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Legitimidade extraordinária da parte para pleitear honorários sucumbenciais

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO

PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FERNANDA MARTINS MÔNACO

LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA DA PARTE PARA PLEITEAR

HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

Salvador

2018

(2)

FACULDADE DE DIREITO

PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FERNANDA MARTINS MÔNACO

LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA DA PARTE PARA PLEITEAR

HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

Programa de Graduação em Direito, Faculdade de

Direito, Universidade Federal da Bahia, como

requisito para obtenção do grau de Bacharela em

Direito.

Orientador: Prof. Mestre Eduardo Lima Sodré

Salvador

2018

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LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA DA PARTE PARA PLEITEAR

HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Programa de Graduação em Direito, Faculdade de Direito, Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de Bacharela em Direito.

Aprovado em _________________________________.

BANCA EXAMINADORA

Eduardo Lima Sodré – Orientador _____________________________________________ Mestre em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

Universidade Federal da Bahia

Társis Silva de Cerqueira _____________________________________________________ Mestre em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

Universidade Federal da Bahia

Bruno César de Carvalho Coêlho _______________________________________________ Mestre em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador - UCSAL Centro Universitário Jorge Armado

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sucumbenciais. 83 fls. Monografia (Graduação) – Faculdade de Direito, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018.

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso versa sobre a legitimidade extraordinária da parte para pleitear honorários sucumbenciais na fase de conhecimento, recursal e executiva, bem como sobre as consequências do reconhecimento desta modalidade de legitimidade. O interesse pelo estudo deste tema nasceu da constatação de que a prática forense se consolidou no sentido de permitir que o constituinte defenda os direitos do advogado, no que concerne a fixação, majoração e execução dos honorários de sucumbência, sem que tenha sido feita a devida reflexão acerca de qual é o fundamento processual deste fenômeno. Neste sentido, parte-se da hipótese de que se trata de espécie de legitimação extraordinária, na qual o constituinte atua como substituto processual do advogado (substituído).

PALAVRAS CHAVE: PROCESSO CIVIL. LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. DIREITO AUTÔNOMO DO ADVOGADO.

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pleitear honorários sucumbenciais. 83 fls. Thesis (Graduation) – Law School, Federal University da Bahia, Salvador, 2018.

ABSTRACT

The purpose of the present thesis is to examine the extraordinary legitimacy of the party to demand the attorney’s fees at the knowledge, appeal and enforcement stages, as well as the consequences of the recognition of this category of “legitimidade”. The interest for this scientific study grew due to the fact that the forensic pratice developed in a way to permit the party to defend the rights of it’s lawyer, regarding the determination, increasing and execution of the mentioned fees, without the proper consideration about the procedural base of this phenomenon. It is assumed that it consists in a type of the “legitimidade extraordinária”, in which the party acts as an “substituto processual” of it’s lawyer (who figures as a “substituído”). KEYWORDS: CIVIL PROCEDURE. EXTRAORDINARY LEGITIMACY. ATTORNEY’S FEES. LAWYER’S RIGHT.

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1 INTRODUÇÃO ... 8

2 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ... 10

2.1 A ORIGEM DO TERMO HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ... 10

2.1.1 Breves considerações sobre o surgimento da profissão do advogado ... 10

2.1.2 O termo “honorários” ... 12

2.1.3 A evolução do instituto ... 13

2.2. ESPÉCIES ... 15

2.2.1 Honorários contratuais ... 16

2.2.2 Honorários sucumbenciais ... 17

2.2.3 Honorários arbitrados judicialmente ... 19

2.3 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS... 20

2.3.1. Princípio da sucumbência ... 21

2.3.2. Princípio da causalidade ... 22

2.3.3. Princípio da autonomia ... 24

3 O ADVENTO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 E AS SUAS PRINCIPAIS INOVAÇÕES ACERCA DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS... 25

3.1 NOVO CRITÉRIO DE FIXAÇÃO ... 25

3.1.1 Base de cálculo ... 26

3.1.2 Elementos qualitativos ... 29

3.1.3 Honorários advocatícios nos processos em que a Fazenda Pública for parte ... 31

3.2 HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA COMO DIREITO AUTÔNOMO DO ADVOGADO E A IMPOSSIBILIDADE DE SUA COMPENSAÇÃO NA SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA ... 32

3.2.1 Diferença entre sucumbência parcial e sucumbência recíproca ... 33

3.2.2 Impossibilidade de compensação dos honorários na sucumbência recí- proca ... 33

3.3 HONORÁRIOS RECURSAIS ... 37

3.3.1 Critério de fixação ... 38

3.3.2 Análise do instituto em cada uma das espécies recursais ... 40

(7)

3.3.2.3 Apelação ... 42

3.3.2.4 Agravo interno ... 42

3.3.2.5 Recurso especial, recurso extraordinário e agravo em recurso especial ou re- curso extraordinário ... 42 3.3.2.6 Embargos de divergência ... 43 4 LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA ... 44 4.1 LEGITIMIDADE AD CAUSAM ... 44 4.1.1 Conceito ... 44 4.1.2 Natureza jurídica ... 45 4.1.3 Classificações ... 48

4.2 ASPECTOS DA LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA ... 49

4.2.1 Principais características ... 50

4.2.1.1 Situação excepcional ... 50

4.2.1.2 Legitimado extraordinário é parte e, não, representante ... 50

4.2.1.3 Efeitos da coisa julgada ... 51

4.2.1.4 Poderes processuais ... 52

4.2.2 Distinções necessárias ... 52

4.2.3 A exigência de previsão no ordenamento jurídico ... 54

4.2.3.1 Legislação ... 55

4.2.3.2 Jurisprudência ... 56

4.2.3.3 Doutrina ... 58

4.2.3.4 Costumes ... 59

4.2.3.5 Negócios jurídicos processuais ... 60

5 LEGITIMIDADE PARA PLEITEAR HONORÁRIOS SUCUMBEN- CIAIS ... 62

5.1 FONTE DA LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA DA PARTE PARA PLEI- TEAR DIREITO DO ADVOGADO ... 62

5.2 ANÁLISE DA LEGITIMIDADE EM CADA UMA DAS FASES PROCES- SUAIS ... 63

5.2.1 Fase de conhecimento ... 63

5.2.2 Fase recursal ... 65

5.2.3 Fase executiva ... 69

(8)

5.4 EFEITOS DA COISA JULGADA, AÇÃO RESCISÓRIA E AÇÃO DE ARBI-

TRAMENTO DE HONORÁRIOS ... 71

5.4.1 Ação Rescisória ... 71

5.4.2 Ação de Arbitramento de Honorários ... 74

6 CONCLUSÃO ... 76

(9)

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho versa sobre a legitimação extraordinária da parte para pleitear os honorários de sucumbência do advogado. A preocupação com este tema nasceu da constatação de que a prática forense se consolidou no sentido de permitir que o constituinte, parte do processo, possa, na fase de conhecimento, formular o pedido de condenação da parte contrária ao pagamento de honorários advocatícios, bem como, na fase recursal, requerer a majoração desta verba e, na fase de cumprimento de sentença, requerer a execução da condenação em honorários.

Nesse sentido, destaque-se que o Código de Processo Civil, ao tratar da legitimação extraordinária, determina que esta deve ser autorizada pelo ordenamento jurídico. Entretanto, não existe lei que defina que cabe à parte a substituição processual do advogado, no que concerne as verbas sucumbenciais.

De igual modo, não há, na doutrina, maior preocupação em explicar ou justificar esse fenômeno, ficando reduzida a sua reflexão a pequenas passagens de livros específicos sobre o tema dos honorários advocatícios.

