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3.7 – Cuidados Continuados Integrados: um contexto de interacção

Capítulo I: Enquadramento conceptual

I. 3.7 – Cuidados Continuados Integrados: um contexto de interacção

A organização dos serviços de saúde em Portugal sofreu influência dos conceitos religiosos, políticos e sociais característicos de cada época histórica e foi-se materializando para dar resposta ao aparecimento das doenças.

Em 1899 o Drº Ricardo Jorge inicia a organização dos “Serviços de Saúde e Beneficência Pública” que foi regulamentada em 1901 e entrou em vigor em 1903. A prestação de cuidados de saúde na época era de índole privada, cabendo ao Estado apenas a assistência aos pobres.

Só em 1971 a reforma do sistema de saúde e assistência (conhecida como a reforma de Gonçalves Ferreira) surge o primeiro esboço de um Serviço Nacional de Saúde, no qual são explicitados princípios, como o reconhecimento do direito à saúde de todos os Portugueses, cabendo ao estado assegurar esse direito, através de política unitária emanada pelo Ministério da Saúde (Ferreira, 1975 p.28).

Em 1974, Portugal sofre modificações políticas e sociais radicais, que possibilitaram em 1979 a criação do Serviço Nacional de Saúde pelo qual o Estado assegura o direito à saúde de todos os cidadãos (a promoção, prevenção e vigilância).

Segundo o Decreto-Lei nº 212/2006 de 27 de Outubro, o Ministério da Saúde é o departamento governamental que tem por missão definir a Política Nacional de Saúde, exerce as funções normativas e promove a respectiva execução e avaliação de resultados.

Este ministério em relação ao Serviço Nacional de Saúde, exerce funções de regulamentação, planeamento, financiamento, orientação, acompanhamento, avaliação, auditoria e inspecção.

O Serviço Nacional de Saúde, é o órgão responsável pela prestação de cuidados de saúde, definidos como os “actos ou serviços prestados para manter, promover ou restaurar a saúde da população. Compreende os cuidados básicos e primários, e os cuidados diferenciados ou hospitalares” (Ferreira, 1978).

Importa referir que, Serviço Nacional de Saúde designa a totalidade dos serviços ou equipamentos que prestam cuidados de saúde, quer públicos quer privados ou sociais, e Sistema Nacional de Saúde designa o conjunto organizado de órgãos prestadores de cuidados de saúde, tutelado e financiado pelo estado, que garante a cobertura médico- hospitalar de todos os cidadãos em condições de igualdade e universalidade, ou seja o sector público (Arnaut, 2005).

A forma como estão organizados os cuidados de saúde e são prestados aos cidadãos caracteriza ou tipifica o modelo político do país, podendo ser, do tipo liberal ou estatal, em Portugal, considera-se do “tipo misto”, pois admite actividade complementar da medicina pública e privada, (Arnaut, 2005).

A Lei de Bases da Saúde nº48/90 no que se refere aos princípios gerais no seu artigo 4º enuncia: “Os cuidados de saúde são prestados por serviços e estabelecimentos do Estado ou, por outros entes públicos ou por entidades privadas, sem ou com fins lucrativos”.

Em Portugal o direito à assistência médica foi consagrado em Lei Nacional, em 1975, pelos deputados da assembleia constituinte, que elaboraram o texto programático que consagrava “o direito à protecção da saúde como direito fundamental e impõe ao estado, como tarefa prioritária, a obrigação de o garantir através de uma rede pública de serviços e equipamentos que permita o acesso a todos os cidadãos, sem qualquer discriminação aos cuidados de saúde” (Arnaut 2005).

O Sistema Nacional de Saúde constitui o núcleo fundamental do Sistema de Saúde Português, a sua extensa interface entre os serviços de saúde e a sociedade produz uma infinidade de encontros entre os profissionais e os utentes.

