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Critérios de Determinação da Vazão Máxima

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.3.1 Critérios de Determinação da Vazão Máxima

Embora os critérios de outorga sigam a ordem descrita no item 6.2.1 no sentido de fornecer aos usuários da bacia subsídios para um melhor desempenho, para o órgão responsável pela outorga, a ordem indicada é decrescente do ponto de vista de facilidade de operacionalização e fiscalização. Assim, é aconselhável que, ao menos inicialmente, as vazões máximas outorgáveis pelo órgão gestor sejam valores fixos, como a vazão de referência única. Conforme o grau de melhoria no setor de monitoramento e no Sistema de Informações de Recursos Hídricos, ia-se empregado os critérios de 2 e 12 vazões de referência, até que, finalmente, fosse possível a adoção do critério da vazão excedente, com as necessárias simulações em tempo real.

Vale salientar ainda que, mesmo colocando à disposição dos usuários de água da bacia do rio Gramame um maior volume de água quando comparado aos demais critérios, o critério da vazão excedente não é capaz de garantir o atendimento nem de 70% do volume total requerido por algumas demandas. Além disso, para a maioria dos usuários de água da bacia, há meses nos quais não é atendido nenhum volume da demanda requerida.

Conquanto a utilização do critério da garantia de suprimento tenha resultado nos piores parâmetros de desempenho, apenas se deve afirmar que esse foi o critério que causou maior impacto nas demandas instaladas na bacia do rio Gramame. Porém, como as vazões por ele outorgadas são estabelecidas com base em garantias pré-fixadas, numa bacia ainda não explorada, cujos usuários somente se estabelecerão caso a outorga lhe tenha sido concedida, esse parece ser o critério mais indicado. Além do mais, esse critério apresenta a facilidade de adotar valores únicos a serem outorgados todo o tempo, embora possa apresentar variabilidade mensal.

Tudo isso mostra o quão aquém dos seus usos está a disponibilidade de água na bacia do rio Gramame. Dessa forma, é evidente a necessidade de intervenção do poder público para a concessão de outorgas como forma de controlar ou, ao menos, minimizar os conflitos de uso da água na região.

No caso da implementação do processo de outorga na bacia do rio Gramame, devido à escassez de dados fluviométricos e à falta de controle, por parte do órgão gestor da bacia, dos usuários existentes na mesma, são fundamentais:

O estabelecimento de postos fluviométricos com densidade suficiente para prover uma bacia tão importante de séries de vazão consistentes, bem como para suprir o Sistema de Informações de Recursos Hídricos da bacia;

A instalação de um sistema de monitoramento e fiscalização capaz de avaliar se o uso da água está sendo executado em consonância com a outorga concedida e também para abastecer o Sistema de Informações de recursos hídricos, de forma contínua, atualizada e eficiente, sobre as disponibilidades e as demandas de todos os usuários;

No caso de critério da vazão excedente, esse Sistema de Informações é imprescindível para a simulação em tempo real, necessária para informar sobre os usos que terão suas demandas reduzidas no referido intervalo de tempo;

A consideração das reservas hídricas subterrâneas, que poderão complementar ou substituir com vantagens as disponibilidades superficiais.

6.3.2 Introdução Simplificada da Qualidade da Água no Processo de Outorga

No tocante à vazão de diluição propriamente dita, vale salientar que, conforme dito anteriormente, essa metodologia facilita o processo de fiscalização e entendimento, mas não é eficaz na distinção entre a escassez quantitativa e qualitativa. Assim, quando houver uma rede de amostragem de qualidade da água capaz de suprir modelos matemáticos de qualidade da água em conjunto com a quantidade, estes devem substituir o procedimento da vazão de diluição no processo de outorga. Isso também permitiria a consideração de outros parâmetros de qualidade da água, importantes para o consumo humano e animal.

É interessante ressaltar ainda que toda a análise da introdução da qualidade da água no processo de outorga partiu do pressuposto da adoção do critério da vazão excedente na determinação da vazão máxima outorgável. Assim, por esse critério permitir uma maior utilização de água na bacia, a adoção de um critério de outorga distinto implicaria numa situação ainda mais crítica de suprimento da vazão de diluição.

Conforme dito no item 6.2.2, a consideração da vazão de diluição como demanda no processo de outorga da bacia do rio Gramame embora, de modo geral, não tenha acarretado em grandes alterações do atendimento das demandas já existentes na bacia, teve graves conseqüências no atendimento dos usuários dependentes do reservatório Mumbaba, quando este foi considerado. Para minimizar esse impacto, o órgão gestor da bacia poderia implementar o nível de racionamento de 50% utilizado nesse estudo, a partir do qual apenas as demandas para abastecimento urbano eram supridas. Conforme se verificou, os impactos

no suprimento das demandas existentes foi menor nesse cenário do que no cenário no qual não foi empregado nenhum zoneamento.

Pelo fato do processo de depuração ser bastante lento e dos poluentes existentes nos cursos d’água serem pouco expressivos, recomenda-se ao órgão responsável pela concessão de outorgas na bacia a desconsideração da autodepuração da DBO nos cursos d’água da bacia, bem como dos poluentes advindos do próprio rio. Dessa forma, a implementação das demandas para diluição no processo de outorga da bacia se torna bem menos complexa.

Como foi verificado no suprimento das vazões de diluição dos efluentes de Pedras de Fogo e do Distrito Industrial de João Pessoa, não há vazão disponível para diluir integralmente os efluentes lançados, conquanto esses poluentes sejam lançados nesses cursos d’água atualmente. Dessa forma, é urgente o emprego de medidas para que sejam atendidos os padrões de qualidade estipulados pelo enquadramento. Algumas das medidas que podem ser adotadas, isoladas ou em conjunto, são (Ribeiro, 2000): modificação do processo produtivo com vistas a gerar menos efluentes e o tratamento dos efluentes.

Para a consideração da qualidade da água no processo de outorga da bacia do rio Gramame é essencial uma base de dados confiável, sendo necessário para tanto, além das recomendações do item anterior:

O aumento da densidade de estações de amostragem da qualidade da água, efetuando medidas simultâneas de qualidade e quantidade;

A quantificação dos poluentes provenientes dos agrotóxicos e fertilizantes utilizados na irrigação;

A fiscalização e o monitoramento, nesse caso, devem ser bastante rigorosos com relação aos lançamentos de despejos, uma vez que, mesmo quando faltar água, é sempre possível a esses usuários continuar lançando poluentes nos cursos d’água.

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