Destarte, o objetivo geral deste trabalho é o de comprovar que a parte é legitimada extraordinária para pleitear honorários sucumbenciais em nome do advogado, e os objetivos específicos são o de descobrir qual fonte do direito processual autoriza essa hipótese de legitimação extraordinária, analisar a legitimidade da parte e do advogado para pleitear os honorários sucumbenciais em todas as fases processuais e estudar as consequências do reconhecimento desta hipótese de legitimação. Para tanto, serão utilizados os métodos hipotético-dedutivo e analítico.

Este trabalho de conclusão de curso será dividido em introdução, quatro capítulos de desenvolvimento e conclusão.

Nesse sentido, o primeiro capítulo será dedicado ao estudo dos honorários advocatícios, mais especificamente, o surgimento da profissão do advogado, a origem histórica do termo “honorários”, a evolução do instituto, as espécies de honorários, os conceitos, a natureza jurídica e os princípios norteadores dos honorários de sucumbência.

No segundo capítulo, será abordado o regramento dos honorários advocatícios trazidos pelo Código de Processo Civil de 2015, com um enfoque maior às principais mudanças em relação à codificação antecessora. Desta forma, estudar-se-á o critério de fixação dos

(10)

honorários, isto é, sua base de cálculo, os elementos qualitativos e as especificidades dessa condenação nos processos em que a Fazenda Pública for parte, a autonomia dos honorários sucumbenciais e a impossibilidade de sua compensação na sucumbência recíproca e, por fim, os honorários recursais.

No terceiro capítulo, será feita a análise do conceito, da natureza jurídica e das classificações da legitimidade ad causam, dando atenção especial ao conceito de legitimação extraordinária e as suas fontes normativas.

Por fim, no último capítulo, será abordada a tese do presente trabalho, de modo a elucidar qual é a fonte do direito processual que autoriza a parte a pleitear e defender a fixação de honorários de sucumbência, bem como a forma pela qual se dá essa legitimação extraordinária em todas as fases processuais – inclusive no que concerne à possibilidade de o escritório de advocacia atuar como substituto processual do advogado –, na ação rescisória e na ação de arbitramento de honorários.

(11)

2 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

2.1 A ORIGEM DO TERMO HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Inicialmente, é necessário tecer breves considerações históricas acerca do surgimento da profissão do advogado para que, então, seja possível analisar a origem do termo honorários advocatícios, bem como as suas espécies, conceito, natureza jurídica e princípios norteadores.

Nesse sentido, cumpre salientar que o escopo do presente trabalho não abarca a dimensão histórica do surgimento da profissão do advogado e da criação dos honorários advocatícios, de modo que a sua análise tem o único objetivo de introduzir o estudo do tema central desta monografia, qual seja, a legitimação extraordinária para pleitear os honorários sucumbenciais.

2.1.1 Breves considerações sobre o surgimento da profissão do advogado

Os historiadores afirmam que não é possível precisar ao certo onde e quando nasceu a advocacia. Entretanto, consoante explica Luiz Lima Langaro1, é possível buscar as origens históricas da profissão do advogado na Grécia Antiga. Nesta, os cidadãos compareciam diante dos magistrados para, pessoalmente, expor e defender seus direitos. Quando muito, compareciam em juízo acompanhados de um amigo, o qual ajudaria nas suas explicações.

Isto porque, de acordo com Cristhian de Marco2, os gregos valorizavam muito a sua capacidade retórica, motivo pelo qual a figura do advogado enquanto representante legal era dispensada. Contudo, dois fatores fizeram com que surgisse o hábito de contratar um orador para falar no lugar da defesa ou da acusação: o aumento da complexidade dos processos e a verificação de que os magistrados se deixavam levar pela eloquência.

Assim, para Christian de Marco3, a advocacia surgiu na Grécia, em razão da importância que os gregos davam à retórica. Entretanto, Luiz Lima Langaro4 acredita que foi na Roma que a profissão adquiriu individualidade e autonomia.

1 LANGARO, Luiz. Curso de Deontologia Jurídica. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 40.

2 MARCO, Christian. Evolução histórica da advocacia em perspectiva comparada: Brasil e Inglaterra. Espaço

Jurídico, Joaçaba, v. 10, n. 2, jul/dez 2009. Disponível em: <http://editora.unoesc-.edu.br/index.php/espacojuridico/article/view/1930/998>. Acesso em: 03 mar. 2018. p. 245.

3 Ibid. p. 246.

(12)

Neste diapasão, para entender como se desenrolou a história da advocacia na Roma, conforme explica Hélcio Madeira5, é necessário entender o desenvolvimento das jurisdições civis e criminais.

No dizer do autor acima mencionado, é possível se afirmar que, em um primeiro momento, havia aquilo que se convencionou chamar de “jurisdição dos primeiros reis”, momento no qual o rei concentrava os papeis de chefe religioso e chefe político6.

Neste período, fazia-se presente uma nobreza aristocrática denominada patres. Aos

patres, cabia a resolução das questões privadas de seu círculo familiar. Já aos reis cabia a

jurisdição sobre duas causas: primeiro, quanto ao crime de parricidium (morte de um pater) e, segundo, quanto ao crime de perduellio (traição). Ao exercer a sua jurisdição, o rei atuava na

tribuna, onde consultava os seus conselheiros e pronunciava a sentença, sem, contudo, escutar

os defensores. Em um segundo momento, surgiu a denominada “jurisdição dos reis estrucos”, fase na qual o rei intervinha também nas lides privadas7.

Entretanto, o momento da história romana que contribuiu para o nascimento da advocacia foi o do surgimento da república, por volta de 509 a.C. No período republicano, a magistratura foi inicialmente exercida pelos cônsules. Contudo, com a ascendência política da plebe, várias reformas jurisdicionais ocorreram. Nesse sentido, surgiu o processo comicial popular, no qual se admitiu, pela primeira vez, a atuação de defensores do acusado8.

Aos poucos, portanto, a magistratura consular tornou-se acessível aos plebeus, os quais passaram a exigir que a jurisdição fosse atribuída aos pretores e, não mais, aos cônsules. Neste momento histórico, inúmeras leis foram criadas, de modo que incontáveis formalidades surgiram. Por este motivo, as partes necessitavam ser auxiliadas por pessoas mais experientes. Assim, surgiu o jurisconsulto, o qual, além de ter conhecimento do direito, assistia o constituinte na causa e atuava diretamente com o magistrado9.

A classe dos jurisconsultos foi se desenvolvendo e se tornando cada vez mais prestigiada, passando a desempenhar a atividade de estudo e sistematização do direito, bem como a de assistência às partes na exposição do direito junto ao pretor10.

5 MADEIRA, Hélcio Maciel França. História da advocacia: origens da profissão de advogado no direito romano.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 27.

6 Ibid, loc. cit. 7 Ibid. p. 28. 8 Ibid. p. 30. 9 Ibid. p. 32. 10 Ibid, loc. cit.

(13)

Pode-se dizer, portanto, que foi neste período que surgiu a profissão do advogado. Entretanto, alguns doutrinadores não consideram as atividades anteriormente descritas como próprias da advocacia. Para eles, este marco inicial da história de Roma seria uma espécie de pré-história da advocacia, uma vez que apenas contribuiu para, futuramente, ser criada a profissão do advogado.

Neste diapasão, ao abordar a história desta profissão na Roma, Yussef Cahali11 afirmou que:

Durante os três primeiros séculos, desde a fundação de Roma, a profissão de advogado não existiu nem podia existir pois a defesa perante tribunais era múnus público, imposto pelas instituições a certa classe de pessoas; durante esse período não se podia falar em honorários. A profissão do advogado resultou da dissolução do patronato, da vulgarização das fórmulas e do desenvolvimento da ciência do direito.

