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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2. Estratégias de design sustentável

Como é possível alcançarmos a sustentabilidade se estamos cada vez mais produzindo uma maior quantidade de novos produtos? Não podemos ignorar a quantidade de recursos naturais que são necessários para a demanda industrial atual. É papel do designer criar soluções para as questões ambientais, só assim será possível chegarmos a um consenso entre a indústria e o meio ambiente.

Pereira (2012) explana que diante da complexidade do desenvolvimento sustentável para a adoção de estratégias que causem a diminuição dos impactos ambientais, o designer é um dos profissionais que estão aptos a contribuir com algumas soluções. Suas ações podem favorecer tanto a diminuição de impacto causado pelo processo produtivo quanto para melhorar a imagem das empresas diante do público, demonstrando estratégias adequadas para as considerações ambientais atuais.

Sendo a indústria da moda uma das mais poluentes do mundo, temos urgência na criação de alternativas sustentáveis. Apresentar estratégias de design de moda que façam a diferença é de vital importância para a indústria têxtil.

Para que isto aconteça, Gwilt (2014) aponta que é necessário pensar no ciclo de vida que uma peça de roupa possui. Este ciclo pode ser dividido entre design, produção, distribuição, uso e fim de vida. Após essa análise é preciso avaliar as suas criações e pensar em melhorias que envolvam a sustentabilidade. Para a introdução dessas melhorias é necessário mapear o ciclo de vida do produto a ser desenvolvido, identificando os impactos socioambientais causados pelo produto. Então podemos escolher os assuntos mais importantes para serem trabalhados e criar estratégias que sejam relevantes para a sustentabilidade, ajudando a minimizar as questões socioambientais, sem gerar impactos negativos nas outras etapas do ciclo de vida da roupa.

Com a popularização do tema sustentabilidade, surgiram vários termos para definir as novas estratégias de design de moda. Salcedo (2014) apresenta algumas dessas alternativas para a moda mais sustentável, com diferentes terminologias e definições e explica a diferença entre elas, sendo:

A ecomoda (moda ecológica, moda bio ou moda orgânica) engloba todos os produtos de moda que foram fabricados com métodos menos prejudiciais ao meio ambiente, enfatizando a redução de impacto ambiental. Este termo também pode ser utilizado no ramo da fabricação das fibras, como uma forma de cultivá-las baseadas nos princípios da agricultura orgânica (SALCEDO, 2014).

A moda ética possui um aspecto ambiental e social, levando em conta o meio ambiente, a saúde dos consumidores e trabalhadores da indústria da moda.

O Slow fashion 5 não é um conceito baseado no tempo de duração de uma peça e sim em sua qualidade, aqui existe uma maior conscientização das partes envolvidas, dos impactos causados pelas roupas no meio ambiente e nas pessoas. A moda mais sustentável inclui todos os citados anteriormente, o conceito de sustentável inclui todas as iniciativas que permitem que a indústria sobreviva com os recursos dos quais dispomos, garantindo igualdade e justiça social (SALCEDO, 2014).

O termo ecomoda pode ser considerado parte integrante do ecodesign, Pereira (2012) confirma essa ideia ao dizer que a adoção do ecodesign trata-se de um processo contínuo de melhoria dos produtos em busca de um menor impacto. Sendo assim, o ecodesign faz referência aos produtos que causam o menor dano ecológico possível ao longo do seu ciclo de vida.

Independente da escolha da nomenclatura ou do método que será utilizado é preciso salientar que a indústria têxtil é uma das mais antigas do mundo, e emprega milhões de pessoas, por isso é necessário que tenhamos cautela nas decisões tomadas, para que estas não gerem impactos sociais futuros.

Muitas das estratégias sustentáveis que podem ser aplicadas ao design e a produção seguem os seguintes princípios: Minimização do consumo de recursos; escolha de processos e recursos de baixo impacto; melhora das técnicas de produção e dos sistemas de distribuição; redução dos impactos causados durante o uso e aumento da vida útil de uma peça; Melhoras no uso após a vida útil do produto (GWILT, 2014).

