• Nenhum resultado encontrado

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3. Crochê

O crochê é uma das formas de artesanato mais conhecidas mundialmente. Apesar de sua difusão entre as mais variadas culturas, não se sabe ao certo como ou onde esta técnica surgiu. Segundo Gazel (2012) “a palavra crochê deriva do francês [...] Crochet significa gancho, menção ao formato da agulha utilizada na

confecção deste tipo de artesanato”.

Rocha (2012, p.2 apud OLIVEIRA, 2012, p.25) por sua vez defende que “a palavra foi originada de um termo existente no dialeto nórdico com o significado de gancho que é a forma do bico [...] da agulha”.

Alguns historiadores nos levam a crer que o crochê tem origens pré-históricas, embora não se tenham provas concretas. Técnicas manuais muito parecidas são encontradas por todo o mundo, em várias culturas diferentes.

Tudo o que sabemos da historia do crochê atualmente pode ser datado a partir do século XVI, período onde a arte foi difundida no continente europeu. Antes disso existe a possibilidade de que a técnica tenha surgido no Egito, china, Tunísia, Arábias ou Peru (GAZEL, 2012).

Considerada um passatempo para as mulheres abastadas, a partir do século XVI a técnica era ensinada em conventos. Ganhou ascensão durante o século XIX, em alguns países como a França, a Inglaterra e a Irlanda, devido a rainha Vitória, adepta desta moda durante o seu reinado. No século XX o crochê entrou em declive e ficou no esquecimento, passando a ser utilizado apenas por entusiastas. (GAZEL, 2012).

O crochê tradicional desenvolvido atualmente segue gráficos que demonstram o processo de montagem dos pontos, que podem ser copiados ou aperfeiçoados para o surgimento de novos desenhos.

Figura 4 – crochê tradicional

Fonte: http://postila.ru/post/27864877

Segundo o blog ASLANTRENDBRASIL (2011 apud OLIVEIRA, 2012) as primeiras receitas de crochê publicadas, que temos conhecimento, pertencem a uma revista holandesa denominada “Penelope”, datada de 1824. Revista esta que é publicada ainda nos dias atuais, sempre com novidades sobre o crochê e outros tipos de artesanato em geral. Outra contribuinte para as publicações de padrões de crochê foi a Mademoiselle Riego de La Blanchardière, que em 1846 publicou o livro denominado “The crochet book”, considerado o primeiro livro de padrões de rendas de crochê.

Atualmente o crochê vem ganhando espaço nas semanas de moda. A técnica que foi considerada obsoleta há algumas décadas atrás, hoje é bastante utilizada por alguns estilistas renomados que procuram valorizar a beleza de cada detalhe do trabalho manual.

Oliveira (2012) apresenta os principais tipos de crochê utilizados atualmente, derivados da técnica tradicional. São eles:

O crochê filé aparenta uma trama quadriculada, com blocos de pontos cheios intercalados com blocos de pontos vazios;

Figura 5 – Crochê filé

Fonte: < https://www.elo7.com.br/centro-de-mesa-em-croche-file/dp/2A3DF8>

O crochê tunisiano possui uma agulha maior que a do crochê comum, suas carreiras são feitas em duas fases, a primeira da direita para a esquerda e a segunda da esquerda para a direita;

Figura 6 – Crochê tunisiano

Fonte:http://www.festainfantildecoracao.com/40écnica-ponto-tunisiano-entrelacado-com- agulha-de-croche/

O Broomstick-lace é feito com uma larga agulha de tricô, que serve de orientação para as novas laçadas, onde surgirá uma nova carreira;

Figura 7 – Broomstick-lace

Fonte:< http://ortsov.com/broomstick-crochet-how-to/>

O crochê de grampo é utilizado um instrumento em madeira ou metal para a sustentação, neste aparelho são tecidas faixas utilizando a agulha de crochê, em seguida as faixas são unidas utilizando vários formatos de pontos;

Figura 8 – Crochê de grampo

Fonte: <http://croche10.blogspot.com.br/2012_12_18_archive.html

O crochê duplo utiliza uma agulha longa que possui ganchos nas duas extremidades, o que permite o trabalho simultâneo nas duas faces da trama. Possui um efeito encorpado, com a possibilidade da utilização de duas cores.

Figura 9 – Crochê duplo

3. COLEÇÃO

A coleção apresenta características da moda autoral, fugindo dos processos atuais do mercado de moda que nos levam a tendências passageiras.