Observa-se, portanto, divergências doutrinárias quanto ao surgimento da advocacia. Entretanto, em um ponto, há concordância: as atividades de defesa perante os tribunais, tendo elas sido exercidas por advogados ou não, era múnus público, de modo que não eram remuneradas. Quando muito, havia o pagamento de mera liberalidade em favor do patrono da causa, como forma de agradecimento, de honrá-lo. Foi neste contexto que nasceu o termo honorários, que será detidamente analisado a seguir.

2.1.2 O termo “honorários”

Conforme visto anteriormente, na Roma, no começo da história da profissão do advogado, o serviço prestado por este profissional era gratuito. Entretanto, em muitos casos, o patrono da causa recebia presentes como forma de honrar as atividades ofertadas.

Nesse sentido, Fernando Onófrio12 leciona:

O recebimento de honorários não fazia parte das finalidades do exercício da atividade forense. (...). Mas, se a remuneração não lhes era permitida, adquiriam a melhor recompensa que poderia desejar um homem independente: “a honra, a estima, a consideração, a popularidade e a influência”.

De acordo com o referido autor, o termo “honorários” deriva do vocábulo honor e pode ter duas acepções distintas: como adjetivo, significa honra, e como substantivo, tem o sentido de retribuição aos que exercem profissão liberal13.

11 CAHALI, Yussef. Honorários Advocatícios. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 23. 12 ONÓFRIO, Fernando de Jacques. Manual de Honorários Advocatícios. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 25. 13 Ibid. p. 26.

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A palavra “honorários”, portanto, tem origem no latim e traduz a ideia de prêmio dado a alguém em razão de uma ação honrosa. Isto é, a verba honorária era tida como uma recompensa pelo serviço prestado por pessoa dotada de méritos especiais14.

Ocorre que, embora a palavra não tenha se alterado ao longo do tempo, ela foi ganhando diferentes significações. A concepção mais recente é a de que o termo honorário está relacionado à retribuição dos clientes pelos serviços prestados por profissionais liberais de qualquer área do conhecimento, seja ele engenheiro, médico ou advogado15.

Nesse mesmo sentido, o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa16 define honorários como os vencimentos devidos aos profissionais liberais pelos seus serviços, ou, ainda, salário, remuneração. Ademais, o Dicionário Houaiss diz que, na sua etimologia, a palavra “honorários” remetia a um direito de participar das honras, a algo que é feito ou dado por honra e que não recebe retribuição.

Conclui-se, deste modo, que o termo “honorários”, em sua origem, estava muito mais ligado à honra do serviço prestado, enquanto que, atualmente, assume a concepção de contraprestação pecuniária à atividade do profissional liberal. É por este motivo que Antônio Xavier Oliveira17 afirmou que, em que pese a concepção originária do termo ter sido superada, o vocábulo ainda é utilizado em respeito a uma bela e duradoura tradição.

Não obstante o termo ter sido cunhado ainda na Roma Antiga, ele se espalhou pelos países de tradição românica e chegou até o Brasil, consoante será visto em seguida.

2.1.3 A evolução do instituto

Historicamente, ao surgir a atividade advocatícia, os serviços prestados por estes profissionais eram gratuitos, constituindo um mero favor político. Por este motivo, durante muito tempo, a cobrança de uma contraprestação pela atividade do advogado foi proibida na Roma Antiga.

14 LEAL, Felipe Arthur Monteiro. Conceito dos Honorários e suas Espécies. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 19

abr. 2016. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55672&seo=1>. Acesso em: 18 jul. 2018.

15 ONÓFRIO, Fernando de Jacques. Manual de Honorários Advocatícios. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 27. 16 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:

Objetiva, 2004. p. 1549.

17 OLIVEIRA, Antônio José Xavier. Linhas gerais acerca dos honorários advocatícios: generalidade, natureza

alimentar, espécies e o novo Código Civil. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 12, n. 1288, 10 jan. 2007. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/9378>. Acesso em: 18 jul. 2018.

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Isto em decorrência da Lei Cincia, segundo a qual era proibida a cobrança de recompensa pela assistência jurídica. Posteriormente, foi proibida até mesmo a doação de presentes18. Entretanto, no reinado de Cláudio, a Lei Cincia foi revogada, passando-se a admitir o direito do advogado ao recebimento de honorário. Por outro lado, foi só com o Digesto (Livro I, Cap. II, Tít. III) que os honorários advocatícios passaram a ser regulados19.

Nesse sentido, Orlando Venâncio20 explica que, mesmo após ter sido regulamentado o recebimento dos honorários, era proibida a remuneração quota litis (parte do proveito econômico da demanda judicial) e o palmarium (honorários excepcionais em razão do êxito da demanda).

Importa destacar, ainda, que, no Direito Romano, as partes suportavam os respectivos encargos financeiros decorrentes do processo, de modo que não havia o ressarcimento das despesas àquele que obtivesse êxito. Entretanto, gradativamente, esta regra foi sendo modificada, passando-se a exigir de cada um dos litigantes o depósito de uma determinada quantia – aquele que fosse exitoso, poderia levantar o valor depositado, ao passo que aquele que sucumbisse perderia este valor para os cofres públicos (e, não, para a parte vitoriosa)21. Neste período, portanto, os honorários devidos ao advogado eram pagos pela parte contratante e fixados pelo juiz22.

No Brasil, por sua vez, durante muito tempo, as normas acerca dos honorários advocatícios estiverem dispersas no ordenamento jurídico. De acordo com Humberto Dalla de Pinho e Tatiana Salles23, o primeiro diploma normativo a unificar as disposições acerca da condenação em honorários sucumbenciais foi o Código de Processo Civil de 1939, o qual inovou ao trazer a ideia de que o pagamento de honorários seria uma penalidade a ser aplicada ao sucumbente.

18 LANGARO, Luiz. Curso de Deontologia Jurídica. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 68. 19 Ibid, loc. cit.

20 SANTOS, Orlando Venâncio. O ônus do pagamento dos honorários advocatícios e o princípio da causalidade.

Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 35, n. 137, jan./mar. 1998. Disponível em:

<http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/330/r137-04.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2018. p. 32.

21 Ibid, loc. cit.

22 LANGARO, Luiz. Op. cit, loc. cit.

23 PINHO, Humberto; SALLES, Tatiana. Honorários Advocatícios. Evolução histórica, atualidades e perspectivas

no projeto do novo CPC. Revista Eletrônica de Direito Processual – REDP, ano 9, volume 9, 2012. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/20379/14710>. Acesso em: 18 jul. 2018. p. 263.

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Entretanto, Suzane Moraes24 explica que, neste período, a condenação ao pagamento de honorários não constituía um direito do advogado, tendo esta verba natureza indenizatória, motivo pelo qual era direcionada a parte vencedora da ação com o objetivo de ressarcir as despesas com a contratação do advogado. Deste modo, este profissional só tinha direito a receber os honorários contratualmente pactuados.

De maneira semelhante, estabelecia o Código de Processo Civil de 1973. Neste diploma normativo, ao menos inicialmente, os honorários sucumbenciais também eram devidos à parte e, não, ao advogado. Entretanto, com a edição do Estatuto da Advocacia, em 1994, os honorários de sucumbência passaram a ser pagos diretamente ao patrono constituído.

Outro ponto de diferenciação entre o diploma de 1939 e o Código de Processo Civil de 1973, é que este, após a edição da Lei nº 6.355/1976, foi o primeiro código a adotar a sucumbência como regra, em seu artigo 20, o qual estabeleceu que o vencido deveria antecipar as despesas efetuadas pelo vencedor, bem como os honorários advocatícios25.

