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3 O ADVENTO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 E AS

3.3 HONORÁRIOS RECURSAIS

3.3.1 Critério de fixação

O parágrafo onze do artigo 85 da atual legislação processual dispõe que “o tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente”. De início, portanto, já se verifica uma importante condição para cabimento dos honorários de sucumbência recursal, conforme explica Luiz Henrique Camargo109.

De acordo com o autor, os honorários recursais não são cabíveis em todos os recursos, dependendo, portanto, do conteúdo da decisão impugnada em grau recursal. Deste modo, somente é possível falar em honorários recursais na hipótese de decisão judicial, seja ela decisão interlocutória ou sentença, em que seja possível a fixação de honorários. Isto porque o Código fala em majoração dos honorários, grife-se, fixados anteriormente.110

O parágrafo onze determina, ainda, que deverá se observar o disposto nos parágrafos segundo a sexto. Com isso, quer-se dizer que o magistrado, ao fixar os honorários, deverá levar em consideração os elementos qualitativos estudados no tópico anterior, quais sejam, o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

Além disso, o juiz não poderá fixar honorários advocatícios em um percentual superior ao permitido para a fase de conhecimento, isto é, 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, o valor do proveito econômico obtido ou o valor atualizado da causa.

Neste diapasão, merecem análise as três situações em que os honorários recursais serão fixados: inadmissão ou improvimento do recurso; provimento total; ou provimento parcial. Na

108 CÂMARA, Alexandre. Honorários de sucumbência recursal. In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC:

Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 597.

109 CAMARGO, Luiz Henrique. Os honorários advocatícios pela sucumbência recursal no CPC/2015. In: Coleção

Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015.

p. 729.

primeira hipótese, não há maiores dúvidas, os honorários deverão ser somados aos estabelecidos na fase de conhecimento111.

Na hipótese de provimento total, dois posicionamentos devem ser destacados. Luiz Henrique Camargo defende que ocorrerá a inversão e majoração dos honorários sucumbenciais fixados em primeiro grau112. Bruno Carrilho Lopes, por outro lado, entende que a decisão da fase de conhecimento será cassada, de modo que deverão ser fixados novos honorários advocatícios113.

O Superior Tribunal de Justiça, com o voto do Ministro Marco Aurélio Bellizze, seguiu a segunda corrente:

Os honorários advocatícios recursais aplicam-se aos casos de não conhecimento e não provimento, já que na hipótese de provimento é devolvido ao julgador o integral redimensionamento da sucumbência. No momento desta nova redistribuição dos ônus sucumbenciais, que comporta inclusive eventual inversão, é salutar que o julgador, por questão de coerência com o sistema processual atualmente em vigor, realize a nova fixação dos honorários advocatícios também levando em consideração o trabalho adicional exercido pelo advogado da parte vitoriosa no grau recursal.114 O posicionamento defendido pela Corte Superior é no sentido de que não serão fixados honorários recursais, mas, sim, novos honorários. Este entendimento se assemelha ao de Bruno Carrilho Lopes, uma vez que, ao defender nova fixação de honorários, está se defendendo, por óbvio, a cassação da condenação feita em primeiro grau.

Este entendimento parece o mais acertado. Entretanto, uma observação deve ser feita. O Tribunal Superior defende que a nova condenação em honorários poderá, ou não, ser de inversão do percentual anteriormente ao fixado. Ocorre que o Código de Processo Civil fala em majoração dos honorários durante a fase recursal, por entender ser necessário remunerar o trabalho adicional exercido pelo patrono da causa.

Deste modo, por uma questão de justiça e de melhor compreensão da legislação processual, o mais correto seria que essa nova condenação necessariamente invertesse e majorasse a condenação anterior.

111 CAMARGO, Luiz Henrique. Os honorários advocatícios pela sucumbência recursal no CPC/2015. In: Coleção

Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015.

p. 732.

112 Ibid, p. 733.

113 LOPES, Bruno. Os honorários recursais no Novo Código de Processo Civil. In: Coleção Grandes Temas do

Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 62.

114 STJ. Embargos de Declaração no Agravo Interno no Recurso Especial: EDcl no AgI no REsp nº 1.573.573

2015/0302387-9. Relator: Ministro Marco Aurélio Bellizze. DJe: 08/05/2017. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201503023879&dt_publicacao=08/05/2017>. Acesso em: 18 out. 2018. p. 32-33.

Por último, em casos de provimento parcial do recurso, Luiz Henrique Camargo defende que o tribunal deverá fixar honorários no percentual mínimo de 10%115 a incidir sobre a nova condenação, sem prejuízo dos valores já fixados durante a fase de conhecimento. O autor exemplifica:

Suponha que o autor formule pedido de condenação do réu ao pagamento de dano material no valor de R$ 100.000,00. Imagine, ainda, que, em 1º grau, a sentença acolha parcialmente a pretensão e condene ao réu a pagar apenas R$ 40.000,00. Figure também que, em 1º grau, a sentença fixe 10% de honorários a favor do advogado do autor e 10% a favor do advogado do réu. Os 10% devidos a favor do advogado do autor em 1º grau incidirão sobre R$ 40.000,00, que é o valor da condenação (art. 85, §2º). Os 10% devidos a favor do advogado do réu incidirão sobre R$ 60.000,00, que foi a parcela do pedido que o autor decaiu, que, no caso, equivale ao proveito econômico obtido (art. 85, §2º). Idealize, ainda, que o autor interponha recurso de apelação para buscar a majoração da indenização pelo dano material de $ 40.000,00 (já fixada em 1º grau) para R$ 100.000,00, que era a pretensão inicial e, nesse passo, que o recurso de apelação seja parcialmente provido para majorar a condenação de R$ 40.000,00 para R$ 70.000,00. Neste caso, pela sucumbência recursal, o tribunal deverá condenar o réu a pagar ao advogado do autor 10% sobre o valor da condenação e, de outro lado, o autor a pagar ao advogado do réu 10% do proveito econômico (que é igual a condenação impedida ou por outras palavras, igual à parte que o autor decaiu de sua pretensão) (art. 85, §2º, c/c §11), a ser mensurada a partir da pretensão inicial. Isso significa que o advogado do autor terá o direito de receber 10% de honorários arbitrados em 1º grau (art. 85, §2º) e mais 10% de honorários pela sucumbência recursal (art. 85, §2º, c/c §11), a incidir sobre a condenação total de R$ 70.000,00. O advogado do réu, por sua vez, terá o direito de receber 10% arbitrados em 1º grau (art. 85, §2º) e mais 10% pelo êxito parcial do recurso (art. 85, §2º, c/c §11), a incidir sobre R$ 30.000,00, que, no final das contas, é a parcela do pedido que o autor decaiu, que, no caso, equivale ao proveito econômico.116

Data vênia, o modelo proposto por Luiz Camargo, além de revelar profunda injustiça, não atende aos critérios fixados pelo Código de Processo Civil de 2015. Deste modo, à semelhança do que se defende para hipótese de procedência total do recurso, no caso de procedência parcial, deverá haver nova condenação em honorários advocatícios, considerando-se o resultado final daquela ação.

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