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Critério sintático

No documento Funcionalismo e ensino de gramática (páginas 186-189)

relativa copiadora e ensino de língua portuguesa

2. Conceituando a oração relativa

2.1. Critério sintático

Quanto a esse aspecto, nossa consulta a alguns manuais de gramática normativa da língua portuguesa mostrou-nos as seguintes defi nições para a cláusula adjetiva: “as ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS vêm normalmente introduzidas por um PRONOME RELATIVO, e exercem a função de ADJUNTO ADNOMINAL de um substantivo ou pronome antecedente” (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 586); “as orações subordinadas adjetivas são aquelas que exercem a função sintática de adjunto

adnominal de um termo da sua principal” (BECHARA, 1997, p.

227); “Estas orações, que valem por adjetivos, funcionam como adjunto adnominal (...) subordinam-se, portanto, a qualquer termo da oração anterior cujo núcleo seja substantivo, ou equivalente de substantivo.” (ROCHA LIMA, 1994, p. 268).

Como podemos observar, esses conceitos enfatizam, sobretudo, o comportamento sintático das adjetivas no período em que aparecem: atuam como adjunto adnominal de um determinado termo da oração a que se ligam.

Já Perini (1998) fala em construção relativa, que, segundo ele, “também recebe a designação tradicional de ‘oração adjetiva’”. Acrescenta o autor que ela tem caráter subordinado e representa um constituinte de nível suboracional, por estar servindo de modifi cador de um SN. Perini (1998, p.140) lista como características da construção relativa os seguintes aspectos:

a. presença de um relativo (os relativos são que, o qual, quem, onde, cujo), precedido às vezes de uma preposição; b. presença de uma estrutura oracional aparentemente

incompleta, logo após o relativo;

c. articulação de um elemento nominal (parte de um SN) + o

relativo + a estrutura oracional mencionada, formando

uma seqüência que é um SN; o elemento nominal inicial nem sempre está presente.

Eis um exemplo apresentado pelo autor:

(3) “O estrago que o gato fez fi cou sem conserto.” (PERINI, 1998, p. 141)

A estrutura destacada apresenta todas as marcas indicadas como características da construção relativa: (a) presença do relativo

que; (b) oração aparentemente incompleta, que vem logo após

o relativo, o gato fez (falta-lhe o objeto direto); e (c) presença da seqüência o estrago que o gato fez, a qual é formada de um elemento nominal (o estrago), seguido do relativo (que), seguido da estrutura oracional (o gato fez), e que é um SN (no caso, sujeito de fi cou).

Quanto à classifi cação tradicional, as orações adjetivas dividem-se em restritivas e explicativas. De acordo com a tradição normativa, as orações adjetivas explicativas vêm sempre separadas por vírgulas da cláusula principal e representam um termo adicional a esta; por oposição, as orações adjetivas restritivas não vêm separadas da oração principal porque constituem parte integrante dela.

Neves (2000) refere-se à cláusula adjetiva como uma “oração de função adnominal”, introduzida por pronomes relativos. Tratando da classifi cação das adjetivas, ela nota que as restritivas podem construir-se com antecedente ou sem ele; já as explicativas são estruturadas sempre com antecedente. É o que podemos ver nos exemplos (4) e (5), que ilustram, respectivamente, uma restritiva com e sem antecedente; e (6), que apresenta uma adjetiva explicativa.

(4) “O médico QUE dera o atestado chamava-se Pedro M. Silva.” (NEVES, 2000, p. 374).

(5) “QUEM vê cara não vê coração” (NEVES, 2000, p. 375). (6) “Parei sob o jataí, QUE vi crescer, abracei-me ao seu tronco, em desespero.” (NEVES, 2000, p. 375).

Ainda sobre essa classifi cação, Oliveira (2001, p. 78) mostra que “Oração subordinada adjetiva explicativa é a nomenclatura tradicional atribuída às estruturas que possuem pausa”, enquanto “Oração subordinada adjetiva restritiva é o rótulo clássico das estruturas em que a pausa não ocorre”.

A mesma autora trata dessa classifi cação à luz da tese funcionalista e fala em “derivação funcional atribuição > defi nição, acompanhada da derivação estrutural cláusula explicativa >

cláusula restritiva” que, segundo ela, teria ocorrido com as

adjetivas. Segundo Oliveira, a adjetiva explicativa corresponde a “uma expressão categórica mais antiga, de motivação discursiva, menos integrada do ponto de vista semântico-sintático”; já a restritiva é mais recente que a outra e dela derivada, constituindo “uma organização sintática subordinada ao SN a que se refere e de maior ocorrência” (p.80).

Perini (1998) afi rma que a distinção tradicional das relativas em explicativas e restritivas tem inspiração em suas propriedades semânticas. Segundo ele, “a diferença formal mais evidente entre elas é que as primeiras são sempre separadas por vírgula”. O autor, contudo, prefere não usar essa classifi cação “para não confundir o aspecto sintático com o semântico”, propondo chamá-las de apositivas e não-apositivas. Perini (1998, p. 156) acrescenta ainda que a estrutura das construções relativas apositivas é semelhante à das não-apositivas, com as seguintes diferenças:

a. só as apositivas se separam por vírgula do resto da frase; b. só as apositivas podem ocorrer com o relativo o qual sem preposição;

c. só as apositivas admitem construções múltiplas4, resultantes

da movimentação de um SN que contém relativo modifi cador para o início da oração.

4 As construções múltiplas envolvem deslocamento de um SN que contém relativo modifi cador para o início da oração, conforme ilustra o exemplo I abaixo ((90) em PERINI, 1998).

I. a) O uniforme, do qual o Ministério especifi ca o feitio dos bolsos b) O uniforme, dos bolsos do qual o ministério especifi ca o feitio c) O uniforme, o feitio dos bolsos do qual o Ministério especifi ca Conforme explica o próprio Perini, em (a) temos um SN contendo o relativo, e que está no início da oração adjetiva; em (b), são dois SN, um dentro do outro: os bolsos do qual, que contém o qual, tendo sido o SN os bolsos deslocado para o início da oração; por último, em (c), temos três SN, cada um dentro do outro: o feitio dos bolsos do qual, que contém os bolsos do qual, que, por sua vez, contém o qual, numa estrutura que remove dois SN (o feitio e os bolsos) para o começo da cláusula adjetiva.

Cabe observar, entretanto, que, apesar de existir a possibilidade de tais construções serem elaboradas, no uso espontâneo da língua elas praticamente

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