Manzini e Vezzoli (2002 apud MARTINS, MELLO e SAMPAIO, 2009) também apontam algumas abordagens possíveis em relação ao design sustentável, com foco na redução de impactos causados pelos produtos. Para eles é possível atuar a partir do redesign ou do design de novos produtos sustentáveis, repensando todo o sistema de produção e consumo que engloba o produto, com isso é possível desmaterializar o consumo e criar propostas com cenários de estilos de vida sustentáveis.

Portanto, existem dois caminhos a serem seguidos, ser ou não ser sustentável. Salcedo (2014, p.39) nos direciona a esta ideia ao definir as duas linhas de pensamento que podem ser identificadas no processo de criação, seriam elas: “a que reflete o ciclo convencional de design e produção e a que reflete as estratégias

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Slow Fashion: moda lenta; onde produtores e consumidores estão mais conscientes dos impactos da moda no meio ambiente (SALCEDO, 2014).

de design para a sustentabilidade (pensamentos agregados) aplicáveis ao longo desse ciclo”.

Não devemos considerar seguir o ciclo convencional de design, com o número cada vez maior de problemas ambientais, esta não é uma alternativa que possa ser seguida. É nosso dever superar os empecilhos encontrados entre o caminho da moda e a sustentabilidade.

Salcedo (2014) aponta que, uma resposta aos obstáculos da sustentabilidade na moda seria pensar no processo de desmontagem ainda no processo de concepção do produto. Isto seria possível através das seguintes práticas: Restringir o número de materiais de uma peça, o uso de tecido de composição mista e o uso de enfeites. Utilizar aviamentos que sejam fáceis de serem removidos, permitindo um concerto mais fácil e um melhor reaproveitamento da peça. Também é necessário criar laços emocionais entre o consumidor e a peça, para aumentar a vida útil da mesma, evitando a obsolescência programada. Outro ponto é pensar no bem-estar dos artesãos e agricultores. Outra estratégia de design sustentável é minimizar o desperdício, eliminando os resíduos das peças, seja através da modelagem ou utilizando-as como forro e entretelas. É preciso apostar em materiais de qualidade para a fabricação de peças duradouras.

Não é necessário que todas estas alternativas sejam utilizadas em seu processo criativo, também é pouco provável se posso conciliar todas elas. A escolha do melhor método exige paciência e dedicação. São necessários alguns testes para que esta escolha possa ser feita. Gwilt (2014, p.44) relata que “Para começar, pode ser muito útil tentar uma única estratégia. E verificar como você pode responder a uma meta ou objetivo estabelecido”.

Dentre as alternativas para a criação de moda sustentável, uma delas vem ganhando bastante espaço no mundo da moda, o upcycling. Este processo consiste em transformar resíduos em novos produtos, com uma nova vida útil.

Salcedo (2014) aponta que as palavras upcycling e downcycling são conceitos novos criados por McDonough e Braungart, onde o primeiro cria novos produtos com valor igual ou superior ao de origem, enquanto o segundo obtém uma perda de qualidade durante o processo de fabricação do novo produto.

Um exemplo de marca que utilizada os conceitos do upcycling é a Insecta Shoes, que utiliza tecidos de roupas que foram descartadas para a criação de sapatos.

Figura 2 – Calçados produzidos utilizando conceitos do upcycling

Fonte: http://www.modefica.com.br/3-marcas-que-provam-que-o-upcycling-e-muitas-mais-que-eco- friendly/#.WQ-q2EhtnIU

Um exemplo de utilização dos conceitos do downcycling é o papel de escrita, pois este é um material que não pode ser reutilizado sem perder sua qualidade durante o processo de reaproveitamento.

