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3.2 Procedimentos Metodológicos e Estratégia Empírica

3.2.2 Definições Operacionais de Constructos Teóricos

3.2.2.2 Critérios de Identificação das Crises Econômicas

O segundo ponto importante a ser destacado é a identificação dos períodos de crises econômicas vivenciados pelas empresas brasileiras no período de 1995 a 2015. Nesta pesquisa, assume-se como critério de identificação dos choques exógenos negativos, como as crises econômicas que impactaram o Brasil, a datação divulgada na última reunião do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE) em 30 de julho de 2015, possibilitando identificar, por meio da Tabela 6, os períodos vivenciados por recessão econômica. A periodicidade da informação é trimestral, o que possibilita avaliar os efeitos das crises econômicas sobre o investimento corporativo conforme a configuração proposta nesta tese.

O Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE) identificou, nesta última reunião, a ocorrência de um pico no ciclo de negócios brasileiro no primeiro trimestre de 2014, sendo que este ponto representa o fim de uma expansão econômica que durou vinte trimestres, ou seja, entre o segundo trimestre de 2009 e o primeiro de 2014. Esse ponto também sinaliza a entrada do Brasil em uma recessão econômica a partir do segundo trimestre de 2014, sendo uma situação que ainda se mantém inalterada até o momento conforme demonstrado na Tabela 6 e na Figura 4. O ciclo de expansão de 2009–2014 foi semelhante ao anterior, com extensão de vinte e um trimestres, ocorrido entre o terceiro trimestre de 2003 e o terceiro trimestre de 2008. Segundo os dados da Tabela 6, para o CODACE, o crescimento médio trimestral de 4,2%, em termos anualizados, foi um pouco inferior ao observado nos dois períodos anteriores de expansão, ocorridos entre o primeiro e o último trimestres de 2002 (5,3%) e entre 2003 e 2008 (5,1%).

Por outro lado, considerando a proposta central desta tese em avaliar o efeito das crises como amplificador dos efeitos da restrição financeira sobre a decisão de investimento corporativo, o ponto central a ser discutido é a identificação dos períodos de recessões que afetaram a economia do país. Por meio da Figura 4, é possível observar os períodos recessivos que afetaram os ciclos de negócios brasileiros e, durante o período avaliado nesta tese, observa-se, na Figura 4, a ocorrência de seis ciclos recessivos entre os anos de 1995 e 2015.

Tabela 6: Cronologia Trimestral do Ciclo de Negócios Brasileiros - CODACE

Fonte: CODACE – Reunião ocorrida em 30/07/2015.

Em relação ao atual período recessivo, o CODACE destaca, por meio de relatório da última reunião em 30 de julho de 2015, que não se manifesta em relação à atual crise econômica, justificando que esses eventos negativos podem ter extensões e amplitudes diferentes em cada série, e estes ciclos são influenciados pelas motivações e condições macroeconômicas internas e externas do país, que possibilitarão a retomada, lenta ou acelerada, de uma nova fase de expansão. Para o

CODACE, é possível observar, como aponta a Figura 4, que a duração dos ciclos recessivos brasileiros apresenta uma tendência histórica de diminuição a partir de meados dos anos 1990. A média de duração dos três períodos negativos ocorridos entre 1981 e 1992 foi de 8,7 trimestres. Por outro lado, desconsiderando a duração da atual crise, a extensão média dos cincos períodos recessivos a partir de 1995 foi de 2,8 trimestres, o que justifica historicamente uma tendência de redução.

Figura 4: Cronologia Trimestral dos Ciclos de Negócios Brasileiros – CODACE

Fonte: CODACE – Reunião ocorrida em 30/07/2015.

Ainda segundo o CODACE, o último período recessivo observado que se inicia no segundo trimestre de 2014 apresenta uma amplitude de contração menor, ou seja, no período que vai do início da recessão até o primeiro trimestre de 2015, o CODACE informa que a taxa média de contração foi de 1,1% em termos anualizados. Embora este dado não inclua a variação completa do ano de 2015, a contração parcial de 1,1% é similar ao observado nas recessões de 1998–1999 e de 2001, sendo significativamente menor do que a observada na curta e intensa recessão de 2008– 2009 (-11,2% ao ano). Considerando o período de avaliação da taxa média de contração de 1,1%, a sua extensão de quatro trimestres já é mais longa que a duração média das cinco recessões anteriores, porém a crise ainda permanece até o presente momento, demonstrando uma extensão muito superior quando comparada às crises anteriores que incluem o período de avaliação de vinte e um anos proposto nesta tese. Entretanto, considerando a necessidade de testar o efeito de todas as crises econômicas no período proposto nesta pesquisa, é relevante destacar que foram

