados, que se caraterizam por uma certa consistência em termos de intensidade, especialmente nos períodos críticos; - Apoios extensivos, que se caraterizam pela necessidade de um acompanhamento regular dos sujeitos, em alguns contextos específicos; - Apoios

35 pervasivos, caraterizados pela constância e altas intensidades, de carater permanente, sendo mais intrusivo que os anteriores.

Para Oliveira (2008) o diagnóstico precoce da DID permitirá a descrição das áreas fortes e menos fortes a desenvolver, ao mesmo tempo que permitirá concentrar a atenção na estrutura familiar, na interação da criança com o seu envolvimento, jogando com a dinâmica de todos os fatores ambientais, na relevância dos apoios como as principais ações a desenvolver para a superação das dificuldades adaptativas. “É preciso

considerar a complexidade da deficiência e sua multidimensionalidade, e mais ainda os níveis de apoio necessários para garantir o seu desenvolvimento e atender as suas necessidades. Caso contrário a inclusão pode significar tão-somente a manutenção da exclusão sob novas bases”. (Oliveira, 2008, p.136).

O conceito de funcionamento adaptativo é retomado novamente pela Association,

American Psychiatric (AAP) em 2013, assim no mesmo ano, edita um novo manual: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM), a DSM-V, o Manual de

Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais.

A DSM-V, na área das Perturbações do Neurodesenvolvimento, define a Incapacidade Intelectual - Perturbação do Desenvolvimento Intelectual (PDI) como “A

Incapacidade Intelectual (PDI) é uma perturbação com início durante o período do desenvolvimento que inclui défices de funcionamento intelectual e adaptativo nos domínios conceptual, social e prático”. (AAP, 2013, p.38). Na DSM-V, os níveis de

gravidade, ao nível da PDI, são definidos com base no funcionamento adaptativo e não pelo valor de QI, uma vez que é o funcionamento adaptativo que determina qual o nível de suporte exigido. Também as medições de QI, no extremo inferior do intervalo dos valores de QI, têm menor validade.

36 Na DSM-V, os graus de gravidade que refletem o nível de incapacidade intelectual são classificados da seguinte forma:

- Ligeira; QI entre 50-55 até +/- 70; - Moderada; QI entre 35-40 até 50-55; - Grave; QI entre 20-25 até 35-40; - Profunda; QI abaixo de 20 ou 25;

- Atraso Global do Desenvolvimento. “Este diagnóstico é reservado para

indivíduos com idade inferior a cinco anos, do qual o nível de gravidade clínica não pode ser avaliado com segurança durante a primeira infância” (AAP, 2013, p.47);

- Incapacidade Intelectual não Especificada. “Esta categoria está reservada para

indivíduos com idade superior a cinco anos, quando a avaliação do grau de incapacidade intelectual (Perturbações do Desenvolvimento Intelectual) por meio de procedimentos localmente disponíveis se revelam difícil ou impossível devido a deficiência física ou sensorial como a cegueira ou a surdez pré-linguística; incapacidade locomotora; ou a presença de problemas comportamentais graves, ou perturbação mental concomitante. Esta categoria deve apenas ser usada em circunstâncias excepcionais e requer avaliação após um período de tempo”. (AAP,

2013, p, 47).

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