Da leitura do mencionado dispositivo, não há dúvidas de que o Código de Processo Civil de 1973 adotou a regra da sucumbência. Entretanto, a doutrina e a jurisprudência alargaram a interpretação do artigo 20, de modo a aplicar também o chamado princípio da causalidade26. O Código de 2015, neste ponto, seguiu a mesma linha.

Aqui, portanto, já podem ser identificados dois dos princípios norteadores da condenação ao pagamento dos honorários sucumbenciais no processo civil brasileiro: o princípio da sucumbência e o princípio da causalidade. Estes, ao lado do primado da autonomia, serão estudados em momento pertinente. Antes, contudo, é necessário diferenciar as três espécies de honorários.

2.2 ESPÉCIES

Os honorários advocatícios possuem previsão legal no Estatuto da Advocacia da Ordem de Advogados do Brasil (OAB) – Lei nº 8.906/94. Este diploma normativo traz, em seu artigo

24 MORAES, Suzane. Os Honorários de Sucumbência – Legitimidade para recorrer da Parte e do Advogado. In:

Revista Dialética de Direito Processual. n. 6. set/2003. p. 96.

25 PINHO, Humberto; SALLES, Tatiana. Honorários Advocatícios. Evolução histórica, atualidades e

perspectivas no projeto do novo CPC. Revista Eletrônica de Direito Processual – REDP, ano 9, volume 9, 2012. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/20379/14710>. Acesso em: 18 jul. 2018. p. 263.

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22, as três espécies de honorários do advogado, quais sejam, os honorários contratuais, os honorários sucumbenciais e os honorários fixados por arbitramento judicial.

Antes de adentrar ao estudo destas espécies, cumpre salientar, conforme o ensinamento de Cassio Scarpinella27, que os honorários advocatícios, independentemente de serem contratuais, sucumbenciais ou fixados por arbitramento judicial, possuem a natureza de crédito privilegiado, ao lado dos créditos trabalhistas, uma vez que representam a contraprestação pelo trabalho humano. Há, inclusive, expressa previsão legal nesse sentido no artigo 24, caput28, da Lei nº 8.906/94.

2.2.1 Honorários contratuais

Os honorários contratuais são aqueles pactuados entre o advogado e o constituinte por meio de instrumento particular ou, até mesmo, oralmente. Trata-se, portanto, de verba fixada bilateralmente pelas partes contratantes que serve de remuneração pelos serviços jurídicos prestados e que são pagos pelo constituinte. Cassio Scarpinella29, ao tratar do tema, conceituou os honorários contratuais como

A remuneração advinda do contrato de prestação de serviços relacionados à atuação extrajudicial, englobando a assessoria, consultoria ou planejamento jurídico, ou judicial, tendo como escopo a representação em juízo.

Em decorrência de sua natureza contratual, o Estatuto da Advocacia não lhe reserva muitas disposições. Nesse sentido, os únicos dispositivos a tratar sobre essa espécie são os parágrafos terceiro e quarto do artigo 22.

O primeiro trata da sua forma de pagamento, que, salvo estipulação em contrário, será em três parcelas: um terço do valor será pago no início da prestação do serviço, outro terço será pago até a decisão judicial de primeira instância, e, por fim, o restante será pago ao final. O segundo, por sua vez, trata da possibilidade de destacamento dos honorários contratuais diretamente do montante a ser pago ao vencedor da causa.

Merece destaque, entretanto, que, não obstante se trate de verba fixada contratualmente, existem alguns parâmetros legais e éticos a serem observados, e estes estão dispostos no artigo 48, parágrafo sexto, e artigo 49 do Código de Ética. São eles: primeiro, os honorários

27 SCARPINELLA, Cassio. A Natureza Alimentar dos Honorários Advocatícios Sucumbenciais. In: Tutelas de

urgência e cautelares. São Paulo: Saraiva, 2009. pp 215-216.

28 Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que os estipular são títulos

executivos e constituem crédito privilegiado na falência, concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.

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convencionais não podem ser fixados em parâmetros inferiores aos da tabela da OAB; e segundo, eles devem ser fixados de acordo com os critérios previstos no artigo 49, entre eles, a relevância e a complexidade do serviço prestado, o tempo dispensado, a condição econômica do constituinte, a competência do profissional, entre outros.

Sobre o tema, Paulo Medina30 explica que:

O Código de Ética recomenda que os honorários contratuais sejam, preferentemente, convencionados por escrito (art. 48, caput). O contrato escrito far-se-á indispensável quando os honorários compreenderem uma parte fixa e outra variável, em função do desfecho da causa. Nessa hipótese, tem-se a chamada cláusula quota litis, na sua moderna visão.

Do trecho acima destacado, observa-se, portanto, a possibilidade de fixação dos honorários em um percentual sobre o êxito da demanda. Deste modo, consoante explica o supramencionado autor, advogado e constituinte concorreriam com os riscos da demanda. Entretanto, em sua moderna visão, o pacto de quota litis apenas determinaria um acréscimo ao advogado em razão do sucesso obtido na causa31.

Por fim, cumpre salientar que, na hipótese de ser fixada esta cláusula sobre o valor imposto pela sentença, caso em que também incidirão os honorários sucumbenciais, “a percepção conjunta das duas verbas honorárias há de obedecer aos parâmetros fixados no Código de Ética do advogado”32. Assim sendo, não poderá, por exemplo, a soma destas duas verbas ultrapassar o valor do proveito econômico obtido pelo próprio constituinte.

Diante do exposto, cabe, neste momento, fazer uma análise da segunda espécie de honorários advocatícios, sobre o qual este presente trabalho dará mais enfoque – os honorários sucumbenciais.

2.2.2 Honorários sucumbenciais

Os honorários sucumbenciais, diferentemente dos contratuais, são previstos em lei e fixados por decisão judicial. São pagos pela parte contrária no processo judicial ao advogado da parte vencedora, em decorrência da aplicação dos princípios da sucumbência e da causalidade, os quais serão melhores analisados no tópico 2.3 desta tese.

30 MEDINA, Paulo Roberto. Honorários da Sucumbência e Honorários Contratuais: a compatibilização necessária.

In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 254.

31 Ibid. p. 254-255. 32 Ibid. p. 256.

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Cumpre relembrar, entretanto, que, na sua origem, esta espécie de honorários era utilizada como forma de ressarcir o vencedor pelas despesas com a contratação de advogado. Leonardo Greco33 explica:

Esse ressarcimento não corresponde necessariamente ao valor contratualmente ajustado pelo vencedor com o seu patrono, mas é arbitrado pelo juiz, por equidade, em bases que considere razoáveis. (...). Todavia, essa ideia também evoluiu e, hoje, no Brasil, os honorários da sucumbência são receita própria do advogado.

De maneira semelhante, posiciona-se Paulo Medina34:

Os honorários de sucumbência têm por fundamento a circunstância de que a derrota, no litígio judicial, impõe ao vencido a obrigação de arcar com as despesas do processo a que deu causa, de modo que aquele a quem se reconhece razão não se veja onerado, injustificadamente.

Neste diapasão, ao lado do Estatuto da Advocacia (artigo 2335), o Código de Processo Civil de 2015 dispõe, no caput do artigo 85, que “a sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor”.

Faz-se necessário, aqui, conforme explica Yussef Cahali, conceituar parte vencida (sucumbente) e parte vencedora. Nesse sentido, vencido é aquele quem perde o litígio em juízo, não sendo relevante, entretanto, se tenha resistido ativamente36. O ilustre professor continua:

Vencido é aquele contra o qual o direito é declarado, aquele contra o qual a sentença é proferida; em outras palavras, vencido é o réu, se o pedido do autor é julgado procedente; é o autor, no caso contrário.37

Vencedor, por outro lado, é aquele em favor do qual é reconhecida a situação jurídica pretendida ou contra o qual não é reconhecido direito subjetivo alheio38.