Acredita-se que o designer de moda pode ser autor de coleções conceito, utilizando sua capacidade de prever cenários futuros, promovendo inovação cultural no cenário que está envolvido. Utilizando sua própria cultura e subjetividade, o designer de moda autoral pode apresentar uma resposta para a crise cultural presente na sociedade que o mesmo está inserido (GONÇALVES, 2014).

Limeira (2008 apud GONÇALVES, 2014) sugere que a moda está enfrentando uma crise cultural provocada pela indústria e a globalização, o que ocasiona uma transferência de significados culturais para as roupas.

Com isto, surge um novo espaço para os designers que pretendem fugir das massificações e que pretendam dar espaço a uma identidade própria.

Sanches (2008, p. 289 apud SALOMON, 2009, p.4) nós mostra que existe espaço no mercado para os criadores de moda autoral ao dizer que há:

“(...) uma demanda por criadores que possuam visão abrangente, sendo capazes de perceber e articular as questões mercadológicas, técnico- produtivas e socioculturais envolvidas na elaboração de produtos e moda, visto que a pressão competitiva sobre as empresas determina que tais produtos sejam melhor adaptados às necessidades e aos desejos dos consumidores. Assim, a cultura da cópia vem sendo substituída aos poucos pela cultura da inovação.”

Na moda autoral o processo de criação de moda é utilizado como plataforma de experimentação, onde o criador pode expor sua personalidade, utilizando elementos que tornam as peças únicas.

Segundo Parode e Scaletsky (2009 apud GONÇALVES, 2014) o design autoral serve para produzir sensações através das criações, assim como elemento de diferenciação cultural, criando novos valores que vão além dos impostos pelo criador.

Salomon (2009) salienta que uma coleção autoral, por enquanto, não esta destinada ao grande público, mas isto não aparenta estar nos planos dos criadores deste tipo de moda, pois não pretendem atingir uma expansão que atrapalhe o processo de criação das peças. Isto gera a fidelização de um novo público consumidor, que busca um trabalho bem elaborado, que vai além da moda da estação.

Para o desenvolvimento deste projeto, todas as informações pertinentes relacionadas à coleção estarão presentes a seguir. Como por exemplo, o tema escolhido para dar vida à coleção, o seu release, os painéis semânticos que auxiliaram na criação, os materiais utilizados para o desenvolvimento das peças, assim como as cartelas de pontos de crochê e de cores.

3.1. Dados da coleção

A coleção será composta por 18 peças de roupas, sendo elas 8 peças vanguardas, 9 peças fashion e 1 peça básica. Seu mix de peças está distribuído entre 5 bottons, sendo eles 5 saias, 5 tops, sendo eles 5 blusas e 8 one pieces, sendo elas 7 vestidos e 1 macacão. Cada peça possui individualidade e estilo próprio, ao mesmo tempo em que apresentam elementos de união que configuram ao mesmo tema.

Os modelos são característicos da moda autoral. Não possuem estação definida, podendo ser utilizados em qualquer época do ano, o que evita seu descarte após o fim da temporada a qual as peças foram designadas.

Entre os materiais selecionados estão às sobras de malhas que não puderam ser utilizadas no processo do corte e que seriam descartadas pela empresa. A Yanomami By Samkara foi a empresa responsável pela doação das malhas, esta fica localizada em Santa Cruz do Capibaribe e produz peças de vestuário de moda feminina.

Figura 10 – Estoque de sobras de malhas da Yanomami

A coleção é inspirada nas obras do artista Luiz Sacilotto, possuindo cores vibrantes e formas geométricas. Os principais materiais utilizados são o crochê, confeccionado por uma artesã local, e sobras de malhas inutilizadas que seriam descartadas.

3.2. Tema

Os elementos que inspiram esta coleção estão presentes nas obras do pintor, escultor e desenhista Luiz Sacilotto. Por ser considerado um dos maiores artistas da arte concreta brasileira, será utilizada como fonte de inspiração a sua série de obras denominadas de Concreção.

Em suas obras ele explora o contraste entre figura e fundo, com medidas e espaços que apresentam equivalência entre si, com cores que se contrapõem. A matéria prima de suas obras são materiais inusitados como o esmalte, chapas de cimento, madeira compensada, ferro, latão e alumínio. O título Concreção seguido pelo ano e a ordem que a obra foi criada passou a ser utilizado a partir de 1954 para denominar suas obras. Em suas composições há a presença constante da geometria, brincando com o jogo de formas, com cores que destacam alguns elementos ao mesmo tempo em que suavizam a presença de outros (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL).