A tendência de envelhecimento da sociedade, é um fenómeno comum à maioria dos países de todo o mundo, à qual Portugal não é excepção. Para este facto concorrem a confluência de diferentes factores, tais como: o declínio das taxas de natalidade (em Portugal); o decrescimento progressivo das taxas de mortalidade e o consequente aumento da esperança de vida, estima-se que em 2050 cerca de 32% da população portuguesa tenha mais de 65 anos, e que a percentagem da população mais idosa, com 80 anos ou mais, se situe em 10,2% (INE, 2005).

Neste panorama, perspectiva-se que na actualidade para além dos 65 anos, existem mais de 15 ou 20 anos de vida cuja qualidade é um dos desafios mais importantes para todos os governos do mundo, sendo esta também a faixa etária onde será esperado o maior consumo de recursos de saúde.

Em Portugal estima-se que as necessidades desta população aumentem consideravelmente, paralelamente a um aumento substancial do número de pessoas em situação de vulnerabilidade e potencial perda de capacidades, com doenças crónicas e potencialmente incapacitantes.

Ainda outras alterações da estrutura demográfica da sociedade tais como: as mudanças das condições laborais, a maior inserção das mulheres no mercado de trabalho; as mudanças na estrutura familiar, com evidente redução do tamanho das mesmas e o surgimento de novas configurações (famílias monoparentais e famílias sem filhos) e ainda as alterações nos estilos de vida actuais, resultam numa evidente dificuldade de

acompanhamento das pessoas idosas, cenários que apontam para uma necessidade de ajuste nas políticas sociais nomeadamente nas da saúde.

E neste sector o crescimento galopante dos gastos em meios terapêuticos, bem como a crescente e dispendiosa ocupação de camas hospitalares, obriga à necessidade de racionalização e eficiência de gastos, por outro lado a pressão social exige dos sistemas de cuidados de saúde um atendimento de maior proximidade e melhor qualidade.

É neste contexto, que em 2003 é levada a cabo pelo governo então vigente, uma reforma no sistema de saúde português, pelo Decreto-Lei nº281/2003 de 8 de Novembro que cria três redes de prestação de cuidados designados: A Rede de Cuidados Primários; A Rede de Cuidados Diferenciados e A Rede de Cuidados Continuados.

A articulação prevista e almejada entre estes sistemas de cuidados nem sempre se concretizou, logrando os objectivos a que inicialmente se propunha, no contexto da mesma reforma dos cuidados de saúde. É neste âmbito, que o actual Governo através do Dec. Lei 101/2006 de 6 de Junho cria e regulamenta a rede de Cuidados Continuados Integrados, com vista a reorientar o papel dos dispositivos sociais e de saúde nesta área.

O conceito de Rede Cuidados Continuados Integrados segundo o mesmo Decreto- Lei, é considerado o conjunto de intervenções sequenciais de saúde ou de apoio social decorrente da avaliação de uma equipa multidisciplinar, que visam promover a autonomia, melhorando a funcionalidade do indivíduo em situação de dependência, através da sua reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social.

Segundo a mesma lei, no seu artigo 5º, a Rede de Cuidados Continuados Integrados inclui-se no Serviço Nacional de Saúde e no Sistema de Segurança Social, assentando nos paradigmas de da recuperação global e da manutenção, compreendendo actos de reabilitação física e ou social, e a manutenção do conforto e qualidade de vida, em situações irreversíveis.

Esta rede cruza todo o sistema público de saúde e articula-se com outros sectores nomeadamente o social, o modelo de intervenção proposto assenta numa abordagem multidisciplinar e consequente articulação entre instituições locais de saúde e de solidariedade social, entidades privadas e autarquias, para dar resposta às necessidades em cuidados continuados integrados de saúde e apoio social.

E o modelo de cuidados constituído elege o cidadão como o centro das intervenções, em que o utente e a sua família e ou cuidadores são o foco da atenção. A

participação de todos eles no processo de cuidados é condição essencial para a prevenção das dependências, e a permanência no domicílio é prioritário (Ministério da Saúde, Cuidados de Saúde e de Longa Duração, Relatório Preliminar, 2005, p.10). Neste contexto de prestação de cuidados, os enfermeiros são agentes implicados a contribuírem para que ocorram ganhos de saúde para os utentes e sociedade em geral.