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Introdução Simplificada da Qualidade da Água no Processo de Outorga

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.2.2 Introdução Simplificada da Qualidade da Água no Processo de Outorga

A metodologia desenvolvida para a introdução da qualidade da água no processo de outorga procurou enfocar os seguintes aspectos: (i) a demanda para diluição de despejos, computando a vazão de lançamento e avaliando sua sensibilidade à consideração da concentração de poluentes do próprio curso d’água; (ii) o processo de depuração dos poluentes nos rios, de forma simplificada; e (iii) o impacto da vazão de diluição de despejos e do processo de depuração simplificado nas demandas instaladas na bacia.

O procedimento proposto para a consideração da vazão de lançamento no cálculo da vazão de diluição se mostrou de fácil compreensão e implementação, uma vez que na maioria das estações de monitoramento da qualidade da água são efetuadas medições da concentração de poluente e de sua respectiva vazão de lançamento, dados necessários ao procedimento.

No tocante à concentração de poluentes do curso d’água, a proposta de representá-la como uma demanda de diluição de prioridade superior à dos poluentes lançados impediu, de uma forma simples e fácil, o lançamento de efluentes nos corpos hídricos além da sua real capacidade de assimilação. Uma das principais vantagens dessa proposta é o fato de não necessitar de auxílio de modelos de qualidade da água.

Quanto à metodologia concebida para o processo de depuração, a utilização de coeficientes de depuração obtidos dos perfis de DBO dos cursos d’água, também dispensando

o uso de modelos de qualidade da água, facilitou a implementação da autodepuração no procedimento de outorga. Embora tenha sido uma aproximação do real processo de depuração, permitiu a liberação da água utilizada pela vazão de diluição, e depurada, para outros usuários de jusante, através de fatores fixos estabelecidos previamente.

Efetuada a avaliação da metodologia desenvolvida, a análise que se segue é referente a sua aplicação na bacia do rio Gramame.

Com base nos parâmetros de desempenho obtidos para os cenários simulados da bacia do rio Gramame, foi possível inferir que as demandas para diluição de despejos afetaram de forma pouco significativa o suprimento das demandas existentes, à exceção dos pontos de controle (PCs) submetidos à operação do reservatório Mumbaba. Esses PCs afetados pela demanda tiveram, em média, uma redução de 20% a 30% de suas garantias.

Esse agravamento do atendimento das demandas dos referidos PCs foi reflexo da liberação da água do reservatório Mumbaba para o suprimento da alta demanda de diluição do Distrito Industrial de João Pessoa, reduzindo os volumes acumulados nesses meses e indisponibilizando-os para uso nos meses subseqüentes.

As vazões liberadas para novos usos pela consideração do processo simplificado de autodepuração, através de coeficientes pré-estabelecidos, não foram significativas a ponto de melhorar o atendimento das demandas dos PCs à jusante dos lançamentos.

Quanto à concentração prévia de poluentes dos cursos d’água onde são lançados despejos (ou seja, a situação de qualidade com que a água chega ao PC), sua consideração pouco afetou o suprimento das demandas para diluição. Entretanto, exceto a demanda do Conde, os valores dos parâmetros de desempenho se apresentaram bastante insatisfatórios para essas vazões de diluição, mostrando a inviabilidade de seu suprimento pelas reservas hídricas da bacia.

Limitações

A metodologia proposta nesse estudo para a introdução da qualidade da água no processo de outorga possui algumas limitações inerentes às simplificações adotadas, quais sejam:

O procedimento simplificado da vazão de diluição não permite a distinção na ocorrência de escassez quantitativa e qualitativa;

A utilização do parâmetro DBO para representar a qualidade das águas ignora importantes características das mesmas para o consumo humano, como os aspectos bacteriológico e físico, que apenas seriam considerados com a

introdução de outros indicadores da qualidade da água, como os coliformes fecais e a turbidez, respectivamente;

A representação do processo de depuração pelo procedimento simplificado dos coeficientes de depuração é facilmente aplicável, quando o parâmetro de qualidade em questão é a DBO, mas pode não ser para parâmetros cuja taxa de decaimento não obedeça a uma regra bem definida, tornando necessária a análise de cada caso;

O procedimento de depuração adotado também requer que estejam disponíveis os perfis de DBO dos cursos d’água, o que nem sempre ocorre;

A adoção do coeficiente de depuração fixo pressupõe constante o tempo de percurso da água entre os trechos quando, na verdade, esse tempo é dependente da vazão e da área molhada, variando a cada intervalo de tempo;

Como na bacia em estudo os lançamentos dos poluentes se deram em trechos independentes, as simplificações adotadas foram facilmente empregadas. Entretanto, caso isso não ocorra, é necessário verificar se é possível o emprego de tais simplificações.

Além das limitações citadas acima e das mostradas no item 6.2.1, aqui devem ser introduzidas também as restrições oriundas da aplicação da metodologia desenvolvida na bacia do rio Gramame. Essas limitações são:

As concentrações de DBO necessárias ao estabelecimento das demandas para diluição requisitadas pelo próprio curso d’água foram registradas em anos não coincidentes com o período de simulação;

As concentrações de DBO empregadas (quando existentes) foram oriundas de estações de amostragem de qualidade da água não correspondentes aos locais nos quais foram consideradas, além de possuírem dados escassos de DBO e sem o registro de vazão correspondente;

As vazões de diluição dos despejos domésticos e industriais mantiveram-se constantes em todo o período simulado e foram baseadas em estimativas;

Embora a bacia do rio Gramame tenha a irrigação como base econômica, não foram computados os agrotóxicos e fertilizantes como poluentes, devido à ausência de dados disponíveis.

6.3 RECOMENDAÇÕES