Nesse sentido, consoante será visto mais adiante, poder-se-ia afirmar, ao menos em princípio, que os honorários de sucumbência seguiriam o critério da sucumbência. Entretanto, este critério não é o melhor ou o mais justo. Além do que, se for feita uma análise profunda do atual regramento processual brasileiro, observar-se-á que esta espécie de honorários está pautada, na realidade, no critério da causalidade, segundo o qual quem deu causa ao processo será obrigado a ressarcir os custos processuais à parte adversa.

33 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil: introdução ao direito processual civil. v.1. 2ª ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2010. p. 446.

34 MEDINA, Paulo Roberto. Honorários da Sucumbência e Honorários Contratuais: a compatibilização necessária.

In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 256.

35 Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado,

tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor.

36 CAHALI, Yussef. Honorários Advocatícios. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 175. 37 Ibid, loc. cit.

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Contudo, os princípios da sucumbência e da causalidade acima enunciados merecem uma análise mais atenciosa, motivo pelo qual serão estudados mais a frente.

Aqui, ainda se faz oportuno o estudo da natureza jurídica dos honorários sucumbenciais. Cassio Scarpinella39 defende a sua natureza alimentar, equiparando-se ao crédito trabalhista. Entretanto, deve-se ter em mente que

Houve tempo em que se entendeu pela restrição da natureza alimentar dos honorários advocatícios, limitando-a aos honorários contratuais. Somente esses representariam a verba necessária para a subsistência e provento do advogado; não, contudo, os sucumbenciais. Isto porque nem sempre se poderia contar com à verba decorrente da sucumbência, e, consequentemente, restaria afetado o caráter de sua imprescindibilidade para o sustento do profissional da advocacia.

Ressalte-se, entretanto, que este entendimento se encontra ultrapassado, não havendo maiores dúvidas quanto ao caráter alimentar dos honorários de sucumbência.

2.3.3 Honorários arbitrados judicialmente

Os honorários arbitrados judicialmente, última espécie a ser estudada, estão previstos no artigo 22, parágrafos primeiro e segundo, do Estatuto da Advocacia.

Tratam-se de verba fixada pelo juiz em duas hipóteses: a primeira, diante da indicação de patrono para atuar na defesa de pessoa juridicamente necessitada, ante a inexistência ou impossibilidade de nomeação de um defensor público, hipótese na qual os honorários serão pagos pelo Estado; e a segunda, quando o contrato de prestação de serviço advocatício for silente quanto a contraprestação pecuniária.

Nesse sentido, um exemplo de contrato omisso é quando a contratação do advogado se dá oralmente, em razão da urgência na prestação dos serviços advocatícios, a impossibilitar a redação de um instrumento que versaria sobre o tema. Além disso, é possível, apesar de mais difícil, que o contrato escrito não estabeleça o valor a ser pago pelo constituinte ao advogado contratado.

Quanto à segunda hipótese de fixação dos honorários pelo juiz, é importante trazer a ressalva feita por Rafael Barbosa e Daniella Magnani. De acordo com estes, é dever ético do patrono da causa, com o fito de evitar desgastes com o seu constituinte, contratar seus honorários por escrito. Entretanto, nos casos em que não houver sido pactuado bilateralmente

39 SCARPINELLA, Cassio. A Natureza Alimentar dos Honorários Advocatícios Sucumbenciais. In: Tutelas de

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o seu valor, caberá ao juiz fixa-los, levando-se em consideração os serviços prestados em favor da parte beneficiada40.

Para que ocorra a fixação dos honorários, entretanto, algumas formalidades devem ser observadas. Nesse sentido, Fabrizio Ferreira41 explica que o pedido de arbitramento judicial da verba honorária deve obedecer às exigências de uma petição inicial, que será distribuída por dependência nos autos da ação principal, de modo a permitir que o magistrado avalie o trabalho do advogado.

Sobre o tema, Sandra Krieger42 explica:

Os honorários arbitrados são aqueles que decorrem de pronunciamento judicial, necessário diante da inexistência de contrato escrito sobre a questão. Na ação de arbitramento a busca da tutela jurisdicional tem por fito a estipulação do quantum devido em decorrência do trabalho realizado. Difere, pois, da ação de cobrança de honorários, cujo valor já fora estipulado em pacto ou contrato e tendo por finalidade apenas a sua satisfação.

De toda sorte, em qualquer uma das hipóteses de arbitramento, a verba honorária deverá respeitar, ainda, os critérios adotados pela tabela do Conselho Seccional da OAB.

Por fim, importa destacar ainda que “os honorários fixados por arbitramento pelo juiz não devem ser confundidos com os honorários de sucumbência, visto que não possuem natureza processual e independem do resultado da demanda”43.

Nesse sentido, enquanto os honorários de sucumbência são devidos pela parte vencida, os honorários arbitrados judicialmente, à semelhança dos contratuais, serão devidos pelo contratante do serviço advocatício.

2.3 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

De acordo com Yussef Cahali44, existem três critérios fundamentais capazes de solucionar a questão da responsabilidade das partes pelas despesas processuais. O primeiro critério seria no sentido de que cada litigante deve arcar com as suas despesas. O segundo determina que o vencido as suporte por inteiro. Por último, o terceiro critério traz um sistema híbrido no qual

40 BARBOSA, Rafael; MAGNANI, Daniella. Honorários contratuais vs. Honorários sucumbenciais: o que muda

no NCPC? In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 275.

41 FERREIRA, Fabrizio. Dos honorários advocatícios por arbitramento judicial. Disponível em:

<https://jus.com.br/artigos/29501/dos-honorarios-advocaticios-por-arbitramento-judicial>. Acesso em: 12 out. 2018.

42 KRIEGER, Sandra. A Ação de Arbitramento de Honorários Advocatícios no Novo Código de Processo Civil.

In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 955.

43 BARBOSA, Rafael; MAGNANI, Daniella. Op. cit. p. 275.

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tanto o vencido quanto o vencedor poderão, em determinadas circunstâncias, arcar com os custos do processo.

Esses três sistemas foram adotados conforme a evolução dos ordenamentos jurídicos45. Consoante já visto, o direito romano utilizou-se, durante muito tempo, do primeiro sistema. No Brasil, o Código de Processo Civil de 1939 adotou o segundo sistema, ao dispor que o pagamento das despesas processuais, inclusive dos honorários advocatícios, era uma pena a ser aplicada ao vencido.

Deste modo, observa-se que, neste período, o princípio da sucumbência era amplamente aceito no direito brasileiro. Posteriormente, a doutrina e a jurisprudência passaram a aceitar o chamado princípio da causalidade, inaugurando o terceiro sistema de responsabilidade processual.

Assim, tem-se dois dos três princípios que norteiam a condenação ao pagamento de honorários advocatícios no ordenamento jurídico pátrio, os quais merecem análise minuciosa.

2.3.1 Princípio da sucumbência

A teoria da sucumbência, de onde se originou o princípio da sucumbência, foi enunciada por Chiovenda. De acordo com esta, a parte vencida deve ser condenada ao pagamento das custas do processo, sejam eles os emolumentos do cartório e dos oficiais de justiça, as despesas com testemunhas, peritos e diligências ou os honorários do advogado46.

Nesse sentido, Giuseppe Chiovenda47 leciona que o fundamento da condenação ao pagamento das custas processuais está calcado no fato objetivo da derrota, bem como, que a justificação desse instituto se baseia na premissa de que a atuação jurisdicional não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte cujo direito se reconhece.

Em outros termos, consoante explica Rogério de Mello48, tem-se que o princípio da sucumbência está umbilicalmente ligado à ideia de derrota.

45 CAHALI, Yussef. Honorários Advocatícios. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 33.

46 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. Tradução de J. Guimarães Menegale. v. 3.

