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5. Análise dos dados

5.3 Apresentação e análise das organizações selecionadas

5.3.1 CTG Carreteiros do Sul

O Centro de Tradições Gaúchas Carreteiros do Sul foi fundado no ano de 1966 por iniciativa de um grupo de estudantes da então Escola Técnica Federal de Pelotas – ETFPel 55. A entidade foi alocada como projeto extraclasse da instituição de ensino,

tendo como objetivo ser um espaço de encontro, experimentação e vivência

54 A Feira Nacional do Doce – Fenadoce – é um evento de periodicidade anual que tem como finalidade promover a cultura doceira da cidade de Pelotas – RS. A organização fica a cargo da CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas de Pelotas.

55 No ano de 1999, através de decreto presidencial, a ETFPel passa a se denominar Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas - CEFET-RS, agregando não só cursos técnicos como também cursos de nível tecnológico. No ano de 2008, o CEFET-RS é transformado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul rio-grandense – IFSul, aumentando sua abrangência para quatorze campus.

tradicionalista para estudantes, servidores e comunidade. Atualmente o projeto encontra-se sob a égide da Diretoria de Pesquisa e Extensão– Dirpex (IFSUL, 2016a).

Atualmente, o patrimônio físico do CTG Carreteiros do Sul compreende a sede social construída no ano de 1986 no estacionamento da instituição, oferendo espaço para realização de atividades artísticas, culturais, campeiras e esportivas desenvolvidas por seus associados. No ano de 2009, a estrutura da entidade recebeu a adição de um espaço cultural no saguão da instituição de ensino. O espaço foi composto por área de lazer e de uma biblioteca campeira, a qual disponibilizava títulos da literatura gaúcha e estavam à disposição dos estudantes e servidores da instituição. Este espaço cultural foi desativado, sendo os livros incorporados à biblioteca central da instituição de ensino e a área de lazer transferida para a sede social.

O CTG conta ainda com uma estrutura virtual pertencente ao projeto “Memorial CEFET”56 , inaugurado em 2003, que reúne fotos e documentos que contam a história

da instituição e da entidade tradicionalista. De acordo com o atual patrão da entidade, este projeto de resgate das memórias do CTG será retomado e ampliado pelo departamento cultural, buscando aproximar a entidade da comunidade através da história e ações desenvolvidas ao longo da trajetória tradicionalista (IFSUL, 2016b).

Em relação a estrutura administrativa do CTG, a patronagem, geralmente, é formada por integrantes da própria invernada adulta, criando uma relação muito forte entre as atividades desenvolvidas pela invernada e as ações gerais da entidade. Uma característica deste CTG é a exigência da existência de vínculo formal ativo da pessoa que ocupa a posição de patrão, podendo ser servidor ou estudante. Os demais cargos da patronagem podem ser ocupados por pessoas com vinculo ativo ou não com a instituição de ensino ou membros da comunidade.

No campo artístico, o CTG Carreteiros do Sul ampliou sua participação no cenário tradicionalista no ano de 2005, através da reorganização da entidade e retorno

56 O projeto foi idealizado e executado por Céres Mari da Silva Meireles e está disponível no endereço < http://memorial.ifsul.edu.br/> Acesso em 15 jan. 18.

das atividades dos quatro departamentos centrais: artístico, cultural, campeiro e esportivo. Neste ano o departamento artístico remontou três categorias de suas invernadas: mirim57, adulta e xirú58, tendo como integrantes alunos, ex-alunos,

servidores e filhos de servidores da instituição. Durante os primeiros quatro anos desta revitalização, o foco das invernadas artísticas era a participação em eventos tradicionalistas de outras entidades e apresentações representando a instituição (FONSECA; RIGO, 2013).

No ano de 2009 a invernada adulta altera seu projeto de trabalho tornando-se uma invernada de competição, assim, além das apresentações o grupo passa a participar de rodeios artísticos competitivos e do ENART. Ao modificar o objetivo da invernada artística, houve a necessidade de alteração do projeto extraclasse vinculado, de forma a permitir a associação de membros sem vínculo prévio a instituição de ensino, visto que o projeto original compreendia a associação apenas de pessoas da instituição. De acordo com Fonseca e Rigo (2013), esta mudança aproximou a entidade tradicionalista da comunidade, além de despertar o interesse de dançarinos que não eram alunos em se tornar estudantes da instituição. Vale ressaltar que esta mudança do projeto teve como principal motivação a necessidade do aumento do quadro de sócios/dançarinos aptos a participar das competições, ampliando o número de dançarinos experientes e, assim, aprimorando a qualidade técnica do grupo, a conversão de alunos foi um efeito colateral positivo.

Um segundo passo para o aprimoramento técnico da invernada adulta foi a contratação de instrutor para as danças tradicionais, coreografo para as projeções folclóricas de entrada e de saída, além de realização de oficinas de interpretação e de teatro, a partir do ano de 2009. O primeiro ENART foi no ano de 2010, no qual o grupo classificou-se entre as vinte melhores invernadas na força A.

57 Formada pelos filhos dos servidores da instituição com idades entre nove e treze anos. 58 De acordo com Fonseca e Rigo (2013), a faixa etária da invernada xirú era acima de 32 anos.

Como invernada competitiva, o grupo participou de oito inter-regionais pela força A, qualificando-se para a final do ENART por sete vezes, além de classificar-se entre os vinte melhores grupos do estado em cinco ocasiões.

