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3 – O método e a técnica de pesquisa

Capítulo II: Metodologia

II. 3 – O método e a técnica de pesquisa

Na investigação qualitativa independentemente da abordagem realizada, os achados da pesquisa são as experiências dos participantes, pelo que é relevante que estas experiências sejam narradas segundo a óptica dos actores que as viveram, cujo resultado será sempre a forma literária (Streubert e Carpenter, 2002, p.20).

Os factos sociais, no processo de cuidados, para o nosso estudo assumem um carácter privilegiado, porque na investigação qualitativa as experiências dos participantes se constituem os achados da mesma, e tendo em conta que a escolha dos instrumentos metodológicos não devem ser dissociados das referências teóricas do estudo bem como o tipo de dados que queremos estudar (Ruquoy, 1997, p.86) e porque nos situamos numa abordagem essencialmente interpretativa, impunha-se a utilização de uma técnica de recolha de dados, também ela por natureza qualitativa e compreensiva, como é a entrevista.

Considerando os objectivos deste estudo, compreender o fenómeno das interacções a partir do sentido dos enfermeiros, baseado nas suas crenças, sentimentos, experiências e saberes, considerou-se a entrevista semi-estruturada, como o instrumento de colheita de dados adequado para recolher os dados descritivos na sua própria linguagem, permitindo- nos desenvolver intuitivamente uma ideia, sobre a maneira como estes interpretam e constroem a sua realidade (Bogdan e Biklen, 1997; Savoie-Zajec, 2003) e que combina uma certa liberdade do entrevistado com alguma orientação do entrevistador, constituindo-se na estratégia dominante de recolha de dados desta pesquisa.

Assim no âmbito de uma interacção humana e social, os enfermeiros descreveram- nos o mais ricamente possível as suas experiências, os seus saberes e competências específicas acerca do fenómeno das interacções, norteados por esta interacção, a situação de entrevista permitiu revelar-nos o que os enfermeiros pensam e que não pode ser observado: sentimentos, intenções e ainda comunicar comportamentos tidos em situações privadas, apresentando-se esta forma um acesso privilegiado às experiências humanas.

Para a realização das entrevistas junto destes actores trabalhámos com um guião base com questões amplas, às quais foram acrescentadas outras, suscitadas pelas circunstâncias, estas questões resultaram do quadro teórico geral de orientação e do estudo da situação da problemática, resultante da entrevista exploratória (Ghiglione e Matalon 1985, p. 92).

O guia de entrevista (Apêndice I) constituiu-se de quatro questões principais e de algumas “sub-questões”, que lançámos aos participantes, quando necessário no sentido de aprofundamento, explicitação dos conteúdos.

Um guião pouco estruturado, não significa que se tenha sido omisso ou desatento na construção do mesmo, mas tão só por razões ligadas aos objectivos do estudo, a estrutura dos conceitos não está exactamente retratada no guião de entrevista, mas presente no nosso espírito quando da condução das entrevistas (Campenhoudt et al., 1998, p.183). Este guião serviu de roteiro mas, usado de forma flexível adaptando-o ao discurso de cada informador e ao caminho por cada um tomado.

Porque estivemos numa óptica semi-estruturada, no desenrolar das entrevistas o nosso papel foi o de seguir a linha de pensamento dos nossos interlocutores, mas ao mesmo tempo zelar pela pertinência das afirmações relacionadas com o nosso objecto de pesquisa, nomeadamente pelo estabelecimento de relação de confiança, quando verificámos que os entrevistados tivessem dificuldade em descrever as suas experiências deveríamos completar as perguntas com aspectos como: pode explicar melhor? o que quer dizer com?

Estes momentos constituíram-se em situações de comunicação que ultrapassaram a simples conversação, uma vez que os assuntos das entrevistas foram previstos e limitados (Savoie-Zajc, 2003, p.280).

Definimos os papéis de entrevistador e entrevistado, explicou-se da relevância do testemunho dos entrevistados para a realização do estudo, e que estes se centrassem na sua própria vivência de enfermeiro, de modo a que estes também se sentissem implicados na pesquisa; que iriam ser colocadas questões gerais e que interromperíamos o entrevistado quando entendêssemos necessário validar ou clarificar algum assunto.

No decorrer das entrevistas tentámos favorecer a expressão de sentimentos, escutando, respeitando os silêncios, observando. Procurámos manter uma atitude de imparcialidade, não indutora nem sugestiva de respostas promovendo que os entrevistados estruturassem o seu pensamento em torno do objecto perspectivado e que simultaneamente, consoante as questões propostas reflectissem acerca de aspectos não

explicitados (Albarello et al, 1997) e ao mesmo tempo demonstrando interesse e atenção para com as palavras dos entrevistados.

A realização das entrevistas foi precedida de explicitação aos informantes sobre o enquadramento da problemática, sendo efectuadas em meio privado e na presença exclusiva de entrevistador e entrevistado.

O consentimento informado de cada participante foi realizado e gravado, no início de cada entrevista, este incluiu um conjunto de aspectos comuns nomeadamente:

− Os dados obtidos seriam confidenciais, sendo salvaguardada a identidade do informante;

− A participação do informante seria voluntária, ressalvando o direito a desistir em qualquer fase do decurso da entrevista e do estudo;

− A participação no estudo não traria ao participante, em princípio benefícios de monta, mas também não lhe traria prejuízos;

− Para o esclarecimento de dúvidas, relacionadas com o estudo e com o seu processo, a identificação e contacto profissional da investigadora foram transmitidos;

− A possibilidade de acesso ao resultado do estudo junto da sede da Rede de Cuidados Continuados, ou junto da investigadora.

Todos estes procedimentos foram sempre precedidos de pedido de autorização para proceder à gravação da entrevista, este momento obviamente não foi gravado, mas foi prontamente aceite por todos os entrevistados.

Num total de 13 entrevistas efectuadas, estas foram realizadas progressivamente, com espaço de tempo entre as mesmas, variável. Após a audição e transcrição de cada uma, que nós próprios realizámos, permitiu-nos ir ficando elucidada sobre os resultados. Optámos por não realizar as entrevistas no primeiro contacto com os informantes, mas em momento posterior servindo o primeiro contacto para “quebrar o gelo” e estabelecer empatia com estes.

Este processo foi desenvolvido ao longo de cerca de sete meses, com algumas interrupções por motivos pessoais, que também contribuíram para sedimentar aspectos importantes para o nosso desenvolvimento enquanto investigadora.

O conjunto dos materiais obtidos pela gravação áudio das entrevistas, com duração média aproximada de 50 minutos, constituiu a nossa base de dados num total aproximado

de 11 horas, o qual sofreu um processo de tratamento que explicitaremos em subcapítulo subsequente.

Durante o processo de tratamento e análise dos materiais, ao conferir e ao questionar continuamente os dados, que pela sua riqueza de conteúdos, considerámos de forma subjectiva ter adquirido um sentido de encerramento e deter o processo de colheita de dados, por considerarmos que novos interlocutores não acrescentariam muito à compreensão do nosso problema (Javeau, 1998; Streubert e Carpenter, 2002).