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Levando em consideração o fato de que, atualmente, são setenta escolas desfilantes11, treze delas, inseridas no grupo especial (LIESA), também conhecido como grupo de elite, e que as demais cinquenta e seis formam os chamados grupos de acesso,

11 Informação retirada dos sites: Liga independente das escolas de samba (LIESA), associação responsável pelo grupo especial; Liga independente das escolas de samba do Rio de Janeiro (LIERJ), associação das escolas de samba do grupo de acesso, Apoteosa – ordem de desfiles 2017.

adotamos quatro critérios para a seleção do corpus. O primeiro deles foi o de pertencimento ao grupo especial do Rio de Janeiro (pelo fato de essas escolas serem conhecidas pelo grande público e de sua importância no universo do samba).

Grêmio Recreativo da Portela Estação Primeira de Mangueira

Império Serrano São Clemente Unidos de Vila Isabel

Paraíso do Tuiuti Acadêmicos da Grande Rio Mocidade Independente de Padre Miguel

Unidos da Tijuca União da Ilha do Governador

Acadêmicos do Salgueiro Imperatriz Leopoldinense Beija-flor de Nilópolis Figura 1: Tabela de Ranking

Fonte: http://liesa.globo.com/ Acesso em: 28 de maio de 2017

Feito o levantamento das escolas de samba pertencentes ao grupo de elite, aplicamos o segundo critério: a escolha das escolas de samba com maior número de títulos até o ano de 2018.

Total de Títulos

Agremiação

22 Grêmio Recreativo da Portela

19 Estação Primeira de Mangueira

14 Beija-flor de Nilópolis

9 Acadêmicos do Salgueiro

9 Império Serrano

8 Imperatriz Leopoldinense

6 Mocidade Independente de Padre Miguel

4 Unidos da Tijuca

3 Unidos de Vila Isabel

1 Acadêmicos da Grande Rio

Figura 2: Tabela Ranking

Fonte: http://liesa.globo.com/ Acesso em: 28 de maio de 2017

Das treze escolas de samba que fazem parte do grupo de elite do Rio de Janeiro, dez delas possuem títulos. No entanto, levando em conta a impossibilidade de analisar essas dez escolas, operamos mais um recorte, que se definiu como nosso terceiro critério: as três escolas detentoras do maior número de títulos, para além de dez. Por esse critério, as escolas analisadas serão as seguintes:

Total de Títulos Agremiação

22 Grêmio Recreativo da Portela 19 Estação Primeira de Mangueira 14 Beija-flor de Nilópolis

Figura 3: Tabela Ranking

Fonte: http://liesa.globo.com/ Acesso em: 28 de maio de 2017

O quarto e último critério diz respeito à escolha dos sambas reconhecidos pelas escolas como hinos, ou seja, sambas-exaltação divulgados no site da própria escola e entoados durante o cortejo que antecede o desfile e durante os ensaios, conhecidos também como “hinos de exaltação” ou “sambas de esquenta”.

No que tange ao levantamento do corpus analisado nesta pesquisa, é importante registrar que nem todos os sambas-exaltação tornaram-se, de fato, hinos oficiais da escola.

De acordo com Ericeira (2009), apenas aqueles que têm maior divulgação popular são inseridos no ritual que antecede o desfile; e nem todos os sambas-exaltação são divulgados, sendo difundidos apenas no interior das escolas de samba. Isso justifica a escolha daqueles sambas que são reconhecidos como hinos de exaltação das escolas de samba.

Observando as peculiaridades do critério adotado, os sambas-exaltação analisados serão aqueles pertencentes às seguintes escolas de samba do Rio de Janeiro: Grêmio Recreativo da Portela, Estação Primeira de Mangueira e Beija Flor de Nilópolis.

Em nossa próxima seção, apresentaremos as categorias de análises interpretadas de acordo com as incidências linguístico-discursivas dos enunciados concretos. Vale ressalvar o fato de que, em se tratando uma pesquisa de abordagem qualitativo- interpretativista, as categorias não são preestabelecidas; elas surgem em função do próprio corpus.

Os estudos empreendidos pelo Círculo de Bakhtin nos direcionam a conhecer melhor o objeto estudado, de modo que o analista do discurso, por meio de gestos de interpretação (GINZBURG, 1989), seguirá as pistas para compreender o enunciado concreto em seu contexto de produção e de circulação. Como dissemos no início desta seção, o objeto nas ciências humanas é “um ser expressivo e falante” (BAKHTIN, 2010, p. 84), ou seja, ele não está mudo e nem inerte. Está sempre em interação com o que já foi dito em outros enunciados, ao mesmo tempo em que produz respostas ativas. Portanto, ao buscar pelas identidades das escolas de samba, exercemos a prática de ouvir o nosso sujeito de pesquisa, para que ele nos sinalizasse as categorias, tornando-se guia em nossa análise.

Após a seleção das escolas de samba e dos respectivos sambas-exaltação (a partir dos critérios apresentados na seção 4.2), examinamos os enunciados sob a perspectiva dialógica da linguagem, com vistas a buscar os sentidos reveladores do modo como, em seus discursos, essas escolas se representam identitariamente.

Ao ouvir nosso sujeito de pesquisa e observar as incidências linguístico- discursivas, verificamos alguns aspectos em comum na construção dos sambas-exaltação como: exaltação à bandeira, exaltação às cores da escola, valorização do passado, palavras que sugerem sentimentos de amor, paixão, de felicidade e de devoção que a comunidade deve desenvolver pela escola, relação de alteridade com a comunidade ou bairro, palavras

que despertam emoção, elementos tipicamente religiosos, lugar de natureza e lugar de samba.

5 ABRINDO O DESFILE: EM BUSCA DAS IDENTIDADES

Com a base teórica e metodológica instituída, esta seção discorrerá sobre as análises dos sambas-exaltação das escolas de samba com a finalidade de responder as questões que norteiam a nossa pesquisa: como as escolas de samba se constroem identitariamente a partir dos seus sambas-exaltação? Que relações dialógicas estabelecem entre si?