5.3.1.1 A Invernada artística adulta – Os Carreteiros

A invernada artística adulta do CTG Carreteiros do Sul, também conhecida como “Os Carreteiros”, é formada por alunos, ex-alunos do IFSul e membros da comunidade. O grupo contou com trinta e um integrantes no ENART do ano de 2017, equipe de apoio formada por ex-dançarinos e torcida uniformizada59. A equipe de

apoio foi responsável pelo auxilio na troca de figurinos do grupo durante a apresentação no ENART 2017, além de realização de penteados e maquiagens das prendas para o evento.

Figura 4 - Os Carreteiros - ENART 2017

Fonte: Arquivo da Invernada artística do CTG Carreteiros do Sul

A pesquisa envolveu toda população disponível, sendo respondidos 29 questionários, correspondendo a um índice de 96,6% do total do grupo de dançarinos

59 A invernada adulta organizou excursão ônibus com alojamento e camiseta customizada para todos aqueles que tivessem o interesse de participar da torcida do grupo em Santa Cruz do Sul.

do Enart 2017. Abaixo, a Tabela 9 apresenta os dados coletados nos questionários respondidos pelos Carreteiros.

Tabela 9 - Características Socioeconômicas dos Carreteiros

Prendas Peões Geral

Total de questionários (%) 51,7 48,3 100,0

Média de idade (anos) 21,0 19,0 20,3

Escolaridade (%) Ensino fundamental 0,0 0,0 0,0

Ensino médio 33,0 36,0 34,0

Ensino Técnico 33,0 43,0 38,0

Ensino Superior 33,0 21,0 28,0

Especialização 0,0 0,0 0,0

Mestrado/Doutorado 0,0 0,0 0,0

Renda Familiar (%) Até R$ 937,00 0,0 7,0 3,0

De R$ 937,00 e R$ 1.874,00 33,0 36,0 34,0

De R$ 1.874,00 a R$ 3.748,00 47,0 43,0 45,0 De R$ 3.748,00 a R$ 5.622,00 20,0 14,0 17,0

De R$ 5.622,00 a R$ 9.370,00 0,0 0,0 0,0

Acima de R$ 9.370,00 0,0 0,0 0,0

Tempo médio de vinculo (anos) 4,0 3,8 3,9

Tempo de vínculo (%) Até 5 anos 73,3 85,8 79,3 De 5 a 10 anos 20,0 7,1 13,8 Acima de 10 anos 6,7 7,1 6,8 Tipo de vínculo atual (%) Dançarino 100,0 100,0 100,0 Patronagem 20,0 7,0 14,0 Posteiro artístico 7,0 7,0 7,0 Posteiro Cultural 0,0 7,0 3,0 Posteiro de sala/ensaiador 7,0 0,0 3,0 Equipe de apoio 0,0 0,0 0,0

Vínculo anterior com outro CTG (%) Sim 47,0 36,0 41,0

Não 53,0 64,0 59,0

Tempo médio de vínculo com outro CTG (anos) 4,7 2,2 3,6

Fonte: Elaborado pela autora, 2018

A média de idade dos respondentes foi de 20,3 anos, tendo o integrante mais jovem 18 anos e o mais velho 27 anos. O grupo apresenta equilibro da distribuição por gênero, foram 51,7% do sexo feminino e 48,3% do sexo masculino. Do total de

respondentes, 34% cursam ou já cursaram o ensino médio, 38% está cursando ou é formado no ensino técnico e 28% possui o ensino superior.

Em relação a renda familiar, 45% dos respondentes possui uma renda entre R$ 1.874,00 e R$ 3.748,00, apenas 17% declarou possuir uma faixa de renda familiar superior e outros 34% declarou uma faixa de renda inferior à média do grupo.

O tempo médio de vínculo com o CTG Carreteiros do Sul é de 3,9 anos, sendo a grande maioria (79,3%) com vinculo inferior a 5 anos, 13,8% entre 5 e 10 anos e 6,8% com mais de 14 anos de associação. Esta considerável proporção de dançarinos com menos de 5 anos de vínculo com a entidade está relacionada a média de idade dos integrantes, visto que grande parte do grupo de 2017 foi formado por dançarinos que ingressaram na entidade na categoria juvenil e ao completar 18 anos “subiram” de categoria. Esta é uma invernada artística considerada jovem dentro do ambiente competitivo tradicionalista. Dentre os dançarinos com maior tempo de associação, estão dois integrantes pertencentes ao grupo que reativou a invernada no ano de 2005, e hoje são ensaiadores das quatro invernadas da casa.

Todos os respondentes são dançarinos da invernada artística, alguns acumulam mais de uma função dentro da entidade tradicionalista, 14% se declarou como parte da patronagem, 7% como posteiro artístico e 3% posteiro cultural. Esta é uma característica da entidade desde sua formação, com a presença de dançarinos em diversos cargos dentro da instituição como forma de contribuir ou de preencher lacunas administrativas e assim permitir o trabalho da invernada.

Em relação a participação anterior em outro CTG, 41% respondeu que já haviam tido vínculo com outra entidade tradicionalista, com tempo médio de associação de 3,6 anos. Verificando o tempo médio de forma individual por gênero, percebe-se que os peões permaneceram menos tempo em suas entidades de origem, cerca de 2,2 anos, enquanto as prendas indicaram 4,7 anos como tempo médio de filiação em entidade anterior.