2ª. ed. São Paulo: Saraiva, 1965. p. 210-211.

47 Ibid. p. 207.

48 MELLO, Rogério Licastro. Honorários advocatícios sucumbenciais: apreciações gerais e princípios

aplicáveis. In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 59.

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Com isto, será condenado a arcar com as despesas processuais, entre elas, os honorários advocatícios, a parte que defender a posição processual que restou derrotada. Nesse sentido, Leonardo Greco49 leciona:

A responsabilidade definitiva é aquela que se verifica quando o processo se encerra e está vinculada ao critério da sucumbência. Definitivamente responsável por todas as despesas geradas pelo processo, antecipadas ou não, será a parte vencida, que terá de reembolsar à vencedora as despesas que esta houver antecipado.

Cumpre salientar, entretanto, que, para Giuseppe Chiovenda, somente haveria derrota a ensejar condenação em custas quando o conteúdo da sentença fosse de uma declaração de direito, ou melhor, quando a lei atuasse a favor de uma parte contra a outra50.

Atualmente, este princípio encontra seu respaldo jurídico no artigo 85 do Código de Processo Civil de 2015, segundo o qual, “a sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor”.

Entretanto, a doutrina chama a atenção para o fato que o princípio da sucumbência, sozinho, não é suficiente para justificar a condenação de uma parte a arcar com os custos processuais.

Seguindo esta linha, Yussef Cahali51 teceu severas críticas acerca deste princípio:

Reconheça-se, porém, que a regra da sucumbência não exaure a problemática da responsabilidade pelos encargos do processo; como, também, não desfruta de autonomia bastante para ser considerada princípio informador absoluto do nosso sistema processual.

Ante o exposto, percebe-se a necessidade de embasar a condenação ao pagamento de honorários de sucumbência em princípio mais amplo. Este seria o princípio da causalidade, que foi enunciado por Francesco Carnelutti em contraposição à teoria da sucumbência de Giuseppe Chiovenda.

2.3.2 Princípio da causalidade

Inicialmente, antes de analisar o princípio da causalidade tal como foi proposto por Francesco Carnelutti, faz-se necessário tecer algumas considerações acerca da sua origem.

Neste diapasão, Orlando Venâncio explica que as bases deste princípio se encontram no pensamento filosófico, especificamente quando a filosofia se propôs a distinguir o justo do

49 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil: introdução ao direito processual civil. v.1. 2ª ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2010. p. 439.

50 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. Tradução de J. Guimarães Menegale. v. 3.

2ª. ed. São Paulo: Saraiva, 1965. p. 408.

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injusto. Já a aplicação deste princípio, continua o autor, deu-se primeiramente no âmbito da responsabilidade penal e civil, sendo que, apenas no final do século XIX, se passou a estudar a causalidade na perspectiva do ônus do pagamento das despesas processuais52.

Esse estudo deu-se, principalmente, na Itália, através das ideias de Francesco Carnelutti. De acordo com ele, a obrigação de reembolso das custas processuais seria, em princípio, “da parte que deu causa ao processo”53.

Deste modo, caso se demonstre, na ação judicial, que uma das partes não tem razão, considera-se que esta parte deu causa à demanda, devendo arcar, portanto, com todos os custos processuais54. Assim sendo, pode-se afirmar que a sucumbência é um dos elementos da causalidade, tendo em vista que, via de regra, é a parte vencida quem dá causa à ação55.

Entretanto, esta premissa não é absoluta, havendo situações em que não se pode falar que a obrigação de reembolso recairá sobre o sucumbente. Nesse sentido, Carnelutti distingue três situações diferentes.

A primeira dessas hipóteses é quando o processo de cognição chega ao final, com a prolação da sentença. Neste caso, não haveria maiores problemas – é a parte vencida quem deverá arcar com as despesas processuais. A segunda situação se dá dentro do processo de cognição, quando não é dado cumprimento a este em razão da sua extinção. Assim, se a extinção se der em razão da desistência do autor, este é quem deveria arcar com as custas. Se, por outro lado, a extinção se der por qualquer outro motivo, não haveria direito a reembolso, salvo o convencionado em sentido diverso pelas partes56.

Por fim, a terceira hipótese ocorre não mais no processo de conhecimento, mas, sim, no processo executivo. Nesta, o devedor, em razão de seu inadimplemento, deu causa à ação, devendo reembolsar os gastos do credor57.

Conclui-se, portanto, que é possível sustentar que a sucumbência é apenas um dos critérios a ser utilizado para verificar quem foi que deu causa ao processo e, deste modo,

52 SANTOS, Orlando Venâncio. O ônus do pagamento dos honorários advocatícios e o princípio da causalidade.

Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 35, n. 137, jan./mar. 1998. Disponível em:

<http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/330/r137-04.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2018. p. 34.

53 CARNELUTTI, Francesco. Instituições do Processo Civil. Tradução de Adrián Sotero de Witt Batista. v. 1.

São Paulo: Classic Book, 2000. p. 412.

54 MELLO, Rogério Licastro. Honorários advocatícios sucumbenciais: apreciações gerais e princípios

aplicáveis. In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 58.

55 SANTOS, Orlando Venâncio. Op. cit, p. 35. 56 CARNELUTTI, Francesco. Op. cit. p. 412-414. 57 Ibid, loc. cit.

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condená-lo ao ressarcimento das custas processuais. Nesse sentido, vale dizer, o princípio da sucumbência seria apenas uma vertente, ou melhor, um subprincípio extraído do princípio da causalidade.

Registre-se, por oportuno, que a condenação em honorários sucumbenciais no ordenamento jurídico brasileiro rege-se por este princípio. Neste diapasão, merece destaque, apenas a título exemplificativo, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o qual editou a Súmula nº 303, que diz que “em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios”. De modo semelhante, é possível se afirmar que o Código de Processo Civil de 2015 adota o princípio da causalidade, uma vez que, em seu artigo 85, parágrafo 10, expressamente determina que os honorários deverão ser pagos pela parte que deu causa ao processo.

2.3.3 Princípio da autonomia

O último princípio a ser estudado, que orienta o pagamento dos honorários advocatícios na sistemática processual brasileira, é o princípio da autonomia. Sobre este, não há maiores dúvidas, tampouco considerações a se fazer.

Trata-se de um princípio relativamente novo, tendo sido enunciado pela primeira vez no artigo 22 do Estatuto do Advogado58 (Lei nº 8.906/94) e repetido no artigo 85, parágrafo quatorze, do Código de Processo Civil de 201559.

De acordo com este princípio, os honorários sucumbenciais constituem direito autônomo do advogado, de modo que independe da execução do crédito principal. Assim sendo, advogado e constituinte possuem legitimidade concorrente para a execução das verbas honorárias60.

58 Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários

convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência.

59 Art. 85. (...) §14º. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos

privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial.

60 MELLO, Rogério Licastro. Honorários advocatícios sucumbenciais: apreciações gerais e princípios aplicáveis.

In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 60.

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3 O ADVENTO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 E AS SUAS PRINCIPAIS INOVAÇÕES ACERCA DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

O Código de Processo Civil de 2015 trouxe muitas inovações sobre a regulamentação dos honorários advocatícios. Nesse sentido, conforme pontua Carlos Velloso61, o intuito desta nova legislação foi o de incluir, na norma posta, algumas conquistas dos advogados que já eram asseguradas pela jurisprudência, ou o de garantir direitos que vinham sendo negados pelos magistrados, ou, ainda, o de criar direitos. Por este motivo, serão estudadas, neste capítulo, algumas dessas mudanças.