Figura 3 – Papel produzido utilizando conceitos do downcycling

Diferentemente da reciclagem, onde pode haver depreciação ou redução de valor do produto, no processo de upcycling há a prolongação da vida útil do material, podendo agregar um novo valor ao mesmo. Esta técnica pode ser utilizada na confecção de uma nova peça de roupa ou para reformar algo já existente, gerando infinitas possibilidades. Este processo exige uma maior demanda de tempo do designer, aumentando o custo do produto final, ele também dificulta a reprodução em série das peças, uma vez que os materiais disponíveis sempre serão diferentes e as suas quantidades são imprevisíveis (GWILT, 2014).

Tratando-se de sustentabilidade, os conceitos do upcycling se aplicam perfeitamente, já que o mesmo reduze o desperdício têxtil, trazendo de volta ao mercado materiais que estavam inutilizados, gerando novos valores ao que estava obsoleto, ao mesmo tempo em que reduz custos de produção, por possui matérias- primas de custo zero.

Além de novos métodos e técnicas de criação, para que o design sustentável seja possível, é necessário analisarmos os tipos de materiais que serão utilizados durante o processo de fabricação. Segundo Gwilt (2014), hoje se torna cada vez mais importante considerar os impactos socioambientais que estão ligados aos materiais e as técnicas têxteis, como a manipulação e melhoria dos tecidos. A maioria dos materiais gera algum tipo de impacto durante algum ciclo de vida da peça. Há também a possibilidade de utilizar novos tecidos que estão sendo desenvolvidos, que podem ser considerados de baixo impacto, recicláveis e biodegradáveis.

Ser sustentável tornou-se sinônimo de qualidade para os tecidos. Há poucos anos, todos os nossos tecidos eram feitos de algodão orgânico, hoje em dia eles dificilmente são encontrados a venda, graças ao crescente uso de pesticidas e fertilizantes. Diferentemente da agricultura convencional, que visa os lucros em primeiro lugar, a maioria dos projetos de algodão orgânico são feitos para combater a pobreza, com metas socioeconômicas integrantes de seu sistema. Ele gera uma melhor renda e saúde para seus trabalhadores, é melhor para o solo e para o meio ambiente (LEE, 2009).

Apesar de estes materiais serem considerados mais sustentáveis, é necessário analisarmos como serão utilizados, como foi dito, o ciclo de vida da peça que será criada deve se ater as regras da sustentabilidade, ou o trabalho que se teve para obter esta nova matéria-prima terá sido em vão.

Segundo Salcedo (2014), são necessários alguns cuidados para adotar materiais de menor impacto, como conhecer bem os materiais que você utiliza, desde as quantidades utilizadas até os seus impactos ambientais, para que possamos nos concentrar na substituição dos materiais de alto risco. É fundamental se informar sobre as alternativas existentes e estudar as opções para que apresentem capacidade de fazer mudanças. Para isso, deve-se estabelecer uma estratégia para os materiais, levando em consideração os seguintes fatores: estratégia corporativa, estratégia de sustentabilidade, o que será necessário para o desenvolvimento da coleção, analisar as matérias primas de menor impacto e a demanda dos consumidores. É imprescindível estabelecer objetivos de curto, médio e longo prazo, assim como métodos para verificar o andamento de suas ações e definir se estas ações e mudanças serão comunicas e como isto será feito.

A transição da indústria têxtil para uma moda mais sustentável ainda levará certo tempo, tempo este que talvez não tenhamos disponível. Mesmo com a enorme quantidade de informação de recebemos diariamente, temos o receio de estarmos arriscando o nosso capital. É difícil para as empresas aceitarem que se não mudarmos, nosso sistema atual sofrerá um colapso. Pereira (2012) salienta que, tratando-se de sustentabilidade, as ações e resultados costumam ser em longo prazo e o trabalho deve ser realizado em construção conjunta entre os envolvidos, para o desenvolvimento local, visualizando as melhorias dos produtos fabricados e a apropriação dos valores desejados.

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