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Critérios constantes do Estatuto da Câmara dos Solicitadores e do

CAPÍTULO I. ASPECTOS GERAIS E ENQUADRAMENTO LEGAL

3. DISPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS REGULADORAS DOS HONORÁRIOS DO

3.2. Critérios densificadores do critério geral da moderação: o art.º 111.º, n.º 1, do

3.2.1. Critérios constantes do Estatuto da Câmara dos Solicitadores e do

3.2.1.1. O critério temporal – tempo efectivamente gasto ou despendido

Conforme o próprio indica, o critério temporal refere-se ao tempo que o solicitador despendeu com determinado assunto jurídico, procurando com esse tempo descortinar todo o caso que o seu cliente lhe colocou em mãos, para que possa fundamentar e justificar a pretensão do seu cliente. Trata-se, no meu entender e não descurando dos restantes critérios, de um dos dois critérios mais importantes, atendendo que o presente critério em análise descortina-se em dois factores a considerar para o efeito de cálculo dos honorários do solicitador: os custos de manutenção de funcionamento do escritório do solicitador, enquanto suporte de actividade do mesmo e usado para resolução do caso; e, a justa remuneração do solicitador pelo tempo despendido para a resolução do caso em concreto. Tal vai de encontro ao entendimento de ANTÓNIO ARNAUT, ao argumentar que «Tem- se entendido que de entre os parâmetros para a fixação de honorários, há que atender especialmente ao tempo gasto. E para a sua determinação há que decompô-lo em duas

61 Fernando Sousa Magalhães, Estatuto da Ordem dos Advogados anotado e comentado, Coimbra,

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parcelas; uma, enquanto custos fixos de manutenção e funcionamento da empresa que, apesar de tudo, é o escritório do advogado [diga-se solicitador]; outra, enquanto remuneração justa do trabalho directamente investido pelo advogado [diga-se solicitador] no assunto que lhe está confiado (Ac. Cons. Ger. De 28-10-88, R.O.A. 49-279)»62

Assim, contabiliza-se para o efeito deste critério o tempo que o solicitador despendeu no seu escritório ou noutras entidades que obrigatoriamente necessitam de estar envolvidas para a resolução daquele assunto jurídico, devendo-se considerar que, uma vez despendido mais tempo para determinado processo do que para outro, será justo que os honorários do solicitador sejam mais elevados.

Neste âmbito, dever-se-á atender ao critério do homem médio, isto é, considerar-se-á como ponto de referência a pessoa mediana que seja o equilíbrio entre todos os indivíduos, sendo assim possível analisar e comparar as condutas, o saber e as demais características das pessoas. Deste modo, adaptadamente, atender-se-á para o critério temporal, o critério do solicitador médio, ou seja, na situação de um solicitador medianamente inteligente, quanto tempo demorará a resolver certa situação e, caso demore o mesmo tempo, significa que o solicitador se enquadra no nível mediano, se demorar menos tempo, significa que excede tal nível e, se demorar mais tempo, significa que não se enquadra nesse nível médio e, só por isso, também não poderá cobrar mais honorários do seu cliente.

Entende-se, portanto, que o tempo despendido para o estudo do caso não deva ser considerado para efeitos de tempo efectivamente empregue no assunto jurídico trazido pelo cliente. Todavia, na minha perspectiva, tal apenas deve ser considerado quando esse tempo de estudo não seja advindo da incompetência do solicitador, mas sim, como se sucede em muitos outros casos, quando o tempo de estudo signifique o aperfeiçoamento da resolução do assunto jurídico, para além das exepectativas, dependentemente do interesse do cliente.

3.2.1.2. O critério da dificuldade ou complexidade do assunto

Outro critério a ter em conta e o qual se configura no outro critério importante a par com o critério temporal, é o critério da dificuldade do assunto, não da perspectiva de estudo, uma vez que essa matéria foi alvo de análise no ponto antecedente, mas sim quanto às diligências que sejam necessárias levar a cabo, como por exemplo, a necessidade de traduzir documentos. Trata-se, por isso, dos casos em que haja uma acrescida dificuldade

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em resolver o assunto jurídico e que, por isso, devam ser cobrados os respectivos honorários.

3.2.1.3. O critério da importância do serviço prestado

Outro critério a ter em linha de conta é o critério da importância do serviço prestado. Quer o mesmo dizer que se qualificam certos assuntos jurídicos mais importantes que outros e que, devido a isso, devam ser agravados os honorários do solicitador, considerando que o mesmo contribuirá para a resolução de um assunto jurídico relevante.

Significará, portanto, que o solicitador terá direito a uma compensação superior quando se tratem de assuntos controversos em que jurisprudência não é unânime, de situações em que a sua própria natureza possui diversas conexões. Serão, assim, as situações em que o solicitador terá em mãos casos de importância extrema, dada a sua natureza e o impacto que revela na jurisprudência portuguesa.

3.2.1.4. O critério finalístico ou do resultado

Outro critério a referenciar para efeitos de fixação dos honorários é o critério dos resultados obtidos, não só os resultados finais, mas também os resultados apresentados ao longo da resolução do assunto jurídico e que ao solicitador estejam inerentes pela sua actuação. É, no entanto, importante notar que, mesmo que os resultados sejam negativos, o solicitador tem sempre direito ao recebimento dos seus honorários.

Será importante referenciar que o presente critério em nada se compara com a quota

litis (infra ponto 4.1.3.). Com o presente critério pretende-se que o resultado do caso seja

um dos factores a ter em consideração para a fixação deste critério no âmbito do apuramento dos honorários do solicitador, não se considerando que haja a celebração de um pacto de quota litis caso assim se proceda. Assim entende LUÍS MENEZES LEITÃO, afirmando que «Não é, no entanto vedada a consideração do resultado obtido no âmbito da fixação dos honorários, sendo este mesmo um dos critérios para essa fixação (…)»63.

3.2.1.5. O critério da urgência do serviço

Por fim, no âmbito dos critérios que permaneceram intactos com o Novo Estatuto, cumpre mencionar o critério da urgência do serviço, tratando-se dos casos em que o cliente

63 Luís Menezes Leitão, Estatuto da Ordem dos Advogados anotado e legislação e regulamentos

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requeira ao solicitador e, esteja disposto a pagar mais por isso, que o mesmo diligencie no sentido de resolver determinado caso da forma mais célere possível, em detrimento de outros processos. Deste modo, o solicitador poderá cobrar uma verba adicional devida pela referida urgência que obrigou o solicitador a largar os restantes casos que detém.

3.2.2. Critérios reformulados (e abarcados) pelo Estatuto da Ordem dos