Antes, entretanto, é importante ressaltar que o Código de Processo Civil de 2015 traz o regramento dos honorários advocatícios ao longo dos dezenove parágrafos do artigo 85. De início, portanto, já é possível notar uma grande diferença em relação a legislação antecessora. Isto porque o Código de Processo Civil de 1973 regulava a matéria em seu artigo 20, o qual só contava com cinco parágrafos. Percebe-se, portanto, uma preocupação muito maior do atual legislador com o presente tema.

Neste diapasão, a primeira mudança que foi possível observar, consoante destaca Carlos Velloso62, foi a de que restou positivada a regra de que devem ser fixados honorários de sucumbência em todos os procedimentos da jurisdição contenciosa, com destaque à reconvenção, ao cumprimento de sentença, seja ele provisório ou definitivo, à execução e aos recursos. Outra grande mudança se dá em relação ao critério de fixação, o qual será exposto a seguir.

3.1 NOVO CRITÉRIO DE FIXAÇÃO

Uma importante modificação do Código de Processo Civil de 2015 na temática dos honorários sucumbenciais se deu em relação ao seu critério de fixação. Este, por sua vez, necessita ser estudado por três vieses: o primeiro, referente a base de cálculo; o segundo, referente ao percentual a ser aplicado sobre a base de cálculo; e o terceiro, por fim, referente aos elementos qualitativos que devem ser observados pelo magistrado no momento da fixação deste percentual.

Quanto ao segundo viés, referente ao percentual, não há maiores dúvidas. O atual código de ritos em nada modificou o regramento anterior, mantendo, portanto, o percentual de dez a

61 VELLOSO, Carlos. Honorários no novo CPC. In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC: Honorários

Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015. p. 127.

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vinte por cento. Entretanto, merece análise minuciosa a questão da base de cálculo e dos elementos qualitativos que devem ser observados pelo magistrado no momento da fixação dos honorários.

3.1.2 Base de cálculo

No tocante à base de cálculo, insta salientar que, no parágrafo segundo, foi normatizado entendimento que já vinha sendo defendido pela doutrina e por boa parte da jurisprudência, consoante observa Lucas Rister de Sousa Lima63. O autor explica:

Os §§2º e 6º do art. 85 apenas normatizam entendimento que já vinha sendo defendido há muito pela doutrina e por boa parte da jurisprudência, na interpretação dos arts. 20, §§3º e 4º do antigo CPC, no sentido de que os honorários deverão sempre ser fixados em percentual (entre dez e vinte por cento) de acordo com o proveito econômico da ação ou, se este não for passível de mensuração, sobre o valor da causa, ainda que a decisão não importe propriamente em uma condenação, inclusive nos casos de improcedência ou extinção do processo sem resolução do mérito. Era essa, pois, a norma que se extraía da literalidade dos aludidos dispositivos durante o império da lei revogada.64

Deste modo, conforme é possível se extrair do trecho acima destacado e da leitura do parágrafo segundo do artigo 85, os honorários de sucumbência devem ser fixados sobre o valor da condenação, o valor do proveito econômico obtido ou, não sendo possível identifica-lo, o valor atualizado da causa.

Entretanto, há situações em que o valor dos honorários não se submete aos limites máximos e mínimos, conforme explica Bruno Carrilho Lopes65. Nesse sentido, no atual código de ritos, caso o valor da causa seja irrisório, o juiz deverá fixar os honorários sucumbenciais com base em uma apreciação equitativa, feita com base nos elementos qualitativos, que serão posteriormente analisados.

Sobre o tema, Carlos Velloso66 explica que o novo diploma objetivou romper com a regra anterior acerca da apreciação equitativa do juiz. Aqui, cabe fazer um comparativo entre os dois regramentos:

63 LIMA, Lucas. Direito intertemporal e honorários advocatícios sucumbenciais no novo CPC. In: Coleção

Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015.

p. 189.

64 Ibid, loc. cit.

65 LOPES, Bruno. Honorários Advocatícios no Processo Civil. Saraiva: São Paulo, 2008. p. 155.

66 VELLOSO, Carlos. Honorários no novo CPC. In: Coleção Grandes Temas do Novo CPC: Honorários

(28)

Quadro 1 – Quadro comparativo: CPC/1973 x CPC/2015

CPC/1973 CPC/2015

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria.

[...]

§3º. Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: [...]

§4º. Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior.

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

[...]

§2º. Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:

[...]

§6º. Os limites e critério previstos nos §§2º e 3º aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mérito.

[...]

§8º. Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do §2º.

Consoante se observa do quadro acima, o código anterior trazia um número maior de hipóteses em que o juiz poderia proceder à apreciação equitativa. No Código de Processo Civil de 2015, o legislador teve uma preocupação maior com a forma de cálculo dos honorários advocatícios, possibilitando fazê-la de três formas distintas.

Assim sendo, incidirão honorários sobre o valor da condenação na hipótese de procedência, ainda que parcial, dos pedidos, desde que ocorra a condenação da parte vencida ao pagamento de algum valor à parte contrária.

Por outro lado, quando a sentença não for líquida, o magistrado terá o dever de perseguir o proveito econômico da parte, de modo a fixar os honorários sucumbenciais em um percentual incidente sobre ele.

Entretanto, não sendo possível auferir o valor da condenação ou o valor do proveito econômico obtido, o juiz fixará a referida verba sobre o valor da causa.

Observa-se, portanto, que, apenas quando a utilização dos critérios supramencionados levarem a fixação de verba honorária em valor irrisório, os honorários poderão ser fixados pela apreciação equitativa do juiz, nos termos do artigo 85, parágrafo oitavo.

(29)

De modo diferente, dispunha o Código de Processo Civil de 1973. Este falava apenas em valor da condenação, não trazendo a possibilidade de fixação dos honorários sobre o valor do proveito econômico obtido ou o valor da causa. Nesse sentido, não havendo condenação, a única saída, prevista em lei, a ser adotada pelo magistrado seria a apreciação equitativa dos honorários.

Atente-se, porém, para as colocações feitas por Yussef Cahali67 na vigência do Código de 1973:

Referida regra tem como pressuposto ser condenatória a sentença proferida contra o sucumbente, o que induziria a afirmação de que, nas causas em que não houver condenação, seria de aplicar-se literalmente o disposto no art. 20, § 4º.

Esta afirmação, contudo, vem sendo recebida com alguma reserva pela jurisprudência, na consideração de que, à força do princípio igualitário que se impõe no tratamento das partes no processo, mesmo em hipóteses típicas de sentença em que não há condenação, como aquela que julga improcedente a ação, os honorários advocatícios a cargo do vencido devem ser calculados, ainda assim, com base no art. 20, § 3º, tendo em vista uma “hipotética condenação” se vitoriosa a demanda, e que consubstancia o valor patrimonial buscado pelo autor desatendido em sua pretensão.

Deste modo, ressalte-se que, já na vigência da legislação anterior, a despeito da norma expressa, já se entendia pela possibilidade de calcular os honorários advocatícios em um percentual de dez a vinte por cento sobre o valor do proveito econômico obtido.

Por fim, merece destaque a questão que vem sendo discutida no Superior Tribunal de Justiça, no sentido de definir se a apreciação equitativa do magistrado pode ser aplicada nas situações em que o valor dos honorários seria excessivo.

Nesse sentido, foi afetado para julgamento o Agravo em Recurso Especial de nº 262.900. Trata-se de processo no qual o Banco do Brasil executava montante superior a R$ 50 milhões contra fiador, mas, por meio de embargos à execução, a fiança fora declarada extinta68.

Neste processo, tenta-se definir qual deveria ser o valor dos honorários advocatícios, tendo surgido três teses: a primeira, de que não é possível se auferir o valor do proveito econômico e que a sentença não se deu por fato ligado ao título executivo extrajudicial, motivo pelo qual não deveria ser usado o valor de R$ 50 milhões como base de cálculo. Assim, o ministro acredita que os honorários devam ser fixados em R$ 500 mil69.