avaliadas todas as crises identificadas pelo CODACE e nas pesquisas de Caprio e Klingebiel (2003), Reinhart e Rogoff (2010) e Issler, Notini, Rodrigues e Soares (2013) as quais promoveram um período de recessão na economia brasileira. Por meio da pesquisa de Issler, Notini, Rodrigues e Soares (2013), identificaram-se as crises econômicas que afetaram a economia brasileira no de 1980 a 2012, sendo que estes dados foram demonstrados mensalmente e estão alinhados com as datações do CODACE. Os estudos de Caprio e Klingebiel (2003) e Reinhart e Rogoff (2010) possibilitaram identificar todas as crises financeiras que afetaram o Brasil durante o período proposto nesta tese, sendo identificadas como crises cambiais, crises inflacionárias, crises bancárias e crises de endividamento interno e externo. Além disso, os estudos também possibilitaram reconhecer outros eventos negativos que impactaram o Brasil.

Dessa forma, para a testagem de todos os choques exógenos negativos que afetaram o Brasil no período de investigação desta tese, foi necessária a elaboração de um resumo das crises, identificando a origem/país da crise, o período em que ocorreu a crise, a tipologia da crise assim como as demais informações. Com base nas datações do CODACE e por meio dos estudos de Caprio e Klingebiel (2003), Reinhart e Rogoff (2010) e Issler, Notini, Rodrigues e Soares (2013), foi possível apontar as crises financeiras, as crises econômicas e demais eventos conforme demonstrado na Tabela 7. Assim, tendo em vista a proposta central de avaliar o efeito das crise econômicas e da restrição financeira sobre o investimento corporativo, foram analisados nesta tese os períodos recessivos referentes as datações do CODACE, ou seja, a Crise de 1995, Crise de 1998/1999, Crise de 2001, Crise de 2003, Crise de 2008/2009 e Crise de 2014/2015.

Na especificação para o teste das hipóteses (H3) e (H4), assim como não teste das hipóteses (H5) e (H6), foi necessário identificar os choques exógenos negativos que impactaram a econômica brasileira, ou melhor, os eventos considerados períodos crises econômicas conforme sintetizados na Tabela 7. Para a operacionalização desta variável nos modelos propostos nesta tese, cada crise econômica será representada por uma variável binária ou dummy em que:

CRISE = 1, anos vivenciados por crises econômicas.

Tabela 7: Resumo de Choques Exógenos Negativos no Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor.

Por fim, é oportuno mencionar que foi necessária a utilização individualizada de uma variável dummy para cada uma das crises identificadas conforme a periodicidade anual proposta nesta pesquisa, tendo como objetivo avaliar individualmente o efeito de cada choque exógeno negativo sobre a decisão de investimento das firmas e atentando para os efeitos adversos da restrição financeira e a intensidade com que cada uma delas impactou estas relações. Conforme já demonstrado, as crises são eventos recorrentes e que apresentam diferentes graus de severidade (STIGLITZ, 2009; DUCHIN, OZBAS e SENSOY, 2010; CARVALHAL e LEAL, 2013), intensificando o custo de acesso a fundos externos e promovendo maior interdependência das decisões de investimento e financiamento (BERNANKE, GERTLER e GILCHRIST, 1996; DUCHIN, OZBAS e SENSOY, 2010; CARVALHAL e LEAL, 2013). Com isso, esses fatores podem afetar diferentemente os determinantes da decisão de investimento, o que justifica a testagem do efeito individualizado de todas as crises econômicas, principalmente considerando a proposta central desta pesquisa.

País /Origem Período Tipologia Descrição / Comentários

Brasil 1994 Crise Financeira Crise Bancária Brasil 1995 Crise Financeira Crise Bancária Brasil 1995 Crise Financeira Crise Inflacionária

Brasil 1995 Crise Econômica CODACE - Sintese de datações Brasil 1996 Crise Financeira Crise Bancária

Asiática 1997 Outras Crises Crise Financeira Asiática Asiática 1998 Outras Crises Crise Financeira Asiática

Brasil 1998 Crise Econômica CODACE - Sintese de datações Brasil 1999 Crise Financeira Crise Cambial

Brasil 1999 Crise Econômica CODACE - Sintese de datações USA 2001 Outras Crises Ataque terrorista 11 de setembro Argentina 2001 Outras Crises Crise Cambial

Brasil 2001 Crise Econômica CODACE - Sintese de datações Brasil 2002 Outras Crises Início do governo Lula

Brasil 2003 Crise Econômica CODACE - Sintese de datações USA 2007 Outras Crises Crise financeira do "subprime" USA USA 2008 Outras Crises Crise financeira do "subprime" USA Brasil 2008 Crise Econômica CODACE - Sintese de datações Brasil 2009 Crise Econômica CODACE - Sintese de datações Brasil 2014 Crise Econômica CODACE - Sintese de datações Brasil 2015 Crise Econômica CODACE - Sintese de datações