Figura 11 – Concreção 9216

Figura 12 – Concreção 0145

Fonte: http://sorasoraia.blogspot.com.br/2011/04/obras-de-luiz-sacilotto.html

3.2.1. Release

Trama concreta

A arte concreta perde sua rigidez ao se encorpar com tecidos, em meio às linhas trançadas que formam os mais variados desenhos, trazendo ao imaginário novas formas e sensações.

Através da ludicidade de contornos exuberantes, que ressaltam ou escondem as formas ali presentes, a arte de Luiz Sacilotto ganha um novo molde em meio as mais variadas nuances desta coleção. Num jogo de cores, as formas se misturam e se confundem para o surgimento de algo novo e cheio de personalidade.

O intuito desta coleção não é apenas o de transmitir uma nova informação de moda, mas sim de revelar um mundo de novas possibilidades, onde o que seria descartado vira um produto novo e incrível, provando que é possível sim a existência de uma moda mais sustentável.

As peças foram desenvolvidas para a mulher moderna, que está sempre conectada com o mundo e se preocupa com o futuro do mesmo. Uma mulher que pensa além do agora e valoriza sua cultura e seu estilo próprio.

As cores utilizadas são o nude, o preto, o vermelho, o azul e o verde. Marcantes e concisas, elas se apresentam através de um jogo de contrastes que gera novas sensações, transmitindo a força e o posicionamento próprio que a mulher busca em si.

Assim como as obra de Sacilotto, as nuances desta coleção são geométricas, apresentando um jogo hora de assimetria hora de regularidade, ganhando contornos cheios de vida. Dando destaque ao uso das cores e formas de maneira intensa, além de multiplicar estas formas sem perder o seu estado original, trazendo dinamismo para a composição.

A junção destes elementos resulta em peças autorais, que levam o usuário ao curioso mundo da experimentação. Com detalhes que ganham vida através do trabalho manual que resulta no crochê, criando novos significados e laços afetivos a algo que poderia estar em uma lata de lixo.

3.3. Painéis semânticos

Os painéis semânticos são parte essencial para o desenvolvimento de uma coleção, através deles é possível ter uma percepção da essência da coleção, eles transmitem o conceito através de elementos compositivos representados através da linguagem visual.

Os painéis que fizeram parte do desenvolvimento desta coleção foram: O painel do tema, o painel de público-alvo e o painel de referências visuais. Juntos eles auxiliarão no melhor entendimento da coleção desenvolvida.

3.3.1. Painel do tema

O painel do tema, denominado de Trama Concreta, foi criado a partir de algumas obras de Luiz Sacilotto, elas foram organizadas de maneira que seu formato final resultasse em um de seus quadros. Este painel representa a essência da coleção, retratando as principais linhas e formas utilizadas pelo artista.

Figura 13 – Painel do tema

Fonte: Própria

3.3.2. Painel do público-alvo

O painel do público-alvo foi criado a partir das características mais relevantes na personalidade do consumidor de moda sustentável e autoral, como a preocupação com o meio ambiente, a valorização de produtos artesanais, a presença de elementos hippie-chic tanto no ambiente onde habitam quanto no seu estilo de vida.

Este consumidor é do sexo feminino e esta classificado como classe média. Procura ter uma vida leve e saudável sem deixar de lado o conforto e a moda, além de estar sempre engajado em causas relacionadas ao meio ambiente. Mantem uma alimentação saudável e balanceada. Gosta de frequentar lugares tranquilos e inspiradores, como museus e bibliotecas além de ter uma forte ligação com a natureza. Faz compras em feiras de artesanato. Participa da coleta seletiva do lixo e apoia projetos de reciclagem. Sempre preocupado com o bem-estar da família e de seus animais de estimação.

Figura 14- Painel do público-alvo

Fonte: Própria

3.3.3. Painel de referências visuais

O painel de referências visuais retrata todo o conceito da coleção, dando uma identidade para a mesma. Através deste painel é possível detectarmos os elementos das obras utilizados no desenvolvimento das peças, como também apresenta elementos de estilo que estarão presentes nas roupas, como formas, cores, padrões de repetição e elementos que podem estar presentes na coleção.

Os elementos presentes neste painel são algumas das esculturas e quadros de Luiz Sacilotto, de sua série de obras denominadas concreção, feitas a partir da década de 1950. As obras escolhidas foram a Concreção 5730, Concreção 5732, Concreção 5735, Concreção 5816, Concreção 5942, Concreção 9216, Concreção 9768 e Concreção 0145. O painel conta também com elementos de crochê e produtos de moda desenvolvidos com conceitos de sustentabilidade e técnicas artesanais.

Figura 15 – Painel de referências

Fonte: Própria

Documentos relacionados