67 CAHALI, Yussef. Honorários Advocatícios. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 406-407. 68 MUNIZ, Mariana. Cálculo de honorário de sucumbência em embargo à execução divide a 4ª turma do STJ.

Disponível em: <https://www.jota.info/justica/stj-honorarios-sucumbencia-embargos-execucao-03092018>. Acesso em: 02 dez. 2018.

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A segunda tese é a de que o legislador foi preciso na fixação dos percentuais, não sendo possível a aplicação por analogia do parágrafo oitavo do artigo 85 (que versa sobre a apreciação equitativa) de modo que, no caso em análise, os honorários deveriam ser fixados no percentual de 10% (dez porcento) sobre o valor da causa.70

Por fim, a terceira tese propõe a adoção dos parâmetros utilizados para as causas que envolvem a Fazenda Pública, conforme será estudado em momento oportuno. Para o defensor dessa corrente, o Código de Processo Civil, por equidade, também veda a condenação em honorários em valor enorme, além de que isto constituiria enriquecimento sem causa.71

3.1.2 Elementos qualitativos

Faz-se necessário, ainda, abordar os elementos qualitativos para a fixação da verba honorária. Eles estão previstos nos incisos do parágrafo terceiro do artigo 85: o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e a importância da causa e, por último, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

O grau de zelo do profissional é, na lição de Hélio Tornaghi72, elemento subjetivo, que está ligado à pessoa do advogado e influi na qualidade do trabalho. Traduz-se, portanto, no cuidado e no interesse dispensados pelo patrono da causa.

Neste aspecto, Pontes de Miranda73 pontua que “o que na decisão tem o juiz de atender é aquilo que se passou na lide e foi por ele verificado: a falta de zelo do profissional, ou o pouco zelo que revelou, ou o alto zelo com que atuou”.

Ainda quanto a este elemento, Yussef Cahali74 acredita que o renome, a notoriedade e a reputação do advogado são adquiridos em razão do zelo que empregam no patrocínio das causas. Deste modo, seguindo a lição de Guido Arzua75, é possível se concluir que o renome também deve ser levado em conta no momento da fixação dos honorários.

70 MUNIZ, Mariana. Cálculo de honorário de sucumbência em embargo à execução divide a 4ª turma do STJ.

Disponível em: <https://www.jota.info/justica/stj-honorarios-sucumbencia-embargos-execucao-03092018>. Acesso em: 02 dez. 2018.

71 Ibid.

72 TORNAGHI, Hélio. Comentários ao Código de Processo Civil. Vol. 1. 2ª ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1976. p. 168.

73 MIRANDA, F. C. Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil de 1973. Tomo I. 5ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2001. p. 396.

74 CAHALI, Yussef. Honorários Advocatícios. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 461.

75 ARZUA, Guido. Honorários de advogado na sistemática processual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1957.

(31)

O segundo elemento qualitativo trazido pelo Código de Processo Civil de 2015 diz respeito ao lugar da prestação do serviço. Este, de acordo com Yussef Cahali76, não é somente o local de domicílio profissional do patrono, mas, também, todos os locais em que os atos judiciais tiveram de ser praticados.

Sobre o tema, Guido Arzua77 pontua:

A locomoção necessária às comarcas e distritos estranhos à sede profissional do advogado, impõe despesas e exige tempo, justificando assim remuneração mais elevada que a do costume e praxe no lugar da prestação do serviço.

A natureza e a importância da causa, por sua vez, assim como o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço, são fatores objetivos. No tocante à natureza, merece destaque o ensinamento de Yussef Cahali78, segundo o qual, esta parte do pressuposto de que tenha a parte vencedora contratado advogado especializado na questão jurídica objeto da demanda.

Quanto a questão da valorização do trabalho realizado pelo advogado, o autor explica que devem ser consideradas não só as atividades realizadas no bojo do processo, como também aquelas desenvolvidas fora deste, desde que possuam correlação com a demanda. São elas, por exemplo, a realização de diligências junto aos órgãos jurisdicionais79.

Por fim, quanto ao elemento objetivo do tempo de serviço, Pontes de Miranda80 pontua que não se trata da duração da causa, mas, sim, do tempo efetivamente dispensado pelo advogado. Entretanto, este não parece ser o posicionamento mais acertado, devendo ser considerado, também, a demora para a resolução da controvérsia judicial, tendo em vista que, neste período, o advogado continuou atuando para diligenciar o processo.

Conclui-se, portanto, que o magistrado, ao escolher o percentual (de dez a vinte por cento) de honorários sucumbenciais a ser aplicado sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou do valor atualizado da causa, não deverá fazê-lo de maneira completamente aleatória, mas, sim, fundamentar a sua decisão nos elementos qualitativos anteriormente estudados.

76 CAHALI, Yussef. Honorários Advocatícios. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 462.

77 ARZUA, Guido. Honorários de advogado na sistemática processual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1957.

p. 61.

78 CAHALI, Yussef. Op. cit. p. 466. 79 Ibid, loc. cit.

80 MIRANDA, F. C. Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil de 1973. Tomo I. 5ª ed. Rio de Janeiro:

(32)

3.1.3 Honorários sucumbenciais nos processos em que a Fazenda Pública for parte Nos processos em que a Fazenda Pública for parte, a condenação em honorários sucumbenciais se dará de outro modo. Isto porque, no dizer de Fábio Capucho81, o atual Código de Processo Civil propõe um escalonamento objetivo da obrigação de pagar a verba honorária, utilizando-se critérios relativos à dimensão econômica do objeto da demanda.

De acordo com o referido autor, o legislador teve a intenção de diminuir a esfera de atuação discricionária dos magistrados, como forma de garantir uma retribuição mais adequada ao advogado82.

Nesse sentido, da leitura dos parágrafos terceiro, quarto e quinto do artigo 85, é possível se depreender que o percentual dos honorários sucumbenciais incidirá sobre o valor da condenação, desde que observadas as faixas ali previstas.

A título exemplificativo, quando a condenação for de até 200 (duzentos) salários mínimos, os honorários serão no percentual de 10 (dez) a 20 (vinte) por cento sobre a condenação.

Por outro lado, se a condenação for superior a este valor, em atenção ao parágrafo quinto, os honorários serão de 10 (dez) a 20 (vinte) porcento sobre os 200 (duzentos) salários mínimos, de 8 (oito) a 10 (dez) por cento, sobre o valor excedente, desde que não superior a 2.000 (dois mil) salários mínimos, e assim sucessivamente.

Há, entretanto, situações em que a sentença não é líquida. Nestas hipóteses, conforme dispõe o parágrafo quarto, os honorários sucumbenciais ou serão fixados após a liquidação do julgado, ou, não havendo condenação principal ou não sendo possível mensurar o valor do proveito econômico obtido, os honorários incidirão sobre o valor da causa.

Por fim, merece destaque, ainda, o parágrafo dezenove do dispositivo aqui estudado, o qual determina que os advogados públicos também perceberão honorários de sucumbência. De acordo com Fábio Capucho83, o objetivo do legislador foi o de atribuir a verba a estes profissionais, de modo que “não poderia o ente público, ao estatuir o regime jurídico do cargo, promover outra destinação à verba honorária”.

81 CAPUCHO, Fábio. Honorários advocatícios nas causas em que a Fazenda Pública for parte. In: Coleção

Grandes Temas do Novo CPC: Honorários Advocatícios. DIDIER, Fredie (Org.). Salvador: JusPodivm, 2015.

p. 400.

82 Ibid, loc. cit. 83 Ibid, p. 409.

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