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CUIDADOS PALIATIVOS

No documento DORES NO CORPO/ DORES NA ALMA (páginas 75-79)

5. COMPREENDENDO O CÂNCER DE MAMA

5.8 CUIDADOS PALIATIVOS

O que importa não é viver muito, mas viver com qualidade. Com efeito, viver muito tempo quem decide é o destino. Viver plenamente, o teu espírito. A vida é longa se for vivida com plenitude. Assim, ela está plena quando a alma tomou posse do bem que lhe é próprio e não depende senão de seu poder. (Sêneca).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) atribuiu ao termo cuidados paliativos o seguinte conceito: “cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, ativa e integral a paciente cuja doença não responde mais ao tratamento curativo, sendo o principal objetivo a garantia da melhor qualidade de vida, tanto para o doente, quanto para seus familiares, através do controle da dor e demais sintomas, em suas

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Recomenda-se uma integração entre todos os profissionais de saúde envolvidos no processo, em conjunto com o paciente e seus familiares. Essas intervenções visam, sobretudo, oferecer à mulher acometida por essa doença e à sua família meios de enfrentar as dificuldades próprias da condição de mastectomizada. “As intervenções interdisciplinares têm como objetivo fazer uma junção entre conhecimentos e disciplinas, que intercedam efetivamente na qualidade de vida desta população após o tratamento, favorecendo de forma prioritária o seu retorno às atividades físicas, sociais e profissionais” (CONTROLE DO CÂNCER DE MAMA - DOCUMENTO DE CONSENSO, 2004, p.17).

dimensões psicossociais e espirituais” (CONTROLE DO CÂNCER DE MAMA- DOCUMENTO DE CONSENSO, 2004 – INCA/MS).

Esses cuidados na prática clínica devem seguir princípios éticos que respeitam a vontade e a autonomia do doente, sendo de grande importância à habilidade de comunicação dos profissionais que lidam com pacientes fora de possibilidade terapêutica. A informação e a explicação adequadas, na grande maioria das vezes os acalmam, diminuindo a ansiedade advinda da doença, e por outro lado, auxilia os familiares na lida com a doença e com o ente enfermo. Em se tratando do câncer de mama, esse comportamento ajuda a estabelecer um caminho de confiança e segurança na equipe, possibilitando a diminuição dos conflitos oriundos das circunstâncias próprias da doença. Assim como nas demais situações da vida, quando se trata de uma doença como o câncer, torna-se um desafio romper certas barreiras e preconceitos. Enfrentar o modo objetivo da medicina científica e debater a vida e a morte dentro do meio médico-hospitalar (por mais paradoxal que isso possa parecer) é romper paradigmas, mudar padrões, compreender enfim, a importância de discutir o viver e o morrer. Essa aceitação não é fácil, e ela acontece apenas quando se consegue romper o estabelecido, já que entre os médicos a morte ainda é vista como um fracasso profissional, traduzido no jargão próprio da categoria como “perder um paciente”.

É notório, entretanto, que na atualidade a preocupação em relação à humanização da medicina, vem suscitando acaloradas discussões e, pela primeira vez no novo Código de Ética Médica do Brasil (CEM), aprovado pela Resolução nº. 1.931, em sessão plenária realizada em setembro de 2009 e publicado no Diário Oficial, os cuidados paliativos foram incluídos dentre os seus princípios fundamentais (JORNAL DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM)2009.

Conforme essa nova visão da medicina, as questões pertinentes à terminalidade da vida humana adquirem uma nova perspectiva, e, possibilita doravante, de fato e de direito, maior autonomia aos pacientes por intermédio do consentimento livre e esclarecido. Essa tem sido considerada a principal mudança advinda do novo código normalizador do exercício da medicina, pois impõe limites entre os conflitos de interesses dessa ciência com a indústria. Esse cuidado está calcado em evitar a utilização indisc riminada dos métodos tecnológicos mais avançados, que surgiram principalmente durante o século XX, quando se valorizaram, de uma forma exacerbada, os cuidados com o corpo físico, esquecendo-se que o sofrimento humano tem outras dimensões, como a espiritual, por

exemplo. Esta, se relegada, pode levar o sujeito a uma vida sem sentido, especialmente quando este se defronta com a proximidade real da sua finitude. Desse modo, se por um lado, esse código atual reforça a proibição da eutanásia, por outro, ele admite que o paciente tenha o direito de optar se quer ou não suspender as ações terapêuticas quando essas se tornaram inúteis e sem possibilidades de reversão do quadro clínico; essas ações são atualmente denominadas pelos paliativistas de “obstinação terapêutica”, porquanto prolongam a vida a qualquer custo com o uso de procedimentos invasivos, inúteis, potencializando o sofrimento físico do indivíduo. Percebe-se, portanto, a preocupação crescente dos profissionais de saúde que lidam com esse grupo de pacient es em debater temas relacionados à vida e a morte. No manejo desses seres, tem se dado grande importância não somente em humanizar a relação médico-paciente, mas também em promover a interação do indivíduo adoecido com seus familiares, evitando, por conseguinte, a “medicalização dos sentimentos” e possibilitando que paciente e família, sem o uso indiscriminado dos ansiolíticos e/ou dos antidepressivos, exteriorizem as suas angústias, dores, inquietudes, medos, enfim, as suas vontades, e possam, falar, daqui lo que não se fala, ou seja, do “aprender a morrer”. Com o entendimento da importância dos cuidados paliativos, o conceito de “residência assistida” tem sido advogado não somente pela equipe de saúde, mas também pela família, com relação à assistência ao doente sem possibilidades terapêuticas, evitando com isso a hospitalização, muitas vezes desnecessárias. Para isso, contudo, é fundamental que todos os profissionais envolvidos nesse processo possam dispor de tempo suficiente para explicar de forma clara e humana a real situação do doente aos seus familiares e de preferência, quando possível, ao próprio doente, para que ele fique inteirado da sua real condição, isto é, das consequências advindas da sua doença e das suas verdadeiras possibilidades. Desse modo, com as informações apropriadas dá-se a oportunidade a este indivíduo de fazer uso dessa realidade nas decisões doravante a serem tomadas. 19

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A participação da sociedade civil organizada tem sido considerada de grande importância na luta contra o câncer de mama, no que se refere ao fortalecimento do controle social, e na capacidade de mobilização na aprovação de projetos de cunho social os quais passem a fazer parte da agenda empresarial, exercendo um papel em prol da humanização da saúde. Com relação a esse item, recomendam - se algumas estratégias relevantes, entre elas: “criação de um Grupo Permanente de Trabalho, composto por diversas organizações que reconhecidamente vêm desenvolvendo ações na área de câncer de mama, com a presença das sociedades científicas afins, com o objetivo de colaborar e monitorar a implantação das ações de controle do câncer de mama no País; articulação com os Institutos de Direitos do Consumidor, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil e a Comissão Intersetorial da Saúde da Mulher, com o objetivo de garantir os direitos da mulher no que diz respeito ao diagnóstico precoce e à reconstrução mamária.

Dentre outras ações, a educação continuada é uma proposta que vem sendo aceita pelos setores mais atuantes no que diz respeito à prática com relação à saúde coletiva. Segundo Silveira (2006), “este é um processo de capacitação e informação que permite atender às necessidades de maneira dinâmica e eficaz, possibilitando o aperfeiçoamento profissional, o desenvolvimento do trabalho de equipe e a criação de vínculo com a população”. (SILVEIRA, 2006, p. 59)

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